Usina de Reciclagem: E
A investigação nessa usina foi
realizada pela visita técnica à empresa municipal de desenvolvimento
habitacional e à usina de reciclagem E. O pesquisador entrevistou o responsável
pela implantação da usina, aqui designado por entrevistado E1, e o coordenador
da usina, entrevistado E2.
Com os dados coletados nas entrevistas e com
as observações realizadas in loco foram elaborados os tópicos apresentados a
seguir.
a) Dados gerais:
Em 2001, a empresa municipal de
desenvolvimento habitacional manifestou seu interesse pela implantação de uma
usina de reciclagem dos RCD e seus administradores iniciaram estudos de
viabilidade. Visitaram a usina A, a mais próxima da cidade, e vislumbraram a
possibilidade de reduzir os custos municipais com obras públicas, habitação
popular, pavimentação e a comercialização de artefatos de concreto
.
No ano de 2002, solicitaram consultoria à
empresa especializada em gestão de resíduos sólidos que desenvolveu os projetos
para a implantação da usina e sua instalação.
[...] no final de 2001 [...]
fomos fazer essa visita; em 2002 [...] nós já contratamos o projeto. O projeto
foi desenvolvido e na sequência nós já instalamos[...].
Ela nasceu de uma necessidade
que a gente tem num segmento habitacional, da gente, diminuir os custos na produção
e nas unidades populares. Nós tomamos conhecimentos através de uma cidade
vizinha, [...] e nós fizemos uma visita [...] e conhecemos, e vislumbramos;
daquilo, a possibilidade. Visando, daquele resíduo sólido de construção
processados de alguns insumos que poderiam diminuir, enfim, custos destas
unidades habitacionais. E, também, vislumbramos uma outra utilidade, a auto
sustentação financeira da empresa, porque nós somos uma empresa pública. É
nossa sustentação financeira...e de estarmos utilizando este material. Base
para pavimentação, derivado de pedrisco, pedra, areia, que nós estamos
utilizando isso, na produção de blocos e bloquetes para a comercialização [...]
Através desta visita nós fizemos o contato e ficamos sabendo que havia uma
consultoria especializada [...] e passamos a ter um diálogo com essa consultoria
e, de pronto, passamos a entender que era [...] uma questão de um município
como um todo; principalmente, no passivo ambiental [...] E, também, na
diminuição do custeio da prefeitura porque os materiais já jogados em lugares
impróprios, além deles deteriorarem o meio ambiente, eles também geram um custo
na remoção destes materiais e, também, é uma diminuição do custo da
pavimentação asfáltica; cabe usar o material que a gente chama de lajão
britado, que é uma capa que antecede a rocha sedimentada [...] como nós temos
uma malha rural muito grande e também alguns bairros não eram pavimentados se utilizou
este material de larga escala para se evitar a questão do barro etc [...] Só
que este material não serve como [...] base para pavimentação, então, isso gera
um custo adicional. Se vai fazer um projeto de pavimentação, a empresa vai
calcular a retirada deste material e depois, vai ter que jogar este material.
Além de você diminuir, também, a vida útil destas jazidas minerais que já são
escassas na região. Então, quando a gente vislumbrou todo esse contexto da
complexidade deste projeto, nós nos apaixonamos literalmente e fomos até o
nosso prefeito e pedimos que fizéssemos uma apresentação. [ENTREVISTADO E1]
A usina é administrada pela
empresa pública, que sempre teve interesse pela reciclagem, levando os
administradores a intervir por sua atual instalação.
Apresentamos aos poucos a
nossa ideia e o prefeito, de pronto, entendeu seu projeto e relevância para o município;
e criou uma comissão envolvendo outras secretarias, inclusive do Bem-Estar Social.
Porque este projeto também deu uma dimensão de emprego, principalmente para os
catadores que separam os materiais [...] Nós fizemos esta reunião coletiva e, a
partir daí, então, a empresa teve a iniciativa e ficou incumbida de está
contratando o projeto. [ENTREVISTADO E1]
Anterior à implantação da
atual usina, em 1996, houve uma iniciativa da administração municipal, de
reciclar os resíduos das atividades construtivas com a compra de equipamentos destinados
à britagem desses resíduos; mas o programa não avançou − as questões do meio ambiente
não eram preocupantes como na atualidade.
[...] Essa máquina já havia
sido adquirida em 1996, só que ela estava apodrecendo na umidade industrial. Só
que ela não estava sendo utilizada, muitos fatores que nos motivou ir atrás
disso [...]. Fomos lá visitar quando assumimos.
[...] não havia um projeto de
sustentação que, veja bem, que discutia até [...] que teve a idéia na época,
uma pessoa do meio ambiente; e a idéia fundamental era processar os resíduos,
um projeto de sustentação, porque projeto é muito complexo, ele envolve muitos
segmentos. Se não tiver um apelo, por exemplo, na questão da iniciativa privada
com os caçambeiros, que aqueles que geram os resíduos sejam empresas, construtoras,
também os particulares, que também geram os resíduos, pequenas reformas; se não
houvessem entendimentos com o Ministério Público [...] E com certeza isso aí
não dá certo, então, a gente entende que na época apesar da idéia boa, dessa
pessoa, desse professor, o professor [...] , agrônomo, que apesar da idéia ter
sido boa não tinha esta sustentação; não tinha essa consciência em relação ao
meio ambiente. Os legisladores, nossos federais com os movimentos ambientais,
lutavam; estava ainda assim um processo muito rudimentar. Esta questão, esta
discussão, e agora tudo isso teve um acúmulo, conseguimos implantar efetivamente.
[ENTREVISTADO E1]
O município tinha uma área
disponível de 10.000 metros quadrados localizada em um bairro com população de
baixa renda. Trata-se de um antigo matadouro que foi recuperado como patrimônio
histórico. Atualmente, a área abriga a empresa municipal de desenvolvimento
habitacional e a usina de reciclagem, que divide o espaço físico com a fábrica
de blocos de concreto, indicada no layout (Figura).
[...] este local é um prédio,
o antigo matadouro municipal, um patrimônio histórico tombado, patrimônio histórico
que possibilitava, também dentro desta esteia, de uma reformulação maciça
estrutural da empresa; está ajudando todo segmento da empresa. Ficávamos
separados, administração do local de outro, o atendimento descentralizou tal...
Nós vislumbramos possibilidade de concentrar todas as atividades do prédio
administrativo e também concentrar nosso parque de produção industrial, dentro
desse espírito nós fizemos um anteprojeto e junto com a I&T encaminhamos ao
senhor prefeito municipal para instalar a empresa. O prefeito aprovou a idéia e
depois disso tomamos as iniciativas necessárias e hoje estamos aqui instalados,
produzindo como você verá no decorrer da sua pesquisa [ENTREVISTADO E1].
O uso do solo, na ocasião de
sua implantação, era compatível com o empreendimento. Nas proximidades, havia
vários pontos de deposições irregulares de resíduos; contribuía, ainda, a existência
de vias de acesso fácil para transporte dos materiais.
O projeto foi desenvolvido. E
como uma das áreas de concentração de deposição onde estamos instalados, que
fica mais entre a região norte e oeste da cidade. Havia uma grande concentração
de local irregular muito grande, próximo à rodovia que liga a cidade, então,
nós nos deslumbramos de estamos instalados aqui [ENTREVISTADO E1]
A cidade gera 600 toneladas
por dia de resíduos de atividades construtivas. A trezentos metros da usina
está situado um centro de triagem que recebe os RCD.
[...] Então, fica próximo
daqui, mas voltou a associação...os próprios caçambeiros estão gerindo o local.
[ENTREVISTADO E1]
Esse centro de triagem é
gerido por empresas de caçambas, e as dificuldades encontradas para sua
implantação, por conta de interesses pessoais, são relatadas pelo entrevistado
E1:
Sim os caçambeiros são
cadastrados [...] são empresas contribuintes no município.[...] quando você
quer implementar, às vezes pesa, todo um bom trabalho excelente da consultoria,
mas há, às vezes, um excesso de zelo. Nós temos aqui empresas que, inclusive
[...] são empresas que têm jazidas minerais [...], então, também é óbvio que no
mercado eles não tenham muito interesse, pelo menos num primeiro momento. É que
isso realmente, quer dizer, nós não sentimos pouco, essa pressão, mas na
questão da formação da associação, não no nosso trabalho, nós aqui vamos
trabalhando e [...], e se o pessoal, e nós, chegamos até aqui para poder
trabalhar, receber direto de alguns caçambeiros de pequeno porte; justamente
para poder demonstrar para eles que isso é viável economicamente, porque a
empresa municipal, ou nós temos um objetivo mais no sentido de subsidiando a
adaptação e nós não tínhamos o interesse de está processando todo o resíduo
gerado, nem tínhamos estrutura, nós podemos ampliar, gostaríamos de ampliar com
esse processamento, depende de um porte de investimento do poder público. Mas,
a nossa grande idéia era processar uma parte disso de garantia, uma parte desse
volume que é gerado para nós processarmos; é para aplicar na habitação, nessas
obras que a gente faz, para essa população de baixa renda, não residindo em áreas
irregulares, chamadas favelas, ou núcleos normais. Mas, sempre no intuito
social. Reservar; você baixar custo para poder viabilizar essas áreas sociais,
então por isso que nós fizemos tudo isso, dizendo: olha, vocês tem que se
organizar porque isso aqui tem sustentabilidade, isso aqui é interessante
porque, principalmente agora, essa legislação do CONAMA, há de se dar um
destino para isso daí, qual seria a lógica deles se eles continuassem? Eles iam
ser multados..., e ser caçados, as empresas ter problemas aí de fiscalização,
aí, então, não é interessante para eles pelo ponto de vista econômico da gestão
da empresa deles; quer dizer ficar dependendo da fiscalização. O mais racional,
o mais lógico, era eles terem um entendimento e passarem a gerir esse volume
que a gente não conseguiria estar processando [...] [...] Mas, tivemos
inclusive pessoas que trabalharam na contraposição da associação, interesse próprio.
Na realidade é um empreendedor que já possui uma visão aguçada de mercado, é
uma empresa do ramo. Ele já percebeu o ‘filé mignon’ que é esse setor. E ele
trabalhou pouco, até que essa associação desse pra ele, pra atacar esse
negócio...pra ele, você entendeu? Aí demonstra, realmente, que há credibilidade.
[ENTREVISTADO E1]
A Figuras apresentam o
layout da usina E com a disposição dos equipamentos:
AS FIGURAS APRESENTADAS NÃO SÃO AS MESMAS DA FONTE DE PESQUISA SÃO BASEADAS NAS DA FONTE
1. Entrada e saída de
caminhões: acesso aos pátios.
2. Portaria.
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Entrada e saída de caminhões: acesso aos pátios / Portaria |
3. Descarga dos resíduos e
área de triagem e segregação.
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Descarga dos resíduos e área de triagem e segregação. |
4. Rampa de acesso alimentador do britador.
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Rampa de acesso alimentador do britador. |
5. Alimentador do britador.
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Alimentador do britador. |
6. Britador de mandíbulas.
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Britador de mandíbulas. |
7. Transportador de correia.
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Transportador de correia. |
8. Separador magnético.
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Separador magnético. |
9. Moinho de martelo.
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Moinho de martelo. |
10. Peneira vibratória.
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Peneira vibratória |
11. Transportador de correia
fixo.
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Transportador de correia fixo. |
12. Guia em concreto para
locomoção dos transportadores.
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Guia em concreto para locomoção dos transportadores. |
13. Empilhamento do agregado
reciclado.
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Empilhamento do agregado reciclado. |
14. Transportador de correia
móvel.
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Transportador de correia móvel. |
15. Empilhamento: leira.
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Empilhamento: leira. |
16. Protótipos das unidades
habitacionais.
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Protótipos das unidades habitacionais. |
Assim, representa-se nas Figuras
uma síntese do funcionamento da usina. Os caminhões entram na usina (1), são
identificados na portaria (2) e autorizados a descarregar no pátio (3). A matéria-prima
inspecionada e segregada é transportada, passando pela rampa (4), e depositada
no alimentador do britador (5), que retêm os finos por meio da grelha
existente.
O alimentador lança a
matéria-prima na câmara de britagem, na qual é triturada pelo britador de
mandíbulas (6), transformando-se em fragmentos que são depositados na correia transportadora
(7). A seguir, há um eletroímã (8) posicionado acima da correia, que retira materiais
metálicos ferrosos do processo.
