28 junho 2020

DIAGNÓSTICO TÉCNICO OPERACIONAL PARA A COLETA SELETIVA - CONHECER O LIXO E AS CARACTERISTICAS DO MUNICÍPIO


CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS

Conhecer o lixo é o ponto de partida para planejar a coleta seletiva. É necessário saber a quantidade de lixo gerada na cidade, quais materiais aparecem em sua composição, em que percentual ocorrem e em quais setores são significativos.
A partir dessa informação é possível identificar os setores prioritários para a implantação da coleta seletiva (regiões com maior geração de recicláveis) e definir as dimensões das instalações e equipamentos necessários.

As características do lixo variam em função de aspectos sociais, econômicos, culturais, geográficos e climáticos. Dependem, portanto, do poder aquisitivo, dos hábitos e do nível educacional da população. Assim, além de variar de município para município, o perfil ou a composição dos resíduos também pode variar em diferentes pontos dentro de um mesmo município. E essas informações são importantes para planejar a implantação da coleta seletiva dos recicláveis, já que a coleta deve ser dimensionada em função da quantidade de recicláveis gerados. O processo de análise dos resíduos para conhecer as suas características é chamado caracterização dos resíduos.









Para a caracterização dos resíduos, é necessário estudar as condições da zona urbana e pesquisar dados referentes ao sistema de limpeza pública, como número de setores de coleta convencional, freqüência da coleta, características sócio econômica dos setores/ bairros de coleta e quantidade de resíduos gerada.

Não são incluídos, no trabalho de caracterização, os resíduos provenientes da varrição e da capina de vias públicas. A caracterização refere-se aos resíduos sólidos domiciliares e comerciais com características domiciliares.

Em cidades de porte bem pequeno, a caracterização pode ser feita por meio da análise de todos os resíduos gerados. Já nas cidades maiores, esse procedimento é quase impossível. Nesse caso, a alternativa é realizar uma amostragem ou seja, a coleta dos resíduos em áreas menores que representem regiões com características específicas, como as principais atividades desenvolvidas, nível social, densidade de ocupação e outras. Feita a análise dos resíduos, são determinados o índice per capita, que é a quantidade média de resíduo gerada por habitante em um dia, e a sua composição gravimétrica (percentual de cada componente do lixo — orgânico, reciclável e rejeito —, podendo ainda ser subdividido por tipos de recicláveis: papel, metal, plástico, vidro e outras subdivisões que se fizerem necessárias).

A amostragem deve ser realizada num período mínimo de uma semana, de forma a abranger as eventuais flutuações na quantidade e composição do lixo gerado. A semana da amostragem deve ser considerada típica ou comum, evitando possíveis distorções motivadas pela realização de eventos (festas, feriados ou comemorações públicas) ou por oscilações do poder de compra da população de baixa renda no intervalo mensal. Preferencialmente, as amostras devem ser coletadas de segunda a domingo. Em cidades turísticas, a coleta de amostras não deve ser feita em períodos de férias escolares ou de feriados, a não ser que se queira determinar a influência da sazonalidade sobre a geração de lixo na cidade.

Para a amostragem, os setores de coleta são agrupados em função da densidade populacional e do poder aquisitivo, incorporando o conhecimento dos engenheiros e técnicos da prefeitura e até dos catadores, que muitas vezes sabem diferenciar melhor as regiões. Geralmente os setores são separados da seguinte forma:

• centro comercial;

• bairros predominantemente residenciais, de classe média alta e

• bairros de classe baixa.

A coleta das amostras é feita, de preferência, em caminhão aberto, tipo basculante ou carroceria, que circula pelos roteiros definidos em função da divisão por setores ou bairros, antes da passagem do veículo coletor convencional, podendo ser feita pelos próprios coletores da coleta domiciliar, em turnos alternados, ou ainda pelos catadores. Cada amostra deverá conter cerca de 6 m3 de resíduos não compactados (lixo solto).

No trabalho de caracterização, deve-se incentivar a participação dos diversos representantes do Grupo Gestor, inclusive dos catadores, com o cuidado de serem explicados todo o processo, as fases e os objetivos.

Para a caracterização dos resíduos em cidades de médio porte os procedimentos são estes:

•. Escolher, de acordo com o objetivo que se pretende alcançar, a lista dos componentes que se quer determinar, como por exemplo: matéria orgânica (restos de alimento e restos de podas), papel/papelão, plásticos (moles, duros e PET), metais (ferrosos, não ferrosos e alumínio), vidros, trapos etc;

•. Coletar amostras de aproximadamente 6 m³ de resíduos, a partir de lixo não compactado (lixo solto);

•. Pesar o caminhão vazio imediatamente antes de se iniciar o recolhimento das amostras, sem qualquer carga e, inclusive, sem o motorista e os ajudantes.

•. Pesar o caminhão cheio logo após o recolhimento das amostras, sem o motorista e os ajudantes; 

• Descarregar a amostra no local onde se processará a triagem dos materiais – preferencialmente em galpão, sobre uma lona plástica “tipo terreiro” evitando o rompimento dos sacos de lixo;

•. Revolver toda a amostra sem o rompimento dos sacos de lixo;

•. Quartear a amostra e selecionar dois quartis opostos (1 e 4 ou 2 e 3), sendo os outros dois descartados;

•. Repetir o procedimento obtendo-se um volume de, aproximadamente, 1,5m³;

•. Dispor os resíduos coletados sobre uma lona.

•. Este material constitui a amostra, a ser utilizada para a análise da composição física dos resíduos.

•. Utilizar esses passos para cada setor.

•. Separar o lixo por cada um dos componentes desejados;

•. Classificar como outros quaisquer materiais encontrados que não se enquadre na listagem de componentes pré-selecionada;

•. Pesar os materiais separadamente por tipo de componente;

•. Os resultados devem ser anotados em um formulário próprio;

•. Dividir o peso de cada componente pelo peso total da amostra e calcular a composição gravimétrica em termos percentuais;

•. Dispor os materiais pesados, bem como os já descartados quando do quarteamento, em caçamba ou no veículo que deverá levar os mesmos para a destinação final existente no município.

Em cidades de até cerca de 10 mil habitantes, usam-se todos os resíduos da cidade para fazer o quarteamento. Em cidades de até cerca de 2 mil habitantes, não é necessário fazer o quarteamento, podendo todos os resíduos ser utilizados para a caracterização
.
Equipamentos, materiais, mão-de-obra e instalações necessários à caracterização dos resíduos, em cidades de porte médio (100 mil habitantes), devendo ficar disponíveis por uma semana:

• 01 caminhões aberto e lona para recobrimento da carga, capacidade volumétrica de 6m3, com motorista;

• 01 veículos leve para passageiros, com motorista;

• 04 lonas plásticas resistentes, dimensões mínimas 6 x 6m (36m2);

• 02 pás quadradas, 02 enxadas largas, 02 gadanhos;

• 06 máscaras tipo filtro, para nariz e boca; 06 pares de luvas de raspa, cano longo;

• 16 tambores, capacidade de 100 a 200 litros cada, com tara definida e devidamente identificado por tipo de material;

• balança rodoviária, capacidade mínima de 30 toneladas, se for possível;

• balança de plataforma, capacidade de 200 kg, precisão 100 g;

• 01 técnicos de nível médio (ou encarregado de serviço, com escolaridade mínima equivalente ao primeiro grau completo), como coordenador da equipe de campo, especialmente treinado;

• 01 técnicos de nível médio ou superior, para levantamento de dados populacionais e caracterização sócio-econômica das áreas pesquisadas, especialmente treinado;

• 06 funcionários, para recolhimento e manejo das amostras, a serem especialmente treinados;

• preferencialmente galpão coberto, com área livre utilizável > 50 m2;

• caçamba estacionária, contêiner ou veículo que deverá levar os materiais pesados ou descartados para a destinação final municipal.
Características de lixo jogados na rua de Passos MG – Entulhos junto com resíduos domiciliares

Características de lixo jogados na rua de Passos MG – Entulhos junto com resíduos domiciliares

Características de lixo jogados na rua de Passos MG – Moveis Usados

Características de lixo jogados na rua de Passos MG – Moveis Usados



No município de Araguari – MG3, onde o CETEC apoiou o planejamento da coleta seletiva nos aspectos técnico-operacionais em 2001, foi feita a caracterização dos resíduos, cujos resultados são mostrados a seguir.

DIAGNÓSTICO TÉCNICO OPERACIONAL PARA A COLETA SELETIVA - CONHECER O LIXO E AS CARACTERISTICAS DO MUNICÍPIO
3 Informações obtidas no Relatório da FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS – CETEC, Plano de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos para o município de Araguari. Belo Horizonte, 2004.

DIAGNÓSTICO TÉCNICO OPERACIONAL PARA A COLETA SELETIVA - CONHECER O LIXO E AS CARACTERISTICAS DO MUNICÍPIO  

 
Destaca-se a diferença dos resultados em função do perfil de ocupação das áreas. O centro comercial, como era de se esperar, apresenta o maior índice de geração de recicláveis (56%), seguido pelos setores de coleta da Classe A (40%), enquanto as classes B e C apresentaram resultados mais próximos (29 e 32%). A média da cidade (33%) é próxima da média do Brasil (31,3%), de acordo com Philippi Júnior (1999).
No município de Brumadinho – MG4, foi realizada a caracterização qualitativa e quantitativa dos resíduos sólidos domiciliares e comerciais em 2004, na sede e na localidade de Casa Branca. Os resultados são mostrados nas figuras a seguir.


DIAGNÓSTICO TÉCNICO OPERACIONAL PARA A COLETA SELETIVA - CONHECER O LIXO E AS CARACTERISTICAS DO MUNICÍPIO
Observa-se a diferença dos resultados encontrados, verificando-se, em Casa Branca, um índice de geração de recicláveis muito maior (53%) em relação à sede (33%). Isso pode ser explicado pelo fato de já haver coleta seletiva na sede, com os catadores retirando quantidade significativa de recicláveis (cerca de 20% do total de materiais potencialmente recicláveis). O perfil de ocupação em Casa Branca, com muitos condomínios com população (residente e circulante) de médio e alto poder aquisitivo oriunda de Belo Horizonte, também pode gerar um índice maior de recicláveis. Além disso, verifica-se, nessa localidade, a prática de utilização de sobras de alimentos para a alimentação de animais, o que reduz o percentual de matéria orgânica nos resíduos.

Informações complementares, veículos, equipamentos e instalações:

Além da caracterização dos resíduos, é importante identificar se há grandes geradores de recicláveis no município (instituições públicas, empresas, condomínios, etc.) e também se há distritos ou povoados que devam ser incluídos no programa.

Deve ser verificado também se há algum sistema de recolhimento e destinação de materiais recicláveis, ainda que informal (catadores, sucateiro, compradores eventuais); em caso positivo, é preciso saber quem recolhe, como processa e destina, e estimar as quantidades de recicláveis que são separados.

Uma informação fundamental refere-se à existência de veículos para a realização da coleta seletiva.

Deve-se avaliar a possibilidade de adaptação de veículos eventualmente disponíveis e observar a adequação às condições locais — topografia, tipo de pavimento, etc. Para a coleta seletiva, podem ser usados caminhões-baú, caminhões adaptados com sobre guardas ou gaiolas, carroças e trator com carreta. Em geral são usados carrinhos de mão para coleta pelos catadores. Não é comum o uso de caminhões compactadores, para não dificultar o processo de triagem dos materiais e não reduzir o valor comercial dos recicláveis. Em alguns municípios maiores, entretanto, há casos de uso desse tipo de veículos.

Também é importante verificar a existência de outros equipamentos e outros recursos materiais disponíveis que possam ser empregados no projeto, além de instalações físicas que já estejam sendo usadas ou que possam vir a ser utilizadas como locais para triagem e armazenamento e/ou realizar pesquisa de terrenos para a construção de galpões de triagem. Deve-se identificar se há Usina de Triagem e Compostagem em funcionamento ou abandonada, que possa ser adaptada ou reativada.

Em Lagoa Santa - MG5, o CETEC apoiou o planejamento da coleta seletiva no contexto da elaboração do PGIRSU em 2004. O diagnóstico técnico-operacional identificou que, de 1999 a 2003, haviam sido empreendidas várias ações pela prefeitura para implantar a coleta seletiva na cidade.

Entretanto, o processo ficou a meio caminho, com várias pendências que tiveram que ser equacionadas.

Houve investimento em equipamentos e infra-estrutura em 1999:

• Instalação de contêineres para a coleta seletiva: modelo 3 em 1 (03 unidades), modelo para papel (capacidade: 1 m3, 18 unidades), modelo para metal e plástico (capacidade: 1,5m3, 10 unidades), modelo para vidro (03 unidades).

• Construção de dois galpões: um administrativo, com 95 m2, contando com escritório, vestiários e refeitório / sala de reuniões, e um galpão para triagem, com 145 m2, com estrutura coberta para separação, pesagem, prensagem e armazenamento de materiais recicláveis, sendo também equipado com prensas, balança e elevador de carga, totalizando 240 m2 de área construída.

Em 2003 foi feita a doação, pelo Ministério do Meio Ambiente, de um caminhão, uma prensa e uma balança, e foi produzido, por um particular, um protótipo de carrinho que pudesse ser patrocinado por parceiros para a realização da coleta pelos catadores em locais de difícil acesso pelo caminhão.

Apesar dessa boa base técnico-operacional, o projeto não funcionava bem, por razões diversas, que foram identificadas no processo de diagnóstico social.

O ponto que mais chamou a atenção era que o envolvimento da associação de catadores no projeto de coleta seletiva revelava uma situação delicada, com apropriação privada dos equipamentos públicos de suporte ao projeto disponibilizados pela prefeitura (como o galpão, balanças, elevador de carga) por um associado que, na verdade, era um sucateiro. Além disso, o acesso íngreme ao galpão, distante do centro da cidade, a falta de um monitoramento adequado e a ausência de uma estratégia eficaz de envolvimento da comunidade, foram apontados como elementos que dificultaram o trabalho.

Pode-se verificar, por esse exemplo, que o diagnóstico operacional está muito relacionado com o diagnóstico social; daí a necessidade de integração entre as equipes, para que as informações sejam complementares e possam ser melhor utilizadas nas proposições para implantação ou ampliação de um programa de coleta seletiva.

Fonte:crea-mg.org.br

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