01 junho 2016

4ª Parte - TÉCNICAS DE ANÁLISE MULTIVARIADA ANÁLISE DISCRIMINANTE E DE CLUSTERS implantação programas de reciclagem



Discussão dos resultados da análise de clusters 

Após terem sido definidas as variáveis relevantes que permitem discriminar melhor o grupo de cidades com  reciclagem  e  sem  reciclagem,  e  posicioná-las  numa  determinada  escala,  é  aplicada  a  técnica  estatística  multivariada  denominada  de  análise  de  clusters.  A  análise  foi  efetuada    somente  para  as  cidades classificadas no grupo 1, visando estudar as cidades em relação à facilidade de implantação de programas de reciclagem de RCD. Através do dendograma, escolheu-se  três clusters. A  Tabela  4,  a  seguir,  apresenta  o  comportamento médio das variáveis em cada um dos clusters encontrados.
TÉCNICAS DE ANÁLISE MULTIVARIADA ANÁLISE DISCRIMINANTE E DE CLUSTERS implantação programas de reciclagem
 TÉCNICAS DE ANÁLISE MULTIVARIADA ANÁLISE DISCRIMINANTE E DE CLUSTERS


Tabela 4 -média das variáveis para cada
Cluster, Formados a partir das cidades do grupo 1 (sem reciclagem)
 

Clusters
1
2
3
L_densidade
5,77
7,39
6,48
Área de recepção
0
3
1
Conselho_P
2
2
2
Consórcio
0
3
0
Dom_água
89,03
97,17
85,28
Dom_esgo
69,39
90,17
80,52
Dom_lixo
93,05
99,17
96,51
Educação
10,82
4,83
6,83
Empr/milhabit
20,69
35,74
24,54
Empresa_com
5,27
3,81
3,93
Hab/domic
4,00
3,42
3,72
Idade
140
187
195
Incentivos
4
4
3
Legislação
6
6
5
Prog_coleta
0
1
0
Renda_media
3237,56
10259,93
6116,04
Funcionário auxiliar
39,90
39,60
45,63
Funcionário médio
34,60
28,18
30,00
Funcionário
superior
25,49
32,22
24,38
Taxa de
crescimento
4,33
2,35
2,14

 Fonte: Costa, N. A. A. da (2003) Formatada por Frank e Sustentabilidade


A seguir, no Quadro 3, apresentam-se  as cidades dentro de cada cluster


Quadro 3 - classificação das cidades no grupo de clusters


CLUSTER 1
CLUSTER 2
CLUSTER 3
Maceió
Porto Alegre
Canoas
Montes Claros
Santos
Uberlândia
Macapá
Betim
Pelotas
Teresina
Santo André
Juiz de Fora
Boa Vista
Florianópolis
Manaus
Contagem
São Bernardo do Campo
Mauá
Fortaleza

Osasco
Campina Grande

Petrópolis
Feira de Santana

Rio Branco
Palmas

Aracaju


Recife


Natal


Bauru


Porto Velho


Cuiabá


Sorocaba


Belém


Maringá


Niterói


Mogi das Cruzes
 Fonte: Costa, N. A. A. da (2003) Formatada por Frank e Sustentabilidade

A Tabela 4, apresentada acima, mostra o valor da média alcançada pelas variáveis que compõem cada cluster.  Analisando  estes  valores  é  possível  identificar  quais  as  variáveis  que  mais  explicam  as  diferenças  entre  os  clusters,  sendo  elas:  domicílios  com  esgoto  e  lixo,  educação  e  renda  média,  as  quais  apresentam  valores  bem  distanciados  entre  um  grupo  e  outro.  Para  se  ter  uma  idéia,  a  renda  média do cluster 2 é três vezes maior que o cluster 1. Além destas variáveis, os valores alcançados em densidade  populacional,  área  de  recepção,  idade  e  funcionários  de  nível  médio,  embora  contribuam  para distinguir cada cluster, não apresentam grandes diferenças.