Os fragmentos continuam sendo
transportados até chegarem à caixa da primeira peneira (10), na qual os
fragmentos maiores são encaminhados para o moinho de martelos (9). Os passantes
são conduzidos pelo transportador de correia móvel (14) e empilhados como leira
(15).
Dessa forma, tem-se a
alternativa de produzir “bica corrida” (15) ou outras granulometrias (13), conforme
desejado, mudando a direção da primeira esteira (11) na saída do moinho de
martelo.
Então, na saída do moinho de
martelo, os fragmentos que seguem pelo transportador (11) são classificados, ao
passarem pela segunda peneira (11 A), em agregados reciclados: areia, brita 0,
brita 1 e passantes.
A mobilidade da esteira é
permitida a partir de rodas existentes em uns de seus apoios, que deslizam na
guia de concreto (12); depois, os reciclados são empilhados (13).
Os protótipos das unidades
habitacionais, com tipologia CDHU, em exposição (14), foram construídos com
blocos de concreto fabricados a partir do material reciclado produzido pela usina.
b) Aspectos legais e efeitos
da gestão municipal:
A prefeitura oferece soluções legais que
incentivam o desenvolvimento das atividades econômicas de reciclagem, como as
licitações de obras públicas, que começam a formalizar o uso do agregado
reciclado.
Nós temos um decreto municipal
que efetiva a utilização através das empresas que participam das licitações da
prefeitura, fundamentalmente na questão de obras e pavimentação, aterros, e
também execução de obras de galerias, de drenagem, para que eles também nos
consultem. Faz parte de um decreto municipal, eles são obrigados à consultar os
nossos preços, nós temos a disponibilidade desse material para serem usados nas
obras públicas. [ENTREVISTADO E1]
O entrevistado destaca a
importância da interação entre a prefeitura, o setor privado e a população. Ela
é fundamental para o entendimento entre geradores e o município, contribuindo para
o sucesso do programa para destinação correta dos RCD.
[...] Se não tiver um apelo,
por exemplo, na questão da iniciativa privada com os caçambeiros que aqueles que
geram os resíduos, sejam empresas, construtoras, também os particulares, que
também geram os resíduos, pequenas reformas. Se não houvessem entendimentos com
o Ministério Público, foi feito, se não houvesse entendimento com a Câmara dos
Vereadores para aprovação do projeto, isso ainda não foi feito, única ponta que
ficou meio aberta, aí fundamentalmente é o executivo. [ENTREVISTADO E1]
A resolução do CONAMA motivou
a elaboração do anteprojeto de lei que regulamenta as questões referentes à
destinação dos RCD. O anteprojeto será encaminhado à Câmara Municipal após a
adesão do setor, já que os caçambeiros questionam as consequentes
interferências que a regulamentação pode trazer para suas atividades atuais.
Existe uma minuta de projeto
de lei, fundamentalmente depois que foi luz da celeuma que, [...] Nós temos um
projeto de lei, porém como nós tivemos muitos percalços nesse processo,
fundamentalmente uma dificuldade grande no diálogo com os caçambeiros, na
formação da associação dos caçambeiros, na realidade entre eles acabou
ocorrendo uma disputa muito grande interna, porque nós temos aqui pequenos caçambas,
empresas que trabalham com pequenos volumes, e nós temos grandes empresas,
obviamente que a partir do momento que montamos a usina, que foi demonstrado
pela consultoria, enfim, na prática é uma coisa viável. Também, é a uma
possibilidade de ganho econômico nesse processo, aí é natural, dentro da iniciativa
privada que haja esta disputa e tal. Então, a gente, assim diria a você que
isso, o projeto de lei, só não foi encaminhado à Câmara porque a gente não
conseguiu está trabalhando, com esta questão dos caçambeiros. Agora, cabe
ressaltar que a primeira fase do projeto de implantação a Empresa Municipal de Desenvolvimento
Habitacional coordenou, já esta outra fase posterior, ficou mais a cargo da
Secretaria do Meio Ambiente e [...] aí houveram dificuldades no sentido de
entabular essas negociações e tal. Apesar de todo apoio do Executivo,
Ministério Público, enfim, mas a grande dificuldade ao meu ver, foi a questão dessa
organização, não avançou [...] [ENTREVISTADO E1]
c) Matéria—prima:
A matéria-prima é fornecida
pelo centro de triagem localizado próximo à usina, mencionada anteriormente,
chamada de unidade de recebimento de resíduos sólidos. Nessa unidade, os
resíduos das atividades construtivas passam pelo processo de triagem: os
catadores retiram papéis, plásticos, madeira, enfim, o que tiver valor
comercial; em seguida, os resíduos são considerados como matéria-prima e
transportados para usina.
[...] um grande esforço no
sentido de está tentando ter alguma coesão do pessoal, nós conseguimos estar viabilizando
uma área transbordo e triagem próximo [...]
[...] Os resíduos vão para lá,
e lá é feito uma triagem que pode ser processado e encaminhado pra nós [...] [ENTREVISTADO
E1]
Ao chegar à usina, o caminhão
descarrega a matéria-prima, (Figura), que passa por uma inspeção
visual; na sequência, dois operários complementam a triagem, fazendo a segregação;
assim, os resíduos passam por duas etapas de triagem.
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caminhão descarrega a matéria-prima |
[...] esse procedimento: ao
chegar esse material que é trazido do centro de triagem para cá, tem uma inspeção
visual quando chega aqui [...] [ENTREVISTADO E2]
[...] caminhão chega,
descarrega e eu tenho duas pessoas que ficam ali, catando resto, o pessoal pega
o que interessa para ele, qualquer coisa, então, tem que fazer duas pessoas;
para ver o que eles fazem, eles umedecem o material e retiram o resto, aí a
carregadeira faz o carregamento processo [ENTREVISTADO E1]
Durante a visita, foi
observada a predominância de concreto na composição da matéria-prima que estava
sendo processada. Há um procedimento de separar os resíduos de composição diferente.
[...] geralmente este tipo de
material que chega, eles são mais vermelhos ou mais concreto, é muito variável.
Tem uma tendência, você vai ver depois o monte, lá, que eu tenho inclusive
separado, lá. Tem material de concreteira, que é só concreto mesmo, areia,
pedra e cimento, material de concreteiros. Eu separo porque no início, você vai
ver o bloco ali, nós fazíamos o material reciclado só com aquilo lá; só com
aquele material já dá a tonalidade, depois do bloco que é pressionado; aí
fizemos alguns testes com eles, com este material mais vermelho e tivemos bons
resultados também, então, penso de ficar separando, separando. [ENTREVISTADO
E2].
d) Processo de reciclagem:
No processo de reciclagem
foram observados alguns procedimentos: inspeção visual do material contido na
caçamba, descarga, segregação e triagem, alimentação do britador, britagem, separação
magnética dos metais ferrosos, peneiramento e empilhamento. Dessa forma,
pode-se dividi-lo em três etapas: descarga, britagem e peneiramento.
- Descarga e triagem
A matéria-prima descarregada na usina é
umidificada e passa por uma segunda triagem. A (Figura) mostra a área destinada
ao recebimento da matéria-prima e o caminhão descarregando.
A matéria-prima é transportada pela pá
carregadeira até o alimentador do britador; existe uma rampa de acesso,
ilustrada na (Figura), que permite o depósito direto desse material. Em
seguida, a matéria-prima é umidificada e passa pelo britador de mandíbulas,
pelo eletroímã e pelo moinho de martelos.
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rampa de acesso |
- Peneiramento
Os materiais britados são conduzidos pelos
transportadores de correia até a peneira, que gerará as granulometrias
desejadas. Em seguida, os materiais reciclados são transportados pelas correias,
indo até o empilhamento.
[...] tem uma peneira também
que eu posso mudar por peneira fixa, eu tenho peneira de 2 polegadas e tenho peneira
de 1 polegada. E eu também trabalho com o tipo de material que eu preciso. Se
eu trabalhar com 2 polegadas vai passar mais material, eu mando menos material
para o martelo, eu vou misturar menos, tudo de acordo com a minha necessidade
[ENTREVISTADO E2].
No momento da visita, os
agregados reciclados estavam estocados, como mostra a (Figura), e disponíveis
para consumo na própria usina. Foi observado que o espaço físico só permite
estocagem a curto prazo.
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agregados reciclados |
A respeito dos equipamentos,
foi relatado que a usina adaptou-se aos adquiridos em 1996.
O conjunto é constituído por
alimentador vibratório (1), britadores (2), transportadores de correias (3),
separador magnético (4) e peneiras vibratórias (5).
(1) Alimentação do britador
O alimentador vibratório está
apoiado em estrutura metálica e é constituído por mesa vibratória e grelha,
cuja grade limita o tamanho da matéria-prima a ser processada.
(2) Britador de mandíbulas e
moinho de martelo
O britador de mandíbulas é um britador
primário constituído por mandíbulas, que são reguladas segundo o que se quer
produzir. À medida que se apertam as mandíbulas, a matéria-prima vai sendo mais
comprimida, produzindo agregados de diferentes granulometrias. O moinho de martelos tritura a matéria-prima,
por meio de martelos que giram permanentemente. Ele está localizado ao lado da
peneira.
(3) Transportadores de correia
Trata-se de um conjunto
formado por tambores e correia, que são responsáveis pelo transporte do
material durante o processo de reciclagem. Transportam a matéria-prima, que sai
do britador, passa pelo eletroímã apresentado na (Figura) e chega à
peneira. O transportador móvel possui rodas em uns de seus apoios, permitindo o
deslocamento sobre guia de concreto, que pode ser observada na (Figura).
Os apoios fixos possuem uma pequena mobilidade, permitindo uma variação angular
mínima.
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deslocamento sobre guia de concreto |
(4) Separador magnético
Está localizado no final do
primeiro transportador, como mostra a (Figura) apresentada no layout a cima; é um ímã que retém os
objetos ferrosos que não foram removidos nas etapas anteriores.
(5) Peneiras vibratórias
Elas são constituídas por
caixa metálica apoiada em estrutura metálica e classificam o material em função
da granulometria desejada, como ilustra a (Figura) apresentada no layout a cima.
e) Produto:
O agregado reciclado produzido
poderá ter diversos usos, como mobiliários e recuperação urbana, aterros e
pavimentação, entre outros. O entrevistado E1, no próximo relato, comenta o uso
desse reciclado em aterro na implantação de um conjunto habitacional com 616
unidades. O terreno onde está implantado esse conjunto possui grande
declividade e pôde ser conformado por platôs, utilizando o agregado na etapa de
movimento de terra; além disso, houve a utilização como base nos acessos
internos do conjunto.
[...] um terreno que tem, que
precisa fazer um aterro, em vez de você colocar uma terra nobre [...] ele tem o
custo menor que as jazidas naturais. Então, ele pode trabalhar com 70% do
aterro com esse material e colocar 30% de terra boa, [...] para fazer uma
jardinagem e pode ser feito casas que tem um potencial maior para utilização.
Eles vão fazer aquele jardim, etc, pode usar o pedrisco, este material que é
muito belo, nós usamos em nossas praças públicas [...] nós estamos com um
empreendimento de 616 unidades habitacionais e nós estamos utilizando este
material para fazer o aterro, porque lá, o terreno é em declínio. Nós estamos aproveitando
o terreno, o material que vai ser feito lá, o aterro e este material e
possivelmente utilizaremos na sub-base da própria pavimentação, entendeu? E
podemos usá-lo ainda, porque a gente já acertou o traço do bloco, nós chegamos
num traço que deu uma margem interessante, pois o engenheiro vai explicar e mostrar
inclusive o produto, mas nós podemos estar também produzindo os blocos, já
utilizando este material em larga escala, isso traz uma diminuição de custo.
[ENTREVISTADO E1].
Segundo o entrevistado, os
agregados reciclados podem ser aplicados na construção de praças públicas.
Poderão ser utilizados nos mobiliários urbanos, componentes da jardinagem e pisos.
Bairros próximos à usina estão passando por recuperação urbanística,
utilizando-se dos reciclados em serviços como drenagem e pavimentação.
[...] Perfeito, nós estamos
fazendo a regularização em dois bairros, dois núcleos que eram favelas. Hoje na
realidade, hoje ainda são bairros que ainda faltam infra-estrutura. Então, nós
vamos fazer, estamos fazendo drenagem e pavimentação, o material que será
utilizado de base será o resíduo sólido. [...] um fica por essa nossa região,
que é considerada norte e o outro fica na região oeste. Então, nós vamos estar
utilizando sim, já que a gente pretende utilizá-lo no mobiliário urbano; que é
aquele projeto urbanístico onde você tem uma pracinha, o paisagismo a gente
quer usar o pedrisco que é muito bonito, ele fica muito bonito. Ele tem, também,
a questão térmica, ele é mais frio; então, ele ajuda a manter a umidade. Enfim,
tem toda essa utilização aí, e falta pesquisa que pode ser feita em cima disso
aí, é um campo muito vasto. [ENTREVISTADO E1].
Durante as obras de
recuperação da área atual onde está instalada a usina, foram utilizados os
agregados reciclados produzidos na própria usina, na construção dos acessos
internos e externos e na execução dos muros de divisa.
Fizemos aqui a recuperação do
matadouro e agora já é a nossa sede. Todo projeto, na entrada ali, nós utilizamos
[...] um trecho de mais ou menos 70 metros que é a sub-base, que é feita com
reciclável. Está lá na frente, está enterrado ali debaixo do asfalto, é isso
[ENTREVISTADO E1].
A usina possui dois estágios
de produção. No primeiro, os reciclados gerados são designados por
“bica-corrida”, utilizados geralmente como base e sub-base nos serviços de pavimentação.
No segundo estágio, , são gerados pedra, pedrisco e areia, aplicados na
substituição de cascalho, em drenagens, confecção de blocos e argamassa de assentamento.
[...] Nós temos no primeiro
estágio o material que sai tipo bica-corrida, que a gente chama bica-corrida
para fazer base, sub-base para pavimentação asfáltica. Nós temos um outro
produto que é o pedrisco, pedra, areia. A pedra é muito usada aqui, é para
substituir o cascalho; para fazer assim, regiões de pátio onde tem caminhões, é
usado também pra fazer, você vai fazer uma drenagem usa bastante isso daí
também. O pedrisco [...] é também bastante utilizado para fazer áreas de
passeio, áreas verdes ou trocar o siute [...] e a gente utiliza no bloco e
areia porque tem uma experiência aqui com argamassa de assentamento e revestimento,
assim ainda não, mas é utilizado também na fabricação do bloco, bloco tem que
usar areia e pedrisco. [ENTREVISTADO E2]
A fábrica de blocos,
apresentada na (Figura), está equipada para produção, mas no momento da visita
não estava em operação.
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fábrica de blocos |
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fábrica de blocos |
Os blocos produzidos e
apresentados na (Figura), segundo o entrevistado, foram ensaiados por
laboratórios técnicos credenciados, chegando a atingir resistência de 2,8 MPa,
atendendo os critérios das normas aplicáveis.
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blocos produzidos |
[...] e já foi feito laudo no
bloco? [Pesquisador].
Já temos, já fizemos, já
ensaiamos blocos com a escola de engenharia aí, e a resistência mínima da ABNT2.0
MPa, nós conseguimos um mínimo de 2.8 MPa. [ENTREVISTADO E2].
Quanto à aplicação dos
agregados reciclados na argamassa de assentamento e revestimento, não foram
realizados ensaios normativos, mas foram feitas experiências bem-sucedidas no
próprio local, no assentamento de blocos do muro de divisa citado
anteriormente. Já se passaram quase dois anos e até o momento não apresentaram
patologias.
[...] e quanto de argamassa de
assentamento ela, também foi feito laudo dela? [Pesquisador]
[...] Não, não, porque essa
argamassa de assentamento é a parte mais civil, que estava coordenando, ele fez
todo o muro nessa volta aqui você vê o tom da argamassa é diferente, parece que
tem saibro na massa [...] Fazem quase dois anos [...] E está em pé [...] essa
argamassa contém também terra no meio. É não se usa cal, você faz a mesma
porcentagem, mesma que você usa na comum, só que você substitui areia nova por esta
a mesma porcentagem, ela tem mais terra, por isso que eu falei, ela cai para o
lado do saibro. Ela dá uma liga, por isso que os pedreiros gostam de trabalhar
com ela, porque ela dá uma liga mais gostosa, trabalha para pega, absorve mais,
e também porque ela tem uma mistura de cal de cimento tem, tem já é enriquecida
embora seja um material reciclável ela tem cal e cimento. [ENTREVISTA E2]
Foram registrados, nos relatos
a seguir, o interesse permanente da empresa municipal de desenvolvimento
habitacional em inovações tecnológicas: na disponibilizarão dos produtos reciclados
para pesquisas e na parceria com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do
Estado de São Paulo (CDHU), desenvolvendo protótipos de unidades habitacionais,
ilustrados na (Figura) apresentada no layout a cima.
[...] nós fizemos alguns
ensaios com a BCP, é isso, mais no sentido de tecnologia de produção de
bloquetes para tirar os traços desses insumos de artefatos de cimentos tal
[...]
[...].eu peguei, contratei um
profissional e tenho dois profissionais de engenharia e arquitetura fazendo uma
pesquisa de novas tecnologias habitacionais; então, eles estão em todas as
universidades que têm no seu escopo alguns departamentos de pesquisa. Esta
questão é da habitação e dentro desse universo, surge a utilização desses
insumos, um material alternativo para diminuir custo, isso está em curso
inclusive [...] [ENTREVISTADO E1]
[...] Esse trabalho aí tem o
professor [...] que está fazendo o trabalho de mestrado [...] solo e cimento,
está desenvolvendo em cima desta areia nossa aqui, esta areia que a gente usa
na argamassa que eu falei aqui. Está desenvolvendo, em cima disto aqui, e ele
está fazendo todos os ensaios, inclusive teor de produto químico; ele está
fazendo tudo isso aí, não tem ainda, ele não fechou o trabalho, mas ele está
trabalhando para fechar. [ENTREVISTADO E2]
f) Atores sociais:
A empresa municipal de
desenvolvimento habitacional, que administra a usina, é parceira das secretarias
municipais de habitação e do meio ambiente, todas subordinadas à gestão municipal.
Nesse universo existem mão-de-obra direta e indireta, funcionários temporários
e fixos. Foi observado, durante a visita, que na operação do processo de
reciclagem dentro da usina pode-se contar no mínimo com dois funcionários
fazendo a triagem, um motorista conduzindo a pá carregadeira, um operador dos
equipamentos de britagem, um funcionário próximo ao separador magnético e um
ajudante no pátio de empilhamento.
[...] a reciclagem, a Empresa
Municipal de Desenvolvimento Habitacional, não sei se você sabe ela é um tipo
de secretaria da Prefeitura, Secretaria de Habitação, é este projeto, e muito
amplo. Então, não é só a Empresa que administrou isso aí, tem a Secretaria do
Meio Ambiente que ela trabalha questões do meio ambiente mesmo. Você está
pegando a caçamba e jogando num aterro área verde, então, ele tem ponto para limpar
toda área, tem caminhão, tem gente, tudo. Então, esse pessoal da Secretaria do
Meio Ambiente que criou essa área (Centro de Triagem) criada; entrou a parte do
desenvolvimento social para pegar e treinar esse pessoal, e está levando para
lá (usina). Então, é uma ação de toda secretaria.
Hoje estou trabalhando com 2
para fazer a triagem, lá na frente, umedecer. Eu tenho 1 operador de cima, tenho
1 na esteira e 1 em baixo; 5 pessoas mais o operador da retro-escavadeira. [E2]
Os fornecedores da
matéria-prima são os caçambeiros, que depositam o material no centro de
triagem, conforme relato do entrevistado E2, acima, possibilitando a geração de
emprego para as atividades de triagem, conferido no relato do entrevistado E1 a
seguir:
[...] o prefeito, de pronto,
entendeu seu projeto e relevância para o município; e criou uma comissão envolvendo
outras secretarias, inclusive do Bem-Estar Social, porque este projeto, também
deu uma dimensão de emprego, principalmente para os catadores que separam os
materiais [...] [ENTREVISTADO E1]
No que se refere à participação
da comunidade, foi relatado que há interesse dela na aquisição dos reciclados.
Ainda não existe, porém, infra-estrutura para comercialização e não há escala
de produção que disponibilize os agregados reciclados aos eventuais
consumidores.
[...] que estamos
usando, inclusive tem uma empresa que veio nos procurar para ver. Coletou algum
material para fazer alguma experiência, com mudas e tal. Era dedal para
viveiros. Para utilizar esse material, também para o particular, só que você
tem que montar uma estrutura, é como um material de construção. Tem que montar
toda uma estrutura de produção, comercialização, entrega, para que esse produto
chegue até ele. Agora, para você viabilizar isso, você tem que ter isso numa
certa escala, senão a relação custo-produção, ela fica negativa [ENTREVISTADO
E2].
Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha