Em um programa de coleta
seletiva, a participação popular torna-se imprescindível para a transformação social,
uma vez que sem a adesão da comunidade na separação dos resíduos, não se faz
coleta seletiva. Por isso, o envolvimento da comunidade tem que ser contínuo e
periodicamente realimentado; a implantação da coleta seletiva deve ser progressiva,
baseada na capacidade operacional, financeira e mobilizatória da administração,
para evitar retrocesso ou desmotivação da população.
Um Plano de Mobilização
Comunitária deve incluir atividades de educação ambiental formal e informal, deve
propor ações para mobilização dos diversos segmentos sociais, visando à redução
do desperdício, à manutenção da limpeza pública e à implantação da coleta
seletiva. Valorizam-se as informações obtidas no diagnóstico social,
especialmente as relacionadas aos indicadores de mobilização e comunicação
social. Sempre que possível, deve ser estimulada a potencialidade artística e
cultural local, devendo-se também valorizar os meios de comunicação formais e
alternativos, as festividades e a criatividade em todas as suas formas de
manifestação.
É importante enfatizar, nos programas de
educação ambiental, que a reciclagem não resolve todos os problemas do lixo e
não deve justificar o desperdício. Ao contrário, deve-se estimular a prática
dos 3Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, nessa ordem de prioridade.
O 1º R – Reduzir ao máximo a geração de
resíduos, eliminando os desperdícios, rejeitando produtos e embalagens
supérfluas. É o mais importante e o mais difícil porque exige mudanças internas
mais profundas. Nossa cultura confunde fartura com desperdício, e o consumo de
supérfluos e descartáveis aumenta, já que são considerados sinais de uma vida
mais prática e mais confortável. Com isso, o lixo brasileiro é um dos mais
“ricos” do mundo. Em contrapartida, para muitas pessoas restam somente as
sobras como fonte de sobrevivência. Além disso, recursos naturais são extraídos
para a produção de bens de consumo não tão necessários que rapidamente se
transformam em lixo, com alto potencial de degradação ambiental. Essa reflexão
deve ser o ponto de partida para promover a revisão de valores quando se
implantar a coleta seletiva.
Deve-se, então, estimular
ações para gerar menos lixo:
- Escolher produtos mais
duráveis;
- Substituir descartáveis por
similares duráveis como copos, talheres, sacolas e guardanapos;
- Preferir produtos que tenham
refil;
- Diminuir o uso de
embalagens.
- Estimular as pessoas a
levarem a própria sacola ao ir às compras, evitando o uso de sacolas plásticas
descartáveis.
O 2º R – Reutilizar os produtos e
materiais. Uma embalagem (vidro ou plástico) de maionese, por exemplo, pode ser
reaproveitada para acondicionar outros alimentos; uma lata de molho de tomate
pode transformar-se num porta-trecos, e assim por diante. O 2º R é um desafio à
criatividade e também implica vencer preconceitos contra o material usado, o
velho. Significa reaproveitar os materiais, valorizar materiais usados, adiando
a sua transformação em lixo.
Ações que promovem a
reutilização dos materiais:
- Reformar, restaurar,
compartilhar, doar, trocar;
- Estimular artesãos que usam
materiais recicláveis;
- Valorizar brechós e sebos;
- Promover feira de trocas;
- Reaproveitar papel para
rascunho.
O 3º R – Reciclar – Esgotados os esforços
de redução e reutilização, encaminhar os resíduos para a reciclagem, por meio
da coleta seletiva. A reciclagem permite transformar materiais já usados, por
processo artesanal ou industrial, em novos produtos. O lixo volta ao ciclo
produtivo como matéria-prima para produção do mesmo produto ou de outro.
Além do apelo ambiental, o apelo social é
relevante no Plano de Mobilização, sendo um dos fatores que amplia
comprovadamente a adesão da população ao programa de coleta seletiva e,
portanto, deverá ser incorporado ao Plano.
Destaca-se em especial o apelo
representado pela separação dos materiais recicláveis em prol da sobrevivência
de pessoas historicamente excluídas e que têm no lixo a sua opção de inclusão
social, podendo-se utilizar o potencial dos catadores na sensibilização das
pessoas da comunidade onde atuam para que separem os materiais recicláveis.
Um aspecto marcante do Plano
de Mobilização Comunitária é o seu caráter permanente. Além de ações pontuais,
como campanhas e eventos, é necessário o planejamento de ações contínuas a
serem atualizadas e incrementadas periodicamente, de forma a garantir o
comprometimento definitivo da população com as soluções necessárias à boa
gestão dos resíduos.
Em geral, entende-se
comunicação como um conjunto de instrumentos (folhetaria, jornais, peças audiovisuais...)
que visam socializar informações para um público que se pretende atingir. A mobilização
social, por sua vez, envolve a participação mais efetiva de pessoas que se
juntam para viabilizar um projeto comum. A informação e o diálogo são o
combustível do processo de mobilização social, que também comporta uma dimensão
lúdica e artística como forma de acesso ao coração, ao simbólico. O objetivo é,
ultrapassando-se o mero repasse de informações de caráter racional. O teatro, a
música, as intervenções lúdico-pedagógicas são instrumentos que podem persuadir
as pessoas a mudarem suas atitudes cotidianas de forma muito mais afetiva e
efetiva.
