Minimização dos Resíduos da
Construção
A quantidade de resíduos
gerados pelas atividades construtivas tende a crescer em decorrência de
processos de renovação urbana, pela revitalização de centros urbanos e novas edificações,
solicitadas pelo crescimento populacional e déficit habitacional.
MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ATRAVÉS DA RECICLAGEM DA CONSTRUÇÃO CIVIL |
Os países da Europa Ocidental
geram entre 0,7 e 1,0 tonelada de RCD por habitante/ano, correspondendo ao
dobro dos demais resíduos sólidos gerados pela sociedade (PERA, 1996). No Brasil,
são gerados 68 milhões de toneladas por ano de RCD; a produção média de
resíduos por habitante é de 0,5 t/hab. ano, o que corresponde a quase 50% da
massa dos resíduos sólidos urbanos (ANGULO, 2002). Esse volume de resíduos
impacta o meio ambiente, podendo causar assoreamento de rios, contaminação do
lençol freático, entupimento dos sistemas de drenagem e propagação de vetores.
MATÉRIA - PRIMA ----------PROCESSO
PRODUTIVO--------PRODUTO
(Aumento do produto)
|
I
RESÍDUOS
(Ineficiência do produto)
Figura - Resíduos (ineficiência do processo produtivo)
Na figura acima, a
matéria-prima, ao passar pelo processo produtivo, deverá gerar a menor
quantidade de resíduos possíveis; consequentemente, haverá um aumento do
produto.
A geração de resíduos seria
uma ineficiência do processo de produção, que deverá ser corrigida por meio da
minimização dos resíduos.
MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ATRAVÉS DA RECICLAGEM DA CONSTRUÇÃO CIVIL |
Reciclagem na Construção Civil
Diversas pesquisas
desenvolvidas por universidades ratificam a utilização de resíduos como
matéria-prima na confecção de produtos para construção civil, ao exemplo do
agregado britado que, quando peneirado, pode ser aplicado como enchimento em
drenagem, ou em sub-base, base, contra - piso, argamassas e blocos, entre
outros.
Fatores como o conhecimento da
quantidade e a composição dos resíduos, e o seu impacto sobre o meio ambiente,
deverão ser analisados, fornecendo subsídios à utilização dos RCD na
substituição parcial ou total da matéria-prima nos processos produtivos da
construção civil.
Nesse sentido, Xavier e Rocha
(2001) propõem, para equacionamento da reciclagem, avaliações básicas como
verificação do volume gerado de resíduos, identificação da composição e
proporção dos componentes, estabelecimento das áreas disponíveis para
recolhimento de entulho, potencial de industrialização dos materiais e
agregados e possibilidades de comercialização do refugo – madeira, metais,
papel e plástico. Essas avaliações irão possibilitar o levantamento de
viabilidade econômica do trabalho de reciclagem: o dimensionamento de equipamentos
e instalações necessárias à trituração e ao beneficiamento do material; à
avaliação do agregado reciclado como produto final ou seu uso em artefatos
dosados in loco. Dessa forma, pode-se afirmar que o potencial de utilização dos
RCD na reciclagem depende de um diagnóstico da situação dos resíduos.
John (2001) classifica a
reciclagem dos resíduos em primária e secundária. É primária quando realizada
dentro do mesmo processo que o originou; possui grande importância na produção
do aço e do vidro, apesar de nem sempre ser técnica ou economicamente viável, e
existem dificuldades com a pureza e a necessidade de um controle estreito da
uniformidade das matérias-primas. A secundária está definida como a reciclagem
de um resíduo em outro processo produtivo, diferente daquele que o originou, e
apresenta inúmeras possibilidades. John constata que a maioria dos materiais
utilizados na construção civil é formada por composição e produção simples,
aceita variabilidade razoável e exige baixas resistências mecânicas; dessa
forma, afirma que a “reciclagem secundária dos resíduos é alternativa que ainda
deve ser explorada”.
A implantação de tecnologias
que visem à reutilização e à reciclagem desse material, por meio de um processo
de gestão adequada, será significativa mesmo com a implantação de programas de
minimização e redução de perdas.
Pesquisadores (JOHN, 2001;
PINTO, 2001) alertam para os riscos apresentados pela reciclagem de resíduos
sólidos:
·
Empirismo e falta de tradição em inovação
tecnológica, aliada à longa durabilidade requerida, têm significado desempenho
inadequado de novas tecnologias introduzidas no mercado.
·
Muitos resíduos são considerados de alto risco,
pois possuem elevadas concentrações de espécies químicas perigosas.
A proposta de uma metodologia
para reciclagem de resíduos, apresentada por John (2000), leva em consideração
aspectos que envolvem a caracterização físico-química e micro - estrutural do
resíduo, incluindo o seu risco ambiental; a possibilidade de ser aplicado na construção,
considerando as características dos resíduos; o desenvolvimento de diferentes aplicações
e processo de produção baseado na Ciência dos Materiais; a análise de
desempenho perante as diferentes necessidades dos usuários para cada aplicação
específica; a análise do risco ambiental do novo produto, pela contaminação do
lençol freático, entre outros; a abordagem do ciclo de vida “do berço à
sepultura”; a viabilidade econômica; e a possibilidade de transferência de
tecnologia.
A construção civil
caracteriza-se como um mercado conservador, com pouca experiência em inovação
tecnológica; por isso, um novo produto no mercado irá exigir planejamento e adequação
técnica. A confiança nesse novo produto poderá ser desenvolvida por meio das vantagens
da reciclagem, como (PINTO, 1999):
• Redução do descarte
inadequado, evitando alagamentos, deslizamento de encostas, proliferação de
vetores de doenças, poluição etc.
• Otimização do uso dos
aterros.
• Transformação de uma fonte
de despesa em fonte de faturamento ou redução de despesas de deposição.
• Redução de custo no
orçamento municipal.
• Substituição de parte dos
agregados naturais empregados na produção de concreto, argamassa, blocos,
tijolos, pavimentos etc.
• Redução dos custos de
aquisição de matérias-primas, preservando reservas naturais.
• Criação de alternativa para
as mineradoras.
• Redução do consumo de
energia e da geração de CO2 na produção e no transporte de materiais.
• Contribuição no desenvolvimento
de ações dirigidas à minimização dos resíduos e ao gerenciamento ambiental.
Pesquisadores apontam para a
necessidade de uma rede eficiente de captação de resíduos, consolidando um
sistema de reciclagem, realizando programas informativos e educacionais, com a
participação da população no processo de reciclagem, pois ela é a geradora de
resíduos e consumidora dos materiais provenientes da reciclagem. Por isso, a
comunidade deverá ser instruída sobre a importância da prática do descarte
adequado.
Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha