O acelerado desenvolvimento da
economia neste século tem ocasionado um aumento expressivo da geração de
resíduos sólidos. Historicamente, a atividade construtiva sempre se
caracterizou como grande geradora de resíduos, além de ser potencial
consumidora dos resíduos gerados por ela ou por outras atividades. Assim, torna
se inevitável o desenvolvimento de políticas que estimulem o tratamento e
reutilização dos RCD, visto que os recursos naturais são finitos e estão cada
vez mais escassos, como pôde ser comprovado nas postagens sobre (IMPACTO AMBIENTAL DA CADEIA PRODUTIVA DA
CONSTRUÇÃO).
A RECICLAGEM NA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO |
A reciclagem de resíduos da
própria construção vem sendo praticada há milênios. Porém o uso de RCD só se intensificou
após a Segunda Guerra Mundial, principalmente na Alemanha, devido à enorme
demanda por matéria prima.
Apesar da Alemanha ter sido
uma das precursoras, esta prática também é bastante difundida em toda comunidade
européia. De acordo com Pinto (1999) em praticamente todos os países-membro da
comunidade européia existem instalações de reciclagem de RCD, normas e
políticas específicas para este tipo de resíduo, além de um esforço mais
recente para consolidação de normativa única para toda a comunidade. No Japão e
nos Estados Unidos esta prática também tem sido bastante difundida e utilizada.
Já no Brasil a reciclagem dos
resíduos de construção e demolição é bastante recente. Alguns estudos foram realizados
e paralelamente a estes, no início da década de 80, se difundiu o uso de
“masseiras-moinho”, equipamento de pequeno porte que possibilita a moagem
intensa de resíduos menos resistentes para reutilização. O resultado da sua
utilização é bastante positivo, pois induz à segregação dos resíduos na obra,
contribui para a minoração do impacto ambiental dos RCD nas áreas urbanas,
reduz o consumo de agregados naturais, além de contribuir para a redução da
emissão de poluentes.
De acordo com Pinto (1999), em
relação a equipamentos de maior porte, a experiência brasileira é mais recente,
tendo sido iniciada em 1991. A instalação destes equipamentos aconteceu em
alguns municípios como resultado de planos de gestão dos RCD e, em outros, como
simples aquisição de equipamentos descoordenada de um planejamento de ações, o
que inevitavelmente compromete os resultados a serem alcançados, eliminando em alguns
casos qualquer impacto positivo da presença destas instalações.
Hoje em dia observa-se em
alguns municípios a presença de unidades públicas, como em Belo Horizonte, ou privadas,
como em São Paulo para reciclagem de resíduos. Em Belo Horizonte, os agregados
reciclados são usados para confecção de meio-fio, base e sub-base de
pavimentos. Em São Paulo, a distância para as pedreiras e mineração de areia
eleva o custo do agregado natural e justifica a existência de algumas áreas
para reciclagem privadas.
Vantagens
da Reciclagem
Como principais vantagens da
reciclagem, tem-se:
• preservação de recursos
naturais com a substituição destes por resíduos, prolongando a vida útil das
reservas naturais e reduzindo o impacto ambiental;
• redução da necessidade de
áreas para aterro devido à diminuição do volume de resíduos a serem
depositados;
• redução no gasto de energia,
seja para produção de um novo bem, seja com o transporte e gestão do aterro;
• geração de empregos com o
surgimento das empresas para reciclagem;
• redução da poluição emitida
com a fabricação de novos produtos; e
• aumento da durabilidade da
construção em determinadas situações como, por exemplo, na adição de escória de
alto forno e pozolanas ao cimento.
Barreiras
da Reciclagem de RCD no Brasil
A reciclagem de RCD no Brasil,
se compararmos a países de primeiro mundo ainda é bastante tímida, porém possui
um enorme potencial de ampliação.
Esse atraso em relação a
outros países se dá por diversos fatores. Um deles é que a questão ambiental no
Brasil ainda é vista como um problema de preservação da natureza, focado principalmente
nas florestas e animais em extinção, deposição de materiais em aterros
controlados e controle da poluição do ar, com o estado exercendo o papel de
polícia. A Lei Federal de Crimes Ambientais de 1998 é uma prova disso, revela
um estado muito mais preocupado com punições a transgressões, em vez de
trabalhar os diversos agentes na promoção da redução do impacto ambiental das
atividades através da reciclagem por exemplo (JOHN, 2000).
