RESÍDUOS E RECICLAGEM
A cadeia produtiva da
construção civil interfere no meio ambiente, pela extração de matéria-prima,
produção de materiais, construção e demolição de obra civil. Segundo Pinto (1999),
a sociedade nunca consumiu tantos recursos naturais, gerando grandes
quantidades de resíduos, como na atualidade. Avalia-se que o setor da
construção civil consome entre 20% e 50% do total de recursos naturais
(SJOSTROM, 1992).
Oliveira (2002) afirma que os
materiais descartados pela construção são verdadeiras jazidas de
matérias-primas, potencialmente adequados para reciclagem. Esses resíduos são considerados,
em grande parte, materiais inertes, constituindo a maior parcela dos resíduos sólidos
gerados no ambiente urbano, considerando-se inertes os rejeitos provenientes de
concretos, argamassas, material cerâmico, vidros, blocos de concreto, concreto
celular, tijolos de barro e solo, entre outros.
Nesse cenário, distinguem-se
duas fontes geradoras: construções e demolições, ambas apresentando material de
elevado potencial de reciclagem. Além disso, pode-se classificar a origem dos
resíduos por outras atividades, como obras viárias, escavações e limpeza de
terreno.
1 Composição dos Resíduos
Os estudos realizados por Levy (1997) mostram
que a composição do entulho é função da fonte que o originou e do momento em
que a amostra foi coletada.
A Tabela 1 apresenta 18
materiais contidos no entulho pesquisado e sua procedência, ou seja, a fonte de
geração, e observa-se que a maior parte do concreto armado tem origem em obras de
demolição, ao passo que o concreto simples predomina em obras rodoviárias.
As características dos
resíduos removidos de obras ou recebidos de pequenos coletores, provenientes de
atividades de reforma e ampliação, mostram predominância da fração mineral que
irá viabilizar a introdução de processos sustentáveis, como a reciclagem (PINTO,
1999). Essa afirmação vai ao encontro da constatação na Tabela 4.1, em que se
observa, pela elevada porcentagem de concreto, a predominância da fração
mineral.
Tabela
1 − Componentes dos resíduos e fontes geradoras (LEVY, 1997).
Componentes presentes
|
Fontes que dão origem ao entulho de construção
|
||||
Trabalhos
Rodoviários
(%)
|
Escavações
(%)
|
Sobras
de
Demolições
(%)
|
Obras
Diversas
(%)
|
Sobras
de
Limpeza
(%)
|
|
Asfalto
|
23,47
|
0,00
|
1,61
|
0,00
|
0,13
|
Concreto simples
|
46,38
|
3,16
|
20,00
|
8,03
|
9,26
|
Concreto armado
|
1,61
|
2,96
|
33,10
|
8,31
|
8,25
|
Poeira, solo e lama
|
16,75
|
48,91
|
11,91
|
16,09
|
30,54
|
Pedra britada
|
7,07
|
31,10
|
6,82
|
7,76
|
9,73
|
Cascalho
|
-
|
1,43
|
4,6
|
15,25
|
14,13
|
Madeira
|
0,10
|
1,07
|
7,14
|
18,22
|
10,53
|
Bambu
|
0,00
|
0,03
|
0,3
|
0,05
|
0,29
|
Blocos de concreto
|
0,00
|
0,00
|
1,16
|
1,12
|
0,90
|
Tijolinhos maciços
|
0,00
|
0,31
|
6,33
|
11,94
|
5,00
|
Vidros
|
0,00
|
0,00
|
0,20
|
0,35
|
0,56
|
Tubos plásticos
|
0,00
|
0,00
|
0,60
|
0,35
|
1,13
|
Areia
|
4,62
|
9,58
|
1,43
|
3,24
|
1,69
|
Árvores
|
0,00
|
0,00
|
0,01
|
0,12
|
|
Conduítes
|
0,00
|
0,00
|
0,04
|
0,01
|
0,03
|
Retalho de tecidos
|
0,00
|
0,00
|
0,07
|
0,13
|
0,23
|
Metais
|
0,00
|
0,47
|
3,4
|
6,08
|
4,36
|
A Tabela 2, a seguir, ilustra a composição dos resíduos de construção
removidos de obras convencionais nas cidades de São Carlos e Santo André, no
estado de São Paulo. Destaca-se a porcentagem, em massa, dos tipos de resíduos
removidos após segregação de produtos comercializáveis (papéis, plásticos e
metais) e a predominância da fração mineral pelo alto percentual de argamassa.
Os dados coletados nessas localidades constatam a diversidade da composição dos
resíduos decorrentes da tradição construtiva e asseguram que a maioria dos resíduos
gerados é formada por parcelas recicláveis (PINTO, 1999).
Tabela 2 − Composição
dos resíduos coletados em canteiro de obra convencionais em São Carlos e Santo André
(PINTO, 1999).
Composição
percentual
(Discriminação
conforme as fontes)
|
Composição
dos RCD em
Obras brasileiras típicas
|
Argamassas
|
64,0
|
Concreto
|
4,2
|
Madeira
|
0,1
|
Componentes cerâmicos
|
11,1
|
Blocos de concreto
|
0,1
|
Tijolos
|
18,0
|
Ladrilhos
|
0,4
|
Pedra
|
1,4
|
Cimento amianto
|
0,4
|
Papel e orgânicos
|
0,2
|
Solo
|
0,1
|
Total
|
100%
|
Formatada por Frank e Sustentabilidade
Fatores como disponibilidade
de materiais, mão-de-obra e tecnologia empregadas, os sistemas construtivos e o
tipo de obra, reforma ou nova edificação influenciam a composição básica dos
resíduos. Oliveira (2002) cita que os resíduos gerados na cidade de São Paulo
são constituídos de 65% de inertes, 13% de madeira, 8% de plástico e 14% de
outros materiais.
Dados coletados em diversas
cidades mostram que as particularidades locais vão determinar uma maior geração
de RCD em reformas ou em novas edificações, havendo uma presença mais
significativa da construção empresarial, conforme se observa na Tabela 3. Outro
aspecto importante apresentado na tabela é o volume de resíduos gerados pelas
obras de reformas e demolição, superior aos de novas edificações.
Informações
|
Santo André
(Base
1997)
|
São José do
Rio Preto
(Base
1997)
|
Ribeirão
Preto (base
1995)
|
Jundiaí
(Base
1997)
|
São José dos
Campos
(Base
1995)
|
Vitória da
Conquista
(Base
1997)
|
Provável geração
RCD em novas
Edificações
|
47
|
36
|
55
|
51
|
27
|
18
|
RCD coletado em
Reformas e
Demolições
Irregulares
|
53
|
64
|
45
|
49
|
73
|
82
|
Provável geração
Total RCD (t/dia)
|
1.013
|
687
|
1.043
|
712
|
733
|
310
|
Formatada por Frank e Sustentabilidade
Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha