Categoria
- Atores sociais envolvidos
A pesquisa nas usinas permitiu
identificar as pessoas que participam, de forma direta ou indireta, de todo o
processo produtivo e de aplicação dos agregados reciclados; a partir da entrada
dos RCD nas usinas, passando por seu beneficiamento até sua utilização pelo
consumidor final.
Nas usinas B e D, o
pesquisador não teve acesso às obras e aos consumidores dos reciclados produzidos,
mas foi possível sua identificação. Portanto, essa categoria ficou dividida em
duas subcategorias, apresentadas a seguir.
As pessoas que estão
envolvidas diretamente com os empreendimentos podem ser enumeradas a partir do
proprietário que administra a usina, dos responsáveis técnicos e dos trabalhadores
envolvidos em todas as operações. E, de forma indireta, encontram-se os fornecedores
(usinas B e E), aqueles que entregam a matéria-prima, chamados de caçambeiros,
e os consumidores, que são a própria comunidade.
Atores sociais envolvidos |
1
Agentes diretos
Entre as pessoas que
participam de forma direta no processo produtivo encontram-se os administradores,
os responsáveis técnicos (coordenadores) e os trabalhadores envolvidos nas operações
de triagem, britagem, peneiramento, empilhamento e estoques; enfim, toda a
mão-de obra necessária para a produção dos reciclados. Parte desses
trabalhadores é registrada pela usina, possui carteira assinada; outra parte
trabalha como autônomo, não tem vínculo empregatício − entre eles existem ainda
os que pertencem às cooperativas. Os cooperados representam um papel importante,
como mostram os relatos, e são reconhecidamente experientes profissionais das atividades
de triagem e segregação de resíduos, gerindo o “próprio negócio” e contribuindo
com o desenvolvimento sustentável da construção. A Tabela1 refere-se à
distribuição da mão-de obra por usinas pesquisadas.
Tabela
1 – Atores sociais e mão-de-obra.
Usinas
|
Mão-de-obra
|
Relatos
|
A
|
Empregados
da prefeitura e
Cooperativa
|
Hoje tem seis da Cooperativa e mais quatro da
Prefeitura lá [...] não tinha nenhum da Prefeitura, então hoje tem três da
Prefeitura, mais o coordenador, o encarregado, são dez pessoas trabalhando
lá. E esse pessoal da Prefeitura, ele é [...] vamos falar assim [...] ele é a
grosso modo [...] o pagamento desses [...] da Prefeitura [...] então eles estariam
emprestado para a Cooperativa para ajudá-la. Porque eles fazem a coleta e a
entrega. E ajudam também na separação [...] ajudam [...] faz de tudo. Então,
dão uma força, tipo assim [...] são dez pessoas, na verdade nove. Porque não
se conta o encarregado. O encarregado lá
é pra resolver outras coisas. Mas são nove
para pagar o salário de seis
[ENTREVISTADO A2]
|
B
|
Empregados da
prefeitura
|
-
|
C
|
Empregados
e autônomos.
|
[...] estamos gerando dez, praticamente dez
empregos diretos e gera sem dúvida, o caminhão vai carregar para algum lugar
gera mais
emprego, dá um total de [...] gera 27
empregos direto e indiretos.
Olha, nos temos quatro [...] nós temos
registrado um grupo de oito [...]
um ganha quatrocentos e outros, é que uns
ganha por produtividade de separação de metal formar cooperativa nós já
estamos lapidando eles, se você produzir mais, você ganha mais, entende?
[...] [ENTREVISTADO C1].
|
D
|
Empregados da
prefeitura e
Cooperativa
|
[...]
tudo que sai daqui então [...] é da prefeitura [...] eles perguntam o
que
eu tenho de estoque [...] eu preciso deste material, eu pré-agendo
por
telefone e chega o caminhão aqui com o memorando falando o material que
precisa a quantia e a onde vai aplicar [...] vai só para obras públicas
[ENTREVISTADO D2]
|
E
|
Empregados
da prefeitura
|
Hoje estou trabalhando com dois pra fazer a
triagem, lá na frente, umedecer. Eu tenho um operador de cima, tenho um na
esteira e 1 embaixo. Cinco pessoas mais o operador da retroescavadeira. [ENTREVISTADO
E2]
|
2
Agentes indiretos
As pessoas que atuam no
processo de forma indireta podem ser categorizadas em fornecedoras e
consumidoras.
Os fornecedores, aqui
considerados, são os que transportam resíduos até a usina: os caçambeiros que
trazem resíduos gerados pela construção de novas edificações, obras de reformas
e manutenções. Destacam-se as usinas B e C, que recebem os resíduos diretamente
de ATT.
Os consumidores dos agregados
reciclados apresentam dois aspectos interessantes, ilustrados na Tabela 2, como
constatado nos relatos dos entrevistados. O primeiro aspecto, já esperado, foi
a constatação do consumo desse material pelo município, em suas obras públicas,
registrado nas usinas B, D e E. O outro aspecto diz respeito à sociedade, pois
foi verificada, na usina C, a utilização dos reciclados em atividades
comerciais, sociais e particulares; mais especificamente: obras em igreja,
galpão comercial, posto de gasolina, conjuntos residenciais de médio padrão e
conjuntos habitacionais populares. Na usina A, caracterizou-se o uso dos reciclados
pela comunidade em obras de autoconstrução − o cidadão se dirige à usina e
escolhe o agregado que quer comprar. Nessa usina, o pesquisador teve contato
direto com consumidores e constatou a utilização do material no piso externo de
obras e no contra piso de condomínios residenciais de médio e baixo padrão.
Atores sociais envolvidos |
Os fornecedores cadastrados
são identificados e localizados facilmente, desenvolvendo a responsabilidade
pelos resíduos transportados desde a fonte geradora até a correta destinação. O
consumidor final aparece fechando o sistema da cadeia produtiva de reciclagem, retroalimentando
o sistema, uma vez que irá utilizar os produtos reciclados em atividades construtivas
gerando novos resíduos.
Tabela 2 – Atores sociais consumidores.
Usinas
|
Consumidores
|
Relatos
|
A
|
Pequenos
construtores,
floricultura
e prefeitura
|
[...] esse material é vendido normalmente, a
pedra, a areia, pedrisco, é para o construtor: pequeno construtor, que é
aquela pessoa que está construindo a própria casa.
[...] a pedra maior, ela é normalmente [...]
ela não é usada para construção, que é uma pedra grande, mas ela pode ser utilizada
ou pela Prefeitura ou pelas construtoras que tão fazendo asfalto na cidade, também
fazer base de asfalto ou fazer drenagem, fazer drenos [...] [ENTREVISTADO
A1].
|
B
|
Prefeitura
|
[...]
Quem usa esse material dentro da prefeitura hoje são as subprefeituras da
região leste [ENTREVISTADO B2].
|
C
|
Construtoras,
pequenos
construtores,
igrejas, galpões comerciais, posto de gasolina, municípios conurbados
|
Hoje os nossos clientes a própria construção
civil, os construtores,
[ENTREVISTADO C1]. Temos clientes aqui que
são os pequenos construtores da chamada casa popular. Ele já está utilizando
areia do material reciclado e fazendo o lastro com o material reciclado
[ENTREVISTADO C1]. [...] posto foi em Barueri, foi a primeira experiência
[...] [ENTREVISTADO C1].
[...] estamos fornecendo o material para uma
obra do PAR, Plano de
Arrendamento Residencial acho que é, é lá do
Belém [...] [ENTREVISTADO C2]. [...] nós temos uma igreja aí chama-se igreja
Jesus Cristo dos Últimos Dias, então elas fazem aquelas construções em
terrenos acima de 8.000, 9.000 a 10.000 metros, então [...] os pátios deles
só utilizam o material reciclado [...] [ENTREVISTADO C1].
|
D
|
Prefeitura
|
[...]
tudo que sai daqui então [...] é da prefeitura [...] eles perguntam o
que
eu tenho de estoque [...] eu preciso deste material, eu pré-agendo
por
telefone e chega o caminhão aqui com o memorando falando o
material
que precisa a quantia e a onde vai aplicar [...] vai só para
obras
públicas [ENTREVISTADO D2]
|
E
|
Prefeitura
|
Fizemos aqui a recuperação do matadouro e
agora já é a nossa sede.
Todo projeto, na entrada ali nós utilizamos
[...] um trecho de mais ou
menos 70 metros que é a sub-base, que é feita
com reciclável.[ ENTREVISTADO E1]. [...] Hoje nossa fábrica tá parada em
função de levar esse pessoal para uma outra unidade onde está construindo
[...] nós temos já alguns, quantidade razoável de bloco armazenado, o
suficiente até o final do ano, e depois nós vamos retomar essa produção, mas
tudo dentro com material reciclável, cerca de 42% ou 45% de material
reciclável [...] [ENTREVISTADO E2].
[...] nós estamos fazendo a regularização em
dois bairros, dois núcleos que eram favelas. Hoje na realidade, hoje ainda
são bairros que ainda falta infra-estrutura. Então nós vamos fazer, estamos
fazendo drenagem e pavimentação, o material que será utilizado de base será o
resíduo sólido [...] utilizá-lo no mobiliário
urbano, que é aquele projeto
urbanístico onde você tem uma pracinha, o
paisagismo a gente quer
usar o pedrisco que é muito bonito, ele fica
muito bonito, ele tem também a questão térmica, ele é mais frio, então ele
ajuda a manter a umidade. Enfim, tem toda essa utilização aí, e falta
pesquisa que pode ser feita em cima disso aí, é um campo muito vasto [ENTREVISTADO
E1].
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Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha