O planejamento de uma horta
inicia-se pela pesquisa de mercado para definir a quantidade e o padrão de
qualidade das hortaliças que irão atender as necessidades e preferências do
consumidor final. Uma vez definido o mercado e os fatores logísticos, os fatores
climáticos e sanitários que propiciam as condições mínimas necessárias para o
crescimento e desenvolvimento de hortaliças precisam ser considerados ao se
escolher a região e a gleba de terra para o plantio (FONTES; PEREIRA, 2005).
No entanto, na implantação de
hortas urbanas comunitárias, dificilmente o futuro horticultor poderá escolher
uma área específica e indicada para o cultivo de hortaliças. No caso de hortas
comunitárias, mesmo que o terreno destinado para a implantação da horta urbana
seja grande em sua área total, certamente será dividido em partes menores para
atender diferentes famílias.
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Atualmente, é indispensável o
planejamento e o uso de técnicas adequadas em qualquer atividade agropecuária
(grande, média, pequena, familiar ou patronal), com fins lucrativos ou
destinados ao lazer, bem como preservar a saúde humana e o ambiente.
Portanto, é de fundamental
importância que tecnologias geradas na pesquisa sejam incorporadas, visando
minimizar possíveis impactos ambientais negativos e maximizar os possíveis
resultados positivos.
Preocupar-se primeiro com o
plantio das hortaliças é comum e motivador, mas é também o caminho mais curto
para o insucesso nesse tipo de empreendimento. A implantação de hortas urbanas,
assim como outras realizações, deve ser pensada, desejada e planejada. A seguir
são apresentadas sete etapas que auxiliam a obter sucesso na implantação de hortas
urbanas.
1a
Etapa - Terreno Disponível
A primeira etapa é observar o
perímetro total do terreno onde será implantada a horta urbana. Ou seja,
inicialmente deve-se percorrer as divisas do local para conhecer o perímetro
total do terreno, suas entradas, saídas, os limites e a vizinhança da futura horta.
Por questões de controle e de
segurança, o ideal é que se defina um só local para a entrada e para a saída da
horta. No entanto, é importante considerar a necessidade de planejar uma
entrada em um local e uma saída em outro para que carroças ou outros meios de
transporte para insumos, equipamentos ou retirada da produção da horta possam
ter trânsito livre, evitando-se assim manobras que possam danificar os
canteiros. Também é importante padronizar os portões de entrada e saída, com a
largura padrão de uma carroceria de caminhão, evitando-se futuros
inconvenientes.
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Para evitar o trânsito de
pessoas e entrada de animais, é conveniente que todo o perímetro do terreno
seja bem cercado. O ideal é que seja cercado com tela de arame galvanizado, ou
então, com 50 cm de tela na parte inferior da cerca e o restante, acima da
tela, com arame farpado.
É possível que o terreno da
horta urbana seja cercado pelo muro das residências vizinhas à horta. Esse fato
pode parecer positivo à primeira vista, porém, dependendo da altura do muro,
pode haver problemas de sombreamento e ou baixo fluxo de vento para as
hortaliças a serem cultivadas
A luminosidade solar é fator
muito importante para o desenvolvimento de hortaliças, pois estimula a
bioquímica da fotossíntese. A deficiência luminosa (sombreamento) favorece o
estiolamento, que é o aumento na altura e extensão da parte aérea das
hortaliças (FILGUEIRA, 2003). Com o sombreamento excessivo, as mudas de
hortaliças ficam estioladas e comprometem a produção. A horta deve ficar longe
de árvores frondosas, muros altos ou de outros obstáculos que possam fazer
sombra para as hortaliças (MASKISHIMA, 1993).
A velocidade do vento também é
fator importante em algumas regiões, uma vez que está relacionado com o
processo detranspiração das hortaliças. Deve-se evitar espaços muito abertos ou
sujeitos à poeira.
