A construção civil hoje assume
seu papel de indústria competitiva que registra os maiores índices de
capacidade de emprego. Porém, ao contrário das outras indústrias de
transformação, a construção civil possui peculiaridades que ao mesmo tempo em
que dificultam o emprego de metodologias específicas, estimulam o sentimento de
“engenhar” na busca de soluções mais econômicas e mais rápidas. Alie-se a isto
a necessidade do setor de adequar-se às novas tendências industriais no que diz
respeito à capacidade de reduzir-se ao mínimo o consumo dos recursos naturais e
os resíduos gerados nos processos.
A RACIONALIZAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA A REDUÇÃO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS |
É preciso a conscientização de
que o desperdício gerado na construção civil, seja por exigências de clientes, seja
por planejamento inadequado, resulta em prejuízo para toda a sociedade. Os
recursos naturais utilizados na fabricação dos insumos são limitados, sendo
inadmissível que estes insumos sejam devolvidos em forma de resíduos,
descontroladamente ao meio ambiente, criando cada vez mais situações
desfavoráveis no sistema.
Racionalizar, portanto, é
palavra de ordem hoje no meio industrial e a construção civil empenha-se em
contribuir como um setor de fundamental importância na economia do país.
A racionalização da construção
tem como objetivo a otimização do processo de construção (aumento de produtividade,
rentabilidade e qualidade) através da aplicação de alguns princípios de
economia. De acordo com Gehbauer (2004) a racionalização pode ser definida como
sendo um “estudo do sistema de produção estabelecido com base na realidade, com
o objetivo de defi nir melhorias”.
A racionalização visa
principalmente:
• melhorar as inter-relações:
homem – homem e homem – máquina;
• melhorar o fluxo de
materiais e produtos;
• melhorar o fluxo de
informações; e
• melhorar a organização do
processo de produção.
É importante desmistificar a
ideia que para que aconteça a racionalização dos processos é necessário um
grande investimento financeiro por parte da organização, com a introdução de
novas tecnologias construtivas ou implementação de novos equipamentos no
canteiro. A racionalização muitas vezes acontece com ações simples, com
pequenas alterações na rotina de trabalho dos operários que produzirão frutos
no tocante a melhoria do processo construtivo, economia de tempo, material e
mão-de-obra, além de se evitar muitas vezes, a geração de resíduos.
No livro Racionalização na
Construção Civil: como melhorar processos de produção e de gestão de Fritz
Gehbauer é apresentada uma metodologia para promoção da racionalização no
canteiro de obras. A metodologia foi desenvolvida pelo autor no âmbito do
Projeto Competir e já foi implementada em mais de 100 obras em várias cidades
do Nordeste do Brasil.
Este autor destaca que a
produção na construção civil é marcada por uma série de particularidades:
produto individual, para cada produto tem-se um novo local de produção,
projetos de curta duração, local de trabalho sujeito às variações climáticas,
cliente interferindo no processo de produção, entre outros. Este ambiente faz
com que o gerente de obras esteja ocupado em manter os trabalhos em andamento e
em administrar os problemas que surgem de forma reativa. Com estas
dificuldades, resta pouco tempo para analisar os processos e introduzir melhorias.
É neste ponto que os métodos desenvolvidos por este autor e que serão
apresentados na sequência pretendem fornecer subsídios para se promover a
racionalização.
Segundo este autor, a dinâmica
da racionalização acontece em três níveis distintos, a saber:
• racionalização do tipo 1
(R1) g esforços de racionalização que visam o fluxo de material, a minimização das
distâncias de transporte, a otimização das máquinas empregadas e a melhoria do
fluxo de informações e da capacitação das pessoas envolvidas, ou seja, estudos
de racionalização voltados para fatores que colocam efetivamente o processo de
produção e do canteiro de obras no centro das atenções;
• racionalização do tipo 2
(R2) g esforços de racionalização que visam os processos gerais de uma empresa,
representados na figura pela moldura que circunda a empresa. Incluído dentro
dessa moldura está o gerenciamento das funções de apoio: aquisição, logística,
novas tecnologias, disponibilização de recursos, gestão da informação, administração
de pessoal, desenvolvimento de pessoal, estratégias, dentre outras;
• racionalização do tipo 3
(R3) g procura organizar a cadeia produtiva e suas interferências no foco da
empresa.
Níveis
Distintos da Racionalização.
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A racionalização tipo R1
(canteiro de obras), que será o foco deste trabalho, na maior parte das vezes
pode ser implantada com recursos disponíveis na própria obra. O objetivo maior
é proporcionar condições para que o processo construtivo suprima os tempos de
espera e de ociosidade nas equipes e nas interfaces entre sucessivas equipes de
trabalho.
Observa-se deficiências nestas
áreas muitas vezes causadas pela falta de conscientização de que vale a pena
estudar os diferentes passos do trabalho detalhadamente e identificar
possibilidades para pequenas ou grandes melhorias (GEHBAUER, 2004).
Com o aumento da mecanização
dos processos de construção tornando os canteiros industriais, maior é a possibilidade
de empregar métodos modernos de análise dos processos de construção. Apesar da
singularidade de cada obra, é possível padronizar-se determinadas tarefas que
invariavelmente são interligadas por uma sequência tecnológica. Detalhes da
organização do trabalho muitas vezes são negligenciados, daí existir neste
campo as grandes reservas de racionalização.
Em toda racionalização, se
torna importante levar sempre em conta o fluxo contínuo de trabalho. Podem se
utilizar de “amortecedores“ para que o ciclo subsequente não sofra
interrupções, mesmo que o ciclo anterior tenha sido sujeito a variação de
produção.
Outra fonte de possibilidades
de racionalização é a ocorrência permanente de “retrabalho” causadas por erros
e defeitos, além de execução incompleta de trabalho que ocorre em muitas obras
causando um aumento exagerado nos custos para sua conclusão. Esta execução
incompleta, ou seja, a falta de terminalidade na execução dos serviços, muitas
vezes é causada por um planejamento inadequado que também propicia a falta de
materiais necessários no momento da execução.
Outra causa da alta incidência
de retrabalho nas obras está relacionado ao repetido manuseio de materiais que chegam
às obras antes do prazo previsto para sua aplicação ou “antes do planejado” e
aí o conceito de just in time 14 pode ser aplicado.
Vários níveis de
Racionalização são envolvidos, porém o ponto de partida é o canteiro de obras
onde precisa ser medido o dispêndio de horas e de onde precisam partir
sugestões para a racionalização que, quando implementadas, trarão as melhorias.....Na
próxima publicação será postado os procedimentos gerais!!!
Fonte do texto:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestão-de-Resíduos