Discussão dos resultados da
análise de clusters
Após terem sido definidas as
variáveis relevantes que permitem discriminar melhor o grupo de cidades
com reciclagem e
sem reciclagem, e
posicioná-las numa determinada
escala, é aplicada
a técnica estatística
multivariada denominada de
análise de clusters.
A análise foi
efetuada somente para
as cidades classificadas no grupo
1, visando estudar as cidades em relação à facilidade de implantação de
programas de reciclagem de RCD. Através do dendograma, escolheu-se três clusters. A Tabela
4, a seguir,
apresenta o comportamento médio das variáveis em cada um
dos clusters encontrados.
![]() |
TÉCNICAS DE ANÁLISE MULTIVARIADA ANÁLISE DISCRIMINANTE E DE CLUSTERS |
Tabela 4 -média das variáveis para cada
Cluster, Formados a partir das cidades do
grupo 1 (sem reciclagem)
Clusters
|
|||
1
|
2
|
3
|
|
L_densidade
|
5,77
|
7,39
|
6,48
|
Área de recepção
|
0
|
3
|
1
|
Conselho_P
|
2
|
2
|
2
|
Consórcio
|
0
|
3
|
0
|
Dom_água
|
89,03
|
97,17
|
85,28
|
Dom_esgo
|
69,39
|
90,17
|
80,52
|
Dom_lixo
|
93,05
|
99,17
|
96,51
|
Educação
|
10,82
|
4,83
|
6,83
|
Empr/milhabit
|
20,69
|
35,74
|
24,54
|
Empresa_com
|
5,27
|
3,81
|
3,93
|
Hab/domic
|
4,00
|
3,42
|
3,72
|
Idade
|
140
|
187
|
195
|
Incentivos
|
4
|
4
|
3
|
Legislação
|
6
|
6
|
5
|
Prog_coleta
|
0
|
1
|
0
|
Renda_media
|
3237,56
|
10259,93
|
6116,04
|
Funcionário
auxiliar
|
39,90
|
39,60
|
45,63
|
Funcionário médio
|
34,60
|
28,18
|
30,00
|
Funcionário
superior
|
25,49
|
32,22
|
24,38
|
Taxa de
crescimento
|
4,33
|
2,35
|
2,14
|
Fonte: Costa, N. A. A. da (2003) Formatada por Frank e Sustentabilidade
A seguir, no Quadro 3, apresentam-se
as cidades dentro de cada cluster
Quadro 3 -
classificação das cidades no grupo de clusters
CLUSTER 1
|
CLUSTER 2
|
CLUSTER 3
|
Maceió
|
Porto Alegre
|
Canoas
|
Montes Claros
|
Santos
|
Uberlândia
|
Macapá
|
Betim
|
Pelotas
|
Teresina
|
Santo André
|
Juiz de Fora
|
Boa
Vista
|
Florianópolis
|
Manaus
|
Contagem
|
São Bernardo do
Campo
|
Mauá
|
Fortaleza
|
|
Osasco
|
Campina Grande
|
|
Petrópolis
|
Feira de
Santana
|
|
Rio Branco
|
Palmas
|
|
Aracaju
|
|
|
Recife
|
|
|
Natal
|
|
|
Bauru
|
|
|
Porto Velho
|
|
|
Cuiabá
|
|
|
Sorocaba
|
|
|
Belém
|
|
|
Maringá
|
|
|
Niterói
|
|
|
Mogi das Cruzes
|
Fonte:
Costa, N. A. A. da (2003) Formatada por Frank e Sustentabilidade
A Tabela 4, apresentada acima,
mostra o valor da média alcançada pelas variáveis que compõem cada cluster. Analisando
estes valores é
possível identificar quais
as variáveis que
mais explicam as diferenças entre
os clusters, sendo
elas: domicílios com
esgoto e lixo,
educação e renda
média, as quais
apresentam valores bem
distanciados entre um
grupo e outro.
Para se ter uma idéia,
a renda média do cluster 2 é três vezes maior que o cluster
1. Além destas variáveis, os valores alcançados em densidade populacional,
área de recepção,
idade e funcionários
de nível médio,
embora contribuam para distinguir cada cluster, não apresentam
grandes diferenças.
Comparando estes
resultados com os
encontrados na análise
discriminante, observa-se que,
quando analisadas individualmente, todas
as variáveis acima
identificadas foram significativas ao
nível de 10%,
com exceção de
densidade, funcionários de
nível médio e
idade, que não
foram significativas nesse nível. Além disso, a variável renda
média também faz parte da função discriminante, embora seu peso não
seja muito significativo. Portanto,
observa-se que existe
uma coerência nos
resultados encontrados, tanto na análise discriminante como na de cluster,
com relação às variáveis que são mais importantes na
discriminação das cidades,
contribuindo para uma
melhor análise e
definição de estratégias gerais para cada grupo.
•Análise da situação do cluster
1
As cidades que compõem o cluster
1, conforme mostrado na Tabela 4 e Quadro 3, apresentam sérias deficiências com
relação às variáveis
analisadas. Embora a
densidade populacional seja
menor, não possuem áreas de recepção de entulho, nem
programas de coleta seletiva. Os serviços de saneamento básico e
limpeza pública são
menores neste cluster,
bem como a
porcentagem de analfabetos
com mais de 15 anos é mais alta
(10,82%).
O número de empresas/habitante
não difere muito do cluster 3. No entanto, o número de empresas de construção
apresenta um valor bem maior que os outros clusters. Isto pode ser explicado
pela alta taxa de crescimento populacional, bem como por representarem cidades
mais novas, onde, possivelmente, a atividade construtiva é maior.
De forma geral, as cidades que
compõem este cluster apresentam, por um lado, aspectos favoráveis à reciclagem, apesar
de sua situação
como um todo
mostrar dificuldades. Estes
aspectos se referem
à presença de
um maior número
de empresas de
construção, alta taxa
de crescimento populacional
e menor idade
das cidades, fatores
que podem mostrar
um aumento da
atividade construtiva e,
por conseguinte, da
quantidade de resíduos,
onde, do ponto
de vista técnico,
haveria material suficiente para reciclagem.
Por outro lado, pelo fato das
cidades apresentarem uma baixa densidade populacional com relação aos outros clusters, pode
ser um indicativo
de que estas
cidades têm espaço
suficiente para aterros,
fazendo com que
o município não
veja uma necessária
urgência para implantar
programas de reciclagem de resíduos. Acrescenta-se a isso
o nível de renda da população, considerado baixo, e não representando um
fator impulsionador da
reciclagem. Além disso,
a precariedade dos
serviços de saneamento
básico mostra que
as prefeituras apresentam
deficiências para resolver
estes problemas considerados importantes. Diante deste
quadro, é de se esperar que a questão da reciclagem de RCD não esteja presente
nos principais programas e na agenda das prefeituras destas cidades.
•Análise da situação do cluster 2
Conforme dados
apresentados na Tabela 4
e Quadro 3, o cluster 2,
do ponto de
vista do comportamento das
variáveis analisadas, tem o melhor
desempenho, e nele
estão localizadas as cidades
que tiveram, também, melhor escore com relação à função discriminante (Tabela
3), ou seja, cidades classificadas no grupo 2, com exceção de Betim e Santos,
que foram classificadas no grupo 1.
No cluster 2 com a maior densidade
populacional média (7,48 hab/km2), por exemplo, está localizada a cidade
de Porto Alegre,
considerada uma grande
metrópole. Como mostrado
por vários autores
(LUARITZEN e HANSEN,
1997; VYNCKE e
ROUSSEAU, 1994; WILBURN
e GOONAN, 1998; KIBERT
e LANGUELL, 2000; LANGUELL, 2001; CALDERONI, 1998, entre outros), regiões com alta densidade
populacional normalmente enfrentam
problemas de saturação
de aterros e disponibilidade
para novas áreas, sendo os resíduos
enviados a aterros localizados em áreas distantes dos centros
urbanos, encarecendo seus custos
de disposição. Sendo
o RCD volumoso
e ocupando muito espaço nos aterros, sua reciclagem se
apresenta, nestas cidades, como uma solução favorável e imediata.
Outro fator
que favorece a
reciclagem nas cidades
deste grupo é
o fato de
algumas delas terem implantado áreas
de recepção de
entulho, o que demonstra uma
iniciativa positiva para
resolver o problema dos resíduos. Além disso, o fato de
terem maior experiência em consórcios mostra que estas cidades têm buscado
soluções em conjunto com outros setores para resolver seus problemas.
básico, as
cidades do cluster 2
apresentam desempenho satisfatório
atendendo a maior
parte da população.
Isto demonstra que
estas cidades possuem
uma melhor infra-estrutura de
serviços considerados básicos a nível de
saúde pública. Tendo a população sido
satisfeita neste aspecto,
pode-se agora exigir
ou buscar melhorias
de outras fontes
de poluição, como seria o caso dos RCD. O nível
educacional, através de uma maior conscientização e participação nos problemas
ambientais e suas
soluções, mostra-se um
fator positivo que
favorece a reciclagem. Neste sentido, o cluster 2
apresenta uma população com baixo nível de analfabetismo.
O cluster 2
também apresenta o
maior número de
empresas, mostrando que
são cidades com maior nível de
industrialização, economia mais rica e maior demanda por serviços e obras de
infra-estrutura. Como argumentam
Lauritzen e Hansen
(1997), estas cidades
normalmente apresentam maior
conscientização e pressão
para resolver os problemas dos
resíduos. Todas as cidades do cluster 2
também possuem programas
de coleta seletiva,
ausentes nos clusters 1
e 3, isto
indica uma preocupação
e uma conscientização das
prefeituras destas cidades
com a valorização
e o reaproveitamento dos
materiais recicláveis e
da importância da
reciclagem para resolver
a problemática dos resíduos.
A renda média do cluster 2 é
bem superior à dos outros grupos, indicando um melhor nível de vida da população, o
que afeta positivamente
a atividade construtiva.
Isto significa que
nestas cidades pode existir
uma maior geração de resíduo. Estes fatores combinados com a densidade
populacional fazem com que estas
cidades apresentem maiores
problemas relacionados à
geração de resíduos
e falta de espaço para localização de aterros.
Com relação
ao nível educacional
dos funcionários, observa-se
no cluster 2
que a porcentagem
de funcionários com nível
superior (32,22%) é bem maior que a dos
outros clusters. Isto vem confirmar a necessidade de capacitação do quadro de
funcionários da administração municipal, que, perante aos desafios relacionados
a questões ambientais,
exige deles um
bom nível de
conhecimento para lidar com
os problemas ambientais e suas soluções.
De forma
geral, os municípios
que compõem o cluster
2 apresentam-se mais
propícios para implantação
de programas de
reciclagem do ponto
de vista das
variáveis analisadas. E
do ponto de vista da
densidade populacional, esta
variável representa uma
forte restrição à
prática atual dos resíduos,
exigindo medidas rápidas
para tratar a
grande quantidade de
resíduo gerado em
áreas densamente povoadas e pela
falta de áreas para sua deposição. Neste sentido, a reciclagem deve ser considerada
como um programa que merece atenção tanto de prefeituras como também das
empresas e da sociedade como
um todo. Desta
forma, estas cidades
teriam mais urgência
em tomar medidas
voltadas à reciclagem,
devido aos problemas
de falta de
áreas para aterros,
como é o
caso de Florianópolis, São Paulo, entre outras.
•Análise da situação do cluster 3
O cluster 3,
considerado intermediário, ou
seja, com a
segunda melhor posição,
conforme mostrado na
Tabela 4 e
Quadro 3, apresenta
a segunda maior
taxa de densidade
populacional que, como comentado
no item anterior, é um fator que favorece a reciclagem do RCD. Os serviços de
água, lixo e esgoto decaem com
relação ao cluster
2, mostrando-se mais
precários com relação
aos serviços de água
e esgoto. Isto
mostra que as
prefeituras ainda precisam
direcionar recursos humanos
e monetários para solucionar
estes problemas.
O nível de analfabetos com
mais de 15 anos aumenta neste cluster.
Analisando do ponto de vista da implantação
da reciclagem de
RCD, pode-se sugerir
que, nestas cidades,
as campanhas educativas
sobre reciclagem deveriam
ser específicas e
direcionadas em função
do nível educacional
da população.
O número de
empresas/habitantes apresenta diferença
com relação ao cluster 2, mas o valor ainda é alto. No entanto, com relação às
empresas de construção seu valor é maior que o cluster 2, embora a taxa de
crescimento populacional e a renda
média sejam menores
que o cluster
2, a carência
habitacional e a necessidade de investimentos em infra-estrutura talvez
justifiquem o maior número de empresas do setor de construção civil.
A pesar da quantidade de cidades reunidas no cluster
3 seja maior, nenhuma tem programas de coleta seletiva, indicando
uma falta de
interesse das prefeituras
em aproveitar os
materiais contidos nos resíduos,
seja por falta de vontade política, seja por problemas financeiros. A não
implantação destes programas indica também uma falta de familiarização do corpo
funcional com questões relacionadas à reciclagem, fato
este considerado desfavorável
quando se pensa
na implantação de
um programa de reciclagem
de RCD. Além disso, este cluster apresenta a maior porcentagem de funcionários
de nível auxiliar agravando mais a situação. Diante disto, estas cidades teriam
que investir mais em educação e treinamento
dos seus funcionários
para acompanhar as
mudanças relacionadas às
novas exigências ambientais.
De forma geral as
cidades que fazem
parte deste cluster
têm vários desafios
a enfrentar, começando
por solucionar os
problemas de serviços
de saneamento básico
e limpeza pública,
reciclagem de resíduos urbanos e melhoramento do quadro de
funcionários da administração municipal. Analisando sob o ponto de vista da
reciclagem de RCD, estes municípios apresentam condições menos propícias ao sucesso
que as do cluster 2.
Entretanto, considerando a
densidade populacional e o nível
de industrialização, além destes
municípios constituírem as cidades mais antigas, é possível inferir que a produção de
resíduo, entre outros,
pode levar os
municípios a tomarem
medidas imediatas para solucionar os problemas do RCD......continua na próxima postagem....
Fonte do texto:I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL - X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO18-21 julho
2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4.Nébel A. A. da Costa; Newton C. A.
da Costa Jr;Mônica M. L. Detoni;Paulo Maurício Selig; Janaíde
Cavalcante Rocha