01 agosto 2016

A CADEIA PRODUTIVA DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

RESÍDUOS E RECICLAGEM

A cadeia produtiva da construção civil interfere no meio ambiente, pela extração de matéria-prima, produção de materiais, construção e demolição de obra civil. Segundo Pinto (1999), a sociedade nunca consumiu tantos recursos naturais, gerando grandes quantidades de resíduos, como na atualidade. Avalia-se que o setor da construção civil consome entre 20% e 50% do total de recursos naturais (SJOSTROM, 1992).


Oliveira (2002) afirma que os materiais descartados pela construção são verdadeiras jazidas de matérias-primas, potencialmente adequados para reciclagem. Esses resíduos são considerados, em grande parte, materiais inertes, constituindo a maior parcela dos resíduos sólidos gerados no ambiente urbano, considerando-se inertes os rejeitos provenientes de concretos, argamassas, material cerâmico, vidros, blocos de concreto, concreto celular, tijolos de barro e solo, entre outros.

Nesse cenário, distinguem-se duas fontes geradoras: construções e demolições, ambas apresentando material de elevado potencial de reciclagem. Além disso, pode-se classificar a origem dos resíduos por outras atividades, como obras viárias, escavações e limpeza de terreno.


1 Composição dos Resíduos

 Os estudos realizados por Levy (1997) mostram que a composição do entulho é função da fonte que o originou e do momento em que a amostra foi coletada.

A Tabela 1 apresenta 18 materiais contidos no entulho pesquisado e sua procedência, ou seja, a fonte de geração, e observa-se que a maior parte do concreto armado tem origem em obras de demolição, ao passo que o concreto simples predomina em obras rodoviárias.
As características dos resíduos removidos de obras ou recebidos de pequenos coletores, provenientes de atividades de reforma e ampliação, mostram predominância da fração mineral que irá viabilizar a introdução de processos sustentáveis, como a reciclagem (PINTO, 1999). Essa afirmação vai ao encontro da constatação na Tabela 4.1, em que se observa, pela elevada porcentagem de concreto, a predominância da fração mineral.

Tabela 1 − Componentes dos resíduos e fontes geradoras (LEVY, 1997).
Componentes presentes
Fontes que dão origem ao entulho de construção
Trabalhos
Rodoviários
(%)
Escavações
(%)
Sobras de
Demolições
(%)
Obras
Diversas (%)
Sobras de
Limpeza (%)
Asfalto
23,47
0,00
1,61
0,00
0,13
Concreto simples
46,38
3,16
20,00
8,03
9,26
Concreto armado
1,61
2,96
33,10
8,31
8,25
Poeira, solo e lama
16,75
48,91
11,91
16,09
30,54
Pedra britada
7,07
31,10
6,82
7,76
9,73
Cascalho
-
1,43
4,6
15,25
14,13
Madeira
0,10
1,07
7,14
18,22
10,53
Bambu
0,00
0,03
0,3
0,05
0,29
Blocos de concreto
0,00
0,00
1,16
1,12
0,90
Tijolinhos maciços
0,00
0,31
6,33
11,94
5,00
Vidros
0,00
0,00
0,20
0,35
0,56
Tubos plásticos
0,00
0,00
0,60
0,35
1,13
Areia
4,62
9,58
1,43
3,24
1,69
Árvores
0,00
0,00

0,01
0,12
Conduítes
0,00
0,00
0,04
0,01
0,03
Retalho de tecidos
0,00
0,00
0,07
0,13
0,23
Metais
0,00
0,47
3,4
6,08
4,36
Formatada por Frank e Sustentabilidade

A Tabela 2, a seguir, ilustra a composição dos resíduos de construção removidos de obras convencionais nas cidades de São Carlos e Santo André, no estado de São Paulo. Destaca-se a porcentagem, em massa, dos tipos de resíduos removidos após segregação de produtos comercializáveis (papéis, plásticos e metais) e a predominância da fração mineral pelo alto percentual de argamassa. Os dados coletados nessas localidades constatam a diversidade da composição dos resíduos decorrentes da tradição construtiva e asseguram que a maioria dos resíduos gerados é formada por parcelas recicláveis (PINTO, 1999). 

Tabela 2 − Composição dos resíduos coletados em canteiro de obra convencionais em São Carlos e Santo André (PINTO, 1999).
Composição percentual
(Discriminação conforme as fontes)
Composição dos RCD em
Obras brasileiras típicas
Argamassas
64,0
Concreto
4,2
Madeira
0,1
Componentes cerâmicos
11,1
Blocos de concreto
0,1
Tijolos
18,0
Ladrilhos
0,4
Pedra
1,4
Cimento amianto
0,4
Papel e orgânicos
0,2
Solo
0,1
Total
100%
Formatada por Frank e Sustentabilidade

Fatores como disponibilidade de materiais, mão-de-obra e tecnologia empregadas, os sistemas construtivos e o tipo de obra, reforma ou nova edificação influenciam a composição básica dos resíduos. Oliveira (2002) cita que os resíduos gerados na cidade de São Paulo são constituídos de 65% de inertes, 13% de madeira, 8% de plástico e 14% de outros materiais.

Dados coletados em diversas cidades mostram que as particularidades locais vão determinar uma maior geração de RCD em reformas ou em novas edificações, havendo uma presença mais significativa da construção empresarial, conforme se observa na Tabela 3. Outro aspecto importante apresentado na tabela é o volume de resíduos gerados pelas obras de reformas e demolição, superior aos de novas edificações.

Tabela 3 − Geração de RCD em alguns municípios (PINTO, 2000).
Informações
Santo André
(Base 1997)
São José do
Rio Preto
(Base 1997)
Ribeirão
Preto (base
1995)
Jundiaí
(Base 1997)
São José dos
Campos
(Base 1995)
Vitória da
Conquista
(Base 1997)
Provável geração
RCD em novas
Edificações
47
36
55
51
27
18
RCD coletado em
Reformas e
Demolições
Irregulares
53
64
45
49
73
82
Provável geração
Total RCD (t/dia)
1.013
687
1.043
712
733
310
Formatada por Frank e Sustentabilidade
Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha