30 agosto 2016

PESQUISA REALIZADA EM USINA DE RECICLAGEM DE RCD DA CONSTRUÇÃO CIVIL DENOMINADA USINA DE RECICLAGEM E

Usina de Reciclagem: E

A investigação nessa usina foi realizada pela visita técnica à empresa municipal de desenvolvimento habitacional e à usina de reciclagem E. O pesquisador entrevistou o responsável pela implantação da usina, aqui designado por entrevistado E1, e o coordenador da usina, entrevistado E2.

 Com os dados coletados nas entrevistas e com as observações realizadas in loco foram elaborados os tópicos apresentados a seguir.

a) Dados gerais:

 Em 2001, a empresa municipal de desenvolvimento habitacional manifestou seu interesse pela implantação de uma usina de reciclagem dos RCD e seus administradores iniciaram estudos de viabilidade. Visitaram a usina A, a mais próxima da cidade, e vislumbraram a possibilidade de reduzir os custos municipais com obras públicas, habitação popular, pavimentação e a comercialização de artefatos de concreto
.
 No ano de 2002, solicitaram consultoria à empresa especializada em gestão de resíduos sólidos que desenvolveu os projetos para a implantação da usina e sua instalação.

[...] no final de 2001 [...] fomos fazer essa visita; em 2002 [...] nós já contratamos o projeto. O projeto foi desenvolvido e na sequência nós já instalamos[...].
Ela nasceu de uma necessidade que a gente tem num segmento habitacional, da gente, diminuir os custos na produção e nas unidades populares. Nós tomamos conhecimentos através de uma cidade vizinha, [...] e nós fizemos uma visita [...] e conhecemos, e vislumbramos; daquilo, a possibilidade. Visando, daquele resíduo sólido de construção processados de alguns insumos que poderiam diminuir, enfim, custos destas unidades habitacionais. E, também, vislumbramos uma outra utilidade, a auto sustentação financeira da empresa, porque nós somos uma empresa pública. É nossa sustentação financeira...e de estarmos utilizando este material. Base para pavimentação, derivado de pedrisco, pedra, areia, que nós estamos utilizando isso, na produção de blocos e bloquetes para a comercialização [...] Através desta visita nós fizemos o contato e ficamos sabendo que havia uma consultoria especializada [...] e passamos a ter um diálogo com essa consultoria e, de pronto, passamos a entender que era [...] uma questão de um município como um todo; principalmente, no passivo ambiental [...] E, também, na diminuição do custeio da prefeitura porque os materiais já jogados em lugares impróprios, além deles deteriorarem o meio ambiente, eles também geram um custo na remoção destes materiais e, também, é uma diminuição do custo da pavimentação asfáltica; cabe usar o material que a gente chama de lajão britado, que é uma capa que antecede a rocha sedimentada [...] como nós temos uma malha rural muito grande e também alguns bairros não eram pavimentados se utilizou este material de larga escala para se evitar a questão do barro etc [...] Só que este material não serve como [...] base para pavimentação, então, isso gera um custo adicional. Se vai fazer um projeto de pavimentação, a empresa vai calcular a retirada deste material e depois, vai ter que jogar este material. Além de você diminuir, também, a vida útil destas jazidas minerais que já são escassas na região. Então, quando a gente vislumbrou todo esse contexto da complexidade deste projeto, nós nos apaixonamos literalmente e fomos até o nosso prefeito e pedimos que fizéssemos uma apresentação. [ENTREVISTADO E1]

A usina é administrada pela empresa pública, que sempre teve interesse pela reciclagem, levando os administradores a intervir por sua atual instalação.

Apresentamos aos poucos a nossa ideia e o prefeito, de pronto, entendeu seu projeto e relevância para o município; e criou uma comissão envolvendo outras secretarias, inclusive do Bem-Estar Social. Porque este projeto também deu uma dimensão de emprego, principalmente para os catadores que separam os materiais [...] Nós fizemos esta reunião coletiva e, a partir daí, então, a empresa teve a iniciativa e ficou incumbida de está contratando o projeto. [ENTREVISTADO E1]

Anterior à implantação da atual usina, em 1996, houve uma iniciativa da administração municipal, de reciclar os resíduos das atividades construtivas com a compra de equipamentos destinados à britagem desses resíduos; mas o programa não avançou − as questões do meio ambiente não eram preocupantes como na atualidade.

[...] Essa máquina já havia sido adquirida em 1996, só que ela estava apodrecendo na umidade industrial. Só que ela não estava sendo utilizada, muitos fatores que nos motivou ir atrás disso [...]. Fomos lá visitar quando assumimos.
[...] não havia um projeto de sustentação que, veja bem, que discutia até [...] que teve a idéia na época, uma pessoa do meio ambiente; e a idéia fundamental era processar os resíduos, um projeto de sustentação, porque projeto é muito complexo, ele envolve muitos segmentos. Se não tiver um apelo, por exemplo, na questão da iniciativa privada com os caçambeiros, que aqueles que geram os resíduos sejam empresas, construtoras, também os particulares, que também geram os resíduos, pequenas reformas; se não houvessem entendimentos com o Ministério Público [...] E com certeza isso aí não dá certo, então, a gente entende que na época apesar da idéia boa, dessa pessoa, desse professor, o professor [...] , agrônomo, que apesar da idéia ter sido boa não tinha esta sustentação; não tinha essa consciência em relação ao meio ambiente. Os legisladores, nossos federais com os movimentos ambientais, lutavam; estava ainda assim um processo muito rudimentar. Esta questão, esta discussão, e agora tudo isso teve um acúmulo, conseguimos implantar efetivamente. [ENTREVISTADO E1]

O município tinha uma área disponível de 10.000 metros quadrados localizada em um bairro com população de baixa renda. Trata-se de um antigo matadouro que foi recuperado como patrimônio histórico. Atualmente, a área abriga a empresa municipal de desenvolvimento habitacional e a usina de reciclagem, que divide o espaço físico com a fábrica de blocos de concreto, indicada no layout (Figura).

[...] este local é um prédio, o antigo matadouro municipal, um patrimônio histórico tombado, patrimônio histórico que possibilitava, também dentro desta esteia, de uma reformulação maciça estrutural da empresa; está ajudando todo segmento da empresa. Ficávamos separados, administração do local de outro, o atendimento descentralizou tal... Nós vislumbramos possibilidade de concentrar todas as atividades do prédio administrativo e também concentrar nosso parque de produção industrial, dentro desse espírito nós fizemos um anteprojeto e junto com a I&T encaminhamos ao senhor prefeito municipal para instalar a empresa. O prefeito aprovou a idéia e depois disso tomamos as iniciativas necessárias e hoje estamos aqui instalados, produzindo como você verá no decorrer da sua pesquisa [ENTREVISTADO E1].

O uso do solo, na ocasião de sua implantação, era compatível com o empreendimento. Nas proximidades, havia vários pontos de deposições irregulares de resíduos; contribuía, ainda, a existência de vias de acesso fácil para transporte dos materiais.

O projeto foi desenvolvido. E como uma das áreas de concentração de deposição onde estamos instalados, que fica mais entre a região norte e oeste da cidade. Havia uma grande concentração de local irregular muito grande, próximo à rodovia que liga a cidade, então, nós nos deslumbramos de estamos instalados aqui [ENTREVISTADO E1]

A cidade gera 600 toneladas por dia de resíduos de atividades construtivas. A trezentos metros da usina está situado um centro de triagem que recebe os RCD.

[...] Então, fica próximo daqui, mas voltou a associação...os próprios caçambeiros estão gerindo o local. [ENTREVISTADO E1]

Esse centro de triagem é gerido por empresas de caçambas, e as dificuldades encontradas para sua implantação, por conta de interesses pessoais, são relatadas pelo entrevistado E1:

Sim os caçambeiros são cadastrados [...] são empresas contribuintes no município.[...] quando você quer implementar, às vezes pesa, todo um bom trabalho excelente da consultoria, mas há, às vezes, um excesso de zelo. Nós temos aqui empresas que, inclusive [...] são empresas que têm jazidas minerais [...], então, também é óbvio que no mercado eles não tenham muito interesse, pelo menos num primeiro momento. É que isso realmente, quer dizer, nós não sentimos pouco, essa pressão, mas na questão da formação da associação, não no nosso trabalho, nós aqui vamos trabalhando e [...], e se o pessoal, e nós, chegamos até aqui para poder trabalhar, receber direto de alguns caçambeiros de pequeno porte; justamente para poder demonstrar para eles que isso é viável economicamente, porque a empresa municipal, ou nós temos um objetivo mais no sentido de subsidiando a adaptação e nós não tínhamos o interesse de está processando todo o resíduo gerado, nem tínhamos estrutura, nós podemos ampliar, gostaríamos de ampliar com esse processamento, depende de um porte de investimento do poder público. Mas, a nossa grande idéia era processar uma parte disso de garantia, uma parte desse volume que é gerado para nós processarmos; é para aplicar na habitação, nessas obras que a gente faz, para essa população de baixa renda, não residindo em áreas irregulares, chamadas favelas, ou núcleos normais. Mas, sempre no intuito social. Reservar; você baixar custo para poder viabilizar essas áreas sociais, então por isso que nós fizemos tudo isso, dizendo: olha, vocês tem que se organizar porque isso aqui tem sustentabilidade, isso aqui é interessante porque, principalmente agora, essa legislação do CONAMA, há de se dar um destino para isso daí, qual seria a lógica deles se eles continuassem? Eles iam ser multados..., e ser caçados, as empresas ter problemas aí de fiscalização, aí, então, não é interessante para eles pelo ponto de vista econômico da gestão da empresa deles; quer dizer ficar dependendo da fiscalização. O mais racional, o mais lógico, era eles terem um entendimento e passarem a gerir esse volume que a gente não conseguiria estar processando [...] [...] Mas, tivemos inclusive pessoas que trabalharam na contraposição da associação, interesse próprio. Na realidade é um empreendedor que já possui uma visão aguçada de mercado, é uma empresa do ramo. Ele já percebeu o ‘filé mignon’ que é esse setor. E ele trabalhou pouco, até que essa associação desse pra ele, pra atacar esse negócio...pra ele, você entendeu? Aí demonstra, realmente, que há credibilidade. [ENTREVISTADO E1]

A Figuras  apresentam o layout da usina E com a disposição dos equipamentos:
AS FIGURAS APRESENTADAS NÃO SÃO AS MESMAS DA FONTE DE PESQUISA SÃO BASEADAS NAS DA FONTE


1. Entrada e saída de caminhões: acesso aos pátios.
2. Portaria.
Entrada e saída de caminhões: acesso aos pátios / Portaria
Entrada e saída de caminhões: acesso aos pátios / Portaria 


3. Descarga dos resíduos e área de triagem e segregação.

Descarga dos resíduos e área de triagem e segregação.
Descarga dos resíduos e área de triagem e segregação.

4. Rampa de acesso alimentador do britador.
Rampa de acesso alimentador do britador.
Rampa de acesso alimentador do britador.


5. Alimentador do britador.
Alimentador do britador.
Alimentador do britador.



6. Britador de mandíbulas.
Britador de mandíbulas.
Britador de mandíbulas.



7. Transportador de correia.
Transportador de correia.
Transportador de correia.



8. Separador magnético.
Separador magnético.
Separador magnético.



9. Moinho de martelo.
Moinho de martelo.
Moinho de martelo.



10. Peneira vibratória.
Peneira vibratória
Peneira vibratória



11. Transportador de correia fixo.
Transportador de correia fixo.
Transportador de correia fixo.



12. Guia em concreto para locomoção dos transportadores.
Guia em concreto para locomoção dos transportadores.
Guia em concreto para locomoção dos transportadores.



13. Empilhamento do agregado reciclado.
Empilhamento do agregado reciclado.
Empilhamento do agregado reciclado.



14. Transportador de correia móvel.
Transportador de correia móvel.
Transportador de correia móvel.



15. Empilhamento: leira.
Empilhamento: leira.
Empilhamento: leira.



16. Protótipos das unidades habitacionais.
Protótipos das unidades habitacionais.
Protótipos das unidades habitacionais.



Assim, representa-se nas Figuras uma síntese do funcionamento da usina. Os caminhões entram na usina (1), são identificados na portaria (2) e autorizados a descarregar no pátio (3). A matéria-prima inspecionada e segregada é transportada, passando pela rampa (4), e depositada no alimentador do britador (5), que retêm os finos por meio da grelha existente.
O alimentador lança a matéria-prima na câmara de britagem, na qual é triturada pelo britador de mandíbulas (6), transformando-se em fragmentos que são depositados na correia transportadora (7). A seguir, há um eletroímã (8) posicionado acima da correia, que retira materiais metálicos ferrosos do processo.

Os fragmentos continuam sendo transportados até chegarem à caixa da primeira peneira (10), na qual os fragmentos maiores são encaminhados para o moinho de martelos (9). Os passantes são conduzidos pelo transportador de correia móvel (14) e empilhados como leira (15).

Dessa forma, tem-se a alternativa de produzir “bica corrida” (15) ou outras granulometrias (13), conforme desejado, mudando a direção da primeira esteira (11) na saída do moinho de martelo.

Então, na saída do moinho de martelo, os fragmentos que seguem pelo transportador (11) são classificados, ao passarem pela segunda peneira (11 A), em agregados reciclados: areia, brita 0, brita 1 e passantes.

A mobilidade da esteira é permitida a partir de rodas existentes em uns de seus apoios, que deslizam na guia de concreto (12); depois, os reciclados são empilhados (13).

Os protótipos das unidades habitacionais, com tipologia CDHU, em exposição (14), foram construídos com blocos de concreto fabricados a partir do material reciclado produzido pela usina.

b) Aspectos legais e efeitos da gestão municipal:

 A prefeitura oferece soluções legais que incentivam o desenvolvimento das atividades econômicas de reciclagem, como as licitações de obras públicas, que começam a formalizar o uso do agregado reciclado.

Nós temos um decreto municipal que efetiva a utilização através das empresas que participam das licitações da prefeitura, fundamentalmente na questão de obras e pavimentação, aterros, e também execução de obras de galerias, de drenagem, para que eles também nos consultem. Faz parte de um decreto municipal, eles são obrigados à consultar os nossos preços, nós temos a disponibilidade desse material para serem usados nas obras públicas. [ENTREVISTADO E1]

O entrevistado destaca a importância da interação entre a prefeitura, o setor privado e a população. Ela é fundamental para o entendimento entre geradores e o município, contribuindo para o sucesso do programa para destinação correta dos RCD.

[...] Se não tiver um apelo, por exemplo, na questão da iniciativa privada com os caçambeiros que aqueles que geram os resíduos, sejam empresas, construtoras, também os particulares, que também geram os resíduos, pequenas reformas. Se não houvessem entendimentos com o Ministério Público, foi feito, se não houvesse entendimento com a Câmara dos Vereadores para aprovação do projeto, isso ainda não foi feito, única ponta que ficou meio aberta, aí fundamentalmente é o executivo. [ENTREVISTADO E1]

A resolução do CONAMA motivou a elaboração do anteprojeto de lei que regulamenta as questões referentes à destinação dos RCD. O anteprojeto será encaminhado à Câmara Municipal após a adesão do setor, já que os caçambeiros questionam as consequentes interferências que a regulamentação pode trazer para suas atividades atuais.

Existe uma minuta de projeto de lei, fundamentalmente depois que foi luz da celeuma que, [...] Nós temos um projeto de lei, porém como nós tivemos muitos percalços nesse processo, fundamentalmente uma dificuldade grande no diálogo com os caçambeiros, na formação da associação dos caçambeiros, na realidade entre eles acabou ocorrendo uma disputa muito grande interna, porque nós temos aqui pequenos caçambas, empresas que trabalham com pequenos volumes, e nós temos grandes empresas, obviamente que a partir do momento que montamos a usina, que foi demonstrado pela consultoria, enfim, na prática é uma coisa viável. Também, é a uma possibilidade de ganho econômico nesse processo, aí é natural, dentro da iniciativa privada que haja esta disputa e tal. Então, a gente, assim diria a você que isso, o projeto de lei, só não foi encaminhado à Câmara porque a gente não conseguiu está trabalhando, com esta questão dos caçambeiros. Agora, cabe ressaltar que a primeira fase do projeto de implantação a Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional coordenou, já esta outra fase posterior, ficou mais a cargo da Secretaria do Meio Ambiente e [...] aí houveram dificuldades no sentido de entabular essas negociações e tal. Apesar de todo apoio do Executivo, Ministério Público, enfim, mas a grande dificuldade ao meu ver, foi a questão dessa organização, não avançou [...] [ENTREVISTADO E1]

c) Matéria—prima:

A matéria-prima é fornecida pelo centro de triagem localizado próximo à usina, mencionada anteriormente, chamada de unidade de recebimento de resíduos sólidos. Nessa unidade, os resíduos das atividades construtivas passam pelo processo de triagem: os catadores retiram papéis, plásticos, madeira, enfim, o que tiver valor comercial; em seguida, os resíduos são considerados como matéria-prima e transportados para usina.

[...] um grande esforço no sentido de está tentando ter alguma coesão do pessoal, nós conseguimos estar viabilizando uma área transbordo e triagem próximo [...]
[...] Os resíduos vão para lá, e lá é feito uma triagem que pode ser processado e encaminhado pra nós [...] [ENTREVISTADO E1]

Ao chegar à usina, o caminhão descarrega a matéria-prima, (Figura), que passa por uma inspeção visual; na sequência, dois operários complementam a triagem, fazendo a segregação; assim, os resíduos passam por duas etapas de triagem.

caminhão descarrega a matéria-prima
caminhão descarrega a matéria-prima


[...] esse procedimento: ao chegar esse material que é trazido do centro de triagem para cá, tem uma inspeção visual quando chega aqui [...] [ENTREVISTADO E2]
[...] caminhão chega, descarrega e eu tenho duas pessoas que ficam ali, catando resto, o pessoal pega o que interessa para ele, qualquer coisa, então, tem que fazer duas pessoas; para ver o que eles fazem, eles umedecem o material e retiram o resto, aí a carregadeira faz o carregamento processo [ENTREVISTADO E1]

Durante a visita, foi observada a predominância de concreto na composição da matéria-prima que estava sendo processada. Há um procedimento de separar os resíduos de composição diferente.

[...] geralmente este tipo de material que chega, eles são mais vermelhos ou mais concreto, é muito variável. Tem uma tendência, você vai ver depois o monte, lá, que eu tenho inclusive separado, lá. Tem material de concreteira, que é só concreto mesmo, areia, pedra e cimento, material de concreteiros. Eu separo porque no início, você vai ver o bloco ali, nós fazíamos o material reciclado só com aquilo lá; só com aquele material já dá a tonalidade, depois do bloco que é pressionado; aí fizemos alguns testes com eles, com este material mais vermelho e tivemos bons resultados também, então, penso de ficar separando, separando. [ENTREVISTADO E2].

d) Processo de reciclagem:

No processo de reciclagem foram observados alguns procedimentos: inspeção visual do material contido na caçamba, descarga, segregação e triagem, alimentação do britador, britagem, separação magnética dos metais ferrosos, peneiramento e empilhamento. Dessa forma, pode-se dividi-lo em três etapas: descarga, britagem e peneiramento.

  •        Descarga e triagem


 A matéria-prima descarregada na usina é umidificada e passa por uma segunda triagem. A (Figura) mostra a área destinada ao recebimento da matéria-prima e o caminhão descarregando.
 A matéria-prima é transportada pela pá carregadeira até o alimentador do britador; existe uma rampa de acesso, ilustrada na (Figura), que permite o depósito direto desse material. Em seguida, a matéria-prima é umidificada e passa pelo britador de mandíbulas, pelo eletroímã e pelo moinho de martelos.

rampa de acesso
rampa de acesso


  •         Peneiramento


 Os materiais britados são conduzidos pelos transportadores de correia até a peneira, que gerará as granulometrias desejadas. Em seguida, os materiais reciclados são transportados pelas correias, indo até o empilhamento.

[...] tem uma peneira também que eu posso mudar por peneira fixa, eu tenho peneira de 2 polegadas e tenho peneira de 1 polegada. E eu também trabalho com o tipo de material que eu preciso. Se eu trabalhar com 2 polegadas vai passar mais material, eu mando menos material para o martelo, eu vou misturar menos, tudo de acordo com a minha necessidade [ENTREVISTADO E2].

No momento da visita, os agregados reciclados estavam estocados, como mostra a (Figura), e disponíveis para consumo na própria usina. Foi observado que o espaço físico só permite estocagem a curto prazo.
agregados reciclados
agregados reciclados

A respeito dos equipamentos, foi relatado que a usina adaptou-se aos adquiridos em 1996.
O conjunto é constituído por alimentador vibratório (1), britadores (2), transportadores de correias (3), separador magnético (4) e peneiras vibratórias (5).

(1) Alimentação do britador

O alimentador vibratório está apoiado em estrutura metálica e é constituído por mesa vibratória e grelha, cuja grade limita o tamanho da matéria-prima a ser processada.

(2) Britador de mandíbulas e moinho de martelo

 O britador de mandíbulas é um britador primário constituído por mandíbulas, que são reguladas segundo o que se quer produzir. À medida que se apertam as mandíbulas, a matéria-prima vai sendo mais comprimida, produzindo agregados de diferentes granulometrias.  O moinho de martelos tritura a matéria-prima, por meio de martelos que giram permanentemente. Ele está localizado ao lado da peneira.

(3) Transportadores de correia

Trata-se de um conjunto formado por tambores e correia, que são responsáveis pelo transporte do material durante o processo de reciclagem. Transportam a matéria-prima, que sai do britador, passa pelo eletroímã apresentado na (Figura) e chega à peneira. O transportador móvel possui rodas em uns de seus apoios, permitindo o deslocamento sobre guia de concreto, que pode ser observada na (Figura). Os apoios fixos possuem uma pequena mobilidade, permitindo uma variação angular mínima.

deslocamento sobre guia de concreto
deslocamento sobre guia de concreto


(4) Separador magnético

Está localizado no final do primeiro transportador, como mostra a (Figura) apresentada no layout a cima; é um ímã que retém os objetos ferrosos que não foram removidos nas etapas anteriores.

(5) Peneiras vibratórias

Elas são constituídas por caixa metálica apoiada em estrutura metálica e classificam o material em função da granulometria desejada, como ilustra a (Figura) apresentada no layout a cima.

e) Produto:

O agregado reciclado produzido poderá ter diversos usos, como mobiliários e recuperação urbana, aterros e pavimentação, entre outros. O entrevistado E1, no próximo relato, comenta o uso desse reciclado em aterro na implantação de um conjunto habitacional com 616 unidades. O terreno onde está implantado esse conjunto possui grande declividade e pôde ser conformado por platôs, utilizando o agregado na etapa de movimento de terra; além disso, houve a utilização como base nos acessos internos do conjunto.

[...] um terreno que tem, que precisa fazer um aterro, em vez de você colocar uma terra nobre [...] ele tem o custo menor que as jazidas naturais. Então, ele pode trabalhar com 70% do aterro com esse material e colocar 30% de terra boa, [...] para fazer uma jardinagem e pode ser feito casas que tem um potencial maior para utilização. Eles vão fazer aquele jardim, etc, pode usar o pedrisco, este material que é muito belo, nós usamos em nossas praças públicas [...] nós estamos com um empreendimento de 616 unidades habitacionais e nós estamos utilizando este material para fazer o aterro, porque lá, o terreno é em declínio. Nós estamos aproveitando o terreno, o material que vai ser feito lá, o aterro e este material e possivelmente utilizaremos na sub-base da própria pavimentação, entendeu? E podemos usá-lo ainda, porque a gente já acertou o traço do bloco, nós chegamos num traço que deu uma margem interessante, pois o engenheiro vai explicar e mostrar inclusive o produto, mas nós podemos estar também produzindo os blocos, já utilizando este material em larga escala, isso traz uma diminuição de custo. [ENTREVISTADO E1].

Segundo o entrevistado, os agregados reciclados podem ser aplicados na construção de praças públicas. Poderão ser utilizados nos mobiliários urbanos, componentes da jardinagem e pisos. Bairros próximos à usina estão passando por recuperação urbanística, utilizando-se dos reciclados em serviços como drenagem e pavimentação.

[...] Perfeito, nós estamos fazendo a regularização em dois bairros, dois núcleos que eram favelas. Hoje na realidade, hoje ainda são bairros que ainda faltam infra-estrutura. Então, nós vamos fazer, estamos fazendo drenagem e pavimentação, o material que será utilizado de base será o resíduo sólido. [...] um fica por essa nossa região, que é considerada norte e o outro fica na região oeste. Então, nós vamos estar utilizando sim, já que a gente pretende utilizá-lo no mobiliário urbano; que é aquele projeto urbanístico onde você tem uma pracinha, o paisagismo a gente quer usar o pedrisco que é muito bonito, ele fica muito bonito. Ele tem, também, a questão térmica, ele é mais frio; então, ele ajuda a manter a umidade. Enfim, tem toda essa utilização aí, e falta pesquisa que pode ser feita em cima disso aí, é um campo muito vasto. [ENTREVISTADO E1].

