22 maio 2014

O QUE FAZER COM OS RESIDUOS PNEUMÁTICOS

 RESÍDUOS PNEUMÁTICOS


Apesar da Resolução n0 258 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, estabelecer medidas ambientalmente adequadas para o descarte de pneus velhos, a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) estima que 100 milhões de pneus estão jogados em terrenos vazios, rios e aterros no país. Além das medidas que entrou em vigor em janeiro de 2002, a resolução do CONAMA estabelece metas a serem cumpridas por empresas fabricantes e importadoras de pneus até 2005. 
A disposição inadequada de pneus é considerada pela resolução como passivo ambiental, que resulta em sério risco ao meio ambiente e à saúde pública. Tendo essa questão do descarte de pneus em vista, foi desenvolvida uma pesquisa na Faculdade de Saúde Pública da USP, que analisou 4 diferentes processos de reaproveitamento de pneus em larga escala para estabelecer suas vantagens e desvantagens para diferentes objetivos. 


O QUE FAZER COM OS  RESIDUOS PNEUMÁTICOS

DESCARTE DE PNEUS
Morais, Carla Mayumi Passeroti, cita que o objetivo foi levantar e analisar processos capazes de consumir pneus regularmente e em grandes quantidades, enquadrando-se dentro das leis ambientais vigentes. Os processos escolhidos, recauchutagem ou reforma, pirólise, utilização como combustível em fornos de cimento e como componente em asfalto, possuem essas capacidades e também obedecem outros critérios colocados pela pesquisa. 
De acordo com a pesquisa, a recauchutagem, apesar de ser um processo que minimiza a geração do resíduo sólido, possui a tendência de ser utilizada apenas para pneus de carga, devido ao preço elevado dos pneus novos. Já para os pneus de passeio, a reforma não compensa financeiramente para os usuários, já que esses tipos de pneus novos têm se tornado muito barato. Assim, essa forma de reaproveitamento é indicada na pesquisa para veículos de carga, apesar de ser um processo limitado, já que só pode ser realizado no máximo três vezes. 


ITENS QUE COMPÕE M UM PNEU QUE PODE SER USADO PARA RECAUCHUTAGEM OU RECICLAGEM

Outro processo analisado foi a pirólise, que substitui cerca de 5% do xisto betuminoso, mineral usado para obtenção de óleo e gás natural, por grânulos de pneus. De acordo com a pesquisadora, o óleo e o gás resultantes desse processo apresentam características muito semelhantes ao material obtido só do xisto betuminoso. "Algumas características foram até acentuadas, como a viscosidade, o que é um fator positivo", 

explica a pesquisadora. Por outro lado, a pirólise que é realizada pela Petrobrás-Six mostrou-se uma solução regional, tendo em vista que a unidade Six é a única do país a realizar tal procedimento, o que torna inviável a utilização de pneus vindo de regiões mais distantes, devido ao custo do frete

ETAPAS DO REATOR PIROLÍTICO


Outro reaproveitamento considerado positivo pela pesquisa foi a utilização de pedaços de pneus para fabricação do asfalto ecológico, utilizado em pequena escala por concessionárias de rodovias nacionais. Além de retirar de circulação aproximadamente mil pneus por quilômetro construído, o asfalto ecológico em comparação com o comum, possui maior elasticidade, resultando em processos de trincamentos das pistas mais lentos e um aumento da durabilidade em 39%. Apesar desses fatores, a pesquisa afirma que essa forma de reaproveitamento necessita de mais pesquisas para sua utilização e maior incentivo para o uso. 

