01 junho 2016

3ª Parte - TÉCNICAS DE ANÁLISE MULTIVARIADA ANÁLISE DISCRIMINANTE E DE CLUSTERS implantação programas de reciclagem



DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 

Nesta seção, as informações são analisadas através da técnica de análise discriminante. Em seguida, é aplicada ao grupo de cidades sem programas de reciclagem de RCD a técnica de análise de clusters,com o objetivo de agrupar as cidades, com características similares, de forma a  definir  estratégias de análise  que  ajudem  na  implantação  de  programas  de  reciclagem  voltados  às  características  destas  cidades. 


3ª Parte - TÉCNICAS DE ANÁLISE MULTIVARIADA ANÁLISE DISCRIMINANTE E DE CLUSTERS
 TÉCNICAS DE ANÁLISE MULTIVARIADA ANÁLISE DISCRIMINANTE E DE CLUSTERS


Discussão dos resultados da análise discriminante 

 

A  análise  discriminante  permite  através  de  uma  amostra  composta  por  cidades  com  programas  de  reciclagem e sem reciclagem e suas respectivas variáveis sócio-economicas, administrativas e técnicas, identificar quais são as variáveis que melhor diferenciam este grupo de cidades, para através de uma função  discriminante  fornecida  pelo  modelo,  posicionar  as  cidades  através  do  escores  alcançado  em  termos de sua possibilidade de implantação de programas de reciclagem, além disso é possível através desta função discriminante identificar qual a posição obtida por uma nova cidade através da introdução dos dados das variáveis na determinada função.  


A função discriminante 

Uma vez estruturadas as variáveis e verificadas suas propriedades estatísticas, passa-se à estimação da função discriminante, que é utilizada para o cálculo do escore discriminante de cada cidade e mesmo para calcular o escore de futuros casos (cidades fora da amostra). As variáveis que compõem a função discriminante não padronizada, estimada pelo método stepwise, no SPSS, são apresentadas na Tabela a seguir. 



Tabela 1 – definição da função discriminante não padronizada


   Variáveis
Coeficientes             da   função            
Discriminante
X1
Área de recepção
0,078
X2
Domicílios com água
0,039
X3
Incentivos
-0,412
X4
Programa de coleta
0,713
X5
Renda média
0,00016
X6
Funcionários médio
0,041

Constante
-5,010
 Fonte: Costa, N. A. A. da (2003) – Formatada por Frank e Sustentabilidade

 Desta  maneira  a  função  discriminante  é  representada  pela  equação  (1).  Através  dela  é  possível  calcular o escore das cidades e posicioná-las no grupo 1 ou no grupo 2:

Z= -5,010+ 0,078X1 + 0,039X2 - 0,412X3 + 0,713X4 + 0,00016X5 + 0,041X6  (1)

Análise dos pesos discriminantes Para analisar a importância de cada variável na sua capacidade de discriminação, devem-se utilizar os coeficientes  da  função  discriminante  padronizada.  Na  tabela  (2),  analisando  o  valor  dos  coeficientes  das variáveis (ignorando o sinal), nota-se que as variáveis que mais contribuem para a discriminação entre  as  cidades  são  “funcionário  de  nível  médio”,  “domicílios  com  água”,  “incentivos”  e  “renda  média”,  com  pesos  de  0,552,  0,521,  0,498  e  0,374,  respectivamente.  Estes  valores  indicam  a  importância  relativa  da  variável  independente  na  predição  da  variável  dependente,  que  no  caso  foi  a  variável   “funcionários   de   nível   médio”,   variável   que   mais   contribui   para   a   capacidade   de   discriminação da função. 



Tabela 2 – coeficientes da função discriminante padronizada


Variável
Coeficientes da função
discriminante
Área de recepção
0,363
Domicílios com água
0,521
Incentivos
-0,498
Programas de coleta
0,336
Renda média
0,374
Funcionários médio
0,552
 Fonte: Costa, N. A. A. da (2003) – Formatada por Frank e Sustentabilidade

• Ponto de Corte 

O  ponto  de  corte  serve  para  separar  os  valores  da  função  discriminante  nos  respectivos  grupos  e permite também posicionar novas cidades. A figura abaixo permite visualizar a posição dos centróides (Z = -0,424 e Z =1,273) e do ponto de corte (Zc) sob as curvas de distribuição normal, auxiliando na classificação entre os dois grupos de diferentes tamanhos. 

O ponto de corte foi calculado da seguinte maneira:

 a imagem mostre o ponto de corte a posição dos centroides Z=0,424(Grupo 1) e Z=1,273 e do (Grupo2) e do ponto de corte Zc


       Posicionamento das cidades
  
A  Tabela  3,  abaixo,  mostra  o  escore  da  função  discriminante  para  cada  cidade  da  amostra.  O  escore permite  a  classificação  da  cidade  em  um  grupoou  em  outro;  além  disso,  dentro  de  cada  grupo  é  possível  verificar  o  ranking  da  cidade  através  desse  mesmo  valor.  De  forma  geral,  observa-se  que  o  modelo  permitiu  classificar corretamente  83,3%  das  cidades  da  própria  mostra  e  77,1%  fora  da  amostra (cross-validation), o que é considerado muito bom, se comparado com outros modelos que utilizam a análise discriminante, como por exemplo, os modelos de previsão de insolvência, cujo grau de precisão varia de 70 a 90%, conforme Sanvicente e Minardi (1998).  
 
Analisando as informações da Tabela 3, mostrada abaixo, observa-se  que as cidades que ocupam as primeiras  posições  são  Belo  Horizonte,  Piracicaba  e  Brasília.  As  cidades  com  posições  mais  desfavoráveis são Rio Branco, Maceió e Feira de Santana.

Ainda, de acordo com a Tabela 3, dentro do grupo 2 (cidades com reciclagem) Belo Horizonte foi a melhor  cidade  posicionada,  confirmando  o  fato  desta  cidade  ser  considerada  referência  em  âmbito  nacional em termos de implantação de reciclagem de RCD (PAULICS, 2000). O escore alcançado por Belo Horizonte é influenciado pela variável domicílio com água, 99,3%, o maior número de áreas de recepção  (23  áreas)  e  renda  média  anual  de  R$  10.421,83,  todos  valores  maiores  que  a  média  das  variáveis  que  compõem  o  grupo  2.  Belo  Horizonte  foi  uma  das  primeiras  cidades  brasileiras  a  implantar programa de reciclagem de RCD com sucesso.  

A secretaria de limpeza urbana, de Belo Horizonte, opera duas estações de reciclagem de entulho que juntas  reciclam  aproximadamente  25%  do  entulho  coletado,  ou  350  toneladas  por  dia.  Por  volta  de  40%  dos  resíduos  gerados  são  de  entulho  de  construção  civil.  De  janeiro  a  setembro  de  2003,  a prefeitura produziu 99,236 toneladas de material britado, para utilização na construção civil. 

Piracicaba  ocupou  a  segunda  posição,  pois,  como  Belo  Horizonte,  tem  um  desempenho  superior  à  média  do  grupo  2  no  que  se  refere  às  variáveis  renda  média,  de  R$  9.825,21,  domicílios  com  água  (99,4%),  funcionários  de  nível  médio  (37,33%)  e  programa  de  coleta  seletiva.  Por  outro  lado,  com  relação às variáveis áreas de recepção (duas) e incentivos, seu valor está abaixo da média do grupo 2.” Para mais detalhe sobre os valores das variáveis em cada cidade analisada veja Costa (2003).”

Esta  cidade  tem  dado  grande  importância  às  questões  do  meio  ambiente,  segundo  informações  da  prefeitura,  a  cidade  é    uma  das  únicas  no  Brasil  a  ter  implantado  seu  planejamento  estratégico,  com  base  nos  princípios  da  Agenda  21,  através  do  projeto  Piracicaba  2010  (transformado  em  ONG)  com vistas a seu desenvolvimento sustentável. 

Brasília,  outra  cidade  que  possui  programa  de  reciclagem,  ocupa  a  terceira  posição,  e  seu  escore  foi determinado,  principalmente,  pela  quantidade  de  funcionários  na  administração  municipal  de  nível  médio  (76,69%),  quase  o  dobro  do  valor  médio  alcançado  pela  amostra  do  grupo  2.  Somente  na variável  domicílio  com  água  é  que  seu  valor  foi  abaixo  da  média  do  grupo  2.  Esta  cidade  não  foi  melhor  posicionada  por  causa  da  variável  incentivo  que,  por  ter  um  sinal  negativo,  contribui  para  a  redução do escore da função discriminante.   

Pela  análise  destas  cidades  mais  bem  posicionadas,  observa-se  que,  de  forma  geral,  elas  apresentam condições favoráveis à implantação ou sucesso de programas de reciclagem. Estas cidades obtiveram um  melhor  valor  em  quase  todas  as  variáveis  que  compõem  a  função  discriminante  e  um  valor  superior à média das cidades que compõem o grupo 2.

Observa-se  que  algumas  cidades  estão  tomando  iniciativas  inovadoras  com  relação  aos  resíduos,  por  exemplo São Paulo, que embora já possua um programa de reciclagem, mobiliza-se para garantir um melhor avanço na reciclagem de entulho.  

Segundo  Pinto  (2004),  em  função  da  resolução  do  CONAMA  e  de  avançar  no  disciplinamento  do  RCD, o estado de São Paulo formulou o primeiro instrumento de política estadual sobre a questão. A resolução nº. 41 (17/10/2002), proíbe a operação de bota-foras no Estado. Outros esforços envolvem o desenvolvimento de normas técnicas para normalização das atividades da reciclagem e divulgação de listagem de serviços para os quais aceitará a oferta do uso de novos agregados reciclados. 



Tabela 3 – posicionamento das cidades



Cidades
Classificação
atual
Classificação
definida pelo
modelo
Escore da função
discriminante
Belo Horizonte
2
2
3,052
Piracicaba
2
2
2,75
Brasília
2
2
2,089
Rio de Janeiro
2
2
1,710
São Paulo
2
2
1,649
S.J. do Rio Preto
2
2
1,540
Santo André
1
2
1,481
Porto Alegre
1
2
1,256
Florianópolis
1
2
1,146
Salvador
2
2
1,144
Guarulhos
2
2
0,973
S. J. dos Campos
2
1
0,791
São Bernardo do Campo
1
1
0,740
Uberlândia
1
1
0,697
Cuiabá
1
1
0,466
Fortaleza
1
1
0,452
Pelotas
1
1
0,415
Juiz de Fora
1
1
0,343
Ribeirão Preto
2
1
0,326
Santos
1
1
0,307
Canoas
1
1
0,25
Belém
1
1
0.174
Contagem
1
1
0,166
Maringá
1
1
0,112
Londrina
2
1
-0,158
Sorocaba
1
1
-0,237
Betim
1
1
-,0238
Niterói
1
1
-0,415
Natal
1
1
-0.437
Bauru
1
1
-0,516
Campinas
2
1
-0,591
Boa Vista
1
1
-0,686
Mauá
1
1
-0,699
Recife
1
1
-0,741
Aracaju
1
1
-0,894
Osasco
1
1
-0,916
Porto Velho
1
1
-0,966
Montes Claros
1
1
-1,007
Mogi das Cruzes
1
1
-1,109
Manaus
1
1
-1,12
Teresina
1
1
-1,278
Macapá
1
1
-1,282
Campina Grande
1
1
-1,309
Petrópolis
1
1
-1,310
Palmas
1
1
-1,421
Rio Branco
1
1
-1,946
Maceió
1
1
-2,117
Feira de Santana
1
1
-2,635
              Fonte: Costa, N. A. A. da (2003) Formatada por Frank e Sustentabilidade

  
Com relação às cidades que constituem o grupo 1 (cidades sem reciclagem), Feira de Santana obteve o pior posicionamento. Além de não possuir programa de coleta seletiva, sua  renda média está entre as  mais  baixas.  Na  verdade,  nos  serviços  de  saneamento  básico  seu  valor  está  abaixo  da  média  do  grupo 1, a porcentagem de domicílios com serviço de água é de 80,20%. Além disso, a porcentagem de funcionários da administração municipal de nível médio é de 13,44%, quase a metade do valor da média do grupo 1.

Maceió,  a  segunda  pior  posicionada,  além  de  não  possuir  área  de  recepção  e  programa  de  coleta  seletiva,  possui  um  desempenho  menor  que  a  média  do  grupo  1  em  todas  as  variáveis  da  função  discriminante, com exceção de incentivos, cujo valor acima de média, pelo fato de o sinal na função discriminante ser negativo, acaba diminuindo mais o escore total  da função. 

Ao  analisar  Rio  Branco,  a  terceira  pior  posicionada,  observa-se  que,  além  de  não  possuir  área  de  recepção  e  programa  de  coleta  seletiva,  na  variável  domicílios  com  água  (55,80%)  apresenta  valor  bem  abaixo  da  média  do  grupo  1.  Segundo  as  variáveis  incentivo  e  renda  média,  a  cidade  avaliada  apresenta um posicionamento quase igual à média do grupo 1. Sendo ainda a variável funcionário de nível médio  (41,59%) superior à média do grupo 2, isto não influenciou  na posição obtida, talvez seja pelo  baixo  valor  adquirido  na  variável  domicílios  com  água  e  pelo  fato  da  variável  incentivo  ter  um  alto valor.....continua na próxima postagem....
 Fonte do texto:I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL - X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO18-21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4.Nébel A. A. da Costa; Newton C. A. da Costa Jr;Mônica M. L. Detoni;Paulo Maurício Selig; Janaíde Cavalcante Rocha