30 outubro 2013

REFLEXÕES SOBRE A HUMANIZAÇÃO

A comunicação é elemento essencial no cuidado prestado à pessoa, funciona como ferramenta essencial para executar o cuidado, pelo qual se pode ser mais humano, mais próximo da natureza ontológica voltada para o cuidar como enfatiza Leonardo Boff (2002). Os seres humanos são sociáveis graças à comunicação, a base de nossas relações.

reflexões sobre a comunicação das pessoas
reflexões sobre a humanização

Para viver no mundo moderno, é necessário lançar mão da comunicação, assim torna-se essencial entender esse instrumento para cuidar das pessoas. Cuidar está associado a comunicar.

Segundo Amora (2001), cuidado significa refletir, pensar, interessar-se por, preocupar-se, considerar. Esses princípios vêm ao encontro com os preceitos da humanização, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), que enfatiza os valores como a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, como descrito no programa humanizaSUS.

Evidencia-se no documento do SUS a estruturação mais política enfatizando os valores e direitos dos clientes do sistema de saúde público universal e participativo. Tais ações macro e micro-específicas ocorrem mediante aos laços de comunicação entre profissional de saúde, clientela, sistema de saúde e gestores os quais devem priorizar o cuidado mais humano, próximo e responsável.

O cuidado humanizado também pode ter sustentação filosófica de valorização de sentimentos mútuos de forma ética. Para Waldow (1998), o cuidado humano é uma atitude ética em que os sujeitos se percebem e reconhecem os direitos uns dos outros. Segundo a autora, aspecto a ser destacado é a forma de o
cuidado ser ensinado e desenvolvido em campo prático de ensino: com ênfase na técnica, ou seja, intervenções, que em última análise, dependem de uma prescrição médica e cujo objetivo é o tratamento da doença.

Pensa-se, atualmente, na qualidade da assistência prestada a população, em contrapartida observam-se também fortes valores embasados no capitalismo e individualismo como já afirmava Machado (1985). A cultura do capital conduz a competição, disputa e isolamento das pessoas.

A sociedade encontra-se no mundo atual de informações e ao mesmo tempo em um caos relacionado à integração das pessoas que se afastam cada vez mais mediante aos recursos da modernidade. No mundo moderno as pessoas preferem se isolar, muitas vezes com medo da violência, ou de se comunicar e se expressar de maneira humana próximos de outros seres humanos.

 Torna-se estranho o próprio homem falar de “humanização”, mas é o que ocorre atualmente, principalmente, em relação ao atendimento em saúde.

Percebe-se o grande desafio que os profissionais de saúde vivenciam ao tentar romper as barreiras para implementar o cuidado integral e “humanizado”. Um dos principais dilemas para tornar o cuidado mais “humano” seria o reconhecimento do sujeito também cidadão como participante em seu processo de cura e reabilitação.

A palavra comunicação vem do latim comunicare, que tem como significado por em comum. Designada como troca de mensagens, é considerada um processo, método ou instrumento, por meio do qual as significações são transmitidas entre pessoas ou grupos. Por si só, esse processo possui significância humanizadora, pois as pessoas se comunicam de variadas formas umas com as outras. No caso dos profissionais de saúde, há comunicação em todas as instâncias, seja para prevenção, no processo 
de cura, reabilitação ou promoção à saúde.
Sabe-se que para humanizar as ações e atos, que em última análise, se tornarão “cuidado” toda a equipe de saúde deve estar preparada e habilitada para isso, assim como possuírem um ideal em comum.
Deve-se atentar para as atitudes e posturas dos profissionais de saúde, seriam adequadas para uma comunicação clara e acolhimento ao cliente? A partir disso, pode-se planejar como aumentar a qualidade do atendimento às pessoas. Oficinas, reciclagem e temas de atividades de educação permanente podem ajudar. 
Os estudantes de hoje serão os profissionais de amanhã, e devem estar cientes de que deverão agir e contribuir para a humanização, tendo em mente o cuidado ético e responsável, partindo de um ponto crucial: formar equipes de saúde coesas e que interagem de forma interdisciplinar. 
Nota-se que é importante estimular a participação dos estudantes da área da saúde, desde sua formação, no intuito de desenvolver um olhar crítico-reflexivo sobre sua realidade e sobre o ato de cuidar.
Ações simples que podem ser executadas durante o trabalho de cuidar dos semelhantes seriam: olhar nos olhos, observação dos sinais não-verbais, tocar, utilizar a empatia, respeito à individualidade e singularidade, sendo estas ações que seguem a lógica de Leonardo Boff (1999), onde afirma que cuidado significa um fenômeno existencial básico, algo ontológico ⎯ o ser humano nasce com ele ⎯ basta permitir que aconteça. Esse processo pode ocorrer através de uma comunicação terapêutica adequada. 
Outras ações éticas podem ser descritas como: a informação ao cliente sobre sua patologia, procedimentos 
diagnósticos, fármacos ⎯ seus efeitos no organismo ⎯ e direitos como cidadão e sujeito ativo no que diz respeito à sua saúde.
Tais ações atendem aos preceitos de humanização segundo o Ministério da Saúde (2004).
As condutas parecem bem idealizadoras, mas na realidade são discutidas e públicas, o que se questiona é: 
porque não são exercidas e vivenciadas no cotidiano? 
Concordando com Benevides e Passos (2005, p.562-563), a Humanização como política pública deveria 
criar espaços de construção e troca de saberes, investindo nos modos de trabalhar em equipe. 
Isto supõe, é claro, lidar com necessidades, desejos e interesses destes diferentes atores. 
Indo mais além, considerar o cliente do serviço de saúde como elemento ativo no processo de seu próprio cuidado torna-se relevante.
O aspecto político, gerencial e organizacional deve ser considerado ao se implementar procedimentos que são consideradas humanizadores. Deslandes (2004) destaca a humanização como oposição à violência, seja física e psicológica que se expressa nos maus-tratos, seja simbólica, que se apresenta pela dor do cliente de não ter a compreensão de suas demandas e expectativas atendidas. Muitas vezes, a própria estrutura hospitalar ― a qual foi organizada para atender a doença e não à pessoa humana ― por si só, simboliza algo ameaçador e que impõe mudanças no cotidiano de sua clientela, durante a hospitalização, representando grande estresse e; por conseguinte, desumano, violento, angustiante. 
Nesta discussão, o que se levanta como questão central é o conteúdo que a maioria dos profissionais de saúde discutem atualmente; ou seja, é sabido que para humanizar é preciso aplicar a lei (8080), conhecer a clientela, agir segundo à beneficência e não maleficência, conhecer sobre processo saúde-doença, aplicar os instrumentos necessários para o cuidado como comunicação, a assistência individualizada. Assim como é relevante existir um número ideal de profissionais para atender à população que demanda por cuidados, saúde e bem-estar. 
Mas não termina por aí, pois ainda há empecilhos relacionados à própria cultura do brasileiro em ver a “saúde” ainda como “ausência de doença”. Muitas vezes, o pronto-atendimento é procurado quando o cliente não se sente bem e apresenta um agravo à saúde. 
Como é percebido, humanizar é preciso... mas deve ser um movimento pela saúde e qualidade de vida que parta de todas as frentes envolvidas nesse processo: da política, da cidadania, das ações do cuidado, das equipes profissionais, da sociedade que consome os serviços de saúde, do SUS, dos sistemas gerenciais, dos empregadores... dentre muitas outras frentes. 
Mas pra isso, será necessária muita discussão. Assim como se deve desejar usufruir a comunicação dialógica com os usuários dos serviços de saúde. Dessa forma, buscando a aceitabilidade do que as pessoas são e representam ser, ou seja, não há possibilidade de humanizar o cuidado sem antes estabelecer um canal aberto com a clientela a qual será prestada essa ação. 
Vencer os desafios mais primordiais como instituir relações entre os serviços de saúde e comunidade assistida, bem como ampliar e melhorar a comunicação entre os profissionais que cuidam (equipe multiprofissional) tornam-se medidas essenciais. 
Através de uma boa comunicação entre os profissionais de saúde e com a clientela, poderá se retomar a definição de cuidar como visto no segundo parágrafo deste texto, como algo que requer envolvimento e estima a pessoa assistida. Humanizar é algo complexo que deve ser pensado de acordo com as realidades das comunidades, estados, país, não esquecendo das filosofias institucionais e formas de entender saúde, doença e cuidado. Mediante ao exposto, o fenômeno humanização se executa, quando há compromisso entre as partes e daqueles que dão subsídio para essa ação, logo há necessidade do envolvimento e disposição ética de toda a equipe em reconhecer que a pessoa é, primordialmente, humana sem necessariamente impor uma lei para exigir isso.
REFERÊNCIAS 
AMORA, A.S. Minidicionário da língua portuguesa. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 
BOFF, L. Saber Cuidar: Ética do humano: compaixão pela terra. 8 ed. São Paulo: Vozes, 
2002.
DESLANDES, S. F. Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência 
hospitalar. Ciência & Saúde Coletiva, v. 9, n.1, 2004. 
MACHADO, P.A.M. Coleção “temas básicos de...” Ecologia Humana. São Paulo: Cortez: 
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, 1984.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de 
Humanização. HumanizaSUS: a clínica ampliada / Ministério da Saúde Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 
REFERÊNCIA DO TEXTO: SILVA, J. L. L.; et al. Reflexões sobre a humanização e a relevância do processo de comunicação. Disponível em: <http://www.uff.br/promocaodasaude/informe
FONTE : Jorge Luiz Lima da Silva1 / Marilda Andrade2 / Raphaella Alvim Lima3 /  Eric Leonard Lobo4
                   Lílian Falcão4