O QUE FAZER COM OS  RESIDUOS PNEUMÁTICOS
ASFALTO ECOLÓGICO
A pesquisa considerou que a utilização de pneus como combustível para fornos de cimento é hoje a melhor alternativa de reaproveitamento de pneus velhos, porque tem um potencial de absorção de grande quantidade de resíduos, sem utilizar processos químicos preliminares, que encareceriam o processo. Outra vantagem do processo é que ele oferece uma solução de maior abrangência, já que pode ser realizado em cerca de 66 cimenteiras, espalhadas por várias regiões do país. A pesquisadora ainda ressalta que existe grande interesse por parte dessas indústrias em incentivar a pesquisa nessa área, porque o uso de pneus em seus processos representa economia no custo de produção. Adicionando pneus como parte do combustível nos fornos, algumas indústrias obtiveram economia de até 20%, pois são materiais de baixo custo e fácil obtenção.
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PNEU EM FORNO DE CIMENTO

A questão do aproveitamento dos pneus após seu uso nos veículos sempre foi controversa. Empregados e produzidos em larga escala na indústria automobilística, são um dos marcos da poluição urbana e, em muitos casos, servem como criadouro para os mosquitos da dengue. 
Baseado em estudos e pesquisas sobre a reciclagem e o reaproveitamento de pneumáticos as Prefeituras Municipais tem de buscar a inovação através da inclusão dos pneumáticos nos Ecopontos, com definições 
técnicas e racionais sobre o tema.

Reciclagem e reaproveitamento
Para recuperação e regeneração é necessária a separação da borracha vulcanizada de outros componentes 
(como metais e tecidos, por exemplo). Os pneus são cortados em lascas e purificados por um sistema de peneiras. As lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d’água e produtos químicos, como álcalis e óleos minerais, para desvulcanizá-las. O produto obtido pode ser então refinado em moinhos até a 
obtenção de uma manta uniforme ou extrudado para obtenção de grânulos de borracha. 
A borracha regenerada apresenta duas diferenças básicas do composto original: possui características físicas inferiores, pois nenhum processo consegue desvulcanizar a borracha totalmente, e tem uma composição indefinida, já que é uma mistura dos componentes presentes. No entanto, este material tem várias utilidades: 
cobrir áreas de lazer e quadras de esporte, fabricar tapetes para automóveis; passadeiras; saltos e solados de sapatos; colas e adesivos; câmaras de ar; rodos domésticos; tiras para indústrias de estofados; buchas para eixos de caminhões e ônibus, entre outros. 

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MATERIAL DE PNEU RECICLADO



OUTRAS FORMAS DE RECICLAGEM E REAPROVEITAMENTO DOS PNEUS

Proteção de construções à beira mar – nos diques e cais; barragens e contenção de encostas, onde são 
geralmente colocados inteiros; 

Recauchutagem – são adicionadas novas camadas de borracha nos pneus "carecas" ou sem friso. A recauchutagem aumenta a vida útil do pneu em 40% e economiza 80% de energia e matéria-prima em relação à produção de pneus novos

Reaproveitamento energético (fornos de cimento e usinas termoelétricas) - cada quilograma de pneu libera entre 8,3 a 8,5 kilowatts por hora de energia. Esta energia é até 30% maior do que a contida em 1 quilo de madeira ou carvão. As indústrias de papel e celulose e as fábricas de cal também são grandes usuárias de pneus em caldeiras, usando a carcaça inteira e aproveitando alguns óxidos contidos nos metais dos pneus radiais.

O QUE PODE SER FEITO 

Manter os pneus em lugar abrigado ou cobri-los para evitar que a água entre e se acumule.
Antes de jogar pneus num aterro, furar as carcaças para deixar escorrer a água ou cortá-las em muitos 
pedaços, para diminuir seu volume.

RECICLAR, porque: economiza energia - para cada meio quilo de borracha feita de materiais reciclados, são economizados cerca de 75% a 80% da energia necessária para produzir a mesma quantidade de borracha virgem (nova); economiza petróleo (uma das fontes de matéria-prima); reduz o custo final da borracha em mais de 50%. 

 REDUZIR o consumo dos pneus, mantendo-os adequadamente cheios e alinhados, fazendo rodízio e balanceamento a cada dez mil quilômetros e procurar usar pneus com tiras de aço, que têm uma durabilidade 90% maior do que o normal. 

