02 agosto 2012

HUMANIZAÇÃO NO TRABALHO - UMA QUESTÃO DE LINGUAGEM

Humanização no Trabalho - uma questão de linguagem

HUMANIZAÇÃO NO TRABALHO - UMA QUESTÃO DE LINGUAGEM
HUMANIZAÇÃO NO TRABALHO - UMA QUESTÃO DE LINGUAGEM



Ao que tudo indica, a distância entre as realizações pessoais e profissionais está aumentando na medida em que os indivíduos estão passando por transformações que acabam refletindo uma preocupação que as organizações procuram administrar.

Desta forma, indivíduos e organizações estão passando por uma fase de ajustamento. No entanto, essas instituições enfrentam maiores dificuldades e os desafios parecem, às vezes, intransponíveis. O ambiente de trabalho ao mesmo tempo em que é palco de realizações pessoais é um cenário de sofrimento psíquico, em função de sua natureza ambígua, que precisa abarcar tanto a vida exterior como o universo íntimo das pessoas.

Mas não é somente o fato de ter de dirigir os esforços das pessoas para um determinado objetivo prático, com resultados específicos sob o comando de uma hierarquia de controle, que faz surgirem os desgastes psíquico e emocional. Esses interesses são, fundamentalmente, unilaterais e acabam provocando nas pessoas um isolamento e uma alienação com relação aos objetivos das organizações e das pessoas.

Ao trabalharem de maneira alienada e sem significado, as pessoas afastam-se da possibilidade de colaborarem mais conscientemente para os objetivos finais da organização. Além do fato de existir esse distanciamento, há a questão de não haver uma correspondência entre os valores individuais e os objetivos das empresas. Este é um fator crucial.

O alinhamento entre estes valores parece ser o maior desafio que estamos enfrentando atualmente. Afinal, ao mesmo tempo em que as pessoas estão em busca de maiores significados para suas vidas, isto parece não se dar com as organizações e empresas, que buscam somente a redução de despesas e aumento de seus lucros, muitas vezes por caminhos obscuros, sendo tragadas pela síndrome do imediatismo.

O fator mais crítico, entretanto, dessa situação se refere ao fato de que as organizações não sabem lidar com organismos vivos, muito embora se diga que a “humanização” é uma de suas metas. Vamos ver, todavia, em que medida esta afirmação não se sustenta.

Um indivíduo, como um sistema vivo (embora não o pareça para as organizações), está em constante adaptação ao seu meio ambiente por meio de “acoplamentos estruturais”, como diz a ciência cognitiva. Essa forma de se organizar, porém, tem seus limites e tolerâncias. Ao desprezar o mundo interno do indivíduo, as empresas criam uma condição imprópria ao seu desenvolvimento, na medida em que as nossas percepções dependem de uma visão mental, que é o mesmo que dizer que ela depende de nossa linguagem e, por força disso, vemos o mundo de acordo com ela e, portanto, estamos inseridos em um campo semântico onde as relações humanas só podem existir nesse contexto.

Ora, se as organizações criam suas próprias linguagens, isso quer dizer que o que é propriamente humano fica descartado dessas relações, o que exclui delas as significações sociais e, portanto, não poderá haver humanização.

O caráter objetivo das relações entre pessoas e empresas, estipulado pelas estruturas hierárquicas e regras formais dessas organizações, cria um ambiente que se sobrepõe ao que não é objetivo e, por força disso, há uma submissão da linguagem dos indivíduos, ou seja, de suas visões. Isso causa uma “divisão semântica” que tem como conseqüência uma conduta descompensatória nessa relação, propiciando uma fragmentação nessa visão em que as organizações se sentem autorizadas, pelas suas premissas, a condenar a subjetividade e passa a julgar e condenar os indivíduos pela autoridade de seu discurso lógico.

Essa mesma “lógica” não é senão fruto de uma imposição lingüística e, portanto, de uma subjetividade. Isso nos faz crer que o conhecimento do que se julga ser objetivo (regras da organização) não passa de uma impossibilidade. Como nos diz Humberto Maturana:

“Que somos animais que usam a razão, não há dúvida. Contudo, nós somos movidos pelas emoções como todo animal o é. A razão nos move apenas das emoções que surgem em nós no curso de nossas conversações (ou reflexões) no fluir entrelaçado de nosso linguajar e emocionar.”

Maturana fala do “emocionar” dando primazia a este em relação ao racional, como condição das nossas possibilidades como seres humanos, na medida em que só existimos na instância da nossa linguagem.
Quando essa subjetividade é negada, o indivíduo vê a organização como um objeto separado de sua própria realidade, uma vez que, afastados de si mesmos, passam a experimentar essa ilusão como uma fronteira que os separa, inclusive, da possibilidade de conhecerem esse universo que passa a ser vivenciado como uma limitação.

Não há, portanto, como haver humanização, mas uma retroalimentação e a extinção dessas relações sociais. Ainda como nos diz Maturana:

“Qualquer coisa que destrua ou limite a aceitação do outro, desde a competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica, destrói ou limita o acontecimento do fenômeno social.”.

Como conseqüência direta desta situação, os indivíduos passam a sofrer com as imposições desses valores, restringindo e direcionando suas aspirações mais nobres a outros segmentos da sociedade.

Talvez neste ponto é que resida a esperança de uma transformação das organizações e, ao que parece, esta deverá se dar fora do domínio dessas instituições, cabendo ao indivíduo criar a próxima revolução nos negócios, pressionando essas estruturas de fora para dentro, a partir de novas associações ligadas a interesses mais amplos.
(Texto extraído do livro Liderança Criativa - de Celso Cardoso)
Fonte:por Instituto AION - celso@aions.com.br