Entendendo
o Conceito de Perdas
O setor da construção civil
está passando por um processo de reestruturação. Os recursos financeiros são
cada vez menores, o mercado consumidor está cada vez mais exigente, os
trabalhadores, por sua vez, têm buscado melhores condições de trabalho. Todos estes
fatores têm exigido uma nova postura das empresas. Estas estão sendo obrigadas
a adotar estratégias empresariais mais modernas, focadas na qualidade, na
racionalização e na produtividade, possibilitando a obtenção de um produto final de melhor qualidade e mais barato (COSTA; FORMOSO,1998).
O DESPERDÍCIO NA CONSTRUÇÃO CIVIL |
Diante deste contexto, as
perdas geradas ao longo do processo de produção se tornam o centro das
atenções, pois cada vez mais as empresas são obrigadas a produzir apenas o
necessário com a mínima força de trabalho, ou seja, eliminando desperdícios.
De acordo com Formoso et al
(1996) perda é qualquer ineficiência que se reflita no uso de equipamentos,
materiais, mão-de-obra e capital em quantidades superiores àquelas necessárias
a produção da edificação. Sendo assim, as perdas englobam tanto a ocorrência de
desperdícios de materiais quanto a execução de tarefas desnecessárias que geram
custos adicionais e não agregam valor.
Para Jaques (1998) apud John
(2000) as perdas têm origens nas mais diversas etapas do ciclo de vida do
edifício.
Desde a fase de projeto, uma
decisão equivocada pode ser responsável por desperdícios ou por gastos com retrabalho.
Porém, é na fase de execução onde acontece a parcela mais visível das perdas,
pois todas as decisões tomadas na fase anterior ganham dimensão física.
Uma pesquisa desenvolvida no
Brasil que contou com a participação de 18 (dezoito) Universidades e 52 (cinquenta
e duas) empresas mostrou como um de seus principais resultados que as variações
na perda chegaram a ordem de 100 vezes. Em alguns casos estas variações
aconteceram entre diferentes empresas e em outros, entre canteiros de uma mesma
empresa. Essas variações revelam que é possível reduzir enormemente as perdas
sem mudança na tecnologia utilizada (AGOPYAN, et al., 1998).
Para que as perdas sejam
eliminadas é preciso que as empresas saibam diferenciar, dentre as várias
atividades que fazem parte do processo produtivo, as que efetivamente
contribuem para a obtenção do produto final daquelas que são complementares
(que têm possibilidade de serem melhoradas ou eliminadas sem o prejuízo do
processo).
Os esforços direcionados para
evitar as perdas devem ser relacionados com certa cautela, pois algumas
atividades tais como planejamento, contabilidade e prevenção de acidentes, não
agregam valor ao produto, porém produzem valor para os clientes internos.
Apesar das várias definições
encontradas para perdas nas bibliografias, neste material será adotada a
seguinte definição:
PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL |
Para Ohno (1988) é necessário
dividir o movimento dos trabalhadores nas suas atividades em duas diferentes dimensões:
a do trabalho e a das perdas. O trabalho constitui-se do trabalho real,
necessário nas empresas, e pode ser dividido em dois tipos:
• o que adiciona valor (ou
efetivo) g corresponde à ocorrência de algum tipo de processamento, ou seja, transformação
de matéria-prima ou partes em produtos; e
• o que não adiciona valor (ou
adicional) g é necessário para viabilizar o trabalho que adiciona valor. Este
não deve ser confundido com perda, embora deva ser minimizado como se fosse,
pois também gera custos.
A figura a seguir, adaptada de
Ohno (1988), ajuda a compreender a concepção de trabalho, na qual parte dos movimentos
dos trabalhadores é considerada como perda.
Divisão dos Movimentos dos Trabalhadores: Trabalho e Perdas (adaptado de OHNO, 1988) |
Divisão dos Movimentos dos Trabalhadores:
Trabalho e Perdas (adaptado de OHNO, 1988)
Similarmente à classificação
de Ohno, Fritz Gehbauer no seu livro Racionalização na Construção Civil: como melhorar
processos de produção e de gestão apresenta uma metodologia, baseada na simples
observação aleatória dos trabalhadores no canteiro, para medir o grau de
efetividade dos trabalhos em operação. O modo como realizar esta observação
será descrita nas postagens que será feita a frente desta, no item Formulários para Aplicação da Metodologia.
Apesar da importância das
perdas relacionadas aos movimentos dos trabalhadores, neste trabalho será dado mais
destaque às perdas de material que, como comentado anteriormente, podem estar
incorporadas ou serem eliminadas como resíduos.
As perdas incorporadas são
muito comuns nas atividades moldadas “in loco” quando são utilizadas
quantidades de materiais superiores à teoricamente prevista. Como exemplo deste
tipo de perda pode-se citar um revestimento interno de parede com argamassa que
estava previsto ser realizado com 1 cm e ao término do serviço alcançou mais de
3 cm (Figura). Neste caso, por exemplo, tem-se uma perda incorporada superior
a 200%.
Perda Incorporada. |
Tendo como base estudos em
diversas obras 8, pode-se citar como outro exemplo que as perdas de argamassa
no serviço de revestimento interno de paredes podem chegar aos seguintes
indicadores percentuais:
PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL |
Nas próximas postagens virão a classificação
das perdas
Classificação
das Perdas
Levando em consideração a
necessidade de se ter uma classificação de perdas melhor estruturada, dentre as
várias sugeridas por diversos outros autores, as perdas ficaram definidas e
classificadas da seguinte maneira:
• perdas por superprodução;
• perdas por manutenção de
estoques;
• perdas por transporte;
• perdas no movimento;
• perdas por espera;
• perdas por fabricação de
produtos defeituosos;
• perdas no processamento em
si;
• perdas por substituição; e
• outras perdas.
Fonte do texto:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestão-de-Resíduos