02 julho 2020

PLANO DE MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA PARA UMA COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL

Em um programa de coleta seletiva, a participação popular torna-se imprescindível para a transformação social, uma vez que sem a adesão da comunidade na separação dos resíduos, não se faz coleta seletiva. Por isso, o envolvimento da comunidade tem que ser contínuo e periodicamente realimentado; a implantação da coleta seletiva deve ser progressiva, baseada na capacidade operacional, financeira e mobilizatória da administração, para evitar retrocesso ou desmotivação da população.

Um Plano de Mobilização Comunitária deve incluir atividades de educação ambiental formal e informal, deve propor ações para mobilização dos diversos segmentos sociais, visando à redução do desperdício, à manutenção da limpeza pública e à implantação da coleta seletiva. Valorizam-se as informações obtidas no diagnóstico social, especialmente as relacionadas aos indicadores de mobilização e comunicação social. Sempre que possível, deve ser estimulada a potencialidade artística e cultural local, devendo-se também valorizar os meios de comunicação formais e alternativos, as festividades e a criatividade em todas as suas formas de manifestação.

 
PLANO DE MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA PARA UMA COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL
PLANO DE MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA PARA UMA COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL

 
É importante enfatizar, nos programas de educação ambiental, que a reciclagem não resolve todos os problemas do lixo e não deve justificar o desperdício. Ao contrário, deve-se estimular a prática dos 3Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, nessa ordem de prioridade.
O 1º R – Reduzir ao máximo a geração de resíduos, eliminando os desperdícios, rejeitando produtos e embalagens supérfluas. É o mais importante e o mais difícil porque exige mudanças internas mais profundas. Nossa cultura confunde fartura com desperdício, e o consumo de supérfluos e descartáveis aumenta, já que são considerados sinais de uma vida mais prática e mais confortável. Com isso, o lixo brasileiro é um dos mais “ricos” do mundo. Em contrapartida, para muitas pessoas restam somente as sobras como fonte de sobrevivência. Além disso, recursos naturais são extraídos para a produção de bens de consumo não tão necessários que rapidamente se transformam em lixo, com alto potencial de degradação ambiental. Essa reflexão deve ser o ponto de partida para promover a revisão de valores quando se implantar a coleta seletiva.

Deve-se, então, estimular ações para gerar menos lixo:

- Escolher produtos mais duráveis;
- Substituir descartáveis por similares duráveis como copos, talheres, sacolas e guardanapos;
- Preferir produtos que tenham refil;
- Diminuir o uso de embalagens.
- Estimular as pessoas a levarem a própria sacola ao ir às compras, evitando o uso de sacolas plásticas descartáveis.

O 2º R – Reutilizar os produtos e materiais. Uma embalagem (vidro ou plástico) de maionese, por exemplo, pode ser reaproveitada para acondicionar outros alimentos; uma lata de molho de tomate pode transformar-se num porta-trecos, e assim por diante. O 2º R é um desafio à criatividade e também implica vencer preconceitos contra o material usado, o velho. Significa reaproveitar os materiais, valorizar materiais usados, adiando a sua transformação em lixo.

Ações que promovem a reutilização dos materiais:
- Reformar, restaurar, compartilhar, doar, trocar;
- Estimular artesãos que usam materiais recicláveis;
- Valorizar brechós e sebos;
- Promover feira de trocas;
- Reaproveitar papel para rascunho.

O 3º R – Reciclar – Esgotados os esforços de redução e reutilização, encaminhar os resíduos para a reciclagem, por meio da coleta seletiva. A reciclagem permite transformar materiais já usados, por processo artesanal ou industrial, em novos produtos. O lixo volta ao ciclo produtivo como matéria-prima para produção do mesmo produto ou de outro.
Além do apelo ambiental, o apelo social é relevante no Plano de Mobilização, sendo um dos fatores que amplia comprovadamente a adesão da população ao programa de coleta seletiva e, portanto, deverá ser incorporado ao Plano.

Destaca-se em especial o apelo representado pela separação dos materiais recicláveis em prol da sobrevivência de pessoas historicamente excluídas e que têm no lixo a sua opção de inclusão social, podendo-se utilizar o potencial dos catadores na sensibilização das pessoas da comunidade onde atuam para que separem os materiais recicláveis.

Um aspecto marcante do Plano de Mobilização Comunitária é o seu caráter permanente. Além de ações pontuais, como campanhas e eventos, é necessário o planejamento de ações contínuas a serem atualizadas e incrementadas periodicamente, de forma a garantir o comprometimento definitivo da população com as soluções necessárias à boa gestão dos resíduos.

Em geral, entende-se comunicação como um conjunto de instrumentos (folhetaria, jornais, peças audiovisuais...) que visam socializar informações para um público que se pretende atingir. A mobilização social, por sua vez, envolve a participação mais efetiva de pessoas que se juntam para viabilizar um projeto comum. A informação e o diálogo são o combustível do processo de mobilização social, que também comporta uma dimensão lúdica e artística como forma de acesso ao coração, ao simbólico. O objetivo é, ultrapassando-se o mero repasse de informações de caráter racional. O teatro, a música, as intervenções lúdico-pedagógicas são instrumentos que podem persuadir as pessoas a mudarem suas atitudes cotidianas de forma muito mais afetiva e efetiva.

É importante observar que a mobilização permeia todo o trabalho de planejamento e implantação da coleta seletiva. Desde o início, nos primeiros contatos com a equipe técnica da prefeitura, depois com a constituição do Grupo Gestor do programa, há sempre a preocupação em sensibilizar, informar e organizar as pessoas. Assim, é fator de sucesso de um programa de coleta seletiva ter a mobilização e o planejamento participativos como pilares estruturadores do processo.

Em muitas experiências de coleta seletiva, os catadores têm promovido a participação da população pelo vínculo afetivo que estabelecem com os moradores. A geração de trabalho e renda para pessoas vindas da marginalidade sensibiliza o cidadão, que passa a ter mais compromisso em separar os materiais recicláveis. Para que os catadores se transformem em agentes de educação ambiental, devem ser treinados para dialogar com os moradores, os comerciantes ou mesmo os grandes geradores.

A identificação dos catadores com crachás e uniformes favorece a aproximação e o reconhecimento profissional, gerando uma atmosfera de segurança para a comunidade. Um outro papel na educação ambiental que os catadores podem desempenhar é transformar o galpão de triagem num espaço educativo ao receber estudantes e multiplicadores de ações educativas para visitas técnicas, quando um anfitrião-catador fornece informações sobre o processo de coleta seletiva e passa lições de vida. Esses catadores com seus depoimentos sempre fortes, podem também desempenhar essa função de difundir a causa ambiental ao se apresentarem em escolas e em eventos de mobilização.

Os próprios funcionários da administração municipal, em especial das áreas de meio ambiente e de limpeza urbana, também devem ser preparados para reforçar o trabalho de educação ambiental e mobilização social.

A apresentação dos catadores em cada domicílio por intermédio de funcionários da prefeitura é uma estratégia fundamental para a mobilização da população. Nessa abordagem, os funcionários acompanham os catadores e, juntos, informam à população atendida sobre os benefícios ambientais da coleta seletiva e a possibilidade de geração de renda para o pessoal envolvido. Nesse caso, a evolução da cobertura de coleta deve ser gradativa e atingir, preferencialmente 100% dos domicílios. A estratégia de contato direto do catador, com o desenvolvimento de um vínculo de solidariedade, tende a aumentar significativamente a taxa de adesão da população ao programa.

A conscientização obtida por meio de contato regular e direto com a população resulta em mudanças de atitudes mais eficazes e duradouras do que por meio de campanhas e premiações.

Uma questão importante que deve balizar o trabalho de mobilização social é que não se deve usar a estratégia de troca de recicláveis por bens de consumo. De acordo com GRIMBERG, e BLAUTH, 1998, a troca, como estímulo para a separação dos recicláveis, pressupõe que atitudes ecologicamente mais adequadas são obtidas na barganha por bens materiais. Afinal, “a vida não é um negócio, e participar da sociedade não é uma transação comercial ou despesa reembolsável” (ACKERMAN, 1997, citado por GRIMBERG, E. e BLAUTH, P., 1998).

A prefeitura deve disponibilizar um número de telefone de contato para a população, que deve ser divulgado em folhetos informativos entregues pelos catadores nos domicílios, medida que permite solucionar dúvidas e pequenos problemas que possam surgir por desinformação dos moradores.

É importante lembrar que uma condição de sucesso para o processo educativo é que o município esteja preparado para oferecer um sistema eficiente de coleta de recicláveis. Daí a importância de os projetos das equipes técnico-operacional e de inclusão social estarem em sintonia com o Plano de Mobilização Comunitária.

Deve-se ter cuidado em não realizar campanhas publicitárias sem um suporte operacional suficiente para absorver o aumento de materiais recicláveis separados em decorrência de uma ampla divulgação, o que prejudicaria a credibilidade do programa. Por isso, a divulgação do programa feita por meio da abordagem direta do catador com a população é mais segura.

Dentre as ações que têm sido desenvolvidas no âmbito do projeto de educação ambiental para a implantação da coleta seletiva está a criação de com a realização de oficinas de papel reciclado e de reaproveitamento de outros materiais recicláveis. Também é comum instalar um que expõe objetos encontrados na coleta seletiva.

As escolas são para a constituição de uma do meio ambiente, pois atingem crianças e jovens num estágio de formação de valores e comportamentos. As escolas podem trabalhar tanto o aspecto conceitual, repassando informações e conhecimentos, como também aderir ao sistema da coleta seletiva, com a separação do papel de uso interno, e mesmo acolher um Local de Entrega Voluntário – LEV para uso da comunidade do entorno ou das famílias dos estudantes. As iniciativas são infindáveis, sendo importante realizar a atividade adequada, no momento certo.

Para isso, os educadores e os membros do Grupo Gestor devem estar sintonizados e programar, com boa antecedência, atividades compatíveis com o estágio do programa, e precedidas de um planejamento adequado às possibilidades financeiras e logísticas existentes. As propostas vão desde, passando por e chegando a ao aterro ou ao galpão dos catadores. Orientações mais específicas para a implantação da coleta seletiva em escolas são apresentadas no capítulo “Coleta seletiva em escolas e universidades” desta publicação.

Com relação aos LEVs, deve-se também considerá-los como importantes instrumentos de mobilização social. Contêineres são estimuladores da participação social. A tanto em termos de visibilidade como de segurança, é um incentivo à adesão ao programa. A programação visual dos contêineres deve reservar um espaço para a publicidade de patrocinadores e também para informes sobre o seu bom uso e frases ligadas à educação ambiental. Precedendo-se à instalação desses LEVs, deve ser feito um trabalho de educação ambiental para mobilização dos moradores circunvizinhos, o que propicia um melhor aproveitamento desses equipamentos. A mobilização visa conquistar “adotantes” dos LEVs, que passam a ser os vigilantes contra eventuais depredações nos equipamentos.

É interessante promover um evento de inauguração dos equipamentos, com a participação de estudantes e populares. Para “aquecer” a comunidade para o evento, podem-se usar faixas, carro de som e reuniões com líderes comunitários. É sempre desejável que essa inauguração tenha um caráter mais lúdico, para atrair a simpatia dos moradores, podendo-se programar apresentações de teatro, música ou alguma outra dinâmica integradora. A programação deve ter um podendo incluir a distribuição de folhetos educativos com as informações sobre o programa de coleta seletiva e a divulgação dos demais locais de entrega.

Essa “panfletagem” pode ser feita nas casas do entorno em abordagens “corpo-a-corpo”, e também com a distribuição dos folhetos para os motoristas que circulam no local, numa “blitz educativa”. O folheto, ou “folder”, que passa ao morador a informação fundamental para que ele tenha uma participação correta e consciente, é um que tem sido utilizado nas experiências de coleta seletiva em curso no Brasil.

Em Carlos Chagas19–MG, foi lançado, em maio de 2004, o programa SOL – Solidariedade, Organização e Limpeza, programa de coleta seletiva do município. O lançamento aconteceu com uma extensa programação cultural, tendo havido apresentações do grupo teatral da ASMARE, de Belo Horizonte, e de grupos musicais locais, e ainda uma caminhada em prol da coleta seletiva que percorreu grande parte da cidade, conduzida pelos catadores da ASCATA (Associação de Catadores Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Carlos Chagas) e pelo grupo “ASMARE em Cena”. Ao final do evento, com um momento de confraternização, foi inaugurado o galpão da ASCATA. Esse lançamento festivo contou com a intensa participação das Escolas, de representantes do Poder Público e dos vários segmentos da sociedade, tendo tido uma boa adesão dos munícipes.

Como forma de mobilização e divulgação da campanha de coleta seletiva, foram distribuídos porta a porta, pelos catadores, folhetos do programa SOL e imãs de geladeira. Essas peças de divulgação continham informações sobre a forma correta para separação do material reciclável, do lixo úmido e dos rejeitos, e a rotina semanal de coleta desse material no município. O evento de lançamento da coleta seletiva mereceu destaque no Informativo mensal da Câmara Municipal de Carlos Chagas.




PLANO DE MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA PARA UMA COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL
FOTO DE AUDIÊNCIA PUBLICA PARA COLETA SELETIVA NA CAMARA MUNICIPAL DOS VEREADORES DE PASSOS MG QUE NÃO DEU EM NADA

FOTO DE AUDIENCIA PUBLICA PARA COLETA SELETIVA NA CAMARA MUNICIPAL DOS VEREADORES DE PASSOS MG QUE NÃO DEU EM NADA
Os carrinhos e caminhões usados na coleta seletiva dos recicláveis são também instrumentos de mobilização. Esses veículos podem ter uma programação visual que estimule a participação, com espaços para publicidade de empresas que venham a patrocinar o programa e também para informes e frases ligadas à educação ambiental.

Um processo de mobilização social é permanente e precisa do suporte frequente de materiais de apoio adequados a cada faixa etária, ao grau de escolaridade e às especificidades sócio-culturais, entre outros aspectos.

São inúmeros os tipos de instrumentos de divulgação como “jingles”, faixas, cartazes, inserções nas rádios, panfletos, folhetos, cartilhas, artigos técnicos, livros, outdoors, “banners”, vídeos, broches, adesivos, camisetas e um sem número de outras possibilidades que a criatividade permite descobrir.

É desejável que se defina um local de referência para a concentração de materiais educativos, como por exemplo uma Secretaria de Meio Ambiente, de Educação, ou o órgão de limpeza urbana. Os materiais educativos, compostos de folhetaria, artigos e fitas de vídeo, devem ficar disponíveis para consulta técnica e pesquisa para trabalhos escolares, formando um acervo do município.
 
É importante que todo o projeto elaborado seja sistematizado em um documento final, consolidando o projeto. As propostas devem ser redigidas em linguagem acessível para possibilitar ao máximo a socialização do seu conteúdo

Fonte do texto: crea-mg.org.br

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