04 agosto 2014

OS VERDADEIROS IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


Os verdadeiros impactos da construção civil

Um dos mais importantes setores da economia, a construção civil é essencial ao desenvolvimento no país, sendo responsável por mais de 2,327 milhões de empregos diretos e indiretos, de acordo 


com pesquisa do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria  da Construção Civil do Estado de São Paulo) e da FGV (Fundação Getulio Vargas). Em contrapartida, o setor se caracteriza como um 


dos que mais consomem recursos naturais, desde a produção dos insumos utilizados até a execução da obra e sua operação ao longo de décadas. No Brasil, apropria-se de 75% do que é extraído do meio 

ambiente.


veja estes e outros vídeos que comentem sobre entulhos da construção civil



RESÍDUOS E CANTEIRO
Apoderando-se dos recursos naturais, o setor é também, entre todas as atividades produtivas, o maior gerador de resíduos. Segundo Diana Scillag, diretora do CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável -, de tudo o que extrai da natureza, apenas entre 20% e 50% das matérias-primas naturais são realmente consumidas pela construção civil. Dados revelam que o volume de resíduos gerado – entulho de construção e demolição -, chega a ser duas vezes maior que o volume de lixo sólido urbano. O economista e mestre em tecnologia ambiental Elcio Carelli, da empresa Obra Limpa, afirma que 60% do total de resíduos produzidos nas cidades brasileiras têm origem na construção civil. “Em São Paulo, estima-se a geração de 17 mil toneladas/dia de resíduos, sendo que 30% vêm da construção formal e o restante da informal”, diz ele.
A produção de materiais de construção é, ainda, responsável por poluição que ultrapassa limites tolerados em poeira e CO2. O processo produtivo do cimento necessariamente gera o gás carbônico, um dos principais causadores do efeito estufa. Para cada tonelada de clinquer (componente básico do cimento) produzido, mais de 600 kg de CO2 são lançados na atmosfera. Junte-se o sedimento ambiental da produção de outras indústrias com o crescimento mundial da fabricação de cimento, o resultado é que a participação do insumo no CO2 total mais que dobrou no período de 30 anos, entre 1950 e 1980. Outros materiais usados em grande escala têm problemas similares.
Scillag afirma que “a reciclagem é prática ideal de transformação para reduzir o volume de extração de matérias-primas, através da substituição por resíduos reciclados, redução de áreas destinadas a aterros, redução de energia referente ao processo de extração, além de possibilitar o surgimento de novos negócios”.
ENERGIA E ÁGUA
“Hoje, aproximadamente 40% da energia mundial são consumidas pelos edifícios”, diz Scillag, explicando que o consumo energético nas edificações ocorre em dois momentos. Na etapa pré-operacional ou de energia embutida, aquela da extração e fabricação de materiais, do transporte até a obra e da construção do edifício. “Porém, a etapa em que a edificação mais consome energia é durante sua ocupação, em manutenção e demolição”, diz. O consumo de energia é diferente dependendo do setor – comercial, público ou residencial. O consumo de energia elétrica do setor residencial no Brasil é o mesmo que o consumo somado do setor público e comercial.
OS VERDADEIROS IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
OS VERDADEIROS IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

“Essa é uma das maiores oportunidades para construção civil mundial no combate as mudanças climáticas. No Brasil, por exemplo, as edificações consomem anualmente 44% do total de energia elétrica do País. O caminho para alcançar a eficiência energética é o investimento em projetos bioclimáticos com uso, quando possível, de energias renováveis”, recomenda. Com o  uso racional de recursos é possível reduzir entre 30% e 40% o consumo de energia e de água.
De acordo com o comitê temático da água do CBCS, a construção civil é responsável por exorbitante parte do consumo de água potável no mundo. Em áreas urbanizadas chega a ser de cerca de 50% da água potável fornecida à região, podendo chegar a 84% como ocorre na cidade de Vitória (ES), de acordo com a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan). O uso adequado de fontes alternativas de água em substituição à água potável pode ajudar a reduzir esse valor em 30% a 40% colaborando para a mitigação dos impactos causados pela construção civil no meio ambiente.
Na contramão do desperdício, são várias as fontes alternativas de água que podem ser implementadas. Hoje, o Brasil tem tecnologia para o tratamento e uso de água subterrânea, água pluvial e água cinza – e, quando necessário, de instalação de ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) no próprio edifício. O uso dessas fontes é ação positiva para a preservação ambiental, principalmente em edifícios em que a gestão da operação do sistema seja permanentemente garantida, de forma a evitar a contaminação do ambiente e preservar a saúde dos usuários.
INFORMALIDADE
Um dos pilares da sustentabilidade, a qualidade de vida que inclui a dos  trabalhadores do setor, é amplamente desrespeitada no Brasil pela  construção civil, flagrada em elevada escala de informalidade: cerca 40% dos R$ 160 bilhões gerados anualmente pela atividade é informal.
OS VERDADEIROS IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
OS VERDADEIROS IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
As consequências vão desde a perda de arrecadação fiscal até o desperdício de materiais, resultando em má qualidade das unidades produzidas e aumento da demanda por recursos ambientais para reparar os problemas existentes. Segundo Vanderley John, professor-doutor em engenharia civil da Escola Politécnica da USP e conselheiro do CBCS, 72% dos trabalhadores estão alocados na construção informal, privados dos direitos sociais e apresentando apenas 25% da produtividade dos trabalhadores da construção formal, e apenas 44% da produtividade média dos trabalhadores brasileiros.
“O maior entrave para a introdução de práticas mais sustentáveis é certamente a informalidade. Não existe sustentabilidade sem respeito completo ao contrato social vigente. A informalidade reduz dramaticamente o potencial de fazer política pública e até de cumprimento dos contratos”, comenta o professor, que recomenda aos interessados em selecionar fornecedores que atuam formalmente, uma visita à ferramenta ‘Seis Passos’, no site do CBCS (www.cbcs.org.br)
CUSTOS


“O custo de uma construção mais sustentável pode ou não ser maior do que a da convencional, dependendo de vários fatores, tais como a localização da obra e o nível de sustentabilidade que se pretende”, diz a arquiteta Silvia Manfredi, diretora da ANAB Brasil – Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica. Segundo ela, a sustentabilidade deve priorizar o desenvolvimento de um bom projeto de arquitetura. “É o projeto que definirá as estratégias bioclimáticas, priorizando soluções visando a eficiência energética e conforto; o uso de sistemas e tecnologias para redução do consumo de água; e, principalmente, a otimização dos recursos utilizados na obra. Com isso, pode-se chegar a um custo de 1% a 5% maior que o de construções tradicionais – e esse custo vem caindo nos últimos anos, no mundo todo. Devemos lembrar que o custo de operação de um edifício ao longo de 50 anos chega ser cinco vezes maior do que o custo de construção propriamente” diz ela.
Adotando práticas sustentáveis, o Complexo Rochaverá conseguiu a certificação LEED, na categoria Gold.
Exemplo recente no país, o complexo Rochaverá, da Tishman Speyer, embarcou tecnologias e práticas sustentáveis que renderam às duas primeiras torres, já concluídas, a certificação LEED, na categoria Gold. Dos R$ 600 milhões de investimento total no complexo Rochaverá, as torres A e B consumiram a metade. “Essa obra ficou entre 2% e 3% mais cara na comparação com uma construção convencional. Através da economia proporcionada à operação do edifício, o payback é de três anos, principalmente se o edifício for locado rapidamente, o que ocorreu com os dois primeiros edifícios”, enfatiza Luiz Henrique Ceotto, diretor de Design & Construction da Tishman Speyer, empresa que concebeu o empreendimento. Nem por isso a locação é mais cara. Deveria, segundo Ceotto, porque o cliente vai pagar um condomínio muito menor. “O condomínio de um edifício como Rochaverá é 30% menor do que o de um prédio convencional”, conclui.
Para Silvia Manfredi, um dos caminhos apontados para tornar a obra mais sustentável, a industrialização da construção elimina desperdícios na obra; otimiza o uso dos materiais; aumenta a produtividade e tende reduzir a informalidade da mão-de-obra. “Porém, dependendo dos materiais utilizados, nem sempre a industrialização significa um ganho em termos biológicos, ou seja, na saúde de seus usuários. É o caso dos vários materiais que utilizam compostos orgânicos voláteis (COVs) – composição de milhares de elementos químicos, como o formaldeído e benzeno -, presentes na fabricação de nylon, tintas, carpetes, colas e solventes”, alerta a arquiteta.
Redação AECweb