Comparando  estes  resultados  com  os  encontrados  na  análise  discriminante,  observa-se    que,  quando  analisadas  individualmente,  todas  as  variáveis  acima  identificadas  foram  significativas  ao  nível  de  10%,  com  exceção  de  densidade,  funcionários  de  nível  médio  e  idade,  que  não  foram  significativas  nesse nível. Além disso, a variável renda média também faz parte da função discriminante, embora seu peso  não  seja  muito  significativo.  Portanto,  observa-se  que  existe  uma  coerência  nos  resultados  encontrados,  tanto na análise discriminante como na de cluster, com relação às variáveis que são mais importantes  na  discriminação  das  cidades,  contribuindo  para  uma  melhor  análise  e  definição  de  estratégias gerais para cada grupo.

•Análise da situação do cluster 1

As cidades que compõem o cluster 1, conforme mostrado na Tabela 4 e Quadro 3, apresentam sérias deficiências  com  relação  às  variáveis  analisadas.  Embora  a  densidade  populacional  seja  menor,  não  possuem áreas de recepção de entulho, nem programas de coleta seletiva. Os serviços de saneamento básico  e  limpeza  pública  são  menores  neste  cluster,  bem  como  a  porcentagem  de  analfabetos  com  mais de 15 anos é mais alta (10,82%).

O número de empresas/habitante não difere muito do cluster 3. No entanto, o número de empresas de construção apresenta um valor bem maior que os outros clusters. Isto pode ser explicado pela alta taxa de crescimento populacional, bem como por representarem cidades mais novas, onde, possivelmente, a atividade construtiva é maior.  

De forma geral, as cidades que compõem este cluster apresentam, por um lado, aspectos favoráveis à reciclagem,  apesar  de  sua  situação  como  um  todo  mostrar  dificuldades.  Estes  aspectos  se  referem  à  presença  de  um  maior  número  de  empresas  de  construção,  alta  taxa  de  crescimento  populacional  e  menor  idade  das  cidades,  fatores  que  podem  mostrar  um  aumento  da  atividade  construtiva  e,  por  conseguinte,  da  quantidade  de  resíduos,  onde,  do  ponto  de  vista  técnico,  haveria  material  suficiente para reciclagem.

Por outro lado, pelo fato das cidades apresentarem uma baixa densidade populacional com relação aos outros clusters,  pode  ser    um  indicativo  de  que  estas  cidades  têm  espaço  suficiente  para  aterros,  fazendo  com  que  o  município  não  veja  uma    necessária  urgência  para  implantar  programas  de  reciclagem de resíduos. Acrescenta-se a isso o nível de renda da população, considerado baixo, e não representando  um  fator  impulsionador  da  reciclagem.  Além  disso,  a  precariedade  dos  serviços  de  saneamento  básico  mostra  que  as  prefeituras  apresentam  deficiências  para  resolver  estes  problemas  considerados importantes. Diante deste quadro, é de se esperar que a questão da reciclagem de RCD não esteja presente nos principais programas e na agenda das prefeituras destas cidades. 

 •Análise da situação do cluster  2




Conforme   dados   apresentados   na   Tabela 4   e   Quadro 3, o cluster  2,   do   ponto   de   vista   do   comportamento  das  variáveis  analisadas,  tem  o  melhor  desempenho,  e  nele  estão  localizadas  as  cidades que tiveram, também, melhor escore com relação à função discriminante (Tabela 3), ou seja, cidades classificadas no grupo 2, com exceção de Betim e Santos, que foram classificadas no grupo 1. 

 No cluster 2 com a maior densidade populacional média (7,48 hab/km2), por exemplo, está localizada a  cidade  de  Porto  Alegre,  considerada    uma  grande  metrópole.  Como  mostrado  por  vários  autores  (LUARITZEN  e  HANSEN,  1997;  VYNCKE  e  ROUSSEAU,  1994;    WILBURN  e  GOONAN,  1998;  KIBERT e LANGUELL, 2000; LANGUELL, 2001; CALDERONI, 1998, entre outros), regiões com alta   densidade   populacional   normalmente   enfrentam   problemas   de   saturação   de   aterros   e  disponibilidade para novas áreas, sendo  os resíduos enviados a aterros localizados em áreas distantes dos  centros  urbanos,  encarecendo  seus  custos  de  disposição.  Sendo  o  RCD  volumoso  e  ocupando  muito espaço nos aterros, sua reciclagem se apresenta, nestas cidades, como uma solução favorável e imediata.

Outro  fator  que  favorece  a  reciclagem    nas  cidades  deste  grupo  é  o  fato  de  algumas  delas  terem  implantado  áreas  de  recepção  de  entulho,  o  que  demonstra  uma  iniciativa  positiva  para  resolver  o  problema dos resíduos. Além disso, o fato de terem maior experiência em consórcios mostra que estas cidades têm buscado soluções em conjunto com outros setores para resolver seus problemas. 

 básico,  as  cidades  do  cluster 2  apresentam  desempenho  satisfatório  atendendo  a  maior  parte  da  população.  Isto  demonstra  que  estas  cidades  possuem  uma  melhor infra-estrutura de serviços considerados básicos a  nível de saúde pública. Tendo a população sido  satisfeita  neste  aspecto,  pode-se  agora  exigir  ou  buscar  melhorias  de  outras  fontes  de  poluição,  como seria o caso dos RCD. O nível educacional, através de uma maior conscientização e participação nos  problemas  ambientais  e  suas  soluções,  mostra-se  um  fator  positivo  que  favorece  a  reciclagem. Neste sentido, o cluster 2 apresenta uma população com baixo nível de analfabetismo.  

O cluster  2  também  apresenta  o  maior  número  de  empresas,  mostrando  que  são  cidades com maior nível de industrialização, economia mais rica e maior demanda por serviços e obras de infra-estrutura. Como argumentam   Lauritzen  e   Hansen   (1997),   estas   cidades   normalmente   apresentam   maior  conscientização  e  pressão  para  resolver os problemas  dos  resíduos. Todas as cidades do cluster 2  também  possuem  programas  de  coleta  seletiva,  ausentes  nos clusters  1  e  3,  isto  indica  uma  preocupação   e   uma   conscientização   das   prefeituras   destas   cidades   com   a   valorização   e   o   reaproveitamento   dos   materiais   recicláveis   e   da   importância   da   reciclagem   para   resolver   a problemática dos resíduos.

A renda média do cluster 2 é bem superior à dos outros grupos, indicando um melhor nível de vida da população,  o  que  afeta  positivamente  a  atividade  construtiva.  Isto  significa  que  nestas  cidades  pode  existir uma maior geração de resíduo. Estes fatores combinados com a densidade populacional fazem com  que  estas  cidades  apresentem  maiores  problemas  relacionados  à  geração  de  resíduos  e  falta  de espaço para localização de aterros. 

Com  relação  ao  nível  educacional  dos  funcionários,  observa-se  no  cluster  2  que  a  porcentagem  de  funcionários com nível superior (32,22%)  é bem maior que a dos outros clusters. Isto vem confirmar a necessidade de capacitação do quadro de funcionários da administração municipal, que, perante aos desafios  relacionados  a  questões  ambientais,  exige  deles  um  bom  nível  de  conhecimento  para  lidar  com os problemas ambientais e suas soluções.  

De  forma  geral,  os  municípios  que  compõem  o  cluster 2  apresentam-se  mais  propícios  para  implantação  de  programas  de  reciclagem  do  ponto  de  vista  das  variáveis  analisadas.  E  do  ponto  de  vista  da  densidade  populacional,  esta  variável  representa  uma  forte  restrição  à  prática  atual  dos resíduos,  exigindo  medidas  rápidas  para  tratar  a  grande  quantidade  de  resíduo  gerado  em  áreas densamente povoadas  e pela falta de áreas para sua deposição. Neste sentido, a reciclagem deve ser considerada como um programa que merece atenção tanto de prefeituras como também das empresas e da  sociedade  como  um  todo.  Desta  forma,  estas  cidades  teriam  mais  urgência  em  tomar  medidas  voltadas  à  reciclagem,  devido  aos  problemas  de  falta  de  áreas  para  aterros,  como  é  o  caso  de  Florianópolis, São Paulo, entre outras. 

Análise da situação do cluster 3

O cluster  3,  considerado  intermediário,  ou  seja,  com  a  segunda  melhor  posição,  conforme  mostrado  na  Tabela  4  e  Quadro  3,  apresenta  a  segunda  maior  taxa  de  densidade  populacional  que,  como  comentado no item anterior, é um fator que favorece a reciclagem do RCD. Os serviços de água, lixo e esgoto  decaem  com  relação  ao  cluster  2,  mostrando-se  mais  precários  com  relação  aos  serviços  de água  e  esgoto.    Isto  mostra  que  as  prefeituras  ainda  precisam  direcionar  recursos  humanos  e  monetários para solucionar estes problemas.  

O nível de analfabetos com mais de 15 anos aumenta  neste cluster. Analisando do ponto de vista da implantação  da  reciclagem  de  RCD,  pode-se  sugerir  que,  nestas  cidades,  as  campanhas  educativas  sobre  reciclagem  deveriam  ser  específicas  e  direcionadas  em  função  do  nível  educacional  da  população.

O número de empresas/habitantes  apresenta diferença com relação ao cluster 2, mas o valor ainda é alto. No entanto, com relação às empresas de construção seu valor é maior que o cluster 2, embora a taxa  de  crescimento  populacional    e  a  renda  média  sejam  menores  que  o  cluster  2,  a  carência  habitacional e a necessidade de investimentos em infra-estrutura talvez justifiquem o maior número de empresas do setor de construção civil.  

A pesar  da quantidade de cidades reunidas no cluster 3 seja maior, nenhuma tem programas de coleta seletiva,  indicando  uma  falta  de  interesse  das  prefeituras  em  aproveitar    os  materiais  contidos  nos  resíduos, seja por falta de vontade política, seja por problemas financeiros. A não implantação destes programas indica também uma falta de familiarização do corpo funcional com questões relacionadas à reciclagem,  fato  este  considerado  desfavorável  quando  se  pensa  na  implantação  de  um  programa  de  reciclagem de RCD. Além disso, este cluster apresenta a maior porcentagem de funcionários de nível auxiliar agravando mais a situação. Diante disto, estas cidades teriam que investir mais em educação e treinamento  dos  seus  funcionários  para  acompanhar  as  mudanças  relacionadas  às  novas  exigências  ambientais.

De  forma  geral  as  cidades  que  fazem  parte  deste  cluster  têm  vários  desafios  a  enfrentar,  começando  por  solucionar  os  problemas  de  serviços  de  saneamento  básico  e  limpeza  pública,  reciclagem  de  resíduos urbanos e melhoramento do quadro de funcionários da administração municipal. Analisando sob o ponto de vista da reciclagem de RCD, estes municípios apresentam condições menos propícias ao  sucesso  que  as  do  cluster  2.  Entretanto,  considerando  a  densidade  populacional  e  o  nível  de  industrialização, além destes municípios constituírem as cidades mais antigas, é possível inferir que a produção  de  resíduo,  entre  outros,  pode  levar  os  municípios  a  tomarem  medidas  imediatas  para solucionar os problemas do RCD......continua na próxima postagem....


 Fonte do texto:I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL - X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO18-21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4.Nébel A. A. da Costa; Newton C. A. da Costa Jr;Mônica M. L. Detoni;Paulo Maurício Selig; Janaíde Cavalcante Rocha