10 abril 2012

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DE UM PGRCC

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DE UM PLANO DE GERENCIAMENTO DOS ENTULHOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL                                   


INCLUSÃO SOCIAL
Maquete eletrônica para uma central de reciclagem em Passos - MG
Inclusão social que pode ser segundo Borges (2004), compreendida como uma atitude política diante das desigualdades e injustiças sociais, voltada para a instituição de espaços de comu­nicação, realização e participação na socie­dade de pessoas, grupos e comunidades que, em função de circunstâncias históricas, são privados dos seus direitos e impedidos de se realizarem como cidadãos.
A nova Constituição atribuiu novas responsabilidades aos municípios referentes à promoção de programas e políticas públicas, visando à melhoria da qualidade de vida nas cidades, até então, centralizados no governo federal. Os municípios, juntamente com outras esferas governamentais, passaram a empreender ações visando “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” (BRASIL, 1988, art. 23, in­ciso VI) e a “controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (BRASIL, 1988, art. 225, inciso V). (Silva, 1992, p.103).



GESTÃO AMBIENTAL PUBLICA


No âmbito municipal, uma gestão ambiental integrada deve levar em consideração diversas dimensões (econô­mica, social, cultural e ambiental), incluindo o fortaleci­mento de cooperações intermunicipais e a participação da população na definição de prioridades associadas às práticas de gestão ambiental que devem envolver plane­jamento, controle, acompanhamento e comunicação per­manentes (Nunesmaia, 2000). Essa mesma autora sugere que essas práticas de gestão devem considerar as seguin­tes linhas de ação:


1) o desenvolvimento de linhas de tratamento (tec­nologias limpas) de resíduos, priorizando a redução e a valorização; 2) a economia (viabilidade); 3) a comunica­ção/educação ambiental (o envolvimento dos diferentes atores sociais); 4) o social (a inclusão social, o emprego); e 5) o ambiental (os aspectos sanitários, os riscos, a saú­de humana). A integração também concerne às categorias dos atores (ou agentes): produtores de resíduos, catado­res, municípios e cooperação entre municípios, prestado­res de serviços (terceirização), indústrias (indústrias de reciclagem).

Para Demajorovic (1994) e Jacobi (2002), essas linhas de ações devem ser articuladas com políticas sociais mu­nicipais. Assim, as práticas de gestão ambiental podem se tornar mecanismos de mediação da construção da ci­dadania, ampliação da conscientização política da popu­lação, geração de emprego e renda, desde que elas:


 a) envolvam a participação do setor público, privado, popu­lações locais, entre outros atores;

 b) considere os aspec­tos socioculturais e o saber local;

 c) desenvolva o sentido de responsabilidade social e ambiental;

d) respeite os limites estabelecidos pela legislação vigente, que regula a questão ambiental no âmbito local, estadual e federal. Entretanto, como destaca Jacobi (2002), nem sempre a intencionalidade e os objetivos concretos das práticas de gestão ambiental são compreendidos por diversos atores que nelas estão envolvidos. Para o referido autor, essas práticas requerem um período de amadurecimento para que os seus resulta­dos sejam legitimados e reconhecidos pela sociedade.

Entre os resultados positivos dessas práticas de gestão ambiental destacam-se aqueles que promovem a inclu­são social de camadas populacionais marginalizadas por meio da geração de empregos, aumento da consciência ambiental, ampliação e fortalecimento da co-responsabi­lidade da sociedade na fiscalização e controle dos agentes responsáveis pela degradação sócio-ambiental, redução dos impactos ambientais derivados das atividades econô­micas, no caso específico deste trabalho, as atividades da construção civil, (Silva e Brito).

  Para (Silva e Brito) entre as práticas de inclusão social implementadas pelo poder público local da cidade de Belo Horizonte por meio da gestão de resíduos da construção, destacam-se aquela destinada à inclusão de carroceiros como inte­grantes da rede receptora e recicladora desses resíduos e a que proporciona a geração de emprego e renda a cidadãos por meio da fabricação e venda de artefatos de concreto produzidos com resíduos da construção civil reciclados. Essas práticas, bem como suas contribuições socioeconô­micas, serão abordadas na seção de análise dos resultados desta pesquisa.

PRATICAS DE GESTÃO DE RESIDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Em 1993, a SLU de Belo Horizonte contratou uma empresa de consul­toria para avaliar as condições de deposição do entulho da construção civil na cidade, cujo trabalho revelou que: Belo Horizonte apresentava 134 pontos de deposição clandestina de entulho e uma geração média de 425 m3 de entulho e terra por
 dia, cuja remoção gerava uma despe­sa no orçamento da prefeitura de U$ 1.070.000,00 por ano. O diagnóstico oferecido pela consultoria também demonstrou a necessidade de se implantar 4 estações de reciclagem e 12 unidades de recebimento de pequenos volumes (URPV) para suprir esse volume de resíduo ge­rado. Essa constatação levou a prefeitura a organizar e a implementar duas práticas de combate e prevenção: 1) a rede receptora do resíduo: composta pela implantação das URPVs, pela implantação das estações de reciclagem de entulho e pelos aterros municipais de inerte; e 2) a rede programática: composta por práticas de gestão es­pecíficas: educação e informação, recuperação de áreas degradadas e projeto de fiscalização.

