Até os anos 50, a natureza era
vista somente como um pano de fundo para toda discussão que envolvesse a
atividade humana e suas relações com o meio. Acreditava-se que a natureza
existia para ser compreendida, explorada e catalogada, desde que fosse
utilizada em benefício da humanidade (SCHENINI et al, 2004).
Segundo estes autores, os
movimentos sociais que se iniciaram nos anos 70 representaram um marco na humanidade
e em particular para a formação de uma consciência preservacionista
fundamentada, naquele momento, nos princípios da harmonia com a natureza.
Assim, o termo ecologia passa a ser bastante utilizado.
Tais discussões ganharam tanta
intensidade que em 1972 a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu uma Conferência
sobre Ambiente Humano que ficou conhecida como Conferência de Estocolmo. Como
resultado deste evento, foi criado o Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas – UNEP, encarregado de monitorar o avanço dos problemas ambientais no
mundo (SANTOS, 2005).
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Conferencia de Estocolmo |
Neste mesmo ano é publicado um
estudo sobre os Limites do Crescimento. Este estudo concluía que, mantido o ritmo
de crescimento, os alimentos e a produção industrial iriam declinar até o ano
2010 e, a partir daí, provocar automaticamente uma diminuição da população por
penúria, falta de alimentos e poluição. Várias críticas foram feitas a esse
estudo por parte dos intelectuais do primeiro mundo, por acreditarem que isso
representaria o fim do crescimento da sociedade industrial, e pelos países
subdesenvolvidos, pois julgavam que os países desenvolvidos estavam barrando o
desenvolvimento dos países pobres com uma justificativa ecológica.
De acordo com Santos (2005)2,
a década de 1970 foi marcada pelo “rompimento do círculo virtuoso de
crescimento da economia mundial desde o pós-guerra, lançando dúvidas sobre a
validade dos instrumentos políticos disponíveis para a regulação das relações
econômicas internacionais, assim como os mecanismos internos de promoção do desenvolvimento”.
Junto a isso, a situação de pobreza em que se encontrava a maior parte da
população mundial revelava que o estilo de desenvolvimento também era
insustentável do ponto de vista social pela falta de acesso à educação, à saúde
e à água tratada, e, pelo ponto de vista humano, frente à fome e à desnutrição.
Dessa maneira, a crise ambiental colocava em xeque o modelo de desenvolvimento
vigente, isto é, desenvolvimento calcado na exploração irracional e predatória
dos recursos naturais e moldado em relações sociais de produção injustas e excludentes.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL |
Em 1973 novas tentativas de se
repensar o futuro foram apresentadas pelo canadense Maurice Strong que lançou o
conceito de eco desenvolvimento: um estilo de desenvolvimento adaptado às áreas
rurais do Terceiro Mundo, baseado na utilização criteriosa dos recursos locais,
sem comprometer o esgotamento da natureza. Na década de 80 Ignacy Sachs se
apropria do termo e estabelece que os caminhos do desenvolvimento seriam seis
3:
• satisfação das necessidades
básicas;
• solidariedade com as
gerações futuras;
• participação da população
envolvida;
• preservação dos recursos
naturais e do meio ambiente;
• elaboração de um sistema
social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas; e
• programas de educação.
Com a evolução da problemática
econômica e deterioração das políticas regionais e nacionais, a Comissão
Mundial de Meio Ambiente e desenvolvimento da ONU cria a expressão
desenvolvimento sustentável, que começou a circular efetivamente em 1987, a
partir da publicação do documento chamado Nosso Futuro Comum, mais conhecido
por Relatório Brundtland.
Segundo este documento o
desenvolvimento sustentável foi assim definido:
Chen e Chambers (1999),
complementam esta definição considerando ainda a necessidade de satisfazer as aspirações
de todos por uma vida melhor.
Em 1992, a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de
Janeiro, a Rio-92, demonstrou um aumento do interesse mundial pelo futuro do
planeta. Muitos países passam a valorizar as relações entre desenvolvimento
sócio -econômico e modificações no meio ambiente. A Agenda 21 foi um dos principais
resultados da Rio-92. Este documento, resultado de um acordo firmado entre 179
(cento e setenta e nove) países, reforça a necessidade e a importância de cada
país se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual
governos, empresas, organizações e todos os demais setores da sociedade
poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas sócio - ambientais.
De acordo com Schenini et al
(2004), a Agenda 21 foi responsável pelo despertar de uma consciência ambiental,
sobre a necessidade da conservação da natureza para o bem estar e sobrevivência
das espécies, inclusive a humana. “O documento propunha que a sociedade
assumisse uma atitude ética entre a conservação ambiental e o desenvolvimento.
Denunciava a forma perdulária com que até então eram tratados os recursos
naturais e propunha uma sociedade justa e economicamente responsável, produtora
e produto do desenvolvimento sustentável”.
Até então, não existia por
parte da indústria da construção civil uma preocupação com o esgotamento dos recursos
naturais não renováveis que eram utilizados ao longo de todo o seu processo de
produção, nem tão pouco com o destino dado aos resíduos gerados pela atividade
construtiva.
Com o passar dos anos, a definição
de desenvolvimento sustentável sofre múltiplas derivações e interpretações, deixando
de ser uma bandeira defendida apenas pelos ecologistas idealizadores, para ser
um assunto amplamente discutido inclusive por toda a cadeia da construção. Um
exemplo disso são as normas da família ISO 14000, que estão sendo utilizadas
cada vez mais por organizações que buscam ter seus sistemas de gestão ambiental
certificados.
Se compararmos a realidade que
vive a construção civil com as definições de desenvolvimento sustentável, preocupadas
com a manutenção dos recursos para as gerações futuras, vê-se que ainda têm-se
muito por fazer, não só com relação aos processos construtivos, como também em
relação ao uso e manutenção das edificações.
Já existem, no entanto,
algumas ações na construção civil voltadas ao desenvolvimento sustentável. Como
exemplos pode-se citar: o reuso de água em edifícios, a utilização de
iluminação e ventilação natural, o reuso e reciclagem de resíduos e a
racionalização dos processos construtivos.
Mas, por que falar em
desenvolvimento sustentável para a construção? A razão desta preocupação
decorre de alguns fatores bem objetivos, como poderá ser visto nas próximas postagens.
Fonte do texto:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestao-de-Residuos