O reaproveitamento de pneus inservíveis se constitui em todo o mundo em um desafio muito difícil, dadas as 
suas peculiaridades de durabilidade (em torno de 600 anos), quantidade, volume e peso e, principalmente, grande dificuldade de lhes propiciar uma nova destinação ecológica e economicamente viável.

A verdadeira reciclagem consiste em reutilizar determinado rejeito de forma útil e economicamente viável, e no caso do Asfalto ecológico, melhorando as características do asfalto tradicional. No nosso caso, a borracha introduzida no asfalto não é apenas um produto a mais, inerte, colocado apenas para rechear, na realidade a borracha é um grande melhorador do asfalto reconhecido mundialmente.

Ante a constatação da crescente quantidade de pneus descartados, as Prefeituras Municipais poderá fortalecer a parceria com  tem condições de reutilizar os pneus para ter um sentido de que sejam viabilizados a utilização a melhoria dos ligantes asfálticos usados em pavimentação. 

A parceria poderá transformar-se em uma realidade tecnológica de melhoria dos asfaltos, uma realidade ecológica por proporcionar uma destinação adequada aos pneus inservíveis e uma realidade econômica, pois a reciclagem do pneu cria um nicho comercial responsável pela geração de emprego e renda para a sociedade e para  Município e Estado. 

O Asfalto Ecológico é uma atividade comercial que amplia o horizonte da vida útil de nossas ruas e rodovias, pois aumenta a durabilidade do asfalto.

A incorporação de borracha de pneus inservíveis em revestimentos asfálticos de pavimentos rodoviários e urbanos tem sido empregada há algumas décadas no exterior. Podemos citar aplicações importantes no Canadá, Portugal, Austrália e principalmente nos Estados Unidos da América. Pesquisas e aplicações de inúmeras técnicas utilizando asfalto borracha são uma realidade inconteste nos estados americanos do Arizona, Califórnia e Flórida.

Historicamente, o asfalto borracha começou na década de 40, quando a Companhia de Reciclagem de Borracha, U.S. Rubber Reclaiming Company, introduziu no mercado um produto composto de material asfáltico e borracha desvulcanizada reciclada denominada RamflexTM. 

No entanto, Charles H. MacDonald, é considerado o pai do Asfalto Borracha nos Estados Unidos. No ano de 1963, ele desenvolveu um material altamente elástico para ser utilizado na manutenção de pavimentos asfálticos. O produto era composto de ligante asfáltico e 25% de borracha moída de pneu (de 0,6 a 1,2 mm), misturados a 190º C durante vinte minutos, para ser utilizado em remendos, conhecidos como “band-aid”.

A modificação ou melhoria dos ligantes asfálticos utilizados em pavimentação, com adição de borracha de 
pneus, é considerada uma alternativa atraente para o melhoramento das propriedades dos materiais betuminosos, já que o resultado final é um revestimento com características técnicas superiores às verificadas em misturas asfálticas convencionais.

A borracha constituinte do pneu possui excelentes propriedades físicas e químicas para ser incorporada ao ligante convencional, trazendo uma série de melhorias que se refletem diretamente na durabilidade do pavimento, a saber: a incorporação de agentes anti-oxidantes e inibidores da ação de raios ultravioleta que diminuem, sensivelmente, o envelhecimento do CAP, o aumento da resistência à ação química de óleos e combustíveis, a diminuição da suscetibilidade térmica e o aumento da deformação de tração admissível (melhorando o comportamento à fadiga).

VANTAGENS TÉCNICAS DO ASFALTO BORRACHA 

Segundo Zanzotto & Svec (1996) e Asphalt Rubber Pavement Association, o ligante modificado por borracha
granulada de pneus ou simplesmente asfalto borracha, apresenta as seguintes características: 

Redução da suscetibilidade térmica: misturas com ligante asfalto borracha são mais resistentes às
  • variações de temperatura, quer dizer, o seu desempenho tanto a altas como a baixas temperaturas é 
  • melhor quando comparado com pavimentos construídos com ligante convencional; 
  •  aumento da flexibilidade, devido a maior concentração de elastômeros na borracha de pneus; 
  •  melhor adesividade aos agregados; 
  •  aumento da vida útil do pavimento; 
  •  maior resistência ao envelhecimento: a presença de anti-oxidantes e carbono na borracha de pneus 
  • auxilia na redução do envelhecimento por oxidação; 
  •  maior resistência a propagação de trincas e a formação de trilhas de roda; 
  •  permite a redução da espessura do pavimento; 
  •  proporciona melhor aderência pneu-pavimento; 
  •  redução do ruído provocado pelo tráfego entre 65 e 85%
O Departamento de Transportes da Califórnia (CALTRANS) vem utilizando de forma sistemática o asfalto 
borracha por via úmida e desde 1987, as espessuras das camadas asfálticas com borracha, tem sido reduzidas em relação às necessárias para pavimentos convencionais.

O CALTRANS também reporta que em termos gerais os pavimentos com asfalto borracha possuem um desempenho muito bom, requerendo menos manutenção e tolerando deflexões superiores àquelas suportadas pelos pavimentos com asfalto convencional.

Por outro lado, relativamente ao envelhecimento do ligante asfáltico durante a usinagem e a sua vida útil, podemos relatar que este é minimizado com a utilização de asfalto borracha, tendo em vista dois fatores: 

  • a espessura de película sobre o agregado é superior àquela encontrada com CAPs convencionais (devido a maior viscosidade do ligante), tal fato garante um menor envelhecimento do ligante durante a usinagem; 
  •   a recuperação elástica do ligante após a simulação de envelhecimento no ensaio RTFOT, aponta ganho desta característica ao invés de perda que ocorre com os demais ligantes convencionais e modificados por outros polímeros (Morilha e Trichês, 2003). 
Este ganho de recuperação elástica após a simulação de usinagem é muito importante e muito provavelmente, este fenômeno também ocorre durante a usinagem no campo, proporcionando uma mistura asfáltica mais flexível mesmo após a oxidação que ocorre em todo o processo de fabricação e aplicação da massa asfáltica. 
Portanto este é mais um fator que contribui para o aumento da durabilidade da mistura asfáltica e conseqüentemente do revestimento. 

VANTAGENS ECOLÓGICAS E SOCIAIS DO ASFALTO BORRACHA

O aspecto ecológico e social deve ser reforçado como um benefício muito importante e adicional às melhorias que podemos observar na modificação do asfalto tradicional com a adição da borracha moída de pneus. Sob esta ótica, podemos citar os seguintes benefícios gerados:

Surgimento e fortalecimento de empresas especializadas na reciclagem de pneus para convertê-los em asfalto borracha;

Benefícios diretos ao setor público pela criação de novas fontes de tributos a ingressar no erário público, e adicionalmente serão criados novos empregos diretos nas empresas recicladoras e indiretos ligados ao processo de angariação e movimentação de pneus inservíveis;

Inibição maior aos focos de criação de insetos prejudiciais à saúde e até letais ao ser humano;

Redução da poluição visual causada pelo descarte de pneus em locais impróprios;

Diminuição do assoreamento de rios, lagos e baías, causados, em parte, pelo indevido descarte de pneus; 

Diminuição do número de pneus usados em depósitos, com a conseqüente redução do risco de incêndios incontroláveis e a não deposição de pneus, sob qualquer formato, em aterros sanitários.

Redução da demanda de petróleo (asfalto), por dois motivos: pela substituição de parte do asfalto por borracha moída de pneus e também pela maior durabilidade que será alcançada na vida útil de nossas estradas. Não podemos esquecer que o petróleo, e por conseqüência o asfalto, é uma fonte não renovável de energia. 

As conseqüências ecológicas, econômicas e sociais acima aliadas ao benefício técnico do novo ligante asfáltico criado com a borracha reciclada são muito interessantes e compõe um panorama muito benéfico para a sociedade.
Fonte:Plano de gerenciamento de resíduos da construção civil no município de Fortaleza-CE / Trabalho adaptado por Frank e Sustentabilidade