As considerações finais deste
trabalho de pós graduação de Nelma Almeida cunha adaptado para as postagens no blogger que começou a ser publicado neste blogger no dia 24/06/2016 apontam os aspectos importantes para o sucesso
das usinas de reciclagem, considerando as categorias definidas no capítulo
anterior, elegendo, entre as usinas pesquisadas, que aspectos foram
considerados essenciais para o êxito do empreendimento.
Iniciando com os aspectos
importantes na categoria Instalações das usinas, algumas delas −usinas A, C e E
− estão implantadas em áreas consideradas de pequeno porte, em que as atividades
desenvolvidas correm riscos de ser interrompidas, tornando os pátios
insuficientes e, consequentemente, dificultando as etapas de produção. Ao
contrário do que acontece com as usinas B e D, instaladas em áreas de grande
porte, o que permite a expansão de suas atividades sem interferência na
produção; além de estarem bem localizadas, estas últimas possuem melhores condições
de espaço e layout permitindo o surgimento de novos pátios para armazenagem e estoque.
Ao serem planejadas, as usinas devem compatibilizar o fluxo de produção, os
pátios disponíveis para estocagem e o tempo que esse material poderá ficar
estocado sem comprometer o ritmo estabelecido de produção. Dessa forma, a
disponibilidade de espaço físico apresenta-se como diferencial para manter o
ritmo de operação na usina.
ASPECTOS IMPORTANTES |
Os aspectos importantes na
categoria Relação com a municipalidade referem-se à possibilidade de algumas das
usinas pesquisadas serem beneficiadas pelos municípios, quando eles estabelecem
a gestão dos resíduos municipais, por meio de: legislações municipais (usina
A), elaboração de normas técnicas (usina B) e criação de instrumentos legais
(usina E) que incentivem o desenvolvimento da atividade de reciclagem. A
criação desses elementos, aliada a uma administração permanente e isenta de
descontinuidade (usina C), são fundamentais para que as usinas se estabeleçam e
se sustentem como empresas.
Os aspectos importantes na
categoria Origem da matéria-prima estão relacionados diretamente ao
fornecimento contínuo desse material, que deverá ser garantido pelo disciplinamento
da ação dos grandes e pequenos geradores. Nesse sentido, as usinas B, C e E estão
em posição privilegiada, pois em seus municípios já foram implantados pontos de
recebimento de resíduos, como Eco-pontos e ATTs. Na usina A, apesar de estar em
município que não tem esses pontos implantados, o fornecimento não será
interrompido pelo fato de esse município ocupar uma pequena área territorial e
ser ela a única solução disponível. Esse último aspecto também é registrado em
relação à usina D, por ser ela o único local legal para deposição correta em
seu município. Assim, revela-se a importância de que o município, ao implantar
sua política de resíduos, disciplinador dos agentes, esteja garantindo o
abastecimento de matéria prima às usinas para produção do material agregado
reciclado.
ASPECTOS IMPORTANTES |
Os aspectos importantes na
categoria Processo de reciclagem dizem respeito às etapas de produção e
equipamentos, que devem ser rigorosamente planejados, pois estão diretamente relacionados
ao material que está sendo processado. As usinas B e C tiveram momentos de interrupção
da produção por ausência de manutenção, pelo fato de os equipamentos serem adaptados
e improvisados, estando mais sujeitos a danos. Enquanto isso, a usina D, recém-inaugurada,
possui equipamentos novos, favorecendo de forma permanente o fluxo de produção.
Na usina A, a interrupção da
produção não foi atribuída a problemas no equipamento e sim a questões
administrativas típicas de instalações públicas. Na usina E, os equipamentos
recebem manutenção periódica, com a presença de um técnico; assim, ela está
mais preparada para eventualidades. Dessa forma, a escolha dos equipamentos, o
conhecimento de sua vida útil e dos procedimentos de manutenção são aspectos
primordiais na implantação das usinas, interferindo diretamente no sucesso do
processo de produção.
Os aspectos importantes na
categoria Produtos gerados implicam estabelecer, antes do processamento, o tipo
de agregado reciclado que será produzido e sua aplicação. O agregado utilizado
para fabricação de artefatos não será o mesmo utilizado em pavimentação, ou em
vias de acesso com baixo tráfego; para isso, deverá ser conhecida a aplicação
do reciclado, produzindo-se o material desejado, como é o caso da usina D e E,
que planejam diariamente sua produção em função do material reciclado que é
solicitado pelo município. O mesmo não ocorre na usina B. Na usina A existe a
preocupação em atender o consumidor, que previamente encomenda o material
reciclado, e em abastecer o município nas obras de pavimentação. A usina C,
dependente da demanda e com poucos pátios disponíveis, preocupa-se em manter um
estoque de matéria-prima que será processada conforme a demanda. Dessa forma,
as usinas devem se organizar por meio de um planejamento que leve em
consideração suas instalações, seu layout e as demandas na produção do material
reciclado, para que possam atender de forma satisfatória os consumidores desse
mercado.
ASPECTOS IMPORTANTES |
Os aspectos importantes na
categoria Atores sociais envolvidos referem-se à identificação das pessoas
envolvidas no processo de reciclagem − funcionários, fornecedores e
consumidores finais − e ao estabelecimento de relações adequadas com esses
atores. Os funcionários capacitados e qualificados deverão receber
infra-estrutura humanizada, instalações sanitárias e local apropriado para
refeições, além da remuneração adequada, implicando alto índice de produtividade.
Com exceção da usina D, as outras são deficientes no atendimento dessas questões.
No tocante aos fornecedores, estando enquadrados no cadastramento municipal,
têm vantagens por poder dispor seus resíduos em instalações licenciadas. Já no
que se refere aos consumidores, principalmente as administrações públicas, as
vantagens se dão pela possibilidade de redução de custos em obras como as de
pavimentação. Assim sendo, a identificação desses atores sociais e das relações
que necessitam ser estabelecidas são aspectos que irão colaborar na definição
da viabilidade de implantação das usinas.
Elegendo-se, entre as usinas
pesquisadas, que aspectos foram considerados essenciais para êxito do
empreendimento e sintetizando-os, seria possível projetar uma usina otimizada
com os aspectos positivos de cada usina analisada, contribuindo para o
direcionamento de novos esforços de implantação desse tipo de empreendimento.
Dessa forma, ter-se-ia, a seguir, um desenho de usina otimizada segundo as
categorias descritas neste trabalho.
ASPECTOS IMPORTANTES |
A usina otimizada localiza-se
em um raio distante 15 quilômetros (usina C) das regiões urbanas geradoras dos
resíduos, em zona que possui boas condições de tráfego e ocupa uma área de
grande porte, com vocação para manuseio de RCD (usina B). Apresenta layout
adequadamente elaborado e planejado, atendendo às necessidades do
empreendimento (usina D): diversos pátios destinados à estocagem, às cargas e
descargas, permitindo o recebimento permanente de matéria-prima e a estocagem
dos produtos reciclados. Possui planta semimóvel que permite sua transferência
para outras áreas, sem prejuízo aos equipamentos.
É preferível que a usina seja
de administração privada como a usina C − ela traça metas e trabalha para
cumpri-las, pois, seu administrador é permanente. Se a usina é apoiada por
ações técnicas, institucionais e legislações municipais, esses incentivos
legais e a garantia de continuidade administrativa, por via privada,
incrementam a produção em escala (usina A e E), permitindo o cumprimento de
metas planejadas previamente, sem a interrupção pela mudança administrativa que
acontece nas usinas públicas de quatro em quatro anos. Garante-se assim a sequência
da produção e a manutenção dos equipamentos, que estariam sendo supervisionados
periodicamente, evitando interrupções nos processos por quebra de peças, por
exemplo.
A matéria-prima deverá ser
fornecida pelos pontos de entrega públicos (pequenos geradores) e ATT públicas
ou privadas, atendentes de grandes geradores, que funcionarão como agentes
receptores dos resíduos produzidos pelas atividades construtivas (usina B),
criados após regulamentação pela municipalidade, o que garantirá a continuidade
da oferta.
O processo de reciclagem
resultante de uma sequência lógica de etapas de produção (usina D) deve
utilizar modernos equipamentos, como os listados no anexo B (usina B). Nesse processo,
a matéria-prima deve ser umidificada e deve haver segurança de que não haja
pedaços com grandes dimensões, nem barras de aço que ponham em risco o
equipamento. A câmara de britagem deve ser alimentada continuamente,
fragmentando a matéria-prima conforme o produto definido na etapa de planejamento,
que determinará o tipo de reciclado a ser produzido em função de sua aplicação,
já que o material utilizado em uma obra de pavimentação é diferente do utilizado
na fabricação de artefatos. Assim, após a britagem, os fragmentos poderão ser encaminhados
para o empilhamento ou peneiramento, de acordo com as características planejadas.
Para a ampliação da série de
produtos ofertados, a usina deve se preocupar em produzir os materiais
passantes na etapa de peneiramento e os não passantes como “bica-corrida”
(usina A), “rachão” (usina B) e material de escalpe (usina D), que podem ser
destinados a obras de vias urbanas e estradas. Os materiais passantes em
peneiras também podem ser utilizados em obras sem função estrutural, como
contrapiso, calçadas, drenagem, fabricação de artefatos etc.
Os agentes envolvidos na usina
devem ser corretamente identificados e planejadas as relações a serem
instituídas. O proprietário deve se preocupar em gerar mão-de-obra que ocupe os
setores administrativos, técnicos e operacionais, garantindo-lhe as condições
adequadas de trabalho. Os fornecedores de matéria-prima devem estar legalizados
e cadastrados nos órgãos competentes que autorizem sua atuação nesse segmento:
a usina fornecerá orientação e procedimentos permitindo-lhes movimentar-se na
usina, obedecendo aos regulamentos internos estabelecidos. A usina deverá
garantir a continuidade de oferta aos consumidores, disponibilizando os
agregados à comunidade (usina A C e E) e à municipalidade, que usará os reciclados
na execução de obras públicas.
A usina otimizada contempla
apenas as categorias estudadas neste trabalho, baseadas no cotidiano das usinas
pesquisadas. São dados coletados e analisados, restritos às visitas realizadas.
Não são parâmetros únicos para
um modelo de usina, porque seria necessário um convívio maior com estes e
outros empreendimentos. Sugere-se assim, porém, um formato mínimo de usina coerente
com um empreendimento desse porte, apresentando-se o ciclo dos resíduos e
pontuando se as etapas mais significativas do processo.
As sugestões apresentadas
nesse formato de usina podem nortear profissionais interessados em desenvolver
esse nicho de mercado, despertar o interesse pela reutilização dos resíduos da
construção e incentivar caminhos para comercialização de novos materiais de construção
ecologicamente corretos.
Considera-se, ao final, que a
assessoria técnica ao projeto de novas instalações poderá se valer de
contribuições oriundas de novas pesquisas, que, dando continuidade a este
trabalho, abordem aspectos como análise de:
- · Novas usinas recém-instaladas;
- · Volumes de resíduos gerados nos municípios;
- · Funcionamento e eficiência dos equipamentos nas instalações das usinas de reciclagem;
- · Destino de resíduos de provenientes de outras classes: classe B, C e D;
- · Empreendimentos recicladores de madeira.
·
Dessa forma, promove-se a reciclagem dos
resíduos das atividades construtivas,·
Minimizando-se os problemas urbanos gerados
pela destinação irregular e pela ausência de Instalações adequadas a sua destinação.
Nas Próximas postagens serão apresentados os anexos do trabalho como:ROTEIRO DAS ENTREVISTAS DAS USINAS DE RECICLAGEM; ASPECTOS LEGAIS – EFEITOS DA GESTÃO MUNICIPAL; MATÉRIA - PRIMA; PROCESSO DE RECICLAGEM; PRODUTO; ATORES SOCIAIS; GUIA PARA O LICENCIAMENTO DAS ATT ; EQUIPAMENTOS – USINA B - CONJUNTO MÓVEL DE RECICLAGEM; EQUIPAMENTOS COMPLEMENTARES; DADOS BÁSICOS DE CONSUMO E PRODUTIVIDADE
Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha