Crescimento qualitativo
A atual recessão global tem dominado os noticiários
desde o começo do ano. Todos os dias ouvimos falar sobre pessoas
comprando menos carros, fábricas que produziam utilitários esportivos e
veículos de passeio sendo fechadas, o consumo de óleo (e, com isso,
também o preço do óleo) diminuindo dramaticamente, varejistas reclamando
sobre consumidores gastando menos dinheiro em artigos de luxo e assim
por diante. Do ponto de vista ecológico, todas essas notícias são boas
já que o contínuo crescimento do consumo de tais materiais, num planeta
finito, só pode levar à catástrofe. Porém, isso também nos apresenta um
contraditório “paradoxo da economia”. Por exemplo, o pacote de estímulo
de $787 bilhões do presidente [dos Estados Unidos] Barack Obama foi
concebido para aumentar os níveis de consumo, tanto no setor público
como no privado, enquanto as crescentes poupanças também apresentam
déficits.
Ao mesmo tempo, ouvimos, dia após dia,
sobre as empresas que responderam à diminuição das vendas com redução de
pessoal e não com a redução de seus lucros ou assumindo suas perdas.
Assim, cada diminuição do consumo exagerado de materiais, o que é bom
ecologicamente, resulta em sofrimento humano com o crescente aumento do
desemprego. Ao mesmo tempo, mais de 2 bilhões de pessoas que não
consomem em excesso sofrem ainda mais com o crescimento da economia
convencional, livre comércio e com a globalização.
Parece
que nosso maior desafio é descobrir como mudar de um sistema econômico
baseado na noção de crescimento ilimitado para um que seja
ecologicamente sustentável e socialmente justo. “Não crescer” não é a
resposta. O crescimento é uma característica central de toda a vida; uma
sociedade ou economia que não cresce, mais cedo ou mais tarde, morrerá.
O crescimento na natureza, porém, não é linear e ilimitado. Enquanto
certas partes de organismos ou ecossistemas crescem, outros declinam,
liberando e reciclando seus componentes que serão as fontes para um novo
crescimento.
Nesse artigo, queremos definir e
descrever esse tipo de crescimento equilibrado, de múltiplas faces, bem
conhecido dos biólogos e ecologistas e aplicar esses princípios à
economia e, em particular, à atual crise econômica. Propomos o uso do
termo “crescimento qualitativo” para esse propósito, em contraste com o
conceito de crescimento quantitativo usado pelos economistas.
CRESCIMENTO QUALITATIVO ITEM DA SUSTENTABILIDADE |
A
prática dos economistas de equacionar o crescimento com “progresso”
social tem sido bastante criticada por ambientalistas, ecologistas e por
grupos de direitos civis que se dedicam à justiça social. Foi, pela
primeira vez, grandemente contestada durante a segunda Cúpula da Terra,
organizada pelas Nações Unidas, no Rio de Janeiro, em 1992. Mais de 170
governantes concordaram em corrigir a visão quantitativa de crescimento
dos economistas. Esses desafios foram ignorados até muito recentemente,
já que incluíam exigências difíceis de serem cumpridas por empresas e
órgãos governamentais, como a inclusão dessas demandas em suas folhas de
balanço e custos ambientais, que eles rotineiramente “externalizavam”
para os contribuintes, meio ambiente e futuras gerações. A preocupação
com as mudanças climáticas globais e com a poluição hoje se concentra na
“internalização” desses custos, também contabilmente, como contas
nacionais.
Produto Interno Bruto (PIB)
A
maioria dos economistas ainda avalia a riqueza de um país por seu PIB,
onde todas as atividades econômicas associadas com valores monetários
são adicionadas indiscriminadamente enquanto os aspectos não monetários
da economia são ignorados. Os custos sociais, como os relacionados com
acidentes, guerras, litígios e saúde pública, são adicionados como
contribuições positivas ao PIB e o crescimento não diferenciado desse
índice quantitativo bruto é considerado como sinal de uma economia
“saudável”. A idéia que o crescimento pode ser um obstáculo, não
saudável ou até patológico é raramente considerada pelos economistas,
embora eles estejam sendo criticados por décadas a fio.
A
meta da maioria das economias nacionais é a de atingir o crescimento
ilimitado de seu PIB através do acúmulo contínuo de mercadorias e da
expansão de seus serviços. A expansão excessiva dos serviços
financeiros, em particular, é um parasita para a economia real e acabou a
levando para o atual colapso. Já que as necessidades humanas são
finitas, mas a ganância não o é, o crescimento econômico pode,
geralmente, ser mantido através da criação artificial de necessidades,
com o uso da propaganda. As mercadorias que são produzidas e vendidas
dessa maneira são, freqüentemente, desnecessárias e, portanto,
essencialmente um desperdício. Ainda, a poluição e a sangria de recursos
naturais, geradas por esse enorme desperdício em bens desnecessários
são exacerbadas pelo desperdício de energia e matérias primas em
processos de produção ineficientes.
O reconhecimento
desse erro no conceito convencional de crescimento econômico, que nos
foi apontado lá em 1971 é o primeiro passo essencial para a superação
da crise econômica atual.1 A ativista de mudanças sociais Frances Moore
Lappé adiciona, “Já que o que chamamos de ‘crescimento’ é em grande
parte um desperdício, vamos nomeá-lo assim! Vamos chamar de economia do
desperdício e destruição. Vamos definir como crescimento aquilo que
aprimora a vida - como geração e regeneração - e declarar que é disso
que o nosso planeta mais precisa.”2 Essa noção de “crescimento que
aprimora a vida” é o que queremos dizer com crescimento qualitativo - um
crescimento que aprimora a qualidade de vida. Em organismos vivos,
ecossistemas e sociedades, o crescimento qualitativo consiste em um
aumento da complexidade, sofisticação e maturidade.
Para
obter um total entendimento dos conceitos de crescimento quantitativo e
qualitativo será útil fazer uma breve revisão dos papéis exercidos por
quantidades e qualidades ao longo da história da ciência ocidental.
Quantidades e Qualidades na Ciência Ocidental
No
despertar da ciência moderna, na Renascença, Leonardo da Vinci declarou
que o pintor, “com filosófica e sutil especulação, considera todas as
qualidades das formas.”3 Ele insiste que a “arte,” ou habilidade de
pintar, deve estar apoiada na “ciência” do pintor ou no seu profundo
conhecimento, das formas vivas e por seu entendimento intelectual da
natureza intrínseca dessas formas e dos princípios subjacentes.
A
ciência de Leonardo, como a de Galileu, cem anos mais tarde, baseava-se
na observação sistemática da natureza, raciocínio e matemática - a
abordagem empírica conhecida hoje como método científico - mas seu
conteúdo era bastante diferente da ciência mecanicista desenvolvida por
Galileu, Descartes e Newton. Era uma ciência das formas orgânicas, de
qualidades, padrões de organização e processos de transformação.4
No
século XVII, Galileu postulou que, para ser efetivo na descrição
matemática da natureza, os cientistas deveriam se restringir ao estudo
das propriedades dos corpos materiais - formas, números e movimento -
que poderiam ser mensuradas e quantificadas. Outras propriedades, como
cor, som, gosto ou cheiro eram meramente projeções mentais subjetivas
que deveriam ser excluídas do domínio da ciência.
A
estratégia de Galileu, de direcionar a atenção dos cientistas para as
propriedades quantificáveis da matéria, provou-se extremamente bem
sucedida na física clássica, mas também provou-se um tributo pesado.
Durante séculos, muito além de Galileu, o foco nas quantidades se
estendeu do estudo da matéria para todos os fenômenos naturais e
sociais, dentro da estrutura de visão mundial mecanicista da ciência
cartesiana-newtoniana. Pela exclusão das cores, som, gosto, toque e
cheiro - sem mencionar qualidades mais complexas como a beleza, saúde ou
sensibilidade ética - a ênfase na quantificação fez com que os
cientistas, por muitos séculos, não fossem capazes de entender muitas
das propriedades essenciais da vida. No século XX, a estreita abordagem
mecanicista e quantitativa resultou em uma grande confusão entre setores
da biologia, psicologia e ciências sociais.5
Nas
últimas três décadas, porém, presenciamos uma atenção renovada à
qualidade. Durante essas décadas, um novo conceito sistêmico de vida
emergiu para o front da ciência, que, na verdade, mostra grandes
similaridades com as idéias de Leonardo, 500 anos atrás. Hoje, o
universo não é mais visto como uma máquina composta por blocos de
construção elementares. Nós descobrimos que o mundo material, em suma, é
uma rede de padrões de relacionamentos inseparáveis; que o planeta é
uma coisa só, um sistema vivo, auto-regulatório. A visão do corpo humano
como uma máquina e da mente como uma entidade separada está sendo
substituída por uma que não vê apenas o cérebro, mas também o sistema
imunológico, os tecidos do corpo e mesmo cada célula como um sistema
cognitivo vivo. A evolução não é mais vista como uma luta competitiva
pela existência, mas como uma dança cooperativa onde a criatividade e o
constante surgimento de inovações são forças motrizes. E com a nova
ênfase em complexidade, redes e padrões de organização, uma nova ciência
de qualidades está, lentamente, emergindo.6
A Natureza da Qualidade
O
novo entendimento sistêmico da vida faz com que seja possível formular
um conceito científico de qualidade. Na verdade, parecem existir dois
significados diferentes do termo - um objetivo e outro subjetivo. No
sentido objetivo, as qualidades de um sistema complexo referem-se às
propriedades do sistema, que nenhuma de suas partes exibe. Quantidades,
como massa e energia, falam sobre as propriedades das partes e a soma de
todas elas é igual à propriedade correspondente do todo, e.g., a massa
ou energia total. As qualidades, como o stress ou a saúde, por
contraste, não podem ser expressas como a soma das propriedades das
partes. As qualidades surgem de processos e padrões de relacionamentos
entre as partes. Conseqüentemente, não podemos entender a natureza de
sistemas complexos tais como organismos, ecossistemas, sociedades e
economias se tentarmos descrevê-los puramente com termos quantitativos.
As quantidades podem ser mensuradas; as qualidades precisam ser
mapeadas.
Com a mudança do foco, de quantidades para
qualidades, nas ciências da vida, também ocorreu uma mudança conceitual
na matemática. De fato, isso começa na física, nos anos 60, com uma
forte concentração na simetria, que é uma qualidade e foi se
intensificando nas décadas subseqüentes, com o desenvolvimento da teoria
da complexidade ou dinâmica não linear, que é uma matemática de padrões
e relacionamentos. Os estranhos atratores da teoria do caos e os
fractais da geometria fractal são padrões visuais que representam as
qualidades de sistemas complexos.7
Na esfera humana, a
noção de qualidade sempre parece incluir referências às experiências
humanas, que são aspectos subjetivos. Por exemplo, a qualidade da saúde
de uma pessoa pode ser avaliada em termos de fatores objetivos, mas
inclui uma experiência subjetiva de bem-estar, como um elemento
significativo. Similarmente, a qualidade de uma relação humana deriva
grandemente de experiências mútuas subjetivas. A qualidade estética de
uma obra de arte, como diz o ditado, está no olho de quem vê. Já que
todas as qualidades surgem de processos e padrões de relacionamentos,
incluirão necessariamente elementos subjetivos se esses processos e
relacionamentos envolverem seres humanos.
Portanto,
muitos dos novos indicadores do progresso de um país usam abordagens
multidisciplinares e sistêmicas com métrica apropriada para a mensuração
de muitos aspectos de qualidade de vida. Por exemplo, os Indicadores de
Qualidade de Vida Calvert-Henderson avaliam doze desses aspectos e usam
coeficientes monetários apenas onde apropriados, enquanto rejeitam a
ferramenta macroeconômica convencional de agregar todos esses aspectos
qualitativamente diferentes sob um único número, como o PIB.8
Crescimento e Desenvolvimento
As
considerações anteriores sobre qualidades e quantidades podem ser
aplicadas ao conceito de crescimento qualitativo e ao fenômeno de
desenvolvimento, que está relacionado com crescimento. Note que
“crescimento” e “desenvolvimento” são usados hoje com dois sentidos
bastante diferentes - um qualitativo e outro quantitativo.
Para
os biólogos, o desenvolvimento é uma propriedade fundamental da vida.
De acordo com o novo entendimento sistêmico de vida, cada sistema vivo
ocasionalmente encontra pontos de instabilidade onde ocorre uma ruptura
ou, mais freqüentemente, uma emergência espontânea de novas formas de
ordem. Essa emergência espontânea de inovação é um dos indicadores de
qualidade da vida. Já foi reconhecido como a origem dinâmica do
desenvolvimento, aprendizado e evolução. Em outras palavras, a
criatividade - a geração de novas formas - é uma propriedade chave para
todos os sistemas vivos. Isso significa que todos os sistemas vivos se
desenvolvem; a vida continuamente tenta criar novidades.
O
conceito biológico de desenvolvimento implica um sentido de
desdobramento multifacetado; de organismos vivos, ecossistemas ou
comunidades de seres humanos alcançando seus potenciais. Os economistas,
em contraste, restringem o uso de “desenvolvimento” a uma única
dimensão econômica, geralmente mensurada em termos de PIB per capita. A
enorme diversidade da existência humana é comprimida nesse conceito
quantitativo linear e, então, convertida em coeficientes monetários. O
mundo inteiro, assim, é arbitrariamente categorizado como países
“desenvolvidos,” “em desenvolvimento” e “menos desenvolvidos”. Os
economistas reconhecem apenas o dinheiro e fluxos de caixa, ignorando
qualquer outra forma de riqueza fundamental - todos os ativos
ecológicos, sociais e culturais.
Parece que essa
visão linear de desenvolvimento econômico, como usado pela maioria dos
economistas e políticos, corresponde ao estreito conceito quantitativo
de crescimento econômico, enquanto o senso de desenvolvimento biológico e
ecológico corresponde à noção de crescimento qualitativo. Na verdade, o
conceito biológico de desenvolvimento inclui tanto o crescimento
quantitativo quanto o crescimento qualitativo.
Um
organismo em desenvolvimento, ou ecossistema, cresce de acordo com seu
estágio de desenvolvimento. Tipicamente, um organismo novo atravessará
períodos de rápido crescimento físico. Em ecossistemas, a fase mais
inicial de crescimento rápido é conhecida como um ecossistema pioneiro,
caracterizado pela rápida expansão e colonização do território. O
crescimento rápido é sempre seguido por um crescimento mais lento, pela
maturação e, finalmente, pelo declínio ou decadência ou, em
ecossistemas, pela, assim conhecida, sucessão. Na medida em que sistemas
vivos amadurecem, seus processos de crescimento mudam de quantitativo
para qualitativo.
Quando estudamos a natureza,
podemos ver claramente que o crescimento quantitativo ilimitado, como
promovido tão vigorosamente pelos economistas e políticos, é
insustentável. Um bom exemplo é o rápido crescimento de células
cancerosas, que não reconhecem fronteiras e não é sustentável já que as
células cancerosas morrem quando o organismo hospedeiro morre.
Similarmente, o crescimento econômico quantitativo ilimitado, em um
planeta finito como o nosso, não pode ser sustentável.9 O crescimento
econômico qualitativo, em contraste, pode ser sustentável se envolver a
dinâmica de equilíbrio entre o crescimento, o declínio e a reciclagem, e
se também incluir desenvolvimento em termos de aprendizado e
amadurecimento.9a
A distinção entre crescimento
econômico quantitativo e qualitativo também trás a tona o amplamente
usado, mas problemático, conceito de “desenvolvimento sustentável.” Se
“desenvolvimento” for usado no estreito senso econômico de hoje,
associado com a noção de crescimento quantitativo ilimitado, tal
desenvolvimento econômico nunca poderá ser sustentável e o termo
“desenvolvimento sustentável” seria um oximoro. Se, porém, o processo de
desenvolvimento for entendido como mais do que um processo puramente
econômico, incluindo dimensões sociais, ecológicas e espirituais, e se
for associado com crescimento econômico qualitativo, então, tal processo
sistêmico multidimensional poderá ser, certamente, sustentável. Muitas
pessoas no mundo dos negócios, governo e na sociedade civil usam hoje em
dia o termo “sustentabilidade” para examinar essas questões, junto com
centenas de novos programas acadêmicos e empresas de consultoria. Muito
trabalho ainda precisa ser feito para definir “sustentabilidade” em
todos esses contextos.
Crescimento Econômico Qualitativo e a Crise Global
Vamos
voltar ao desafio que é o centro de nossa crise econômica global: como
podemos transformar a economia global, partindo de um sistema que luta
por crescimento quantitativo ilimitado, que é manifestamente
insustentável, para um crescimento que seja ecologicamente condizente
com a geração de trabalho, sem agravar ainda mais o desemprego?
O
conceito de crescimento econômico qualitativo será uma ferramenta
crucial para essa tarefa. Ao invés de avaliar o estado da economia em
termos de PIB quantitativo bruto, precisamos distinguir entre o “bom”
crescimento e o “mau” crescimento e, então, aumentar o primeiro, em
detrimento do segundo, de maneira que recursos naturais e humanos não
sejam comprometidos com processos de produção inúteis e inconsistentes e
que possam ser libertados e reciclados como recursos para processos
eficientes e sustentáveis. Um passo a frente nessa direção foi a
conferência “Além do PIB”, no Parlamento Europeu, em novembro de 2007,
que teve como ponta de lança a Comissão Européia junto com a World
Wildlife Fund for Nature, a OECD, a EUROSTAT (Agência de Estatísticas da
Europa) e o Club of Rome.10
Do ponto de vista
ecológico, a distinção entre crescimento econômico “bom” e “mau” é
óbvia. O mau crescimento de processos de produção e serviços são aqueles
baseados em combustíveis fósseis, que envolvem substâncias tóxicas,
esgotam os recursos naturais e degradam os ecossistemas da Terra. O bom
crescimento é o crescimento de processos de produção e serviços mais
eficientes, que envolvam energias renováveis, emissão zero de poluentes,
reciclagem contínua de recursos naturais e restauração dos ecossistemas
da Terra. As mudanças climáticas e outras manifestações de nossa crise
ambiental global tornam imperativo fazer essa mudança, deixar de lado
processos de produção destrutivos e partir para alternativas
sustentáveis “verdes” ou “ecodesign”; e também é verdade que essas
mesmas alternativas resolverão nossa crise econômica de uma maneira
socialmente justa. Nós vemos políticas sistêmicas correspondentes na
Iniciativa de uma Economia Verde, das Nações Unidas, lançada em dezembro
de 2008, em Genebra, pelo Programa de Meio Ambiente da ONU, pela
Organização Internacional do Trabalho e pelo Programa de Desenvolvimento
da ONU, que foi devidamente assistido por um de nós.11
Outras
iniciativas similares são o Green New Deal, na Grã Bretanha e o Global
Marshall Plan para uma economia verde socialmente justa, na Alemanha.12
Em
anos recentes, presenciamos um aumento dramático de práticas e projetos
com design ecologicamente orientado, todos muito bem documentados.13
Eles incluem um renascimento mundial da agricultura orgânica; a
organização de diferentes indústrias em blocos ecológicos, onde os
resíduos de uma organização podem se transformar em recursos para outra;
a mudança de uma economia produto-orientada para uma economia
“servir-e-fluir”, onde as matérias primas e componentes técnicos giram
continuamente entre fabricantes e usuários; edifícios concebidos para
produzir mais energia do que usam, para não emitir resíduos e para
monitorar seu próprio desempenho; carros híbridos que atingem a
eficiência de combustível de 50 mpg ou mais; e um dramático aumento da
eletricidade gerada pelos ventos, além das mais otimistas projeções. Na
verdade, com o desenvolvimento de híbridos abastecidos em tomadas e
fazendas de ventos, os carros do futuro poderão funcionar primariamente
com energia eólica.
Essas tecnologias e projetos de
ecodesign todos incorporam princípios básicos de ecologia e, portanto,
oferecem algumas características chave em comum. Eles tendem a ser
projetos de pequena escala, com muita diversidade, energia eficientes,
não poluentes e voltados para a comunidade. E mais importante ainda,
tendem a intensificar as possibilidades de trabalho, criando muitos
empregos. Realmente, o potencial de criação de empregos, através de
investimentos em tecnologias verdes, restauração de ecossistemas e
re-concepção de nossa infra-instrutora é enorme - um fato que foi
claramente reconhecido pelo presidente Obama que já começou, junto com o
Congresso dos Estados Unidos, a transformar essas idéias em realidade,
no American Recovery and Reinvestment Act de 2009.
Um
mapa detalhado para a transição do crescimento quantitativo para o
crescimento qualitativo e, assim, encontrar soluções para a crise global
que são ecologicamente sustentáveis e socialmente justas, fica muito
além do escopo desse artigo. Mas alguns passos que parecem ser muito
importantes podem ser listados:
* Os modelos de
crescimento qualitativo precisam ser formulados por equipes
multidisciplinares, comparados e promovidos junto ao mundo dos negócios,
governos e a mídia. Também, é preciso adotar novos conjuntos de
indicadores sociais/ambientais mais amplos. Isso exigirá vontade
política, pressão da opinião pública e educação da mídia - através de
editores e jornalistas.
* Os sistemas de impostos precisam ser reestruturados pela redução dos encargos sobre o trabalho e o aumento dos impostos em várias atividades consideradas como ambientalmente destrutivas, de maneira a “internalizar” e incorporar todos esses custos nos preços oferecidos no mercado. Esses “impostos verdes” estão sendo adotados em muitos países. Eles devem incluir um imposto sobre a geração de carbono e imposto sobre a gasolina, que podem ser gradualmente introduzidos e contrabalanceados com reduções no imposto de renda e impostos na folha de pagamento. A substituição dos impostos, de imposto de renda e na folha de pagamento para taxação do desperdício, poluição e geração de carbono e uso de recursos não renováveis empurrará, gradualmente, tecnologias e padrões de consumo prejudiciais e perdulários para fora do mercado. Isso aumentará o valor de participação das empresas na produção de alternativas verdes.
* Os sistemas de impostos precisam ser reestruturados pela redução dos encargos sobre o trabalho e o aumento dos impostos em várias atividades consideradas como ambientalmente destrutivas, de maneira a “internalizar” e incorporar todos esses custos nos preços oferecidos no mercado. Esses “impostos verdes” estão sendo adotados em muitos países. Eles devem incluir um imposto sobre a geração de carbono e imposto sobre a gasolina, que podem ser gradualmente introduzidos e contrabalanceados com reduções no imposto de renda e impostos na folha de pagamento. A substituição dos impostos, de imposto de renda e na folha de pagamento para taxação do desperdício, poluição e geração de carbono e uso de recursos não renováveis empurrará, gradualmente, tecnologias e padrões de consumo prejudiciais e perdulários para fora do mercado. Isso aumentará o valor de participação das empresas na produção de alternativas verdes.
* Além dessa substituição de impostos, as empresas precisam reavaliar
seus processos de produção e seus serviços, para determinar quais são
ecologicamente destrutivos e, assim, precisam ser gradualmente
eliminados. Ao mesmo tempo, devem diversificar, em direção aos produtos e
serviços verdes. Como novos protocolos contábeis sendo adotados,
considerando integralmente fatores sociais, ambientais e fatores
relacionados com governança (ESG), as empresas estão sendo direcionadas
para esses produtos, serviços e práticas sustentáveis, por seus
investidores - incluindo fundos mútuos de responsabilidade social,
fundos de pensão, sindicatos, grupos civis e investidores individuais.14
* A reforma dos sistemas financeiros e monetários internacionais é agora premente. A Cúpula do G-20, em Londres, no dia 2 de abril de 2009, incluiu debates sobre como conter a alavancagem excessiva, regular os riscos assumidos e controlar pagamentos e bônus feitos; e como regular a especulação em mercados monetários ($3 trilhões movimentados diariamente) e derivativos de crédito ($683 trilhões agora negociados,15 comparados com o PIB global de apenas $65 trilhões). Essas novas regras precisam ser globais, através de contratos - a única maneira pela qual podem funcionar em nosso sistema financeiro globalizado.
* A reforma dos sistemas financeiros e monetários internacionais é agora premente. A Cúpula do G-20, em Londres, no dia 2 de abril de 2009, incluiu debates sobre como conter a alavancagem excessiva, regular os riscos assumidos e controlar pagamentos e bônus feitos; e como regular a especulação em mercados monetários ($3 trilhões movimentados diariamente) e derivativos de crédito ($683 trilhões agora negociados,15 comparados com o PIB global de apenas $65 trilhões). Essas novas regras precisam ser globais, através de contratos - a única maneira pela qual podem funcionar em nosso sistema financeiro globalizado.
* Todas essas reformas sempre envolverão mudanças de percepção, de uma
orientação de produto para uma orientação de serviço e a
“desmaterialização” das nossas economias produtivas. Por exemplo, uma
montadora de automóveis deve conscientizar-se que não está
necessariamente só no mercado de venda de carros, mas também no negócio
de oferecer mobilidade, que também pode ser conseguida, dentre muitas
outras coisas, pela fabricação de um número maior de ônibus e trens e
pela re-concepção de nossas cidades. Similarmente, todos os países - e
especialmente os Estados Unidos - devem perceber que o combate às
mudanças climáticas é hoje a mais importante e mais urgente questão de
segurança mundial. A Administração Obama deveria reduzir o orçamento do
Pentágono, enquanto aumenta os fundos destinados à diplomacia e
construção de uma nova economia “verde”.
* O
indivíduo deverá alterar sua percepção e encontrar satisfação trocando o
consumo material pelas relações humanas e construção de sua comunidade.
Essa mudança de valores é hoje promovida pelos muitos grupos cívicos e
também por séries de TV, como a conhecida “Mercado Ético.”16 Uma
proposta de corte de créditos de impostos para propaganda corporativa
procura reduzir a propaganda de maneira justa, sem prejudicar o direito
da pessoa de se expressar livremente.17
Crescimento Qualitativo Além da Economia
Essa
alteração de crescimento econômico quantitativo para crescimento
econômico qualitativo criará novas indústrias e reduzirá o tamanho de
outras, de acordo com critérios ambientais e sociais. Na medida em que a
precificação de custo total, os custos do ciclo de vida, como também a
auditoria social, ambiental e ética passarem a ser norma, veremos quais
processos de produção devem ser aquecidos e quais devem ser gradualmente
eliminados. Qualquer comprometimento sério, nessa empreitada, deixará
evidente que os principais problemas de nosso tempo - energia, meio
ambiente, mudanças climáticas, alimentos em quantidades suficientes e
uma situação financeira segura - não podem ser entendidos isoladamente.
Eles são problemas sistêmicos, o que significa que estão todos
interconectados e são todos interdependentes.
Para
mencionar apenas algumas dessas interdependências, a pressão demográfica
e a pobreza formam um ciclo vicioso que, exacerbado pelas tecnologias
capital-intensivas, levam ao esgotamento dos recursos - menos empregos,
cada vez menos água, florestas encolhendo, a pesca entrando em colapso, a
erosão do solo, bolsões de pobreza ainda maiores, etc. A economia
crescimento do PIB é falha e exacerba as mudanças climáticas agravando
tanto a exaustão dos recursos como a pobreza, levando até ao colapso dos
estados, cujos governos não conseguem mais oferecer segurança para seus
cidadãos. Sendo que alguns, por puro desespero, se voltam para o
terrorismo.18
A interconectividade fundamental entre
nossos principais problemas deixa claro que precisamos ir além da
questão econômica para superar a atual crise financeira global. Por
outro lado, tal entendimento sistêmico torna possível encontrar soluções
sistêmicas - soluções que resolvam diversos problemas ao mesmo tempo.
Por exemplo, a mudança da agricultura industrial de larga escala, que
usa muitos produtos químicos para a agricultura orgânica, orientada para
a comunidade e fazendas sustentáveis que contribuiriam
significativamente para a solução de três dos nossos maiores problemas:
dependência de energia, mudanças climáticas e crise na Saúde.19
Diversas
soluções sistêmicas desse tipo foram recentemente desenvolvidas e
testadas em todo o mundo.20 Com elas fica evidente que a mudança do
crescimento quantitativo para um crescimento qualitativo, usando todos
os novos indicadores de qualidade de vida e bem-estar, pode redirecionar
países, de uma destruição ambiental para a sustentabilidade ecológica e
do desemprego, pobreza e desperdício para a criação de postos de
trabalho significativos e dignos. Essa transição global para a
sustentabilidade não é mais um problema conceitual ou técnico. É uma
questão de valores e vontade política.
* FRITJOF
CAPRA, físico teórico, é diretor fundador do Center for Ecoliteracy
(Centro de Educação Ecológica) in Berkeley, Califórnia. Autor das obras
The Web of Life (A Teia da Vida), (1996) e The Hidden Connections (As
Conexões Ocultas), (2002). Também é co-autor do livro EcoManagement
(Eco-Gerenciamento), (1993) e co-editor de Steering Business Toward
Sustainability ( Conduzindo os Negócios em Direção da Sustentabilidade),
(1995).
* HAZEL HENDERSON, autora da obra Ethical
Markets: Growing the Green Economy (Mercado Ético: Construindo a
Economia Global), (2006) e co-criadora, no Calvert Group, dos
Indicadores de Qualidade de Vida Calvert-Henderson, trabalhou no comitê
organizacional da conferência “Além do PIB”, no Parlamento Europeu
(2007). É líder mundial da plataforma Mercado Ético.
Fonte do texto: sunnet.com.br