Durante as obras de recuperação da área atual onde está instalada a usina, foram utilizados os agregados reciclados produzidos na própria usina, na construção dos acessos internos e externos e na execução dos muros de divisa.

Fizemos aqui a recuperação do matadouro e agora já é a nossa sede. Todo projeto, na entrada ali, nós utilizamos [...] um trecho de mais ou menos 70 metros que é a sub-base, que é feita com reciclável. Está lá na frente, está enterrado ali debaixo do asfalto, é isso [ENTREVISTADO E1].

A usina possui dois estágios de produção. No primeiro, os reciclados gerados são designados por “bica-corrida”, utilizados geralmente como base e sub-base nos serviços de pavimentação. No segundo estágio, , são gerados pedra, pedrisco e areia, aplicados na substituição de cascalho, em drenagens, confecção de blocos e argamassa de assentamento.

[...] Nós temos no primeiro estágio o material que sai tipo bica-corrida, que a gente chama bica-corrida para fazer base, sub-base para pavimentação asfáltica. Nós temos um outro produto que é o pedrisco, pedra, areia. A pedra é muito usada aqui, é para substituir o cascalho; para fazer assim, regiões de pátio onde tem caminhões, é usado também pra fazer, você vai fazer uma drenagem usa bastante isso daí também. O pedrisco [...] é também bastante utilizado para fazer áreas de passeio, áreas verdes ou trocar o siute [...] e a gente utiliza no bloco e areia porque tem uma experiência aqui com argamassa de assentamento e revestimento, assim ainda não, mas é utilizado também na fabricação do bloco, bloco tem que usar areia e pedrisco. [ENTREVISTADO E2]

A fábrica de blocos, apresentada na (Figura), está equipada para produção, mas no momento da visita não estava em operação.

 fábrica de blocos
 fábrica de blocos

 fábrica de blocos
 fábrica de blocos



























[...] Hoje nossa fábrica está parada em função de levar esse pessoal para uma outra unidade onde está construindo, que o pessoal nosso é universal trabalha aqui, trabalha na seguradora na parte civil, nós temos já alguns quantidade razoável de bloco armazenado, o suficiente até o final do ano, e depois nós vamos retomar essa produção, mas tudo dentro com material reciclável, cerca de 42% ou 45% de material reciclável, tudo ensaiado a dez mil, como manda a norma, cada 10 mil blocos faz o ensaio [ENTREVISTADO E2]

Os blocos produzidos e apresentados na (Figura), segundo o entrevistado, foram ensaiados por laboratórios técnicos credenciados, chegando a atingir resistência de 2,8 MPa, atendendo os critérios das normas aplicáveis.
blocos produzidos
blocos produzidos

[...] e já foi feito laudo no bloco? [Pesquisador].
Já temos, já fizemos, já ensaiamos blocos com a escola de engenharia aí, e a resistência mínima da ABNT2.0 MPa, nós conseguimos um mínimo de 2.8 MPa. [ENTREVISTADO E2].

Quanto à aplicação dos agregados reciclados na argamassa de assentamento e revestimento, não foram realizados ensaios normativos, mas foram feitas experiências bem-sucedidas no próprio local, no assentamento de blocos do muro de divisa citado anteriormente. Já se passaram quase dois anos e até o momento não apresentaram patologias.

[...] e quanto de argamassa de assentamento ela, também foi feito laudo dela? [Pesquisador]
[...] Não, não, porque essa argamassa de assentamento é a parte mais civil, que estava coordenando, ele fez todo o muro nessa volta aqui você vê o tom da argamassa é diferente, parece que tem saibro na massa [...] Fazem quase dois anos [...] E está em pé [...] essa argamassa contém também terra no meio. É não se usa cal, você faz a mesma porcentagem, mesma que você usa na comum, só que você substitui areia nova por esta a mesma porcentagem, ela tem mais terra, por isso que eu falei, ela cai para o lado do saibro. Ela dá uma liga, por isso que os pedreiros gostam de trabalhar com ela, porque ela dá uma liga mais gostosa, trabalha para pega, absorve mais, e também porque ela tem uma mistura de cal de cimento tem, tem já é enriquecida embora seja um material reciclável ela tem cal e cimento. [ENTREVISTA E2]

Foram registrados, nos relatos a seguir, o interesse permanente da empresa municipal de desenvolvimento habitacional em inovações tecnológicas: na disponibilizarão dos produtos reciclados para pesquisas e na parceria com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Estado de São Paulo (CDHU), desenvolvendo protótipos de unidades habitacionais, ilustrados na (Figura) apresentada no layout a cima.

