Classificação
das Perdas
Levando em consideração a
necessidade de se ter uma classificação de perdas melhor estruturada, dentre as
várias sugeridas por diversos outros autores, as perdas ficaram definidas e
classificadas da seguinte maneira:
• perdas por superprodução;
• perdas por manutenção de
estoques;
• perdas por transporte;
• perdas no movimento;
• perdas por espera;
• perdas por fabricação de
produtos defeituosos;
• perdas no processamento em
si;
• perdas por substituição; e
• outras perdas.
Perdas
por Superprodução
As perdas por superprodução
estão relacionadas com a produção de componentes ou processamento de materiais perecíveis,
em quantidades superiores às necessárias (quantitativa) ou antecipadamente
(fazendo antes que seja necessário), possibilitando a ocorrência de perdas de
materiais, mão-de-obra e equipamentos.
Como exemplo deste tipo de
perda pode-se citar a produção de argamassa em quantidade superior à necessária
para um dia de trabalho (quantitativa) ou a confecção de armaduras em
quantidades superiores a necessária gerando problemas com relação à necessidade
de armazenamento além de correr o risco desta ser danificada.
Perdas
por Manutenção de Estoques
As perdas por manutenção de
estoques resultam da existência de estoques elevados de materiais, produtos em processo
ou produtos inacabados, que podem ser originados por erros de planejamento ou
programação, gerando possíveis perdas de mão-de-obra e equipamentos.
Para Costa (1999), estoques em
elevadas quantidades podem gerar perdas diretas e indiretas de materiais, pois normalmente
estes são depositados sem os cuidados necessários, ficando muitas vezes
expostos a intempéries, roubos, danos físicos e até mesmo, obsolescência, para
o caso de materiais que possuem maior tecnologia agregada. Segundo este mesmo
autor “a manutenção de estoques nos canteiros se justifica, de uma forma geral,
pelo fato de que os gerentes sentem-se mais seguros quando podem contar com
grandes quantidades de materiais armazenados, garantindo assim a continuidade
da produção (evitar paradas), o que torna evidente os problemas gerenciais que
existem em muitas empresas desse setor, tais como a falta de planejamento,
erros em orçamentos ou programação inadequada de entrega dos materiais no canteiro”.
Para ele ainda existe um outro ponto negativo associado à manutenção de grandes
estoques: a indução dos trabalhadores ao desperdício. Isso porque os funcionários
tendem a reduzir seu cuidado com os materiais, pois sabem que estes estão
disponíveis em grande quantidade no canteiro.
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Exemplo
de Perda por Manutenção de Estoque
|
Perdas
por Transporte
Este tipo de perda está
relacionado a todas as atividades de movimentação de materiais que geram custos
e não adicionam valor, e que, além disso, podem ser eliminadas em um curto
prazo de tempo (MEIRA et al, 1998).
Para que se consiga aumentar a
eficiência da produção, as empresas construtoras devem evitar o transporte, ao invés
de simplesmente mecanizá-lo. Assim sendo, melhorias podem ser conseguidas
através: do aprimoramento do layout dos canteiros, da manutenção da limpeza nos
canteiros, melhoramento na programação dos serviços, maior precisão no sistema
de informações, etc.
Cabe salientar que, além do
tempo que é gasto no transporte em si, ainda existe o tempo e o esforço
empregado no carregamento e na descarga dos materiais, muitas vezes superior ao
gasto com a atividade de transportar.
Este tipo de perda pode estar
diretamente associado à gestão de resíduos. Um transporte inadequado aumenta bastante
a quantidade de resíduos gerados. Como exemplo pode-se citar a excessiva quebra
de blocos cerâmicos por serem transportados de forma inadequada.
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Blocos
Cerâmicos Transportados de Forma Inadequada Favorecendo Quebra.
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Perdas
no Movimento
As perdas no movimento estão
relacionadas a todos os esforços e movimentos realizados pelos trabalhadores desnecessariamente
durante a execução de operações, interferindo negativamente na produtividade.
Para Costa (1999), nos
canteiros de obra estas perdas são originadas por diversos fatores, a saber:
• falta de organização dos
postos de trabalho;
• falta de método de trabalho;
• falta de arranjo no layout
do canteiro;
• inexistência de equipamentos
para efetuar as tarefas ou emprego de equipamentos inadequados; e
• outras condições
insatisfatórias de trabalho, relacionadas principalmente aos esforços e às
necessidades dos operários (ergonomia, necessidades fisiológicas, descanso e
segurança).
