19 junho 2012

CONCEITOS DE SEGURANÇA NA GEOTECNIA


Conceitos de segurança na geotecnia

Conceitos de segurança na geotecnia
Conceitos de segurança na geotecnia

“E sob os trabalhos as variações terrestres as rugosidades e os alisamentos. Um século de mãos, obra nenhuma: a atividade bate a humanidade. Faz-se a escavação escava-se no céu a removeras estrelas, abre-se uma fenda para soltar os génios, poços onde há quedas. Também se corta a vida para saber a sangue, estimular matérias. E puxam-se as estrias, enfeixam-se nas veias com uma indústria rápida, suadas violências. Mas toda a escavação só afunda a superfície e os trabalhos baixam, nem sabem, dão falso.”
Carlos Poças Falcão


Numa época cada vez mais exigente, o sucesso da execução de obras geotécnicas, cuja concepção e execução depende, em grande escala, das condições geológicas, técnicas e ciências existentes, torna-se imprescindível o conhecimento prévio destas condições.
Antes de mais nada, geotecnia é um ramo da geologia e da engenharia civil. Não seria de facto uma única ciência, mas sim a mistura de três; basicamente: • geologia de engenharia - “Geologia de Engenharia é a ciência dedicada à investigação, estudo e solução dos problemas de engenharia e meio ambiente decorrentes da interacção entre as obras e atividades do Homem e o meio físico geológico, assim como ao prognóstico e ao desenvolvimento de medidas preventivas ou reparadoras de riscos geológicos”.
Detendo-nos na frase de F. Bacon, “a natureza para ser comandada precisa ser obedecida”, expressão que revela a maravilhosa capacidade de percepção e síntese própria dos sábios, podemos entendê-la como a própria essência conceitual da Geologia de Engenharia.
Para o atendimento das necessidades humanas nesta “aldeia global” que é o planeta Terra (energia, transporte, alimentação, moradia, segurança física e mental, comunicação) o Homem é inexoravelmente levado a aproveitar uma série de recursos naturais, explorando-os ao limite, muitas das vezes (sendo eles a água, o petróleo, os minérios, a energia hidráulica, os solos), e ocupando e modificando espaços naturais das mais diversas formas, como por exemplo: cidades, agricultura, indústria, vias de transportes, portos, canais. Esta acção já transformou o Homem no mais poderoso agente geológico que se encontra a atuar hoje na superfície do planeta. Para que esse comando da natureza seja coroado de êxito deve incorporar (obedecer) as leis que regem as características dos materiais e dos processos geológicos naturais afetados, como que num seguimento lógico da cadeia de relação dos materiais e matérias, para que o equilíbrio natural das coisas não seja quebrado e para que o planeta Terra se mantenha uma esfera perfeita e livre de “esquinas”.
Para obedecer às leis da natureza é preciso antes de mais nada entendê-las e, então, absorvê-las nas atitudes comportamentais e nas soluções de engenharia apontadas. De tal forma que as ações humanas dessa ordem sejam inteligentes, excitadas e provedoras da qualidade de vida no planeta; para que essa geração e as futuras, sobretudo as futuras, sejam sustentáveis (para que as mesmas não acarretem com as nossas dívidas antigas em relação ao planeta).
De uma forma concisa, podemos entender a Geologia de Engenharia como a Geociência Aplicada responsável pelo domínio tecnológico da interface entre a atividade humana e o meio físico geológico - o meio que possibilita o estudo do equilíbrio, entre o que nós fazemos ao meio físico e o meio físico por sua vez nos transmite a nós.
• mecânica dos solos - A mecânica dos solos é uma disciplina que procura prever o comportamento de maciços terrosos quando sujeitos a solicitações provocadas, por exemplo, por obras de engenharia. Digamos que se trata de uma forma de podermos controlar as reações do terreno em função das atividades que desenvolvemos nele.
• mecânica das rochas Mecânica das rochas é a ciência teórica e aplicada do comportamento mecânico das rochas e maciços rochosos. É o ramo da mecânica que estuda a resposta das rochas e maciços rochosos perante os campos de forças a que estão sujeitos no seu ambiente físico.A mecânica das rochas propriamente dita faz parte do campo mais vasto que é a geomecânica, que se ocupa das respostas mecânicas de todos os materiais geológicos, incluindo os solos. A mecânica das rochas, tal como é aplicada na prática da engenharia de minas e engenharia geológica, refere-se à aplicação dos princípios da mecânica de engenharia ao desenho de estruturas em rocha geradas pela atividade mineira, como por exemplo: túneis, poços de minas, escavações subterrâneas ou minas a céu aberto. Inclui também o desenho de padrões de ancoragens.
Esta ciência lida com a interferência de obras de infra-estrutura de qualquer natureza com a sua fundação, seja ela em solo ou rocha. É nesta reunião de conceitos e tarefas que entra o perfil e desempenho do Engenheiro Geotécnico: o Engenheiro Geotécnico actua em projetos de escavação, túneis, compactação de aterros, tratamentos de fundações, instrumentação de obras, percolação de fluxos em solos e rochas e contenções, entre outros. A geotecnia também está ligada à terra mecânica, à petrologia e a todos os ramos da geologia de uma forma geral.
Um profissional especializado em geotecnia está apto a trabalhar em muitos processos que lidem direta ou indiretamente com o solo, tal como descrito em cima, e, sobretudo, está apto para um dos maiores desafios no mundo da Geotecnia, que se trata de entender, compreender e aplicar técnicas e conhecimentos no mais profundo do desconhecido.
É neste contexto de interação com o meio físico, com a natureza, a aplicação de novas técnicas por assim dizer no “obscuro” que é o interior da terra, mesmo com sondagens e estudos de terrenos, que se trabalha. A geotecnia é isso mesmo, e tentar adaptar e corrigir o que fazemos contra e a favor da natureza. É neste processo moroso, e específico na realização das tarefas, que a segurança dos trabalhadores e equipamentos nunca poderá ser descurada.
Referimo-nos a processos que, apesar de complexos à primeira vista, são de execução simples e repetitiva, mas os condicionalismos existentes 90% das vezes tornam a execução dos trabalhos um risco profissional bastante elevado. Estamos a falar de muitas das vezes executarmos trabalhos em altura recorrendo a bailéus perfuradores devidamente homologados, mas que elevam o risco de queda em altura; falamos também de trabalhos de contenções de taludes (e que, como o próprio nome indica, implicam ir para um terreno que se encontra instável, para o deixar estável), de operar junto a equipamentos bastante específi cos, como os Rock’s perfuradores, centrais de injeção, equipamentos de estacas. Referencio-me a estes como exemplo numa vasta gama de equipamentos de risco.

A formação deste aglomerado de mão-de-obra específica é um ponto essencial. Tal como disse é uma mão-de-obra especializada e, como tal, requer uma formação não em tom inicial, mas uma formação de fundo: explicar, sim, a obrigatoriedade da utilização de Equipamentos de Proteção Individual e o porquê dos mesmos, mas também é aqui essencial formar os colaboradores para o funcionamento seguro dos equipamentos, uma vez que existe bastante mão-de-obra no raio de operação dos mesmos e formar, neste sentido, não é apenas explicar os pontos de paragem de emergência do equipamento, mas sim o porquê de eles existirem, onde se encontram e as situações de paragem; demonstrar também todo o processo de funcionamento do equipamento, quer aos manobradores, quer ao pessoal que diretamente opera junto deles, porque, por exemplo, pode um dia ser necessário em caso de emergência o “servente” fazer de “manobrador” para que numa situação de acidente possa ajudar a quem sabe “salvar uma vida”; formar na execução da técnica, ou seja, o porquê de estarmos a utilizar este ou aquele tipo de técnica e como utilizá-la e aplicá-la corretamente e dentro das normas de segurança (aqui temos o papel do técnico de segurança em conjunto com o engenheiro geotécnico e essencial); formar equipas contínuas e específicas nos diferentes ramos (pequeno diâmetro/ grande diâmetro) para que se familiarizem com a técnica e diminua assim o risco, porque, apesar de serem técnicas repetidas, para o simples “servente” são técnicas bastante complicadas de entender e de aplicar.

Acima de tudo, a filosofia que todo o departamento de segurança, encarregados e trabalhadores, devem incutir no espírito inicial de cada trabalho e de cada tarefa é o “poder de antecipação”. Prever ao máximo o desconhecido pode ser uma tarefa impossível, mas é aqui que a máxima de Miguel Torga entra e é interiorizada ao máximo: “Livre não sou pois nem a própria vida nos consente, mas a minha aguerrida teimosia é dia a dia quebrar o elo da corrente”.
É nesta máxima, bem como na do respeito das normas de segurança e de execução dos trabalhos de geotecnia, que nos devemos em cada momento da nossa atividade aplicar e que devemos desenvolver para que no balanço fi nal de cada empreitada a segurança e o trabalho desenvolvidos não sejam um ruído, mas sim um silêncio de satisfação de ambas as partes e um grito mudo de elogio para quem “deixa o seu próprio suor no desenvolvimento de uma atividade”.
fonte:r: Ricardo Filipe Pardelinha Mendes*