Durante o cultivo de
hortaliças é possível que a vizinhança, ou mesmo um único vizinho da horta que
não trabalhe na mesma, se incomode com tal atividade agrícola. O uso de adubo
orgânico, principalmente “cama de aviário”, devido ao forte cheiro que libera,
é o ‘vilão’ para complicações com vizinhos. Outro exemplo é a irrigação por
aspersão, pois quando mal dimensionada, a água lançada pelos aspersores pode
ultrapassar os limites da horta, atingindo o lote e, às vezes, paredes das
residências vizinhas.
É importante estar de bem com
a vizinhança, mesmo com aqueles que não participam de forma efetiva do projeto
da horta. É importante conhecer e conversar com a vizinhança a respeito da possibilidade
de implantação de uma horta ao lado de suas casas, quando for o caso.
Normalmente, nessa primeira
etapa do planejamento, as limitações do empreendimento já começam a ser percebidas,
mas é importante atentar para o fato de que o planejamento da horta urbana é
uma atividade voltada para o FUTURO e não para o PRESENTE da mesma. Um bom planejamento
não é aquele que resolve todos os problemas do presente, mas sim aquele que
possibilita preparação para enfrentar um mínimo de problemas no futuro
(ANTUNES; RIES,1998).
2a
Etapa - Qualidade e Quantidade da Água
A segunda etapa no
planejamento de uma horta é a avaliação da qualidade e da quantidade de água
disponível para a irrigação e para a lavagem das hortaliças destinadas ao
consumo próprio ou à comercialização.
A qualidade da água de
irrigação é um fator fundamental em uma horta urbana. No planejamento deve-se
incluir a análise laboratorial da água. A qualidade da água pode ser avaliada
física, química e biologicamente. O aspecto biológico é de fundamental
importância nos casos de irrigação e lavagem de produtos consumidos in natura,
como é o caso da maioria das hortaliças. Águas contaminadas por agentes
biológicos são prejudiciais para o consumidor e para o irrigante. Ambos podem
contrair doenças graves, como esquistossomose, cólera, disenteria e hepatite
infecciosa. As hortaliças e os equipamentos de irrigação sofrem com os aspectos
físicos e químicos da água. Vieira (1989) relata que o sódio presente na água para
a irrigação tende a alcalinizar o solo, tornando-o impermeável ao ar e à água, e
que o boro (micronutriente essencial ao metabolismo vegetal), quando presente
em doses elevadas na água de irrigação, torna-se tóxico às plantas.
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É fundamental que a utilização
da água seja feita de forma racional, visando manter constante o volume de água
disponível. Mais de 90% do peso de matéria fresca da parte utilizável da
maioria das hortaliças é constituído por água. Assim, a falta de água no solo
para as hortaliças, mesmo por períodos curtos, favorece a formação de hortaliças
sem qualidade e murchas. O que se deseja são hortaliças túrgidas e macias, principalmente
no caso de folhosas, como a alface.
Como ponto de referência para
a quantidade necessária de água, o horticultor urbano pode prever um consumo diário
de aproximadamente 8 litros de água por metro quadrado de canteiro. Desse volume
de água, parte ficará retida no solo, parte irá evaporar, parte será
aproveitada pelas raízes das hortaliças e parte irá escorrer para camadas do
solo abaixo do alcance das raízes das hortaliças. De forma prática,
multiplicando-se o volume aproximado de 8 litros pela área útil de canteiros,
poderá se estimar um volume, também aproximado, para o gasto diário de água na
horta. O volume de água necessário para conduzir uma horta produtiva deve ficar
bem claro no planejamento do horticultor, principalmente se a água para a
irrigação for aplicada por meio de regador manual. A irrigação praticada desta
maneira exige esforço físico e ocupa considerável período de tempo dedicado à
horta.
O fato de a irrigação na horta
ser feita dessa maneira, com regador manual, não dispensa de maneira alguma a
elaboração de um projeto de irrigação para a horta, incluindo a análise física
do solo com a determinação da curva característica de retenção de água no
mesmo. Para uso da técnica de irrigação, por meio de equipamentos modernos ou por
regador manual, é indispensável consultar um profissional competente
(engenheiro agrônomo ou agrícola).
O uso de água da rede pública,
em hortas urbanas, deve levar em consideração os altos custos por metro cúbico
de água utilizada. Normalmente esse valor inviabiliza a produção de hortaliças,
e o excesso de cloro, neste tipo de água, pode ser desfavorável a algumas
hortaliças. Nessa etapa do planejamento é recomendado buscar informações, com vizinhos
da horta e com os futuros horticultores, a respeito de possíveis enchentes e ou
falta de água em determinados períodos do ano. Conhecer a vazão da água
disponível para a irrigação é muito importante, principalmente a vazão de água
no período seco do ano. De nada adiantará projetar e adquirir um conjunto moto bomba
para a irrigação da horta se, Na realização de um levantamento topográfico
é possível utilizar vários equipamentos, como o ‘Sistema de Posicionamento
Global (GPS)’. Na prática de implantação de uma horta urbana, o importante é
que este levantamento seja realizado, seja bem conduzido e bem sistematizado. A
escolha de métodos e de equipamentos estará associada à precisão exigida pelo
projeto de implantação da horta, ao tempo disponível de profissionais capacitados
e, principalmente, ao limite de custo. por falta de água na fonte de captação, este
equipamento ficar sem uso na época seca do ano. Sem planejamento prévio, o fator
água pode se tornar um problema na implantação de uma horta urbana.
3a
Etapa - Topografia do Terreno
A terceira etapa do planejamento
é determinar a topografia do terreno. É fundamental que primeiramente o
produtor entenda que o processo de “aração” só deve ser realizado após a
demarcação de pontos que indicam o nivelamento adequado do terreno. Isso
favorecerá a conservação do solo e a produtividade de colheitas futuras.
Na realização de um
levantamento topográfico é possível utilizar vários equipamentos, como o
‘Sistema de Posicionamento Global (GPS)’. Na prática de implantação de uma
horta urbana, o importante é que este levantamento seja realizado, seja bem
conduzido e bem sistematizado. A escolha de métodos e de equipamentos estará
associada à precisão exigida pelo projeto de implantação da horta, ao tempo
disponível de profissionais capacitados e, principalmente, ao limite de custo.
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Em hortas urbanas é possível
demarcar os pontos de nível utilizando-se uma trena e um triângulo de nível,
instrumento rústico e de fácil construção pelo próprio horticultor. Pregam-se,
umas nas outras, três ripas de madeira leve formando uma letra A. No meio da
ripa que fica na horizontal faz-se uma marca. No centro da parte superior da
letra A, fixa-se um prego e amarra-se nele um barbante com medida suficiente
para ultrapassar a ripa na horizontal. Na outra extremidade do barbante
amarra-se um peso qualquer, para atuar como um pêndulo. Para demarcar os pontos
de nível é só fixar uma das pontas do A no local em que se pretende iniciar o canteiro
e ir girando a outra ponta. Quando o pêndulo posicionar o barbante com a marca
feita no centro da ripa que está na horizontal é a indicação de que o ponto de
nível foi encontrado. O procedimento é repetido até que sejam marcados todos os
pontos desejados para a formação dos canteiros. Marcados todos os pontos com
uma estaca, passa-se um barbante interligando essas estacas. O preparo do solo
e o levantamento de canteiros devem seguir esta demarcação. Essa prática é simples,
barata, favorece a conservação do solo e a produtividade das safras futuras. Difícil
incorporar a ideia de que os canteiros devam ser preparados em nível ou em
“curvas de nível”. Frequentemente, horticultores urbanos argumentam que não
adianta ‘brigar’ com a água. A maioria deles tem a idéia fixa de que as águas
das chuvas irão “arrebentar” os canteiros, se estes estiverem em nível.