É importante observar que a
mobilização permeia todo o trabalho de planejamento e implantação da coleta
seletiva. Desde o início, nos primeiros contatos com a equipe técnica da
prefeitura, depois com a constituição do Grupo Gestor do programa, há sempre a
preocupação em sensibilizar, informar e organizar as pessoas. Assim, é fator de
sucesso de um programa de coleta seletiva ter a mobilização e o planejamento
participativos como pilares estruturadores do processo.
Em muitas experiências de
coleta seletiva, os catadores têm promovido a participação da população pelo
vínculo afetivo que estabelecem com os moradores. A geração de trabalho e renda
para pessoas vindas da marginalidade sensibiliza o cidadão, que passa a ter
mais compromisso em separar os materiais recicláveis. Para que os catadores se
transformem em agentes de educação ambiental, devem ser treinados para dialogar
com os moradores, os comerciantes ou mesmo os grandes geradores.
A identificação dos catadores
com crachás e uniformes favorece a aproximação e o reconhecimento profissional,
gerando uma atmosfera de segurança para a comunidade. Um outro papel na
educação ambiental que os catadores podem desempenhar é transformar o galpão de
triagem num espaço educativo ao receber estudantes e multiplicadores de ações
educativas para visitas técnicas, quando um anfitrião-catador fornece
informações sobre o processo de coleta seletiva e passa lições de vida. Esses
catadores com seus depoimentos sempre fortes, podem também desempenhar essa
função de difundir a causa ambiental ao se apresentarem em escolas e em eventos
de mobilização.
Os próprios funcionários da
administração municipal, em especial das áreas de meio ambiente e de limpeza
urbana, também devem ser preparados para reforçar o trabalho de educação
ambiental e mobilização social.
A apresentação dos catadores
em cada domicílio por intermédio de funcionários da prefeitura é uma estratégia
fundamental para a mobilização da população. Nessa abordagem, os funcionários
acompanham os catadores e, juntos, informam à população atendida sobre os benefícios
ambientais da coleta seletiva e a possibilidade de geração de renda para o
pessoal envolvido. Nesse caso, a evolução da cobertura de coleta deve ser
gradativa e atingir, preferencialmente 100% dos domicílios. A estratégia de
contato direto do catador, com o desenvolvimento de um vínculo de
solidariedade, tende a aumentar significativamente a taxa de adesão da
população ao programa.
A conscientização obtida por
meio de contato regular e direto com a população resulta em mudanças de
atitudes mais eficazes e duradouras do que por meio de campanhas e premiações.
Uma questão importante que
deve balizar o trabalho de mobilização social é que não se deve usar a
estratégia de troca de recicláveis por bens de consumo. De acordo com GRIMBERG,
e BLAUTH, 1998, a troca, como estímulo para a separação dos recicláveis,
pressupõe que atitudes ecologicamente mais adequadas são obtidas na barganha
por bens materiais. Afinal, “a vida não é um negócio, e participar da sociedade
não é uma transação comercial ou despesa reembolsável” (ACKERMAN, 1997, citado
por GRIMBERG, E. e BLAUTH, P., 1998).
A prefeitura deve disponibilizar
um número de telefone de contato para a população, que deve ser divulgado em
folhetos informativos entregues pelos catadores nos domicílios, medida que permite
solucionar dúvidas e pequenos problemas que possam surgir por desinformação dos
moradores.
É importante lembrar que uma
condição de sucesso para o processo educativo é que o município esteja
preparado para oferecer um sistema eficiente de coleta de recicláveis. Daí a
importância de os projetos das equipes técnico-operacional e de inclusão social
estarem em sintonia com o Plano de Mobilização Comunitária.
Deve-se ter cuidado em não
realizar campanhas publicitárias sem um suporte operacional suficiente para
absorver o aumento de materiais recicláveis separados em decorrência de uma ampla
divulgação, o que prejudicaria a credibilidade do programa. Por isso, a
divulgação do programa feita por meio da abordagem direta do catador com a
população é mais segura.
Dentre as ações que têm sido
desenvolvidas no âmbito do projeto de educação ambiental para a implantação da
coleta seletiva está a criação de com a realização de oficinas de papel
reciclado e de reaproveitamento de outros materiais recicláveis. Também é comum
instalar um que expõe objetos encontrados na coleta seletiva.
As escolas são para a constituição
de uma do meio ambiente, pois atingem crianças e jovens num estágio de formação
de valores e comportamentos. As escolas podem trabalhar tanto o aspecto
conceitual, repassando informações e conhecimentos, como também aderir ao
sistema da coleta seletiva, com a separação do papel de uso interno, e mesmo
acolher um Local de Entrega Voluntário – LEV para uso da comunidade do entorno
ou das famílias dos estudantes. As iniciativas são infindáveis, sendo
importante realizar a atividade adequada, no momento certo.
Para isso, os educadores e os
membros do Grupo Gestor devem estar sintonizados e programar, com boa
antecedência, atividades compatíveis com o estágio do programa, e precedidas de
um planejamento adequado às possibilidades financeiras e logísticas existentes.
As propostas vão desde, passando por e chegando a ao aterro ou ao galpão dos
catadores. Orientações mais específicas para a implantação da coleta seletiva
em escolas são apresentadas no capítulo “Coleta seletiva em escolas e
universidades” desta publicação.
Com relação aos LEVs, deve-se
também considerá-los como importantes instrumentos de mobilização social.
Contêineres são estimuladores da participação social. A tanto em termos de visibilidade
como de segurança, é um incentivo à adesão ao programa. A programação visual dos
contêineres deve reservar um espaço para a publicidade de patrocinadores e
também para informes sobre o seu bom uso e frases ligadas à educação ambiental.
Precedendo-se à instalação desses LEVs, deve ser feito um trabalho de educação
ambiental para mobilização dos moradores circunvizinhos, o que propicia um
melhor aproveitamento desses equipamentos. A mobilização visa conquistar
“adotantes” dos LEVs, que passam a ser os vigilantes contra eventuais depredações
nos equipamentos.
É interessante promover um
evento de inauguração dos equipamentos, com a participação de estudantes e
populares. Para “aquecer” a comunidade para o evento, podem-se usar faixas, carro
de som e reuniões com líderes comunitários. É sempre desejável que essa
inauguração tenha um caráter mais lúdico, para atrair a simpatia dos moradores,
podendo-se programar apresentações de teatro, música ou alguma outra dinâmica
integradora. A programação deve ter um podendo incluir a distribuição de
folhetos educativos com as informações sobre o programa de coleta seletiva e a
divulgação dos demais locais de entrega.
Essa “panfletagem” pode ser
feita nas casas do entorno em abordagens “corpo-a-corpo”, e também com a
distribuição dos folhetos para os motoristas que circulam no local, numa “blitz
educativa”. O folheto, ou “folder”, que passa ao morador a informação
fundamental para que ele tenha uma participação correta e consciente, é um que
tem sido utilizado nas experiências de coleta seletiva em curso no Brasil.
Em Carlos Chagas19–MG, foi
lançado, em maio de 2004, o programa SOL – Solidariedade, Organização e
Limpeza, programa de coleta seletiva do município. O lançamento aconteceu com uma
extensa programação cultural, tendo havido apresentações do grupo teatral da
ASMARE, de Belo Horizonte, e de grupos musicais locais, e ainda uma caminhada
em prol da coleta seletiva que percorreu grande parte da cidade, conduzida
pelos catadores da ASCATA (Associação de Catadores Trabalhadores de Materiais
Recicláveis de Carlos Chagas) e pelo grupo “ASMARE em Cena”. Ao final do
evento, com um momento de confraternização, foi inaugurado o galpão da ASCATA.
Esse lançamento festivo contou com a intensa participação das Escolas, de
representantes do Poder Público e dos vários segmentos da sociedade, tendo tido
uma boa adesão dos munícipes.
Como forma de mobilização e
divulgação da campanha de coleta seletiva, foram distribuídos porta a porta,
pelos catadores, folhetos do programa SOL e imãs de geladeira. Essas peças de divulgação
continham informações sobre a forma correta para separação do material
reciclável, do lixo úmido e dos rejeitos, e a rotina semanal de coleta desse
material no município. O evento de lançamento da coleta seletiva mereceu
destaque no Informativo mensal da Câmara Municipal de Carlos Chagas.
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FOTO
DE AUDIÊNCIA PUBLICA PARA COLETA SELETIVA NA CAMARA MUNICIPAL DOS VEREADORES DE
PASSOS MG QUE NÃO DEU EM NADA
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Os carrinhos e caminhões
usados na coleta seletiva dos recicláveis são também instrumentos de
mobilização. Esses veículos podem ter uma programação visual que estimule a participação,
com espaços para publicidade de empresas que venham a patrocinar o programa e
também para informes e frases ligadas à educação ambiental.
Um processo de mobilização
social é permanente e precisa do suporte frequente de materiais de apoio
adequados a cada faixa etária, ao grau de escolaridade e às especificidades
sócio-culturais, entre outros aspectos.
São inúmeros os tipos de
instrumentos de divulgação como “jingles”, faixas, cartazes, inserções nas
rádios, panfletos, folhetos, cartilhas, artigos técnicos, livros, outdoors,
“banners”, vídeos, broches, adesivos, camisetas e um sem número de outras
possibilidades que a criatividade permite descobrir.
É desejável que se defina um
local de referência para a concentração de materiais educativos, como por
exemplo uma Secretaria de Meio Ambiente, de Educação, ou o órgão de limpeza
urbana. Os materiais educativos, compostos de folhetaria, artigos e fitas de
vídeo, devem ficar disponíveis para consulta técnica e pesquisa para trabalhos
escolares, formando um acervo do município.
É importante que todo o
projeto elaborado seja sistematizado em um documento final, consolidando o
projeto. As propostas devem ser redigidas em linguagem acessível para possibilitar
ao máximo a socialização do seu conteúdo
Fonte do texto: crea-mg.org.br
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