As referidas práticas de combate e prevenção fazem parte do Programa de Correção das Deposições Clandes­tinas e Reciclagem de Entulho, que foi implantado com o objetivo de promover a correção dos problemas ambien­tais urbanos gerados pela deposição indiscriminada de resíduos de construção na malha urbana. Mais especifi­camente, com o programa objetiva-se:

 a) recuperar áreas degradadas pela deposição clandestina; b) minimizar a ocupação do aterro sanitário com entulho potencialmente reciclável; c) implantar uma rede descentralizada de lo­cais para a deposição dos resíduos de construção; d) pro­duzir material reciclado de boa qualidade para utilização, prioritariamente, em obras públicas e de interesse social; e e) permitir a substituição daqueles materiais convencio­nalmente empregados na construção civil, preferencial­mente em obras públicas e de interesse social.
Como resultado dessas práticas, a rede receptora de resíduos, criada pelo poder público, passou a articular os seguintes atores e elementos:

 a) pe­queno gerador de entulho: o conhecido construtor formiga, nessa categoria encontram-se os agentes geradores de resíduos de pequenas refor­mas, construções e outros processos que não excedam o volume de 2 m3/dia;
b) grande gerador de entulho: esses agentes são responsáveis pela geração de entulho de qualquer natureza que exceda o volume de 2 m³/dia;

c) carroceiro: trata-se do cidadão comum que faz uso de carroça de tração animal para a coleta e o transporte de entulho ou materiais da construção civil;

d) unidades de recebimento de pequenos volumes (URPV): têm por finalidade receber gratuitamente pequenos volumes (até 2 m³/dia por gerador) de resíduos de construção (madei­ra, terra, telhas, tijolo, concreto, metais, gesso, etc.) po­das, pneus, outros objetos volumosos (móveis, eletrodo­). Além das caçambas para recebimento dos materiais citados, possui uma área construída que abriga um escritório de controle gerenciado por um funcionário da prefeitura, banheiro, local para refeições dos carrocei­ros, bebedouro para os animais, tronco para vacinação e marcação dos animais e contêineres para coleta seletiva (papel, metal, plástico e vidro);

 e) estações de reci­clagem de entulho: estão instaladas em áreas públicas totalmente fechadas de, no mínimo 6.000 m2 e têm por finalidade receber e reciclar resíduos da construção civil.

A interação entre esses agentes produz três opções de coleta de resíduos, a saber:

 a) opção 1: após a geração do entulho, o pequeno gerador liga para o “disque car­roça”, telefone da prefeitura destinado exclusivamente para a contratação do serviço de transporte de entulho por meio de carroceiros. O carroceiro recolhe o material (entulho, podas, móveis velhos, etc.) e o transporta para a URPV, onde é feita a separação do material de acordo com sua natureza em caçambas próprias. À medida que as caçambas de entulho estão completas, o caminhão da prefeitura as recolhe, levando-as para as estações de reci­clagem;

 b) opção 2: o próprio cidadão pode transportar o material ou entulho do local de geração para a URPV, desde que não exceda 2 m3/dia.

 c) opção 3: o grande gerador de entulho destina o entulho gerado, acima de 2 m³, diretamente para as estações de reciclagem.

Paralelamente à implementação da infra-estrutura da rede de coleta de resíduos, discutida neste tópico, o poder público municipal formulou e implementou um conjunto de políticas e práticas de comunicação, mobilização so­cial, recuperação de áreas degradadas e de fiscalização ambiental. As referidas práticas são denominadas, pelo poder público, de rede programática, cujo propósito tem sido dinamizar a rede receptora do resíduo. Para tanto, elas apresentam as seguintes particularidades:

 a) a co­municação e a mobilização social: essa prática tem um caráter educativo, sensibilizatório e organizativo, que visa ao envolvimento e à efetiva participação do cidadão na busca de soluções para os problemas decorrentes da geração dos resíduos sólidos;

b) recuperação de áreas degradadas: essa prática consiste em promover a lim­peza dos locais públicos que, geralmente, são usados para deposições clandestinas. Esses espaços seguem um projeto paisagístico, que conta com cercamento do local, pintura do meio-fio e jardinagem; e

c) monitoramento e fiscalização: consiste em atuar com os agentes trans­portadores de resíduos e com a população em geral, na coibição do lançamento indiscriminado de resíduos.

Essas práticas tiveram o objetivo de promover a inclusão social dos carroceiros na gestão integrada de resíduos adotada no município de Belo Horizonte. Esse processo possibilitou novas oportunidades de trabalho e contribuiu para a conscientização ambiental do referido grupo de trabalhadores que, até então, eram marginalizados pelo poder público e pela sociedade local (Jacobi, 2002).