No entanto, ocorre perda de
camadas e, consequentemente, de fertilidade do solo, caso não se aplique esta
técnica.
4a
Etapa - Fertilidade do Solo
A quarta etapa no planejamento
de uma horta urbana é analisar a fertilidade do solo local. Segundo Djalma e
Lobato (2004), não há duas glebas de solo com características iguais para a
agricultura. Portanto, não existem receitas únicas. É fundamental fazer uma
análise de solo. Tanto a adequação quanto a correção da fertilidade do solo
podem ser conseguidas por meio de técnicas apropriadas.
A identificação da vegetação
presente no local, antes de roçar ou passar algum implemento agrícola, auxilia
na elaboração de um histórico da área. O artigo “A enfermeira da terra” traz
uma relação de plantas daninhas, suas características e as indicações que elas
fornecem com relação a carências ou excessos de determinados elementos no solo
(AS ENFERMEIRAS, 1986).
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Além da coleta de amostras
para a análise química do solo da horta, deve-se fazer uma vistoria no terreno.
Geralmente, as hortas urbanas são implantadas em terrenos que estavam baldios.
Se o terreno já serviu como depósito de lixo é preciso conhecer qual o tipo de
lixo que ali foi depositado. Se o lixo for industrial, por exemplo, existe a
possibilidade de o solo ter sido contaminado por algum elemento químico ou
metal pesado e alguns inconvenientes podem ocorrer. Em alguns casos, é possível
que o trabalho de preparo dos canteiros seja dificultado. Ao revolver o solo, o
horticultor pode deparar-se com um antigo depósito de entulhos.
Na área urbana, nos terrenos
baldios, é muito comum a existência de resíduos da construção civil, como
blocos de concreto e pedaços de madeira.
Para a coleta de amostras de
solo, deve-se primeiro dividir a área em partes homogêneas, evitando-se, por
exemplo, misturar amostras de solo com coloração diferente. Nas partes
homogêneas, caminhando-se em ziguezague e com o auxílio de um “enxadão”,
retira-se uma quantidade representativa de amostras.
Não existe um padrão para a
quantidade de pontos que devem ser amostrados em cada situação. É conveniente
pedir auxílio de um profissional engenheiro agrônomo ou então pedir orientação
ao laboratório para onde serão enviadas as amostras.
O resultado da análise química
do solo pode demorar alguns dias e antes de conhecê-lo não é indicado revolver
o solo. Deve-se apenas roçar a vegetação presente no terreno, acamando-a sobre
o solo. Esse procedimento permite que a palhada resultante da roçada fique
seca, evitando o entupimento de equipamentos no momento de preparo do solo e ou
facilitando as operações manuais. Permite também que ocorra a emergência
antecipada de plantas daninhas e a diminuição nos custos com o preparo do solo,
já que após os resultados da análise, a quantidade recomendada de calcário pode
ser distribuída sobre a palhada roçada, para então ser feito o revolvimento do
solo, englobando três operações em uma única (revolvimento do solo/incorporação
de palhada/incorporação de insumos).
Com os resultados da análise
química do solo em mãos, deve-se sempre consultar um engenheiro agrônomo. A
interpretação correta dos resultados permite avaliar, além de outros fatores, a
disponibilidade de nutrientes para as hortaliças. Segundo Raijet al. (2001),
além de definir os aspectos quantitativos, de grande importância para a horticultura,
a interpretação da análise de solo previne também o excesso de nutrientes que
podem perco lar até camadas onde está o lençol freático. Assim, é também
importante para permitir a sustentabilidade ambiental em hortas urbanas.
5a
Etapa - Tomada de decisões
O processo de tomada de
decisões representa a quinta etapa no planejamento de uma horta urbana. Para a
tomada de decisões sobre quais hortaliças produzir, quanto de cada hortaliça
produzir e como produzir cada grupo de hortaliça é preciso antes conhecer
detalhadamente o ambiente global (área de produção, comércio local, preferências),
os recursos disponíveis (capital, insumos, assistência técnica) e os objetivos
da horta urbana e os do horticultor urbano.
Na implantação de hortas
urbanas é indicado o plantio de hortaliças de ciclo curto e que sejam pouco
exigentes nos tratos culturais. Mas, de que adianta respeitar estas
características se tais hortaliças não forem bem aceitas no mercado local ou
não forem hortaliças preferidas para o consumo próprio pelo horticultor?
É fundamental lembrar que a
produção de hortaliças tem características próprias.
É uma atividade produtiva
integrante do setor primário da economia, produz bens alimentícios e matérias
primas decorrentes do cultivo de plantas e é dependente do trabalho, da terra e
do capital.
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Atualmente, a horticultura é
praticada também em recipientes preenchidos com substratos para plantas. No
entanto, continua necessitando de um espaço físico, que representa o fator
terra. A terra é o fator que tende a prevalecer na produção hortícola em grande
escala, indispensável para o plantio de grandes quantidades. Nas hortas
urbanas, normalmente ocupando pequenos espaços, o fator que prevalece é o
capital. Ao contrário do que se imagina, nesse tipo de horta é necessário maximizar
a produtividade, não a qualquer custo, mas equilibrando a relação custo/ benefício
e usando métodos de produção que não agridam o ambiente e a saúde do horticultor
e do consumidor.
O fator trabalho é necessário
tanto em hortas urbanas quanto nas de grande escala, variando proporcionalmente
ao tamanho da horta. Em hortas urbanas, o fator trabalho não acompanha a
produção. Uma safra de cenouras, por exemplo, concentra a necessidade de
trabalho no início (plantio/desbaste) e no final do ciclo (colheita/classificação).
Independente do esforço do trabalho, este não determina a padronização final,
definida pelas exigências e normas de mercado. A qualidade depende do trabalho
correto do horticultor, além de outros fatores biológicos e edafoclimáticos,
como solo, adubação, irrigação e variedade genética. O trabalho em hortas
urbanas é disperso e ao ar livre, dependente do clima e normalmente limitado
aos horários de menor insolação.
O fator terra (solo), na
implantação de hortas urbanas, não pode ser visto apenas como suporte para as
hortaliças, pois interfere diretamente no ciclo de produção e na
sustentabilidade da atividade. É preciso estar ciente de que o solo apresenta
complexidade física, química biológica e também topográfica.
O fator capital, no projeto de
implantação de hortas urbanas, é o meio para a obtenção de todos os fatores ou recursos
necessários para a produção e transformação dos produtos da horta. É necessário
estabelecer, logo de início, o quanto da produção o produtor precisará vender
para cobrir os custos da horta. É de grande importância o acompanhamento por
profissional da área de economia rural. A produção de hortaliças não é um fator
reversível, como ocorre na indústria, que pode parar a linha de produção e
alterar a cor ou tamanho do produto conforme a tendência de mercado. Na
produção de hortaliças, se for plantado tomateiro, será preciso aguardar todo o
ciclo para se colher os frutos de tomate, independentemente da queda de preço,
a não ser que se opte por eliminar toda a plantação.
A produção de hortaliças é uma
atividade altamente exposta a riscos. Não depende apenas da vontade de produzir
e da aplicação correta das adequadas técnicas de cultivo: é dependente de
condições climáticas e biológicas, estando, portanto, sujeita ao efeito
sazonal. Na tomada de decisão sobre quais hortaliças produzir, quanto de cada
hortaliça produzir e, como produzir cada grupo de hortaliça, é preciso ter em
mente que as hortaliças, na maioria das vezes, e especialmente as produzidas em
hortas urbanas, serão comercializadas “in natura” e que são altamente
perecíveis. O sucesso da decisão tomada vai depender das fases anteriores e das
posteriores à decisão. A fase anterior à tomada de decisão envolve o
diagnóstico do ambiente global, dos recursos disponíveis ou negociáveis e da
definição dos objetivos da horta e do horticultor. A fase posterior à decisão
envolve a condução do projeto, exigindo um planejamento, uma direção (um
responsável pelo projeto), a organização das atividades e principalmente um
controle de todas as atividades relacionadas à horta. É importante que as
decisões tomadas sejam flexíveis, possibilitando melhorias futuras
6a
Etapa - Demarcação da Área Útil de Canteiros
A sexta etapa é a demarcação
da área que efetivamente será utilizada por canteiros e para a produção das
hortaliças escolhidas na etapa de tomada de decisão. Embora o fator capital
tenda a prevalecer na condução de hortas urbanas, a preocupação com o espaço de
terra (solo) que fica sem utilização é fundamental, pois, onde quase tudo é
limitado o mínimo é essencial. Os seguintes procedimentos podem ser empregados
para demarcação da área útil de canteiros:
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1º) Medir a área total da
horta (ATH)
ATH = largura x comprimento
2º). Definir a largura de
canteiros (LC)
LC = 1m
(Normalmente, para facilitar o
trabalho, utiliza-se canteiros com largura entre
0,90m a 1,20m)
3º). Estabelecer a largura das
ruas (LR), espaço livre entre os canteiros.
LR = 0,30m (normalmente, para
facilitar o deslocamento, utiliza-se ruas com largura entre 0,30m a 0,50m)
4º). Somar a largura do
canteiro (LC) com a largura da rua (LR) para obtenção da largura efetiva do
canteiro (LEC) LEC = LC + LR
5º). Com os dados acima,
calcular o percentual da área total que ficara sem uso (% ATSU) % ATSU = (LR ÷
LEC) x 100
6º). Determinar, então, quanto
da área total da horta será ocupada por ruas (AOR).
AOR = (% ATSU ÷ 100) x ATH
7º). Com o valor da área
ocupada por ruas (AOR) determinar a área da horta que efetivamente será usada
para a produção de hortaliças (AEPPH)
AEPPH = ATH – AOR
A demarcação da área que será efetivamente
usada para canteiros favorece o menor gasto de insumos, possibilitando ainda
calcular o volume de composto e de palhada necessário para adubação e cobertura
do solo. Para definir o volume necessário de composto (VNC), multiplica-se a
área efetivamente usada para produção de hortaliças (AEPPH) pela quantidade de
composto recomendada (QCR) por metro quadrado de canteiro. VNC = AEPPH x QCR
Se o cálculo for utilizado
para definir a quantidade de composto a ser preparado, deve-se multiplicar o
VNC por dois, pois com o revolvimento da “meda”, nome que se dá à pilha de
composto, o volume inicial tende a diminuir.
O volume de palhada necessária
para cobertura do solo (VPNPCS) “mulching” pode ser calculado multiplicando-se
a espessura de cobertura do solo (ECS) desejada (± 3cm na horticultura urbana) pela
área efetivamente usada para produção de hortaliças (AEPPH).
VPNPCS = ECS x AEPPH
VPNPCS = 0,003 m x 203 m2
VPNPCS = ± 6m3 de palhada
picada ou de capim inteiro.
7a
Etapa - Manutenção do sistema de produção de hortaliças
A sétima etapa no planejamento
de uma horta urbana tem como objetivo a construção e ou manutenção dos meios para
a reciclagem de matéria orgânica, a cobertura vegetal constante sobre o solo, a
rotação de culturas, a rotação de tipos de cultivo e de tratos culturais, o
rodízio de repouso de uma faixa de solo e, quando necessário, a construção e ou
manutenção de barreiras vegetais para o vento. É possível a produção de
hortaliças por meio de técnicas conservacionistas.
Entretanto, para a adoção de
certas práticas em hortas urbanas podem surgir obstáculos, como a limitação de
espaço e de recursos, como a disponibilidade de palhada, por exemplo. As
práticas agrícolas conservacionistas proporcionam controle de erosão, aumento
do teor de matéria orgânica, conservação de água no solo, maior estabilidade na
temperatura do solo, além de dificultar a emergência de plantas daninhas.
ETAPAS A SEGUIR PARA MONTAR UMA HORTA URBANA EM TERRENOS ABANDONADOS |
No ambiente urbano,
normalmente, restos de culturas e algum tipo de planta espontânea são os únicos
recursos disponíveis e de fácil acessibilidade. Nesses casos, é deles que se
precisa tirar proveito. Recorrer,
CONSCIENTEMENTE, ao uso de adubação química, para num primeiro momento aumentar
a massa fresca e seca desses recursos pode ser uma alternativa. Primavesi
(1999) relata que matéria orgânica (palhada em decomposição) obtida em solo
“pobre” só pode ser “pobre” e, quando incorporada ao solo, completa o ciclo de
miséria, uma vez que não pode adicionar ao solo outros minerais além dos que já
existiam. Deve-se aproveitar eficientemente os restos de culturas e aprender a
respeitar um esquema de rodízio de repouso de uma faixa de solo e, ainda, a
utilizar composto orgânico. Nas faixas de repouso do solo, gradativamente,
devem ser incorporadas técnicas de adubação verde.
Além de causar mudança
benéfica nas condições químicas e físicas do solo, a incorporação de matéria
orgânica de origem vegetal ou animal induz ao Aumento de microrganismos
antagonistas, os quais são desejáveis por afetarem organismos (fitonematóides)
que podem causar prejuízos à produção de hortaliças (FERRAZ et al., 2001). A
adição de matéria fresca ou seca de mucuna reduz o número de juvenis de nematoides
Meloidogyne arenaria, os quais são prejudiciais às plantas (FERRAZ et al.,2001).
A mucuna preta (Mucuna aterrima) é uma planta leguminosa que pode ser usada
como adubação verde ou para a formação de cobertura do solo, pois seu efeito
aleloquímico inibe a tiririca (Cyperus rotundus L) e o picão preto (Bidens
pilosa L), ambas plantas espontâneas que podem inviabilizar um cultivo de
hortaliças (SCHULTZ, 1987).
O uso de composto orgânico é
altamente benéfico para o solo. No entanto, em hortas urbanas, o preparo e o
uso de composto orgânico podem ser dificultados pelo considerável volume
necessário deste insumo para se alcançar o efeito esperado, e ser também
limitado pela escassez de matéria-prima (palhada, esterco bovino, cama de
aviário) e pelo custo para obtenção e transporte destas matérias primas nas
quantidades necessárias ao volume de composto a ser utilizado. É conveniente
lembrar que, em uma “meda” de composto, o volume inicial será reduzido pelo
processo de decomposição e revolvimento. Neto (1995) exemplifica com uma figura
a redução de volume de uma “meda” de composto, em que a altura inicial de 1,30m
reduz-se para 1m no primeiro revolvimento e para 0,65m no segundo.
Embora a utilização do
composto orgânico possa parecer difícil devido ao grande volume necessário, é
importante que o produtor tenha consciência dos benefícios advindos (agregação
do solo, fornecimento de carbono aos micro-organismos benéficos, contribuição à
sanidade vegetal, aumento na capacidade de troca catiônica do solo, aumento da
resistência contra modificação brusca de pH) e de que este volume só é
necessário na fase de implantação da horta. Utilizando-se a quantidade correta de
composto orgânico e desde que sejam desenvolvidas as atividades recomendadas nesta
etapa, o volume necessário de composto orgânico poderá ser reduzido até pela
metade já no segundo cultivo de hortaliças.
A horticultura é repleta de
efeitos e mecanismos sutis, grande parte deles ainda em estudo. Como é difícil
saber qual a atitude mais adequada nas diversas circunstâncias existentes no manejo
de uma horta urbana, o bom senso deve prevalecer em todas as etapas do
planejamento. Consultar um especialista para cada situação é coerente e
recomendável.
Fonte: infoteca.cnptia.embrapa.br
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