08 julho 2020

COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL EM CONDOMÍNIOS



A implantação da coleta seletiva em condomínios residenciais apresenta peculiaridades que merecem ser destacadas, embora haja diferenças significativas entre os diversos tipos de condomínio.

Típicos de cidades maiores, normalmente os condomínios são constituídos por edifícios de apartamentos, que variam de prédios muito pequenos — sem porteiro nem elevador, tendo como funcionária apenas uma pessoa responsável pela limpeza — até prédios muito grandes, com inúmeros apartamentos, em alguns casos conciliando com uso comercial. Há também outros tipos de condomínios, não mais de construção vertical, mas, ao contrário, reunindo casas em terrenos maiores, localizados geralmente nos arredores de grandes cidades.

Há em comum, nesses diferentes tipos de condomínios, a concentração de residências de famílias de classe média a alta, com um elevado índice de geração de recicláveis, o que justifica um trabalho para promover a separação dos materiais na fonte e a implantação da coleta seletiva.

Em geral, o lixo dessas residências é coletado por trabalhadores do condomínio e levado para local apropriado, até ser exposto para a coleta pública. Esse é um fator que pode dificultar a implantação da coleta seletiva em parceria com os catadores, já que os moradores em geral nem sabem da existência desses trabalhadores, que diariamente retiram materiais recicláveis do lixo disposto nas calçadas, antes de ser recolhido na coleta convencional.


COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL EM CONDOMÍNIOS
COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL EM CONDOMÍNIOS - FOTO DO CONDOMÍNIO VALE VERDE EM PASSOS MG ONDE PREFEITURA NÃO COBRA E NÃO APLICA COLETA SELETIVA


Outro aspecto que deve ser destacado é que muitas vezes há experiências mal sucedidas pela falta de planejamento adequado ou por gerarem expectativas de resultados que não são facilmente alcançados. É comum, por exemplo, esperar retorno financeiro sem avaliação das condições de armazenamento e comercialização. Embora haja raros exemplos de grandes condomínios que implantaram uma estrutura para triagem, armazenamento e comercialização de recicláveis, essa é uma opção que não é estimulada. Além de demandar um investimento em infra-estrutura física e em pessoal, deve-se considerar também que os catadores são trabalhadores que se dedicam especialmente a essa atividade e que perderiam sua oportunidade de trabalho e de ampliação de ganhos se os condomínios não os incluíssem como parceiros. Assim, é muito importante iniciar um projeto de coleta seletiva em um condomínio, com a perspectiva de estimular nos moradores e demais envolvidos o exercício de solidariedade social e ambiental, para a promoção de uma cidade mais justa e mais saudável. É fundamental, portanto, que todos estejam cientes e de acordo com os princípios do projeto. 

Em vários municípios, observa-se que os condomínios residenciais apresentam menor adesão ao programa de coleta seletiva, em razão da dificuldade de contato direto dos catadores com os moradores, o que enfatiza a importância do desenvolvimento de vínculos de solidariedade para o sucesso da coleta seletiva.

Esse é um exemplo de uma característica que deve ser levada em consideração no planejamento da implantação da coleta seletiva em condomínios. As atividades propostas para esse planejamento seguem a mesma orientação dos roteiros anteriores e são apresentadas a seguir, devendo ser adaptadas às características de cada condomínio e ao contexto do município.

FORMAÇÃO DE COMISSÃO COORDENADORA

Na implantação da coleta seletiva em condomínios residenciais, é necessário inicialmente definir quem será responsável por planejar e coordenar a implantação de todo o processo.
Deve haver um representante responsável pela coordenação do projeto. Dependendo do porte do condomínio, poderá haver mais pessoas envolvidas na coordenação, constituindo-se uma comissão coordenadora. O coordenador e/ou a comissão podem ser indicados em assembleia ou diretamente pelo síndico, podendo o próprio síndico ser o coordenador. Se não for o síndico, é importante que o coordenador e/ou a comissão tenham o seu respaldo e do conselho administrativo, quando houver. Deve haver explicitamente a deliberação de implantação do programa de coleta seletiva no condomínio. Se o prédio for pequeno e houver apenas o coordenador, ele poderá solicitar apoio de outros moradores quando necessário.

Os participantes da comissão e/ou o coordenador deve(m) ter o perfil apropriado para atuar(em) como facilitador(es) do projeto nas seguintes etapas/atividades:

- Realizar Diagnóstico, com levantamento de informações sobre a situação da gestão dos resíduos no condomínio – geração e destinação dos resíduos – e sobre a existência de coleta de recicláveis por catadores, ainda que informal.

- Sondagem/pesquisa no condomínio sobre o interesse relativo ao tema e adesão ao projeto, identificando pessoas com perfil para auxiliar na sua execução.

- Planejamento e implantação do projeto.

- Organização de atividades de sensibilização e divulgação do projeto (comunicação e mobilização permanentes).

- Interlocução com cooperativas ou associações de catadores que possam fazer a coleta dos recicláveis no condomínio.

- Monitoramento, avaliação E realimentação do projeto;.

É importante que os membros da Comissão e/ou do Coordenador busquem capacitar-se por meio de consultas a bibliografia disponível, pesquisa na internet, do conhecimento de outras experiências, se possível, buscando suporte técnico externo para a condução do processo.

REALIZAÇÃO DE DIAGNÓSTICO (CARACTERIZAÇÃO DOS PROBLEMAS E DO POTENCIAL DE REDUÇÃO, REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM)

- Realizar levantamento dos resíduos gerados no condomínio, da logística do recolhimento e do envolvimento dos catadores (caso exista).

- Levantar os tipos de materiais e a estimativa de geração de recicláveis (papel, alumínio, vidro, plástico, outros metais).

- Identificar as formas e locais de acondicionamento dos resíduos.

- Levantar o fluxo, horário e frequência do recolhimento e responsáveis pela coleta interna (é fundamental o envolvimento do setor responsável pela limpeza).

- Verificar a forma como é feita a destinação — para onde os resíduos são enviados e como é feita a coleta (coleta convencional da Prefeitura, catadores de rua, cooperativas, doação a prestadores de serviços e outros).

- Identificar as cooperativas ou associações de catadores que possam se responsabilizar pela coleta dos recicláveis; se já houver catador coletando, verificar a possibilidade de sua manutenção no processo da coleta; se já houver destinação dos recicláveis a outros beneficiários, fazer a transição de forma cuidadosa, para não gerar conflitos com os catadores.

- Sondar as cooperativas ou associações sobre o interesse/viabilidade e capacidade de coletar os materiais selecionados.

PLANEJAMENTO/PROPOSIÇÕES

Projeto técnico-operacional / Logística

Definir estratégias e adotar providências necessárias para a implantação da coleta seletiva no condomínio.

Definir os tipos de materiais recicláveis a serem selecionados, considerando:

1) diagnóstico elaborado.

2) disponibilidades de locais de armazenamento.
3) logística de coleta possível.

4) capacidade da cooperativa ou associação de catadores para a coleta dos materiais.

Definir o fluxo e a frequência do recolhimento dos materiais recicláveis. Quando há coleta seletiva pela prefeitura, a frequência é definida pelo órgão de limpeza, e o condomínio deve se adaptar a essa frequência. É usual a coleta seletiva municipal ocorrer com frequência semanal.

Nesse caso, deve-se verificar com os moradores a possibilidade de os recicláveis serem acondicionados nas próprias residências e expostos para coleta apenas no dia definido pela prefeitura para a coleta seletiva. Se a coleta for feita por organizações de catadores, procura-se sensibilizá-los para a importância de não causar problemas com os moradores pela eventual falta de regularidade na coleta, fixando rigorosamente a sua frequência.

Definir o número e os locais para disposição de coletores para recolhimento de materiais, se for o caso. Em condomínios constituídos por casas em locais mais afastados, pode-se optar pela instalação de grandes contêineres para a coleta dos recicláveis.

 
COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL EM CONDOMÍNIOS
COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL EM CONDOMÍNIOS - FOTO DO CONDOMÍNIO VALE VERDE EM PASSOS MG ONDE PREFEITURA NÃO COBRA E NÃO APLICA COLETA SELETIVA

Definir os locais para armazenamento de materiais recicláveis recolhidos, separadamente do lixo. Se os moradores puderem acondicionar os recicláveis nas próprias residências até o dia da coleta, não há necessidade de local especial para armazenamento dos recicláveis nos prédios.

Definir as atribuições e tarefas específicas e rotinas necessárias: quem vai fazer o quê, quando e como nas diversas etapas da operacionalização do projeto - seleção, coleta, pesagem, controles, entrega dos materiais, medição, etc; se o condomínio for muito pequeno, as rotinas são mais simplificadas e em geral o trabalho é feito pela pessoa responsável pela limpeza do prédio.

Definir cronograma de implantação e execução;

Levantar e solicitar materiais e equipamentos necessários para operar a coleta seletiva, quando for o caso: sacos plásticos ou coletores de cores diferentes.

Sensibilização / mobilização

Definir estratégias de sensibilização, informação e envolvimento:

- Do conselho de administração;
- Do síndico;
- Dos moradores;
- Do zelador/porteiro;
- Da equipe de limpeza;
- Das pessoas que trabalham nas residências.

Em condomínios pequenos poderá não haver conselho de administração, porteiro ou zelador, e de limpeza pode ser atribuída a uma única pessoa. Deve-se buscar, da mesma forma, o envolvimento cuidadoso do maior número possível de pessoas.

É fundamental haver a divulgação das informações com o uso de cartazes nos elevadores e/ou em locais de maior acesso e visibilidade, com a distribuição de folhetos e cartilhas, podendo também ser realizadas palestras, mostras de vídeo, depoimentos de catadores e de representantes de outros condomínios que tenham implantado a coleta seletiva, divulgação pela internet e em murais, dentre outros instrumentos de comunicação.

Pode ser planejado um evento de lançamento da coleta seletiva, com apoio da prefeitura ou de outras entidades, buscando-se ampliar a adesão dos moradores ao projeto.

É importante que a comissão coordenadora continue atuando na avaliação dos resultados da implantação da coleta seletiva e também que incentive medidas de Redução e Reutilização de materiais, como forma de reduzir gastos do condomínio e das famílias, com a adoção de práticas de consumo consciente, como por exemplo:

- Escolher os produtos que comprar, priorizando bens duráveis, evitando descartáveis e embalagens desnecessárias, levando sacolas de feira às compras mesmo em supermercados, em substituição às sacolas plásticas;

- Imprimir somente o necessário, fazer impressões e cópias utilizando a frente e o verso do papel, reutilizando papéis para rascunho;

- Estimular trocas (de livros, CDs e de outros objetos).

O trabalho de sensibilização de pessoas deve ser contínuo e criativo, uma vez que implica mudança de valores e hábitos arraigados. Especial atenção deve ser dada à comunicação e sensibilização das pessoas que trabalham nas casas das famílias, e que muitas vezes têm mais dificuldade em compreender e incorporar as mudanças no trato diário com o lixo. Além disso, é comum haver rotatividade dessas pessoas, o que reforça a necessidade de repasse de informações de tempos em tempos. Finalmente, é necessário renovar o entusiasmo e o envolvimento das pessoas com o projeto, para que não haja retrocesso.

Contato com Catadores

COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL EM CONDOMÍNIOSRealizar contatos com entidades apoiadoras de catadores para identificar cooperativas ou associações.

Selecionar cooperativa ou associação de catadores que se responsabilizará pela coleta dos materiais recicláveis, e se possível visitá-la para conhecer a sua real estrutura e forma de trabalho.

Marcar reunião com organizações de catadores. É fundamental que haja um acordo formal para garantia da coleta regular.

                     


Execução

Realizar evento de lançamento, se for o caso.

Desenvolver atividades permanentes de informação e sensibilização.

Distribuir os coletores de materiais recicláveis, se for o caso, de material de comunicação e sensibilização e demais equipamentos necessários.

Monitoramento, Avaliação E Manutenção do Processo

Para garantir a continuidade e o bom funcionamento da coleta seletiva, o coordenador e/ou a comissão coordenadora devem acompanhar as diversas etapas do processo e avaliar os resultados obtidos. As informações colhidas podem ajudar em eventuais correções de rumo para a melhoria ou ampliação do projeto. Devem ser identificados fatores facilitadores e dificultadores do processo que poderão orientar o redirecionamento de ações, quando necessário.

Estabelecer rotina de reuniões da Comissão Coordenadora para avaliação e revitalização das ações. De acordo com o CEMPRE, 2004, devem ser avaliadas as seguintes questões, dentre outras:

- Há envolvimento satisfatório dos moradores do condomínio?
- Os moradores demonstram satisfação com o projeto?
- A periodicidade da coleta é respeitada?
- O número de coletores (se houver) é satisfatório?
- A localização dos coletores (se houver) está adequada?
 - Está sendo coletado material em quantidade compatível com as dimensões do condomínio?
- O local de armazenamento (se houver) atende às especificações de tamanho, higiene e segurança?
- Verifica-se a adoção dos conceitos de Redução e Reutilização?

Fonte do texto: crea-mg.org.br


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