A implantação da coleta
seletiva em condomínios residenciais apresenta peculiaridades que merecem ser
destacadas, embora haja diferenças significativas entre os diversos tipos de
condomínio.
Típicos de cidades maiores,
normalmente os condomínios são constituídos por edifícios de apartamentos, que
variam de prédios muito pequenos — sem porteiro nem elevador, tendo como
funcionária apenas uma pessoa responsável pela limpeza — até prédios muito
grandes, com inúmeros apartamentos, em alguns casos conciliando com uso
comercial. Há também outros tipos de condomínios, não mais de construção
vertical, mas, ao contrário, reunindo casas em terrenos maiores, localizados
geralmente nos arredores de grandes cidades.
Há em comum, nesses diferentes
tipos de condomínios, a concentração de residências de famílias de classe média
a alta, com um elevado índice de geração de recicláveis, o que justifica um trabalho
para promover a separação dos materiais na fonte e a implantação da coleta
seletiva.
Em geral, o lixo dessas
residências é coletado por trabalhadores do condomínio e levado para local
apropriado, até ser exposto para a coleta pública. Esse é um fator que pode
dificultar a implantação da coleta seletiva em parceria com os catadores, já
que os moradores em geral nem sabem da existência desses trabalhadores, que
diariamente retiram materiais recicláveis do lixo disposto nas calçadas, antes
de ser recolhido na coleta convencional.
COLETA SELETIVA COM INCLUSÃO SOCIAL EM CONDOMÍNIOS - FOTO DO CONDOMÍNIO VALE VERDE EM PASSOS MG ONDE PREFEITURA NÃO COBRA E NÃO APLICA COLETA SELETIVA |
Outro aspecto que deve ser
destacado é que muitas vezes há experiências mal sucedidas pela falta de
planejamento adequado ou por gerarem expectativas de resultados que não são facilmente
alcançados. É comum, por exemplo, esperar retorno financeiro sem avaliação das condições
de armazenamento e comercialização. Embora haja raros exemplos de grandes
condomínios que implantaram uma estrutura para triagem, armazenamento e
comercialização de recicláveis, essa é uma opção que não é estimulada. Além de
demandar um investimento em infra-estrutura física e em pessoal, deve-se
considerar também que os catadores são trabalhadores que se dedicam
especialmente a essa atividade e que perderiam sua oportunidade de trabalho e
de ampliação de ganhos se os condomínios não os incluíssem como parceiros.
Assim, é muito importante iniciar um projeto de coleta seletiva em um
condomínio, com a perspectiva de estimular nos moradores e demais envolvidos o
exercício de solidariedade social e ambiental, para a promoção de uma cidade
mais justa e mais saudável. É fundamental, portanto, que todos estejam cientes
e de acordo com os princípios do projeto.
Em vários municípios,
observa-se que os condomínios residenciais apresentam menor adesão ao programa
de coleta seletiva, em razão da dificuldade de contato direto dos catadores com
os moradores, o que enfatiza a importância do desenvolvimento de vínculos de
solidariedade para o sucesso da coleta seletiva.
Esse é um exemplo de uma
característica que deve ser levada em consideração no planejamento da
implantação da coleta seletiva em condomínios. As atividades propostas para
esse planejamento seguem a mesma orientação dos roteiros anteriores e são
apresentadas a seguir, devendo ser adaptadas às características de cada
condomínio e ao contexto do município.
FORMAÇÃO
DE COMISSÃO COORDENADORA
Na implantação da coleta
seletiva em condomínios residenciais, é necessário inicialmente definir quem
será responsável por planejar e coordenar a implantação de todo o processo.
Deve haver um representante
responsável pela coordenação do projeto. Dependendo do porte do condomínio,
poderá haver mais pessoas envolvidas na coordenação, constituindo-se uma
comissão coordenadora. O coordenador e/ou a comissão podem ser indicados em
assembleia ou diretamente pelo síndico, podendo o próprio síndico ser o
coordenador. Se não for o síndico, é importante que o coordenador e/ou a
comissão tenham o seu respaldo e do conselho administrativo, quando houver.
Deve haver explicitamente a deliberação de implantação do programa de coleta
seletiva no condomínio. Se o prédio for pequeno e houver apenas o coordenador,
ele poderá solicitar apoio de outros moradores quando necessário.
Os participantes da comissão
e/ou o coordenador deve(m) ter o perfil apropriado para atuar(em) como
facilitador(es) do projeto nas seguintes etapas/atividades:
- Realizar Diagnóstico, com
levantamento de informações sobre a situação da gestão dos resíduos no
condomínio – geração e destinação dos resíduos – e sobre a existência de coleta
de recicláveis por catadores, ainda que informal.
- Sondagem/pesquisa no
condomínio sobre o interesse relativo ao tema e adesão ao projeto, identificando
pessoas com perfil para auxiliar na sua execução.
- Planejamento e implantação
do projeto.
- Organização de atividades de
sensibilização e divulgação do projeto (comunicação e mobilização permanentes).
- Interlocução com
cooperativas ou associações de catadores que possam fazer a coleta dos recicláveis
no condomínio.
- Monitoramento, avaliação E
realimentação do projeto;.
É importante que os membros da
Comissão e/ou do Coordenador busquem capacitar-se por meio de consultas a
bibliografia disponível, pesquisa na internet, do conhecimento de outras experiências,
se possível, buscando suporte técnico externo para a condução do processo.
REALIZAÇÃO
DE DIAGNÓSTICO (CARACTERIZAÇÃO DOS PROBLEMAS E DO POTENCIAL DE REDUÇÃO,
REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM)
- Realizar levantamento dos
resíduos gerados no condomínio, da logística do recolhimento e do envolvimento
dos catadores (caso exista).
- Levantar os tipos de
materiais e a estimativa de geração de recicláveis (papel, alumínio, vidro, plástico,
outros metais).
- Identificar as formas e
locais de acondicionamento dos resíduos.
- Levantar o fluxo, horário e
frequência do recolhimento e responsáveis pela coleta interna (é fundamental o
envolvimento do setor responsável pela limpeza).
- Verificar a forma como é
feita a destinação — para onde os resíduos são enviados e como é feita a coleta
(coleta convencional da Prefeitura, catadores de rua, cooperativas, doação a prestadores
de serviços e outros).
- Identificar as cooperativas
ou associações de catadores que possam se responsabilizar pela coleta dos
recicláveis; se já houver catador coletando, verificar a possibilidade de sua
manutenção no processo da coleta; se já houver destinação dos recicláveis a
outros beneficiários, fazer a transição de forma cuidadosa, para não gerar
conflitos com os catadores.
- Sondar as cooperativas ou
associações sobre o interesse/viabilidade e capacidade de coletar os materiais
selecionados.
PLANEJAMENTO/PROPOSIÇÕES
Projeto
técnico-operacional / Logística
Definir estratégias e adotar
providências necessárias para a implantação da coleta seletiva no condomínio.
Definir os tipos de materiais
recicláveis a serem selecionados, considerando:
1) diagnóstico elaborado.
2) disponibilidades de locais
de armazenamento.
3) logística de coleta
possível.
4) capacidade da cooperativa
ou associação de catadores para a coleta dos materiais.
Definir o fluxo e a frequência
do recolhimento dos materiais recicláveis. Quando há coleta seletiva pela
prefeitura, a frequência é definida pelo órgão de limpeza, e o condomínio deve
se adaptar a essa frequência. É usual a coleta seletiva municipal ocorrer com frequência
semanal.
Nesse caso, deve-se verificar
com os moradores a possibilidade de os recicláveis serem acondicionados nas
próprias residências e expostos para coleta apenas no dia definido pela prefeitura
para a coleta seletiva. Se a coleta for feita por organizações de catadores,
procura-se sensibilizá-los para a importância de não causar problemas com os
moradores pela eventual falta de regularidade na coleta, fixando rigorosamente
a sua frequência.
Definir o número e os locais
para disposição de coletores para recolhimento de materiais, se for o caso. Em
condomínios constituídos por casas em locais mais afastados, pode-se optar pela
instalação de grandes contêineres para a coleta dos recicláveis.
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Definir os locais para
armazenamento de materiais recicláveis recolhidos, separadamente do lixo. Se os
moradores puderem acondicionar os recicláveis nas próprias residências até o
dia da coleta, não há necessidade de local especial para armazenamento dos
recicláveis nos prédios.
Definir as atribuições e
tarefas específicas e rotinas necessárias: quem vai fazer o quê, quando e como
nas diversas etapas da operacionalização do projeto - seleção, coleta, pesagem,
controles, entrega dos materiais, medição, etc; se o condomínio for muito
pequeno, as rotinas são mais simplificadas e em geral o trabalho é feito pela
pessoa responsável pela limpeza do prédio.
Definir cronograma de
implantação e execução;
Levantar e solicitar materiais
e equipamentos necessários para operar a coleta seletiva, quando for o caso:
sacos plásticos ou coletores de cores diferentes.
Sensibilização
/ mobilização
Definir estratégias de
sensibilização, informação e envolvimento:
- Do conselho de
administração;
- Do síndico;
- Dos moradores;
- Do zelador/porteiro;
- Da equipe de limpeza;
- Das pessoas que trabalham
nas residências.
Em condomínios pequenos poderá
não haver conselho de administração, porteiro ou zelador, e de limpeza pode ser
atribuída a uma única pessoa. Deve-se buscar, da mesma forma, o envolvimento cuidadoso
do maior número possível de pessoas.
É fundamental haver a
divulgação das informações com o uso de cartazes nos elevadores e/ou em locais
de maior acesso e visibilidade, com a distribuição de folhetos e cartilhas,
podendo também ser realizadas palestras, mostras de vídeo, depoimentos de
catadores e de representantes de outros condomínios que tenham implantado a
coleta seletiva, divulgação pela internet e em murais, dentre outros
instrumentos de comunicação.
Pode ser planejado um evento
de lançamento da coleta seletiva, com apoio da prefeitura ou de outras
entidades, buscando-se ampliar a adesão dos moradores ao projeto.
É importante que a comissão
coordenadora continue atuando na avaliação dos resultados da implantação da
coleta seletiva e também que incentive medidas de Redução e Reutilização de materiais,
como forma de reduzir gastos do condomínio e das famílias, com a adoção de
práticas de consumo consciente, como por exemplo:
- Escolher os produtos que
comprar, priorizando bens duráveis, evitando descartáveis e embalagens desnecessárias,
levando sacolas de feira às compras mesmo em supermercados, em substituição às
sacolas plásticas;
- Imprimir somente o
necessário, fazer impressões e cópias utilizando a frente e o verso do papel,
reutilizando papéis para rascunho;
- Estimular trocas (de livros,
CDs e de outros objetos).
O trabalho de sensibilização
de pessoas deve ser contínuo e criativo, uma vez que implica mudança de valores
e hábitos arraigados. Especial atenção deve ser dada à comunicação e
sensibilização das pessoas que trabalham nas casas das famílias, e que muitas
vezes têm mais dificuldade em compreender e incorporar as mudanças no trato
diário com o lixo. Além disso, é comum haver rotatividade dessas pessoas, o que
reforça a necessidade de repasse de informações de tempos em tempos.
Finalmente, é necessário renovar o entusiasmo e o envolvimento das pessoas com
o projeto, para que não haja retrocesso.
Contato
com Catadores
Realizar contatos com
entidades apoiadoras de catadores para identificar cooperativas ou associações.
Selecionar cooperativa ou
associação de catadores que se responsabilizará pela coleta dos materiais
recicláveis, e se possível visitá-la para conhecer a sua real estrutura e forma
de trabalho.
Marcar reunião com
organizações de catadores. É fundamental que haja um acordo formal para garantia
da coleta regular.
Execução
Realizar evento de lançamento,
se for o caso.
Desenvolver atividades
permanentes de informação e sensibilização.
Distribuir os coletores de
materiais recicláveis, se for o caso, de material de comunicação e sensibilização
e demais equipamentos necessários.
Monitoramento,
Avaliação E Manutenção do Processo
Para garantir a continuidade e
o bom funcionamento da coleta seletiva, o coordenador e/ou a comissão
coordenadora devem acompanhar as diversas etapas do processo e avaliar os
resultados obtidos. As informações colhidas podem ajudar em eventuais correções
de rumo para a melhoria ou ampliação do projeto. Devem ser identificados
fatores facilitadores e dificultadores do processo que poderão orientar o
redirecionamento de ações, quando necessário.
Estabelecer rotina de reuniões
da Comissão Coordenadora para avaliação e revitalização das ações. De acordo
com o CEMPRE, 2004, devem ser avaliadas as seguintes questões, dentre outras:
- Há envolvimento satisfatório
dos moradores do condomínio?
- Os moradores demonstram
satisfação com o projeto?
- A periodicidade da coleta é
respeitada?
- O número de coletores (se
houver) é satisfatório?
- A localização dos coletores
(se houver) está adequada?
- Está sendo coletado material
em quantidade compatível com as dimensões do condomínio?
- O local de armazenamento (se
houver) atende às especificações de tamanho, higiene e segurança?
- Verifica-se a adoção dos
conceitos de Redução e Reutilização?
Fonte do texto: crea-mg.org.br
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