06 julho 2020

COLETA SELETIVA NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES FORMAÇÃO DE COMISSÃO COORDENADORA E REALIZAÇÃO DE DIAGNÓSTICO

Só a educação não consegue mudar o mundo. Mas sem ela tampouco o mundo se transforma. (PAULO FREIRE)

As escolas, além de grandes geradoras de materiais recicláveis e, portanto, prioritárias para implantação da coleta seletiva, têm um papel determinante na promoção da mudança cultural necessária a essa implantação.

O lixo brasileiro, com grande quantidade de materiais que poderiam ser reutilizados ou reciclados, representa um comportamento cultural que negligencia o desperdício e demonstra descuido com os recursos ambientais e mesmo falta de solidariedade com as pessoas que sobrevivem das sobras no nosso país. Como responsável pela formação das futuras gerações, a escola é o espaço privilegiado para introduzir novos valores e hábitos que possam mudar o perfil de geração e de manejo de resíduos nas cidades brasileiras. Além disso, as crianças e jovens, ao perceberem e incorporarem esses valores, levam os novos hábitos para suas famílias, completando os efeitos positivos do processo educativo.

Um problema em relação ao trabalho nas escolas é que no Brasil, principalmente as escolas públicas, já têm uma grande dificuldade para cumprir o programa tradicional de ensino, e o trabalho de educadores já envolve muito investimento, e muitas vezes sacrifícios pessoais.
 
Em decorrência disso, alguns professores podem resistir à proposta de implantação da coleta seletiva, por temerem mais trabalho e responsabilidades, dificultando ou mesmo impedindo a adesão ao projeto em determinadas escolas.

Em geral, entretanto, o projeto de coleta seletiva é atraente para as escolas, que o identificam com temas atuais, como efetivamente são a reciclagem e a preservação ambiental. Por esse motivo, é comum que as escolas se precipitem tentando implantar a coleta seletiva sem o adequado planejamento que é importante para prevenir algumas situações indesejáveis e que acontecem com certa frequência.


COLETA SELETIVA NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES FORMAÇÃO DE COMISSÃO COORDENADORA E REALIZAÇÃO DE DIAGNÓSTICO
Fonte da imagem: cantinho da alê


Não se deve estimular a separação de recicláveis antes de saber o que fazer com eles!!! A expectativa de retorno financeiro não deve ser o fator de motivação do projeto de coleta seletiva nas escolas.

Há grande risco de haver experiências mal-sucedidas, pela falta de planejamento adequado ou por gerarem expectativas de resultados que não são facilmente alcançados. É comum, por exemplo, esperar retorno financeiro com o acúmulo de materiais recicláveis na própria escola, sem avaliação prévia das condições de seu armazenamento e comercialização. Há relatos de casos em que escolas tiveram que pagar para retirar recicláveis acumulados, por não terem feito um estudo de viabilidade da sua comercialização.

Além disso, as escolas devem priorizar o processo educativo e não o comercial em um projeto como esse. Além de competirem com os catadores quando passam a comercializar recicláveis, os estabelecimentos escolares não têm instalações apropriadas para a separação e triagem de materiais.

Em outras situações, as escolas implantam “lixeiras coloridas” para coleta dos recicláveis, considerando que isso, por si só, é um processo educativo. Ao contrário, a implantação de uma infra-estrutura de coleta sem um projeto que inclua a destinação adequada dos recicláveis e também sem um trabalho de mobilização da comunidade escolar, pode criar resistências nos alunos para participar de outras experiências futuras mais bem planejadas. É comum ver escolas, principalmente particulares, se orgulharem de espalhar coletores de recicláveis sem nenhuma reflexão sobre a relação desses equipamentos com o processo educativo.
É importante tecer essas reflexões preliminares, antes de propor atividades para implantação da coleta seletiva em escolas e universidades, exatamente pela importância que essas instituições têm no processo educativo implícito num programa como esse.

Finalmente, deve-se destacar que as universidades federais incluem-se entre os órgãos que devem implantar a coleta seletiva em atendimento ao Decreto Federal nº 5.940/06, que institui a separação dos materiais recicláveis descartados e sua destinação para associações e cooperativas de catadores.

Assim, essas universidades devem seguir o roteiro apresentado no capítulo anterior, que orienta a implantação de coleta seletiva em empresas e instituições. Deve-se, contudo, atentar para a importância de incorporar atividades educativas ligadas ao tema nos currículos dos diferentes cursos, o que é detalhado a seguir, neste roteiro de implantação da coleta seletiva em escolas e universidades, análogo ao roteiro para empresas e instituições.

FORMAÇÃO DE COMISSÃO  COORDENADORA

Na implantação da coleta seletiva em escolas e universidades públicas ou privadas, a primeira ação é também a constituição de uma Comissão para planejar e coordenar a implantação de todo o processo. É necessário haver a indicação de um coordenador, com o respaldo da direção, que deve se comprometer com o programa de coleta seletiva inserindo-o entre os objetivos da escola ou universidade.