[...] nós fizemos alguns ensaios com a BCP, é isso, mais no sentido de tecnologia de produção de bloquetes para tirar os traços desses insumos de artefatos de cimentos tal [...]
[...].eu peguei, contratei um profissional e tenho dois profissionais de engenharia e arquitetura fazendo uma pesquisa de novas tecnologias habitacionais; então, eles estão em todas as universidades que têm no seu escopo alguns departamentos de pesquisa. Esta questão é da habitação e dentro desse universo, surge a utilização desses insumos, um material alternativo para diminuir custo, isso está em curso inclusive [...] [ENTREVISTADO E1]
[...] Esse trabalho aí tem o professor [...] que está fazendo o trabalho de mestrado [...] solo e cimento, está desenvolvendo em cima desta areia nossa aqui, esta areia que a gente usa na argamassa que eu falei aqui. Está desenvolvendo, em cima disto aqui, e ele está fazendo todos os ensaios, inclusive teor de produto químico; ele está fazendo tudo isso aí, não tem ainda, ele não fechou o trabalho, mas ele está trabalhando para fechar. [ENTREVISTADO E2]

f) Atores sociais:

A empresa municipal de desenvolvimento habitacional, que administra a usina, é parceira das secretarias municipais de habitação e do meio ambiente, todas subordinadas à gestão municipal. Nesse universo existem mão-de-obra direta e indireta, funcionários temporários e fixos. Foi observado, durante a visita, que na operação do processo de reciclagem dentro da usina pode-se contar no mínimo com dois funcionários fazendo a triagem, um motorista conduzindo a pá carregadeira, um operador dos equipamentos de britagem, um funcionário próximo ao separador magnético e um ajudante no pátio de empilhamento.

[...] a reciclagem, a Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional, não sei se você sabe ela é um tipo de secretaria da Prefeitura, Secretaria de Habitação, é este projeto, e muito amplo. Então, não é só a Empresa que administrou isso aí, tem a Secretaria do Meio Ambiente que ela trabalha questões do meio ambiente mesmo. Você está pegando a caçamba e jogando num aterro área verde, então, ele tem ponto para limpar toda área, tem caminhão, tem gente, tudo. Então, esse pessoal da Secretaria do Meio Ambiente que criou essa área (Centro de Triagem) criada; entrou a parte do desenvolvimento social para pegar e treinar esse pessoal, e está levando para lá (usina). Então, é uma ação de toda secretaria.
Hoje estou trabalhando com 2 para fazer a triagem, lá na frente, umedecer. Eu tenho 1 operador de cima, tenho 1 na esteira e 1 em baixo; 5 pessoas mais o operador da retro-escavadeira. [E2]

Os fornecedores da matéria-prima são os caçambeiros, que depositam o material no centro de triagem, conforme relato do entrevistado E2, acima, possibilitando a geração de emprego para as atividades de triagem, conferido no relato do entrevistado E1 a seguir:

[...] o prefeito, de pronto, entendeu seu projeto e relevância para o município; e criou uma comissão envolvendo outras secretarias, inclusive do Bem-Estar Social, porque este projeto, também deu uma dimensão de emprego, principalmente para os catadores que separam os materiais [...] [ENTREVISTADO E1]

No que se refere à participação da comunidade, foi relatado que há interesse dela na aquisição dos reciclados. Ainda não existe, porém, infra-estrutura para comercialização e não há escala de produção que disponibilize os agregados reciclados aos eventuais consumidores.

[...] que estamos usando, inclusive tem uma empresa que veio nos procurar para ver. Coletou algum material para fazer alguma experiência, com mudas e tal. Era dedal para viveiros. Para utilizar esse material, também para o particular, só que você tem que montar uma estrutura, é como um material de construção. Tem que montar toda uma estrutura de produção, comercialização, entrega, para que esse produto chegue até ele. Agora, para você viabilizar isso, você tem que ter isso numa certa escala, senão a relação custo-produção, ela fica negativa [ENTREVISTADO E2].
Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha