02 janeiro 2014

RECICLAGEM DE PAPEL GERA MUITOS EMPREGOS QUANDO É ADMINISTRADA CORRETAMENTE


Reciclagem resgata cidadania

RECICLAGEM DE PAPEL
RECICLAGEM DE PAPEL

A reciclagem de papel gera milhares de empregos: dos catadores de papel aos empregados em empresas de intermediação e reciclagem. Estima-se que 100 mil pessoas vivem exclusivamente de coletar latas de alumínio para reciclagem.
Contudo, a forma inadequada de descarregar lixo sobre o solo, sem preocupação ambiental, provoca doenças e prejudica a saúde de quem depende da reciclagem para sobreviver. Os lixões são caracterizados pela falta de controle em relação aos tipos de resíduos depositados e sua disposição no solo. Lixos domiciliares e comerciais de baixa periculosidade são armazenados a céu aberto junto aos industriais e hospitalares, de alto poder poluidor.
Como forma de combater a exposição inadequada do lixo, a Prefeitura de São Bernardo fechou o ‘Lixão do Alvarenga’, (onde catadores trabalhavam em condições precárias e perigosas) e, em 2001, criou dois centros de ecologia e sob, a Campanha: “Criança no lixo nunca mais”, passou a fazer a separação dos materiais adquiridos nos ecopontos. Esse sistema de coleta seletiva é parte integrante do programa Lixo e Cidadania, que, por meio da preservação do meio ambiente, gera renda para diversas famílias.
Um desses centros, o Raio de Luz, localizado no bairro Rudge Ramos, tem como principais objetivos a preservação do meio ambiente e a melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores pela inclusão social.
“Eu era catadora do lixão de Alvarenga. Lá o trabalho era sofrido. Nós trabalhávamos no sol, na chuva, no meio da sujeira. Além disso, as brigas para pegar material eram freqüentes, porque  não havia regra. Não era um lugar bom para trabalhar. Quando a Prefeitura propôs a criação do centro de ecologia, nos empenhamos, porque gostamos da idéia. Fizemos vários cursos, como de cabeleireiro, corte e costura. Tiramos documentos, pois a maioria das pessoas do lixão era indigente. Levamos as crianças para o posto de saúde e para a escola. Hoje temos um espaço para trabalhar”, disse com orgulho, a presidente da Associação, Simone Oliveira da Silva, 33, mãe de 6 filhos.
Uniformizadas, com jalecos, botas e luvas, cedidos pela Prefeitura, 35 pessoas (ex-catadores do Lixão e catadores de rua) trabalham no Centro Raio de Luz. Com direito a salário fixo mensal e carga horária equilibrada, os trabalhadores conquistaram não só uma forma de sobreviver por meio da reciclagem, mas, principalmente, descobriram o que é ser cidadão.
A assessoria da Prefeitura é essencial para o sucesso do projeto. Maria Cristina Panchiare, assistente social, explicou que “um dos objetivos dos centros de ecologia é eliminar o intermediário, como sucateiros, entre os catadores e a indústria. Assim os próprios associados negociam diretamente com a indústria e obtêm um lucro mais expressivo. A Prefeitura cedeu o terreno e os maquinários e ajuda a encontrar novas parcerias com indústrias que reciclam materiais. Recentemente, eles formaram uma nova parceria com a Termomecânica. Quanto mais parceiros, mais materiais recicláveis recebem e mais crescem”. 
O material é vendido para a indústria, 10% do lucro é destinado para a manutenção da casa. E o restante do dinheiro é dividido em horas trabalhadas no mês.
O trabalho é organizado. O lixo de condomínios, por exemplo, é retirado em datas acertadas com o síndico, e o material é transportado por caminhões cedidos pela Prefeitura.
José dos Santos, 48, ex-catador de lixo do Alvarenga, disse que no lixão não se trabalhava de forma digna. “A vida no lixão era uma vida de cão. Muita briga, muita violência. Eu trabalhava a noite toda até as 4 horas da manhã. Chegava em casa, tomava banho, tomava café. Quando amanhecia, voltava para trabalhar até as 4 horas da tarde. Depois voltava para casa tomava banho, tomava café e esperava até as 7 horas. Eram quase 24 horas, sem descanso. Nós trabalhávamos de lamparina acesa, senão não dava para ver nada na escuridão”, disse Santos, marido de Simone.
Simone acredita que o cumprimento das regras garante a harmonia do grupo. “Aqui, temos horário para entrar e para sair. Temos intervalos para o almoço e para tomar o café da tarde. Nosso trabalho é baseado no respeito mútuo”.
A vida da família de Simone e José mudou significativamente com o novo método de trabalho. “Todos os meus filhos estão na escola. Assim, eu e minha mulher podemos trabalhar aqui. O salário é mais digno e temos uma qualidade de vida que nem se compara”, falou José.


Thaína Parmado Rudge Ramos Jornal