Os participantes da comissão deverão responsabilizar-se pelas seguintes etapas/atividades:

- Realização de Diagnóstico Participativo, preferencialmente envolvendo alunos e professores, com levantamento de informações sobre a situação da gestão dos resíduos na Unidade – geração e destinação dos resíduos – e sobre as organizações de catadores existentes no município;

- Planejamento e implantação do projeto;

- Organização de atividades de sensibilização e mobilização para adesão ao projeto e programação de atividades educativas prioritariamente inseridas em projeto pedagógico que incorpore, em todas as disciplinas, os temas afeitos à questão do lixo e à implantação da coleta seletiva;

- Interlocução com as cooperativas ou associações de catadores;

- Monitoramento, avaliação E realimentação do projeto.

É importante que os membros da Comissão se capacitem, por meio de revisão bibliográfica, pesquisas na internet, contato com outras experiências. Deve-se buscar a maior quantidade possível de informações sobre o tema, construindo-se um acervo para pesquisa e também para balizar atividades na escola.

Uma experiência que se destaca é o programa USP Recicla, através do qual se implantou a coleta seletiva em vários campi da universidade no estado de São Paulo (www.inovacao.usp.br/ usp_recicla/index.asp.htm).

REALIZAÇÃO DE DIAGNÓSTICO – ANTES DE IMPLANTAR, É IMPORTANTE “OLHAR EM VOLTA”...

Considerando a importância do papel da educação na revisão de valores para o trato com o lixo e implantação da coleta seletiva, é necessário que, em todas as atividades, o caráter educativo seja priorizado em relação aos aspectos operacionais. Assim, a primeira atividade do diagnóstico já deve apresentar cunho pedagógico. É muito comum as pessoas não se darem conta dos aspectos relacionados à limpeza, geração e manejo dos resíduos, até que sejam convocadas a participar das soluções para os graves problemas ligados à gestão inadequada do lixo.

Nas escolas e universidades, podem ser encontradas muitas situações indesejáveis relacionadas ao lixo e que precisam ser identificadas antes de se iniciar o processo de implantação da coleta seletiva. Problemas com a limpeza dos locais, com lixo jogado no chão pelos próprios alunos, acondicionamento inadequado para a coleta, desperdício, catação informal, venda de recicláveis por funcionários, etc., são fatos que precisam ser identificados, preferencialmente com registro fotográfico, que permita a sua divulgação em toda a comunidade escolar. É importante que todos reconheçam a realidade em que se pretende intervir, para que percebam de forma concreta a importância da participação de cada um.

A etapa de diagnóstico já pode incluir trabalhos específicos ligados a diversas disciplinas. Vejam se estas possibilidades:

- Os alunos podem levantar, nos trabalhos de matemática, por exemplo, o volume de recursos gastos na compra de materiais e na destinação dos resíduos pelo órgão.

- No diagnóstico também se realiza o levantamento dos principais materiais de consumo potencialmente recicláveis utilizados na unidade (papéis brancos e formulários diversos, jornais e revistas, caixas em geral, envelopes, cartazes velhos, plástico – copos descartáveis e cartuchos, lâmpadas, CD, disquetes e outros). A composição desses materiais, com a identificação dos recursos naturais de que são extraídos, podem ser objeto de estudo em disciplinas como ciências;

- O levantamento dos tipos de resíduos e a estimativa de geração – recicláveis (escritório e copa: papel, cartucho, alumínio, vidro, plástico, lâmpadas, CD, disquetes, etc.), orgânicos e rejeitos (banheiro) também podem ser vinculados a diversas disciplinas, como matemática (estimativa de quantidades de resíduo por tipo).

- Outras informações devem ser levantadas no diagnóstico como o fluxo, horário e frequência do recolhimento, volume estimado por tipo (recicláveis, rejeitos) e os responsáveis pela coleta interna; como é feita a destinação – para onde os resíduos são enviados e como é feita a coleta (coleta convencional da Prefeitura, catadores de rua, cooperativas, compradores de materiais recicláveis, comercialização pela própria unidade, doação a prestadores de serviços e outros); identificação das cooperativas ou associações de catadores que possam se responsabilizar pela coleta dos recicláveis; se já houver catador coletando, verificar a possibilidade de sua manutenção no processo da coleta; se já houver destinação dos recicláveis a outros beneficiários, fazer a transição de forma cuidadosa, para não gerar conflitos com os catadores.

Ainda na etapa de diagnóstico, devem ser feitos contatos com as cooperativas ou associações sobre o interesse/viabilidade e capacidade de coletar os materiais selecionados na Unidade.

Pode-se propor também que se efetue, na própria Unidade, a caracterização dos resíduos, procedendo-se ao armazenamento de todos os resíduos gerados — excetuando-se o lixo dos banheiros e os orgânicos — por uma semana, para posterior separação, análise e pesagem.

O resultado da caracterização deve apresentar os dados quantitativos e qualitativos sobre os resíduos, além de orientações pertinentes à implantação e/ou melhoria da coleta seletiva.

Considera-se que esse procedimento pode envolver diversas disciplinas, como matemática, para o estudo dos aspectos quantitativos; química e biologia, na caracterização qualitativa; ciências sociais (história, geografia), para levantar o histórico da cultura brasileira, marcada por hábitos de imenso desperdício, que certamente deve ser explicitado no processo de caracterização do lixo da Unidade.

Fonte do texto: crea-mg.org.br
Fonte da imagem: cantinho da alê

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