Foram diversas as ações utilizadas para este fim. Na realidade, buscou-se ampliar a aproximação entre os car­roceiros e o poder público municipal, orientada pelos princípios do respeito mútuo, da cooperação e do com­partilhamento de informações e de conhecimento. Essas ações se desenvolvem pela integração de três frentes de trabalho organizadas e gerenciadas pela PMBH, que são:
a) Frente técnica: tem o objetivo de informar os car­roceiros sobre a importância ambiental do programa e as conseqüências das deposições clandestinas em córregos, lotes vagos e outros locais inadequados, incluindo os be­nefícios da deposição de entulho de forma ambientalmen­te correta e a participação deles como agente de limpeza urbana. Além disso, o poder público fornece aos carrocei­ros um local apropriado, ou seja, ambientalmente correto, para a deposição de entulho, que são as URPVs locali­zadas em diversos locais do espaço territorial da cidade, e para o serviço de transporte por eles prestado.

b) Frente social: tem o objetivo de resgatar a identi­dade do carroceiro como trabalhador e como cidadão, por meio da inclusão social. Pelos levantamentos socioeco­nômicos realizados por essa frente de trabalho, verifica-se que a grande maioria da amostra de 1.384 carroceiros possui baixo nível de escolaridade, ou seja, 14,6% são analfabetos; 14,6% estudaram até a segunda série do en­sino fundamental; 22,80% até a 4ª série do ensino funda­mental; 34,8% cursaram da 5ª a 8ª série do ensino fun­damental; 8,4% cursam ou cursaram o ensino médio; e 4,8% não responderam.

Pela análise do perfil sociodemográfico desses parcei­ros do poder público, verifica-se também que 31,8% trabalhavam anteriormente na indústria da cons­trução civil; 8,6% são oriundos da atividade de serviços gerais; 7,6% trabalhavam com vigilância; 8,0%, em ati­vidades industriais; 9,1% têm a profissão de carroceiro como primeira ocupação; e 34,9% são oriundos de outras ocupações.

c) Frente veterinária: tem como objetivo cuidar da saúde do animal utilizado pelos carroceiros. Para tanto, o poder público, em parceria com a escola de veteriná­ria da UFMG, oferece atendimento médico-hospitalar contínuo, bem como orientação sobre nutrição e saúde animal. Todos os animais dos carroceiros são marcados e registrados pelo poder público. Esse convênio também tem sido responsável pelo trabalho de inseminação ar­tificial e melhoramento genético dos animais. A frente veterinária, em parceria com o serviço de zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde, também promove a vaci­nação anual dos animais e registra todas as informações sobre o processo de vacinação, para um melhor controle da saúde e nutrição do animal. Está em fase de estudos a implantação de sistemas de pastoreio e abrigo coletivo para os animais, de modo a lhes garantir boa alimentação e bem-estar.

 Outras formas de inclusões sociais: implementada pela prefeitura de Belo Horizonte, por meio de políticas e práticas de gestão dos resíduos da construção civil, foi a implementação da fábrica de produção de artefatos de concreto em que são utilizados agregados reciclados como matéria-prima. Essa fábrica foi denominada, por seus idealizadores, de Ecobloco. Trata-se de um projeto de inclusão social de pessoas que tinham uma trajetória de rua, ou seja, pessoas que migraram, por um motivo qualquer, para a cidade de Belo Horizonte e não exerce­ram a sua cidadania na plenitude, dada a sua exclusão do mercado de trabalho (Silva e Brito).

Temos também o brechó da construção onde ele incentiva a reinserção dos resíduos reutilizáveis e recolher materiais aproveitáveis que sobram e não serão mais utilizados nas obras, em reformas de particulares, em lojas e industrias. Estes materiais serão recolhidos no local da doação e enviados para a central de distribuição, onde serão classificados, armazenados e encaminhados às famílias de baixa renda cadastradas segundo os critérios da Política Municipal de habitação. As famílias vão obte-los por um preço simbólico, podendo assim melhorar as condições de sua moradia.

É uma iniciativa de caráter social destinada a ajudar famílias de baixa renda a reformar e melhorar sua moradia. Idealizada por empresários do setor da construção civil e suas entidades representativas, SINDUSCON – MG, SECONCI – MG, SICEPOT – MG, ACOMAC – MG e SINDLEQ – MG, foi bem recebida e apoiada pela prefeitura Municipal de Belo Horizonte, PUC - Minas, SEBRAE-MG E INTITUIÇÕES RELIGIOSAS, ATRAVÉS DA asa-Ação Social Arquidiocesana, Fundo Cristão para criança, e dos Maristas, hoje parceiros importantes.

Tal iniciativa vem ao encontro da necessidade de amenizar o sério problema da existência de habitações em condições precárias vivido por milhares de famílias, principalmente nas periferias de cidades em desenvolvimento ( Sinduscon – MG).