06 setembro 2012

PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CANTEIRO DE OBRAS

Plano de gestão de resíduos sólidos nos canteiros de obras



A introdução de um processo de reciclagem faz parte de um planejamento maior que envolve o setor produtivo e o setor público. Cabe ao setor público estabelecer o modelo a ser implantado, e ao produtivo cumprir com a sua responsabilidade de acordo com as regras estabelecidas por esse modelo.
Um processo de reciclagem depende de diferentes fatores, incluindo a qualidade do resíduo, a qual depende, por sua vez, de uma adequada segregação na fonte de sua geração. Envolve, portanto, um canteiro preparado, engenheiros, encarregados e colaboradores conscientes de suas responsabilidades, e procedimentos que norteiem o processo de segregação dos resíduos, incluindo sua quantificação, armazenamento e correta destinação.


Preparação do canteiro de obras



Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases

O canteiro de obras deve ser planejado visando a atender às necessidades de se estabelecer um sistema de gestão de resíduos, incluindo:


Áreas para armazenamento dos diferentes resíduos;
Áreas para disposição dos resíduos no canteiro até coleta e transporte;
Contêineres para armazenamento e acondicionamento dos resíduos, adequadamente instalados e sinalizados;
Instalação de filtros para a água da lavagem da betoneira.

O projeto inclui croquis com detalhamento de depósitos temporários para resíduos, fluxo do transporte do resíduo no canteiro, descrição do armazenamento e coleta adequados, incluindo equipamentos necessários.
É importante que se tenha uma boa identificação visual das áreas destinadas ao armazenamento dos diferentes resíduos no canteiro.

a) Áreas para depósito temporário


Os depósitos temporários são espaços onde são colocados contâineres (improvisados na própria obra, ou adquiridos no mercado), destinados a receberem o resíduo temporariamente, no final de serviços, ou no final do dia. Uma vez ali depositados, os resíduos são encaminhados para armazenamento em local adequado na obra, até que se tenha um volume que justifique coleta por empresas coletoras, as quais o transportarão ao seu destino final, ou para reutilização.

Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases
Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases

Em cada pavimento, ou em locais que se façam necessários, devem ser colocados depósitos temporários para os resíduos que tendem a ser de pequeno volume, como, por exemplo, resíduos de instalações elétricas e hidráulicas, gesso acartonado, papelão, entre outros. A partir de certo volume o resíduo é encaminhado para ser coletado e receber sua destinação final. Os resíduos que tendem a ser gerados em maior volume, como por exemplo, os de classe A (restos de cerâmica, argamassa, blocos, concreto, etc.), devem ser encaminhados ao armazenamento no final do período em que foi gerado.


Em função do volume de resíduo gerado, dependendo da fase da obra e da tecnologia empregada, devem-se dimensionar áreas ou baias apropriadas a cada situação.


Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases
Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases


b) Filtro para água da betoneira

Para minimizar o impacto da água oriunda da lavagem da betoneira no solo, ou na rede de esgoto, sugere-se a instalação de um filtro de decantação de simples construção. O filtro constitui-se de um buraco em torno de 1,50 m a 1,70 m de profundidade, com uma camada de brita de 50 cm a 70 cm no fundo. Na boca do buraco pode ser colocada uma peneira para coar a água antes de ser colocada no filtro.
A limpeza do filtro deve ser feita periodicamente e os seus resíduos são depositados em conjunto com os resíduos classe A, pois são resíduos de cimento.


c) Fluxo dos resíduos no canteiro

Os resíduos são transportados até depósitos temporários e até contâineres ou baias de armazenamento para coleta e/ou reutilização. É necessário certificar-se quanto à disponibilidade de carrinhos e caminhos adequados para circulação dentro do canteiro de obras, já previstos na fase de planejamento e gestão do canteiro.