Perdas
por Espera
As perdas por espera estão
associadas aos períodos de tempo nos quais os trabalhadores e os equipamentos
não estão sendo usados produtivamente, agregando valor, embora seus custos
continuem sendo despendidos.
De acordo com Costa (1999) as
perdas por espera são provenientes da falta de planejamento da produção, que ocasiona
problemas de sincronismo entre as diversas atividades realizadas por diferentes
trabalhadores ou entre as atividades dos trabalhadores e o fluxo de materiais.
Além disso, um outro fator que pode ocasionar perdas por espera é o
desbalanceamento entre a quantidade de trabalhadores e a capacidade de operação
dos equipamentos disponíveis no canteiro.
Um exemplo deste tipo de perda
pode ser a interrupção de um serviço por falta de material para a execução de
uma determinada atividade (perda por espera de mão-de-obra) ou mesmo uma
betoneira parada por falta de cimento (perda por espera do equipamento e também
de mão-de-obra, se esta não for alocada para a execução de uma outra
atividade).
Perdas
por Fabricação de Produtos Defeituosos
Estas perdas ocorrem quando
são fabricados produtos que não estão de acordo com os requisitos de qualidade especificados
em projeto.
De acordo com Costa (1999), na
construção civil estas perdas estão associadas normalmente a uma inspeção deficiente
do processo, à falta de especificações ou de detalhamento na documentação
(projetos, manuais de procedimentos), à utilização de materiais defeituosos ou
de qualidade inferior, à falta de capacitação dos operários, além de outras.
Entre as principais consequências
de se produzir com defeito, destacam-se: a redução do desempenho do produto final
e os retrabalhos, ainda muito frequentes no setor da construção civil. Estes,
além de gerarem perda física dos materiais utilizados, ainda causam: perdas no
transporte, perdas no processamento (trabalho adicionado) e perda das inspeções
que foram necessárias quando o produto estava sendo executado pela primeira
vez.
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Exemplo
de Perda por Retrabalho (quebra de alvenaria por alteração no projeto).
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Perdas
no Processamento em Si
Para Meira et al (1998) estas
perdas “originam-se na natureza das atividades do processo ou na execução inadequada
dos mesmos, decorrentes da falta de procedimentos padronizados e ineficiências
nos métodos de trabalho, da falta de treinamento dos operários ou defi ciências
no detalhamento e construtividade dos projetos”.
Ou seja, são oriundas da
realização de atividades de processamento desnecessárias, ou realização das
atividades necessárias de maneira inadequada.
De acordo com Costa (1999) “as
perdas no processamento em si estão relacionadas com as características básicas
de qualidade do produto e, de uma forma geral, associam-se ao patamar
tecnológico ou à técnica construtiva adotada pela empresa”.
Como exemplo pode-se citar:
quebra manual de blocos devido à falta de blocos em tamanhos diferenciados para
locais onde não é viável a colocação de blocos inteiros e recortes nas pedras
cerâmicas para ajustes às áreas a serem revestidas.
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Perda no Processamento (sobra de cerâmica após execução de recortes para arremates). |
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Perda
Incorporada de Materiais Causada pela Espessura Excessiva de Revestimento
Devido a uma Má Especificação de Projeto.
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Perdas
por Substituição
Consistem na utilização de
materiais com características de desempenho superiores ao especificado em
projeto, no emprego de mão-de-obra com melhor qualificação que a necessária ou
no emprego de equipamentos com avanços tecnológicos onde equipamentos mais
simples poderiam ser utilizados.
São exemplos de perda por
substituição: oficiais (pedreiros, carpinteiros, etc.) transportando materiais
ou limpando o canteiro de obras, tarefas que de modo geral são realizadas por
serventes; substituição do acabamento em pintura especificado em projeto por
acabamento em pastilha cerâmica, entre outros.
Outras
Perdas
Nesta categoria de perdas
estão inclusas todas as perdas de natureza diferentes das descritas nas
categorias anteriores, mas que causam prejuízos para as empresas. Neste tipo de
perdas relacionam-se: roubos, vandalismos, acidentes, condições climáticas
adversas, entre outras.
Cabe esclarecer que estes
tipos de perda afetam cada obra de maneira diferente, uma vez que podem variar
devido a alguns fatores, como o local (bairro, cidade ou país), onde a edificação
está sendo construída, a situação econômica do país, os costumes dos
trabalhadores e habitantes da região, a forma como a empresa gerencia o
empreendimento e outros. Sendo assim, um tipo de perda qualquer pode originar
uma nova categoria dentro da classificação, em função da sua relevância ou da frequência
com que ocorrem nas obras de uma determinada localidade ou país.
A seguir, na tabela 1, são
apresentados exemplos de perdas segundo sua natureza, momento de incidência e origem.
Tabela 1 – Exemplos de Perdas
Segundo sua Natureza, Momento de Incidência e Origem (adaptada de SEBRAE,
1996).
Natureza
|
Exemplo
|
Momento de
Incidência
|
Origem
|
Superprodução
|
Produção
de argamassa em quantidade superior à necessária para um dia de trabalho.
|
Produção
|
Planejamento:
falta de procedimentos de controle.
|
Manutenção
de Estoques
|
Deterioração
da argamassa estocada.
|
Armazenamento
|
Planejamento:
falta de procedimentos referentes às condições adequadas de
armazenamento.
|
Transporte
|
Condições
inadequadas para
transporte.
|
Recebimento,
transporte,
produção
|
Gerência
da obra: falha no planejamento de meios para
executar
o transporte de materiais.
|
Movimentos
|
Tempo
excessivo de
deslocamento
devido às
grandes
distâncias entre os
postos
de trabalho.
|
Produção
|
Gerência
da obra: falta de planejamento das sequências
de
atividades e dos postos de
trabalho.
|
Espera
|
Parada
na execução dos
serviços
por falta de material.
|
Produção
|
Suprimentos:
falha na
programação
de compras.
|
Fabricação
de Produtos
Defeituosos
|
Espessura
de lajes e vigas diferentes das especificadas em projeto.
|
Produção,
inspeção
|
Projeto:
falhas no sistema de fôrmas utilizado.
|
Processamento
em si
|
Necessidade
de quebrar uma
laje
depois de pronta para
passagem
de instalações.
|
Produção
|
Planejamento:
falhas no
sistema
de controles.
Recursos
humanos: falta de
treinamento
dos funcionários.
|
Substituição
|
Substituição
do acabamento
em
pintura especificado em
projeto
por acabamento em
pastilha
cerâmica
|
Produção
|
Suprimentos:
falha na
programação
de compras.
Planejamento:
falhas no
sistema
de controles.
|
TABELA FORMATADA POR - Frank e Sustentabilidade
Perdas
x Geração de Resíduos
Com base na classificação,
pode-se dividir as perdas em dois tipos: as que englobam os desperdícios de
materiais e as que englobam a execução de tarefas desnecessárias que geram
custos adicionais e não agregam valor.
No primeiro grupo estão as
perdas responsáveis pela geração de resíduos e, de acordo com a classificação estabelecida
no item Classificação das Perdas,
estas perdas seriam:
• perdas por superprodução;
• perdas por manutenção de
estoques;
• perdas por transporte;
• perdas por fabricação de
produtos defeituosos; e
• perdas no processamento em
si.
Os outros tipos de perdas
(perdas nos movimentos e perdas por espera), apesar de não serem responsáveis
por gerarem resíduos devem ser cuidadas para serem eliminadas, pois geram
desperdícios de tempo, além de perdas financeiras.
Na indústria da construção
civil alguns fatores contribuem negativamente para o aumento no volume de
resíduos gerados. É uma indústria antiga, na qual, diferentemente de outros
ramos industriais, as máquinas foram inseridas em pequena escala, o trabalho
manual é a base da atividade produtiva e o trabalho se organiza em torno de especializações.
Além desses agravantes, Meseguer (1991) ainda destaca algumas outras
peculiaridades:
• cada produto é único e
normalmente não seriado;
• o produto é fixo e os
operários são móveis, ao contrário da produção seriada, dificultando a
organização e controle; e
• trata-se de uma indústria
muito tradicional, que apresenta muita inércia às alterações;
Por todas estas especificidades
nota-se o grande problema vivido pela indústria da construção no tocante às perdas
e geração de resíduos. Assim, no capítulo a seguir, serão apresentadas algumas
diretrizes para gerenciar os resíduos de construção.
Fonte do texto:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestão-de-Resíduos