Algumas
outras barreiras são:
• dificuldade de introdução de
novas tecnologias na construção civil;
• concepção errônea que um
produto confeccionado com a utilização de resíduos possui qualidade inferior a
outro confeccionado com matérias primas virgens;
• sensação de risco de baixo
desempenho com relação ao uso de novas tecnologias;
• custo baixo dos agregados
naturais; e
• falta de cultura para
segregação de resíduos.
Exemplos
da Reciclagem de RCD no Brasil
Algumas cidades brasileiras já
têm adotado uma gestão diferenciada para os RCD. A seguir são apresentados alguns
exemplos de práticas já adotadas.
O
Caso de Belo Horizonte - MG
A cidade de Belo Horizonte é
uma referência em se tratando de reciclagem de RCD no Brasil. Implantado desde 1993,
o plano de gestão diferenciada, na época denominado Programa de Correção
Ambiental e Reciclagem dos Resíduos de Construção, definiu ações específicas
para captação, reciclagem, informação ambiental e recuperação de áreas
degradadas.
Este programa fez parte de um
pacote maior de ações que constituiu o Modelo de Gestão de Resíduos de Belo Horizonte.
Nele definiu-se a necessidade de uma rede de atração com 9 áreas e 4 centrais
de reciclagem. O processo de implantação dessas unidades foi iniciado em 1995 e
em 1999 tinha evoluído para 50% do que tinha sido previsto inicialmente (PINTO,
1999).
Hoje existem em Belo Horizonte
28 Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV) e 3 unidades de reciclagem
dos Resíduos Classe A. Uma delas, inaugurada em 2006, permite separar os
agregados reciclados de acordo com a granulometria, ampliando as possibilidades
de uso deste agregado. O RCD captado nas Unidades de Recebimento é encaminhado
para as estações de reciclagem, onde são selecionados, descontaminados,
triturados e expedidos. O agregado reciclado é utilizado principalmente como
base e sub-base de pavimentação.
Estação
de Reciclagem “Estoril”.
|
O
Caso de Ribeirão Preto - SP
Em 1995 a cidade de Ribeirão
Preto desenvolveu o Programa para Correção Ambiental e Reciclagem dos Resíduos de
Construção que previa a implantação de catorze pontos de atração de resíduos em
pequenos volumes, a incorporação de duas centrais de reciclagem e ações para
recuperação e informação ambiental.
No ano de 1996 entrou em
operação a primeira central de reciclagem, que depois de 32 meses de
funcionamento, de acordo com Pinto (1999), sua produção permitiu a execução de
218.000m2 de pavimentação, o equivalente a 31km de vias.
Esta central, por ter sido a
primeira a operar no interior de São Paulo, foi a fornecedora de RCD reciclado
para estudos desenvolvidos na UNICAMP e na Escola de Engenharia de São Carlos,
que contribuíram para a consolidação da tecnologia e disseminação de suas
potencialidades.
Reciclagem
em Obra
Além das iniciativas públicas
e privadas já mencionadas, vale ressaltar a iniciativa de algumas construtoras
com relação à reciclagem de resíduos classe A. Como exemplo, pode-se citar uma
obra em São Paulo. Para a construção do novo empreendimento foi necessária a
demolição de antigas edificações e pisos industriais em concreto. O foi
reaproveitado como agregado para produção de concreto, blocos para alvenaria e
pavimentação, e elementos pré-moldados.
Estas iniciativas não se
limitam à região sudeste. Em Maceió e Salvador têm-se exemplos de construtoras
que promovem a reciclagem de resíduos classe A em obra. Em Aracaju, foi
conduzido um estudo pelo SENAI para utilização de uma recicladora móvel em
obras da cidade. O resíduo classe A gerado é devidamente segregado, peneirado,
triturado e o agregado reciclado é utilizado na produção de bloquetes para
pavimentação e argamassa para assentamento de alvenaria, emboço e contrapiso.
Recicladora
Móvel em Utilização na Cidade de Aracaju.
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Fonte do texto e imagens:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestão-de-Resíduos