Na definição do fluxo dos resíduos no canteiro devem-se evitar transtornos e interferências no desenvolvimento da obra, particularmente em canteiros com áreas reduzidas.


d) Áreas de armazenamento dos resíduos

Os resíduos devem ser armazenados no canteiro até serem coletados por empresas coletoras e/ou agentes recicladores. Para as áreas de armazenamento devem ser considerados os acessos para coleta, principalmente dos resíduos gerados em maior volume. Os resíduos classe A, e os resíduos classe B, como madeiras e metais (principalmente em obras que não utilizam estrutura pré-cortada e montadas), são os resíduos que tendem a ocupar mais espaço na obra
.
Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases
Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases
Essas áreas de armazenamento devem ser instaladas com a preocupação de evitar o acúmulo de água, não ser de fácil acesso às pessoas externas e permitir a quantificação adequada dos resíduos que serão coletados.



e) Áreas para coleta dos resíduos

A coleta deve ser feita a partir do momento que os contêineres de armazenamento estiverem preenchidos, e poderá ser realizada por empresas coletoras e/ou agentes recicladores.
É importante ressaltar que o acesso às áreas para coleta deve estar localizado em locais estratégicos que não perturbe o andamento da obra.
2 Preparação dos trabalhadores no canteiro de obra
Esta etapa inclui a sensibilização e conscientização dos colaboradores que estão executando as ações definidas no PGRSC. A sensibilização dos colaboradores do canteiro de obra é o segundo passo para a implantação do PGRSC elaborado pela empresa construtora.
A sensibilização deve acontecer em dois momentos distintos: o primeiro, na apresentação do PGRSC no canteiro a ser implantado; e o segundo momento, ao longo da construção até a sua finalização.

2.1 Apresentação do PGRSC no canteiro de obra


Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases
Plano de gestão de resíduos sólidos e suas fases

A apresentação do PGRSC no canteiro de obra deve envolver todos os níveis hierárquicos da empresa, e deve ser feita em cada obra com a participação de todos, desde a alta administração, ou os seus representantes (que são reconhecidos como representantes da alta hierarquia pelos colaboradores), e todos os colaboradores, incluindo encarregados, pedreiros, pintores, eletricistas, serventes, entre outros.
Para a apresentação do PGRSC sugere-se que os colaboradores devam ser preparados para receber o novo conteúdo. Há várias maneiras de fazer a introdução deste novo conteúdo, entre outros:

• Mostrar um vídeo no tema;
• Contar (ou ler) uma história;
• Usar um teatro de fantoches;
• Uma palestra com PowerPoint;
• Uma palestra com cartazes;
• Apenas uma palestra;
• Exposição de cartazes com uma abertura especial, como um café da manhã especial, ou lanche da tarde;
• Realização de uma oficina, que permita apresentar o conteúdo e estimule os colaboradores a produzir cartazes sobre o tema.
 O conteúdo a ser introduzido aos trabalhadores pode incluir:
 • A crise ambiental;
 • O impacto ambiental dos resíduos sólidos urbanos quando depositados inadequadamente;
• O volume dos resíduos sólidos oriundos de canteiros de obras;
 • Os impactos causados pelos resíduos sólidos oriundos de canteiros de obras, conseqüentemente a importância da redução das perdas;
 • A legislação pertinente;
 • A responsabilidade de cada um;
 • A composição dos resíduos e o seu potencial para reciclagem;
 • O que se pode produzir com os agregados produzidos a partir da reciclagem dos resíduos;
 • O PGRSC proposto pela empresa.

2.2 A conscientização e treinamento dos trabalhadores

Após a apresentação do PGRSC no canteiro de obras, a empresa deverá definir uma campanha de conscientização e consolidação do conteúdo introduzido na sensibilização. Campanhas em que há oportunidades de participação Têm maior probabilidade de sucesso.

Abaixo se identificam algumas sugestões para a campanha de conscientização e treinamento:

• Criar um mascote para estar presente no material de conscientização, com a participação dos trabalhadores na escolha;

• Elaborar cartazes, contendo as classes dos resíduos segundo a Re-solução 307 do Conama de 05/07/2202;
• Distribuição de cartilhas;
• Mostra de vídeos (de 3 a 5 minutos) na hora do almoço, do café da manhã, ou treinamento de segurança e qualidade;

• Propor uma premiação ou um concurso para o(s) trabalhador (es) que melhor atuar na implantação do PGRSC;
• Propor um concurso de esculturas produzidas com resíduos, valorizando os resíduos como material utilizável;
• Estipular que a renda obtida com a venda dos resíduos segregados seja usada em benefício dos trabalhadores;
• Distribuir camisetas (com o mascote, por exemplo) aos que sobressaírem na implantação.
Durante a conscientização e o treinamento deverá ser enfatizada a cultura do canteiro limpo, onde aspectos de organização e limpeza influenciam na qualidade do ambiente, e a importância e responsabilidade de cada um na minimização de perdas e geração de resíduos. O treinamento com relação à coleta seletiva deverá deixar claro para os colaboradores, as diferentes classes dos resíduos (de acordo com a Resolução 307 do Conama) e quais resíduos pertencem a qual classe.
A campanha de conscientização e o treinamento dos colaboradores poderão envolver organizações especializadas em educação ambiental, cartazes de conscientização, sinalização de disposição dos resíduos nos canteiros, e principalmente conversas periódicas, que deverão ser mais freqüentes no início da implantação e, posteriormente, semanais. É necessário ressaltar a importância de fortalecer a auto-estima dos participantes do projeto e a valorização do indivíduo, podendo para isto, por exemplo, ser considerado o retorno da arrecadação com a comercialização dos resíduos e sorteio de camisetas para os colaboradores no canteiro de obras.

3 Os procedimentos do PGRSC

No Plano de Gestão de Resíduos Sólidos no Canteiro de Obra devem estar definidos procedimentos com relação às responsabilidades referentes à segregação, limpeza, transporte interno, quantificação do resíduo gerado, armazenamento, transporte e destinação final dos resíduos.

a) Responsabilidade

As responsabilidades com relação a cada atividade referente à gestão dos resíduos no canteiro de obra, devem estar claramente compreendidas e aceitas entre os colaboradores como: a separação do resíduo após cada serviço, o armazenamento, o acompanhamento da coleta, a quantificação, o registro da quantificação e a emissão de relatórios.

Com relação à segregação, os projetos pilotos demonstram mais resultados quando se assume o princípio de “quem gera o resíduo é responsável pela sua separação, limpeza e armazenamento (temporário ou para coleta)”. Pode-se também considerar que quem gera separa, mas quem limpa é uma equipe de limpeza específica, ficando a critério da empresa a definição da responsabilidade. Esta questão envolve, particularmente, os terceirizados, cujo compromisso com a gestão dos seus resíduos deve estar registrado em cláusulas contratuais.

b) Segregação dos resíduos

Os resíduos devem ser segregados na sua fonte de geração, ao término de um dia de trabalho ou ao término de um serviço, visando a assegurar a qualidade do resíduo e potencializar a sua reciclagem. O objetivo é segregar os resíduos de acordo com a classificação da Resolução 307, separando-os na classe A, B, C e D em depósitos distintos para futura utilização no canteiro, ou fora dele.

A segregação assegura a qualidade do resíduo, garantindo assim a qualidade de seu processamento e futura aplicação como agregado reciclado. Enfatiza-se, novamente, a importância de se assegurar o comprometimento de terceirizados com a correta segregação dos resíduos em cláusulas contratuais.

É necessário enfatizar a importância de sinalizar sistematicamente os locais, contâineres e baias de disposição e armazenamento de cada resíduo no canteiro, para facilitar a memorização, pelos colaboradores, dos resíduos e suas respectivas classes, formas de armazenamento e destinações.



c) Armazenamento temporário dos resíduos segregados

O resíduo deve ser encaminhado para depósito temporário ou armazenamento para coleta (dependendo do resíduo e do serviço em execução), no momento de sua geração, ou ao finalizar a tarefa do dia, ou ao finalizar um serviço.

O armazenamento temporário refere-se aos resíduos gerados em menor volume e que podem ficar em contêineres em posições estratégicas para posterior encaminhamento àqueles de coleta, ou área de coleta definitivos, ou seja, quando são retirados do canteiro.

d) Identificação e Quantificação

Todo o resíduo gerado na obra deve ser identificado e quantificado, de acordo com o tipo de depósito, baia ou container, que serão separados em classes A, B, C e D. A quantificação deve ser registrada em relatórios mensais, permitindo à empresa estabelecer controle e parâmetros da quantidade e tipo de resíduo gerado. Estes dados mais tarde poderão ser cruzados como, por exemplo, com a descrição da tecnologia utilizada e permitir comparações entre diferentes processos construtivos. Os dados também permitem que a empresa identifique o número de caçambas reduzidas, a partir do momento que há a coleta seletiva e escoamento dos resíduos recicláveis na porta do canteiro.

e) Transporte Interno

No transporte interno dos resíduos, ou seja, no canteiro de obras, deve-se considerar o uso de equipamentos que facilitem a vida do trabalhador. Ao final de um serviço, os resíduos deverão ser transportados até a área de armazenamento por carrinhos, ou verticalmente por condutores.
O profissional que tem a responsabilidade pelo transporte interno deve ser definido em cada empresa. Ressalta-se que os testes demonstram eficiência da aplicação do princípio de quem gera, transporta e armazena.

Os tubos para condução vertical dos resíduos, em obras verticais, são instrumentos eficientes para disposição rápida em contêineres estacionados estrategicamente para recebê-los, e uma vez cheios deverão ser coletados por transportadores de entulho.

f) Armazenamento para coleta

Os resíduos deverão ser armazenados de maneira a permitir uma coleta rápida e sem conflitos com as atividades do canteiro. A coleta que pode vir a causar maiores conflitos é aquela referente a dos resíduos classe B, madeira e metal (este último em obras que não usam estruturas pré-cortadas e montadas).

Os resíduos classe B, (papel, papelão, metal e madeira) que provavelmente serão vendidos a agentes recicladores, deverão ter um espaço adequado, referente ao espaço a ser ocupado para armazenamento, visto que alguns agentes só coletam acima de uma determinada quantidade ou volume. Para o armazenamento do papelão é importante que seja feita proteção da chuva, visto que o resíduo seco é mais facilmente escoado. Como a maioria do papelão gerado em canteiros de obra é oriunda de embalagens de materiais de revestimento, nesta etapa da obra é mais fácil alocar locais de armazenamento protegidos.

g) Acondicionamento

Os contêineres de armazenamento deverão ser providos de fechamento para evitar entrada de insetos, ratos e outros vetores de doença.

Outro aspecto do armazenamento é a necessidade de se ter dispositivos de fechamento (tampa) para evitar a “contaminação dos resíduos”, principalmente dos resíduos classe A, de maior potencial para reciclagem. Ressalta-se que a contaminação é ocasionada pela indisciplina de se misturar resíduos, principalmente, orgânicos, gesso ou materiais perigosos, com resíduos classe A, o que poderia comprometer a qualidade do material processado e sua posterior aplicação.
Os resíduos deverão ser adequadamente acondicionados para o transporte. É de responsabilidade do gerador certificar que, ao longo do transporte, não haverá perda do resíduo nas vias urbanas, sujando ou colocando em ruas.

h) Transporte e Destinação

O transporte dos resíduos deverá ser feito por empresas coletoras e ou cooperativas, lembrando que os transportadores também são responsabilizados pela destinação e gerenciamento dos resíduos.

O gerador (construtor) deverá assegurar que os resíduos sejam encaminhados a áreas destinadas pelo setor público, áreas de processamento, ou áreas de transbordo, ou aterros de inertes.

O transportador deverá ter documento que especifique a origem e a destinação do resíduo, em se tratando principalmente de resíduos classe A, para ser apresentado à fiscalização caso necessário. A empresa ou o responsável pela obra deve arquivar uma cópia do documento.

Com relação aos resíduos classe B, estes poderão ser encaminhados a agentes recicladores por meio de venda, ou por meio de doações (principalmente cooperativas e/ou catadores). A venda dos resíduos permitirá que a arrecadação possa ser retornada aos traba-lhadores, sendo um estímulo a mais para a implantação do projeto, conforme já comentado anteriormente. É necessário, também neste caso, a empresa, ou o responsável pela obra guardar um recibo que declare a correta destinação do resíduo que está sendo retirado da obra.
 Fonte:http://www.biblioteca.sebrae.com.br/