PASSOS - MG TENTANDO RECICLAR ENTULHO
A RECICLAGEM DO ENTULHO AINDA É FACHADA |
Pra entender o progresso de um país, estado, cidade ou região, um bom termômetro é o setor da construção civil. Ainda que empregue mão-de-obra barata em grande escala, o setor movimenta a economia e é responsável por aproximadamente 20% do PIB aqui no Brasil. Estima-se que para cada 100 postos de trabalho criados na construção civil, há geração de 285 postos indiretos. Nada mal, certo?
Errado. Quer dizer, em termos econômicos os números são fantásticos. Em termos ambientais, nem tanto.
As construções poluem o meio ambiente, e MUITO. Estima-se que dos resíduos sólidos urbanos produzidos 2/3, em massa, são de entulho. A produção de entulho por habitante chega a 0,55t por ano. E estamos falando em números médios obtidos para o país, obviamente para cada macro ou microrregião a ser estuda, variam-se as quantidades.
ENTULHOS E ENTULHOS |
Ao se pesquisar sobre o porquê da quantidade de entulho, uma palavra sozinha responde à pergunta: desperdício. Você tem ideia do quanto de materiais utilizados em uma obra é desperdiçado? Segundo Tarcísio de Paula Pinto algo em torno de 20%!
Os motivos são os mais variados:
- Má qualidade dos materiais utilizados nas obras ofertados ao mercado;
- Falta de procedimentos e negligencia de supervisão, que provocam: perdas durante a estocagem dos materiais; problemas com o transporte de materiais pelos canteiros; carência de controle geométrico; ausência de prumo, nivelamento e planicidade na edificação; acréscimo no consumo de materiais para recuperação da geometria.
A reciclagem do entulho entra como solução para esses materiais que são inevitavelmente desperdiçados. A reciclagem transforma as montanhas desordenadas de material de construção, em pilhas de matéria-prima, servindo tanto para novas obras prediais, como para obras públicas.
Vejamos o exemplo das usinas de reciclagem de entulho em Belo Horizonte. Atualmente existem três unidades situadas no bairro da Pampulha, no Estoril e às margens da BR-040, no km 531. As usinas são instaladas em terrenos públicos localizados estrategicamente, com área mínima de 6.000m², que são cercados e dotados de pontos de aspersão de água, localizados estrategicamente, de forma a reduzir o excesso de poeira. Para evitar a pressão sonora, as calhas dos equipamentos britadores são revestidas de borracha e as pás carregadeiras dispõem de silenciadores.
A prefeitura, através de associações de carroceiros cadastrados e caminhões, fica responsável pela coleta dos entulhos juntos às obras de construção e os encaminhas às usinas de reciclagem. O entulho é composto por: cimento, concreto, madeira, argamassa, telhas e tijolos quebrados. Ao chegar nas usinas todo o entulho é espalhado por um trator no terreno da usina e as impurezas são recolhidas. As impurezas representam aproximadamente 10% do entulho e não servem aos propósitos da reciclagem, pois são: plásticos, papéis, papelão, metais e madeiras.
A partir da retirada das impurezas faz-se dois montes de resíduos: de um lado, os restos de telhas e tijolos; do outro, os restos de cimento, argamassa e concreto. Um triturador funciona sem parar, moendo esses materiais que vão constituir os dois tipos de matérias-primas.
As telhas e tijolos triturados servem como base e sub-base para obras públicas de pavimentação de ruas. Já os restos de cimento, argamassa e concreto que ficam no outro monte, depois de triturados, são peneirados até virarem uma areia fina, que é misturada com cimento novo. Depois, esse material se transforma em tijolos e blocos usados para construir escolas e outros prédios da prefeitura. Tais blocos não perdem em nada para blocos e tijolos convencionais, exceto pela matéria-prima ser o entulho.
Vejamos o saldo de todo esse sistema sustentável:
1) A prefeitura tem uma significativa economia com a compra de materiais para obras públicas de pavimentação e construção de edifícios públicos – no ano de 2003 a prefeitura de BH economizou quase 900mil reais na compra de matéria-prima para a construção civil;
2) Geralmente nas cidades há uma taxa para descarte de entulhos em aterros, em Belo Horizonte o descarte não implica em taxa extra;
Associação de Carroceiros, parte do processo
4) Criou-se no carroceiro uma consciência ambiental e econômica de que aquilo que ele transportava para ser disposto em algum lugar vale dinheiro – o material é matéria-prima para a construção civil;
5) Foi criado pela prefeitura de BH o Dia do Carroceiro – 17 de setembro – elevando a autoestima desse profissional, fazendo-o sentir-se útil ao processo.
Belo Horizonte cria, assim, um modelo de gestão de resíduos sólidos que compreende o poder público (a quem cabe o ônus de regulamentar a coleta, o transporte e a destinação final dos resíduos) e os carroceiros, que foram incorporados ao processo e que são, digamos, os responsáveis por todo o entulho possível ter como destino as usinas de reciclagem.
Outros exemplos de usina de reciclagem de entulho já se espalham pelo Brasil. Mas o exemplo mineiro foi pioneiro, e merece todos os nossos aplausos.
FONTE DO TEXTO :naturezaesustentabilidade.wordpress.com