01 junho 2017

PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Entendendo o Conceito de Perdas

O setor da construção civil está passando por um processo de reestruturação. Os recursos financeiros são cada vez menores, o mercado consumidor está cada vez mais exigente, os trabalhadores, por sua vez, têm buscado melhores condições de trabalho. Todos estes fatores têm exigido uma nova postura das empresas. Estas estão sendo obrigadas a adotar estratégias empresariais mais modernas, focadas na qualidade, na racionalização e na produtividade, possibilitando a obtenção de um produto final de melhor qualidade e mais barato (COSTA; FORMOSO,1998).


O DESPERDÍCIO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
O DESPERDÍCIO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Diante deste contexto, as perdas geradas ao longo do processo de produção se tornam o centro das atenções, pois cada vez mais as empresas são obrigadas a produzir apenas o necessário com a mínima força de trabalho, ou seja, eliminando desperdícios.

De acordo com Formoso et al (1996) perda é qualquer ineficiência que se reflita no uso de equipamentos, materiais, mão-de-obra e capital em quantidades superiores àquelas necessárias a produção da edificação. Sendo assim, as perdas englobam tanto a ocorrência de desperdícios de materiais quanto a execução de tarefas desnecessárias que geram custos adicionais e não agregam valor.

Para Jaques (1998) apud John (2000) as perdas têm origens nas mais diversas etapas do ciclo de vida do edifício.

Desde a fase de projeto, uma decisão equivocada pode ser responsável por desperdícios ou por gastos com retrabalho. Porém, é na fase de execução onde acontece a parcela mais visível das perdas, pois todas as decisões tomadas na fase anterior ganham dimensão física.

Uma pesquisa desenvolvida no Brasil que contou com a participação de 18 (dezoito) Universidades e 52 (cinquenta e duas) empresas mostrou como um de seus principais resultados que as variações na perda chegaram a ordem de 100 vezes. Em alguns casos estas variações aconteceram entre diferentes empresas e em outros, entre canteiros de uma mesma empresa. Essas variações revelam que é possível reduzir enormemente as perdas sem mudança na tecnologia utilizada (AGOPYAN, et al., 1998).

Para que as perdas sejam eliminadas é preciso que as empresas saibam diferenciar, dentre as várias atividades que fazem parte do processo produtivo, as que efetivamente contribuem para a obtenção do produto final daquelas que são complementares (que têm possibilidade de serem melhoradas ou eliminadas sem o prejuízo do processo).

Os esforços direcionados para evitar as perdas devem ser relacionados com certa cautela, pois algumas atividades tais como planejamento, contabilidade e prevenção de acidentes, não agregam valor ao produto, porém produzem valor para os clientes internos.

Apesar das várias definições encontradas para perdas nas bibliografias, neste material será adotada a seguinte definição:


PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Para Ohno (1988) é necessário dividir o movimento dos trabalhadores nas suas atividades em duas diferentes dimensões: a do trabalho e a das perdas. O trabalho constitui-se do trabalho real, necessário nas empresas, e pode ser dividido em dois tipos:


• o que adiciona valor (ou efetivo) g corresponde à ocorrência de algum tipo de processamento, ou seja, transformação de matéria-prima ou partes em produtos; e

• o que não adiciona valor (ou adicional) g é necessário para viabilizar o trabalho que adiciona valor. Este não deve ser confundido com perda, embora deva ser minimizado como se fosse, pois também gera custos.

A figura a seguir, adaptada de Ohno (1988), ajuda a compreender a concepção de trabalho, na qual parte dos movimentos dos trabalhadores é considerada como perda.



Divisão dos Movimentos dos Trabalhadores: Trabalho e Perdas (adaptado de OHNO, 1988)
Divisão dos Movimentos dos Trabalhadores: Trabalho e Perdas (adaptado de OHNO, 1988)



 Divisão dos Movimentos dos Trabalhadores: Trabalho e Perdas (adaptado de OHNO, 1988)

Similarmente à classificação de Ohno, Fritz Gehbauer no seu livro Racionalização na Construção Civil: como melhorar processos de produção e de gestão apresenta uma metodologia, baseada na simples observação aleatória dos trabalhadores no canteiro, para medir o grau de efetividade dos trabalhos em operação. O modo como realizar esta observação será descrita nas postagens que será feita a frente desta, no item Formulários para Aplicação da Metodologia.

Apesar da importância das perdas relacionadas aos movimentos dos trabalhadores, neste trabalho será dado mais destaque às perdas de material que, como comentado anteriormente, podem estar incorporadas ou serem eliminadas como resíduos.

As perdas incorporadas são muito comuns nas atividades moldadas “in loco” quando são utilizadas quantidades de materiais superiores à teoricamente prevista. Como exemplo deste tipo de perda pode-se citar um revestimento interno de parede com argamassa que estava previsto ser realizado com 1 cm e ao término do serviço alcançou mais de 3 cm (Figura). Neste caso, por exemplo, tem-se uma perda incorporada superior a 200%.


Perda Incorporada.
Perda Incorporada.
  
Tendo como base estudos em diversas obras 8, pode-se citar como outro exemplo que as perdas de argamassa no serviço de revestimento interno de paredes podem chegar aos seguintes indicadores percentuais:

PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL


           Nas próximas postagens virão a classificação das perdas

Classificação das Perdas

Levando em consideração a necessidade de se ter uma classificação de perdas melhor estruturada, dentre as várias sugeridas por diversos outros autores, as perdas ficaram definidas e classificadas da seguinte maneira:
• perdas por superprodução;
• perdas por manutenção de estoques;
• perdas por transporte;
• perdas no movimento;
• perdas por espera;
• perdas por fabricação de produtos defeituosos;
• perdas no processamento em si;
• perdas por substituição; e

• outras perdas.
Fonte do texto:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestão-de-Resíduos